Resenhas
História
do pensamento comunicacional
José Marques de Melo
Por
Julio
Moreira
O
livro do professor Marques de Melo demonstra a generosidade
do mestre que através de quatro décadas de trabalho
constituiu duas bibliotecas - a primeira já esta à
disposição da comunidade Universidade Metodista.
Nas
páginas da História do Pensamento Comunicacional,
o autor tece uma teia paralela onde vai citando todos os pensadores,
professores e alunos que participaram de alguma forma, dos
estudos da Comunicação brasileira. O livro se
transforma em verdadeiro catálogo de livros, teses,
artigos e trabalhos, muito além do relato histórico.
A
midiologia brasileira foi esboçada pelo bibliógrafo
carioca Vale Cabral (1881), mas efetivamente desbravada pelos
jornalistas/historiadores pernambucanos José Higino
Duarte Pereira (1883), Pereira da Costa (1891) e Alfredo de
Carvalho (1899). Seus contornos começaram a assumir
nitidez na primeira metade deste século, através
dos marcos fincados pelos comunicadores/pesquisadores: Barbosa
Lima Sobrinho (1923), B. dos Santos Leitão (1926),
J.Canuto Mendes de Almeida (1931), Ernani Macedo de Carvalho
(1940), Rubens Porto (1941), Vitorino prata Castelo Branco
(1943) e Carlos Rizzini (1946).
Tais
estudos seriam continuados dentro das universidades , no âmbito
das empresas, associações e sindicatos ou como
trabalho voluntário, de caráter pessoal. No
segmento jornalismo por Danton Jobin (1957) e Luiz Beltrão
(1960; da propaganda por Genival Rabelo (1956) e Caio Domingues
(1959); das relações públicas por Teobaldo
Andrade (1962) e Walter Poyares (1967); da editoração
por Frederico Porta (1958) e Amaral Vieira (1969); da bibliografia
por Wilson Martins (1957) e Antonio Houaiss (1967); da cinematografia
por Guido Logger (1956) e Paulo Emílio Salles Gomes
(1957); do radialismo por Mário de Moura (1956) e Saint-Clair
Lopes (1957); da teledifusão Péricles Leal (1964)
e Wilson Aguiar (1967); da quadrinhologia por Álvaro
de Moya (1970) e Moacy Cirne (1970); da fotografia por Boris
Kossoy (1980) e Arlindo Machado (1984); da videologia por
Cândido José Mendes de Almeida (1984) e Luiz
Fernando Santoro (1989); da semiótica por Décio
Pignatari (1968) e Lucrecia Ferrara (1977); da teoria da informação
por Marcello C. D’Azevedo (1971) e Isac Epsteins (1973);
da teoria da Cultura de massa por Salomão Amorim (1968)
e Muniz Sodré (1972) e dos estudos culturais por Heloisa
Buarque de Holanda e Carlos Alberto Pereira (1980), entre
outros pioneiros.” Marques de Melo (2003).
Por
esta característica bibliográfica, o livro de
Marques de Melo deve ser leitura obrigatória aos alunos
das faculdades de Comunicação.
Traçar
o cenário comunicacional do homem é como contar
sua história. O professor Marques de Melo a conta através
do paralelos entre comunicação e política:
ágora e ciberespaço.
A
longevidade da existência do homem está diretamente
relacionada a coexistência de comunicação
e política, desde a praça, onde gregos faziam
assembléias, aos sinais de satélite que nos
possibilitam os chats, conforme nos mostra Marques de Mello:
“
Não obstante o manancial de estudos realizados sobre
os fenômenos da comunicação política
em várias partes do mundo, durante todo o século
XX, o consenso em torno dos seus resultados mostra-se periclitante.
Na era do Ciberespaço, vivemos impasse semelhante àquele
registrado históricamente pelos retóricos gregos.
A esfinge permanece imutável. Naquela altura, a problemática
hegemônica era a simbiose entre Política e Comunicação.
A sombra da primeira ofusca completamente a Segunda. Hoje,
presenciamos fato inverso. A dinâmica da Mídia
parece sobrepor-se à Política. Emerge assim
uma crise de identidade que a fragiliza, provocando fissuras
nas relações entre as duas atividades públicas.”
Marques de Melo (2003).
Dentro
deste contexto, existe uma grande divisão da comunicação:
a Comunicação Interpessoal e a Massiva. A primeira
é datada pelo professor Marques entre o século
III a.C e o século XVII e a Segunda, a partir do primeiro
jornal impresso na Alemanha no século XVII.
A
força da indústria midiática que aparece
no século XX nos leva a crer numa nova divisão.
O
livro nos mostra que o estudo da Comunicação
é ambientado no campo da ciência. Ciência
em crise. Crise que remete às novas teorias.
O
estudo da comunicação tem seu início
na antiguidade, mas só teve consistência científica
depois que os jornais passaram a ter periodicidade diária.
Marco histórico, é a primeira tese de doutorado
sobre jornalismo, feita por Tobias Peucer na Alemanha, em
1690.
Apesar
desta longevidade, o estudo sistemático e promissor
da comunicação acontece na segunda metade do
século XX. O estudo da comunicação se
desloca para a América do Norte e seu conteúdo
se volta cada vez mais para o massivo. No final do século
XX, começo deste século o massivo vai dando
lugar ao estudo midiático:
“
O processo de constituição de uma comunidade
acadêmica mundial das Ciências da Comunicação
só emerge no período posterior à Segunda
Guerra Mundial, contaminando-se naturalmente pela dinâmica
da “guerra fria”. Desde a fundação
dqa IAMCR (internacional Association for Media and Communication
Reserch), em Paris, em 1957, foi se gerando a tensão
entre investigação básica e investigação
aplicada, entre os saberes profissionais 3e a reflexão
crítica dos processos mediáticos.
O
esgotamento desse ciclo histórico, no limiar da sociedade
globalizada da informação, coincide também
com a construção da identidade peculiar a esse
campo das ciências sociais, que busca automatizar-se
teórica e metodológicamente, delimitando suas
próprias fronteiras disciplinares, sem renunciar à
vocação interdisciplinar que o caracteriza historicamente.”
Marques de Melo (2003).
Apesar
da disciplina jornalismo ter sido implantada no Brasil e na
Argentina nos anos 30, o estudo começa a ser sistematizado
nos anos 60 e toma corpo a partir da década de 70.
O
reconhecimento do pensamento comunicacional Latino Americano
acontece inspirado nas matizes idiológicas da Teoria
da Dependência e da Teologia da Libertação.
Fazem parte do primeiro grupo de pensadores Jorge Fernandez
(Equador), Antonio Pasquali (Venezuela), Luiz Beltrão
(Brasil), Luiz Ramior Beltrán (Bolivia), Eliseo Veron
(Argentina) e José Marques de Melo (Brasil). Estes
autores formam a ELACO- Escola Latina-Americana de Comunicação.
Uma
segunda geração, dá maior projeção
aos estudos Latinos. “Ancorando-se em modelos analíticos
testados pelas ciências da linguagem e pelas ciências
sociais. A esta geração pertencem Armand Mattelart
(Chile), Heriberto Muraro (Argentina), Jesus Martín
Barbero (Colombia), Anamaria Fadul (Brasil), Mario Kplun (Uruguai),
Juan Diaz Bordenave (Paraguai), Fatima Fernandez (México),
Juan Gargurechich (Peru) ou Eleazar Diaz Rangel (Venezuela).
Eles fortalecem a mística latino-americana que ensejaria
a criação da ALAIC – Associación
Latinoamaricana de Investigadores de la Comunicação.
“ Marques de Melo (2003).
As
primeiras Escolas de Jornalismo no Brasil foram a Casper Líbero,
São Paulo, 1947 e o Curso de Jornalismo da Universidade
do Brasil, Rio de Janeiro, 1948. A primeira criada pelo Jornal
A Gazeta e pela PUC e a Segunda, hoje Universidade Federal
do Rio de Janeiro, um esforço da Associação
Brasileira de Imprensa.
Carlos
Rizzini e Danton Jobim conseguem, na década de 50,
reconhecimento internacional ao pensamento brasileiro. Pensamento
que até o início dos anos 60 era voltado exclusivamente
ao jornalismo impresso.
As
outras áreas da comunicação já
despertavam o interesse da comunidade científica, mas
foi em 1963, com a criação da Faculdade de Comunicação
de Massa, na Universidade de Brasília, que Pompeu de
Souza consegui articular o estudo do jornalismo, da publicidade,
do rádio, cinema e TV.
Neste
mesmo ano, Luiz Beltrão cria no Recife o Instituto
de Ciências Para a Informação –
INCIFORME. Centro de desenvolvimento de pesquisas, o Inciforme
é o responsável pela primeira revista cientifica
de comunicação brasileira, a Comunicações
e Problemas.
Na
década de 60 o estudo de comunicação
se instala nas Universidades do país. Culminando com
criação da Escola de Comunicações
e Artes na Universidade de São Paulo.
A
criação do primeiro programa de Mestrado em
Ciências da Comunicação, acontece na ECA
, em 72. A década de 70 também é marcada
pela ditadura militar. Professores são perseguidos
e afastados de suas cátedras.
Em 78, é criado em São Paulo a INTERCOM - Sociedade
Brasileira de Estudos Interdiciplinares da Comunicação.
Marco decisivo para a institucionalização da
comunidade acadêmica na comunicação.
Hoje
em dia a comunidade acadêmica conta com, aproximadamente,
126 mil pessoas, sendo 6 mil professores.
Na
Segunda metade do livro História do Pensamento Comunicacional
- Personagens, o professor Marques de Melo, traça o
perfil de três grupos de pensadores da comunicação:
o Grupo Gaúcho, o Grupo do Centro-Oeste e o grupo de
São Bernardo. Também perfila os expoentes da
comunicação: Frei Caneca, Costa Rego, Carlos
Rizzini, Luiz Beltrão, Raymund Nixon, Elihu Katz, Luiz
Ramiro Beltrán e Jesús Martin Barbero.
O
livro fica incompleto. Falta um capítulo sobre José
Marques de Melo. O leitor atento prestará atenção
no perfil intelectual do autor - colocado no final do livro
- podendo criar um novo estudo para a História do Pensamento
Comunicacional.
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