Resenhas
Rompendo
as amarras
Por
Eni Simões Magro
Prefácio
O
autor situa historicamente, a evolução do pensamento
comunicacional no ocidente desde o espaço insular grego
do séc. III ac., com Aristóteles, até a
sua evolução nos dias de hoje. O objetivo é
marcar o apontamento acadêmico do estudo comunicacional.
Destacar a sua evolução e a sua importância
para o exercício da comunicação, principalmente,
no Brasil e América Latina.
Destaca
que é nos anos 90 que o Brasil merece reconhecimento
internacional pelos avanços obtidos no campo acadêmico
da comunicação ao sediar a XVIII Conferência
Mundial de Ciências da Comunicação porque
demonstra a credibilidade conquistada pelos pioneiros do pensamento
comunicacional. Ao mesmo tempo, O Brasil também assumia
a liderança do espaço latino-americano quando
resgatou o ALAIC - Associación Latinoamericana de Investigadores
de la Comunicación, e, também, por ter incentivado
o resgate do manancial teórico-metodológico que
foi firmado através da Escola Latino-Americana de Comunicação,
ELACOM.
O
autor apresenta sua dupla motivação para este
livro: "fortalecer a auto-estima daquela corrente que não
se sente inferiorizada pelas tradições intelectuais
forâneas, irrigando e cultivando as raízes mestiças
que sustentam o nosso pensamento comunicacional, seja na vertente
luso-brasileira, seja na confluência latino-americana.
Em segundo lugar, deseja oferecer aos estudantes e professores
(...) evidências historicamente codificadas, suscetíveis
de faze-los superar impasses teóricos com que se defrontam.
(...) Isso significa romper as amarras que nos atrelam melancolicamente
ao conservadorismo das elites culturais brasileiras". (1)
Registra
a necessidade de o Brasil preservar soberanamente sua identidade
cultural mediante conjunturas mais ousadas para garantir-se
na aldeia global e ter acesso crítico às tradições
nacionais-regionais que forjaram a marcha civilizatória.
A ambição maior é conseguir formar uma
possibilidade comunicacional mais democrática, cordial,
tolerante e intrépida.
O
livro se apresenta em duas partes: Cenários e Personagens.
Ambas as partes, montadas em capítulos subdivididos.
Estas subdivisões referem-se a palestras e/ou conferências
proferidas pelo autor em diversos importantes congressos de
comunicação.
Parte
I
Cenários
1.
O campo da Comunicação
1. Da Ágora ao Ciberespaço - relações
entre mídia e política na pesquisa comunicacional.
Comunicação
e política são condições básicas
necessárias à vida em sociedade porque possibilita
a convivência dos diferentes grupos sociais cabíveis
numa condição de coletividade, uma vez que, garante
a continuidade de suas tradições.
O
destino histórico da humanidade se efetivou a partir
do instante em que o Estado instituiu-se como o mecanismo capaz
de assegurar tal condição de co-existência
dos distintos grupos sociais. A organização social
foi se tornando possível a partir do momento em que o
homem desenvolveu sua capacidade de geração de
símbolos para o uso da linguagem falada. O poder da violência
foi sendo substituído pelo poder da argumentação.
-
Paradigma Aristotélico
Aristóteles
constitui a principal fonte codificadora da cultura greco-romana,
o sustentáculo do pensamento ocidental. Com ele identifica-se
o primeiro paradigma comunicacional mediante a avaliação
de dois de seus importantes textos: "Política"
e "Retórica". Em "Política",
Aristóteles apresenta o Estado como a "'forma mais
elevada de comunidade", denominando-a "comunidade
política'". (2)
O
filósofo caracteriza esta condição como
uma característica exclusivamente humana. O seu argumento
é de que o homem é por natureza um animal político
em decorrência da sua capacidade de comunicação.
O poder da palavra configura o exercício da Política
porque é mediante o uso da palavra que se tende a expor
opiniões de justiça e inconveniência.
No
entanto, tudo isso só é possível através
de um consenso coletivo que os homens alcançaram quando
da criação de um Estado organizador e passível
de garantir a sobrevivência coletiva. Para Aristóteles,
o homem é um ser, primordialmente coletivo, quer dizer,
não é auto-suficiente sozinho. O homem é
provido de um instinto social implacável porque necessita
do amparo da lei e da justiça para conseguir agir num
seleiro de ordem e bondade. Política, para o filósofo,
"é a arte de governar, ou seja, de administrar a
justiça". (3)
Esta
administração requer, por parte dos governantes,
o poder da retórica. Exercitar a política mediante
o recurso da retórica, significa potencializar a capacidade
de discernimento e o manejo adequado dos artefatos da comunicação.
A
composição da retórica para Aristóteles:
"A Retórica comporta três gêneros: o
gênero deliberativo, o gênero demonstrativo e o
gênero judiciário. São três os gêneros
da retórica, do mesmo modo que três sãs
as categorias dos discursos. Com efeito, um discurso comporta
três elementos: a pessoa que fala, o assunto de que se
fala e a pessoa a quem se fala; e o fim do discurso refere-se
a esta última, que eu chamo o ouvinte." (4)
Neste
exercício da retórica, Aristóteles aponta
os precursores remotos dos profissionais midiáticos da
sociedade pós-industrial, sobretudo àqueles que
hoje se dedicam à comunicação institucional,
informação estratégica e ao marketing político.
O espaço retórico será identificado como
um fenômeno embrionário dos mass media no século
XV, com a invenção da imprensa, e se concretizará
no século XIX, com o surgimento das rotativas.
A
nova Retórica Científica
O
modelo de democracia grega não se estabeleceu à
civilização ocidental de imediato como pode ser
verificado durante o período da Era Cristã. Somente
será observado o conhecimento retórico no período
das revoluções burguesas com a transformação
das sociedades inglesa, francesa e norte-americana. No início
do século XX, quando se potencializa os meios de comunicação
através do surgimento de som e imagem, é que a
palavra toma uma nova importância à mobilização
das massas urbanas dos países industrializados.
Neste
ponto a política atinge uma efetiva configuração
republicana e o seu exercício exige grande habilidade
comunicacional. Imediatamente surge a nova retórica científica
que virá a atender as necessidades de conhecimento atualizadas
sobre si mesma, abastecendo-se da dialética aristotélica
e das inovações cognitivas das Ciências
do Comportamento. Estabelece-se um triangulo cooperativo entre
política, psicologia e comunicação.
O
paradigma de Lasswell
O
cientista político Harold Lasswell resgata a tradição
dos estudos comunicacionais greco-romanos adequando-os aos novos
tempos. Ele rompe a estreita dimensão dos estudos aristotélicos,
que é situada na tríade: discurso, interlocutor
e ouvinte, incorporando o ambiente cultural e o seu contexto
sócio-político. Ele também desloca a centralidade
do foco analítico para a tecnologia que dá suporte
ao processo comunicativo.
No início do século XX, a comunicação
e a política estão marcados pelos conflitos bélicos.
Cresce
a literatura sobre comunicação política;
destacam-se temas como as estratégias de propaganda empregadas
durante a I Primeira Guerra Mundial, tratados sobre como influenciar
as massas e propagandas domésticas. Durante a Guerra
Fria o acumulo de conhecimento foi maior porque os pesquisadores
contaram com subsídios públicos possibilitando
a realização de ensaios retrospectivos, análises
comparativas e estudos de caso.
Conclusão
Observa-se
que ainda hoje vivemos o impasse aristotélico no que
concerne a simbiose entre Política e Comunicação.
Naquele momento, a política ofuscava a comunicação,
e hoje, observa-se o contrário. Esta questão obriga
uma reflexão teórica sobre política e poder,
com o objetivo de visar o futuro do modelo da democracia de
massas e os limites em relação a uma lógica
da comunicação que se mantêm, progressivamente,
invadindo o campo político. A obrigação
acadêmica é promover a reflexão, de forma
plural, interdisciplinar e comparativa.
O
acontecimento do dia 11 de setembro é o exemplo a esta
questão. "Ele incorpora as lições
aplicáveis da emergente comunicação utilitária,
na tentativa de convencer a opinião pública daqueles
riscos inerentes pelos remanescentes focos terroristas. Procura-se
demonstrar que eles comprometem a "paz mundial" aparentemente
robustecida no desmonte daquele conflito ideológico entre
sistemas capitalista e comunista." (5)
As propostas se perdem numa comunicação utópica
nutrida pelo paradigma neo-aristotélico da aldeia global
construída pela força civilizatória da
persuasão simbólica e da convivência democrática
dos povos. É importante um comprometimento ético
por parte dos pesquisadores comunicacionais neste momento ambíguo,
pois comunicação e política precisam cooperar
para o avanço de uma sociedade mais justa e solidária.
2.
A Natureza do Conhecimento Midiológico
Para entender o estudo das relações entre mídia,
linguagem, tecnologia e cultura na América Latina.
Como
se desenvolve um novo campo do saber?
O
conhecimento humano é uma conseqüência do
coletivo, começa na base da sociedade e se fortalece
no senso comum. O conjunto do saber advém de duas fontes:
Praxis: aplicação do saber acumulado pela sociedade.
O objetivo é criar modelos produtivos que serão
transmitidos às novas gerações; e, Teoria:
o saber acadêmico que submete à reflexão
e a sistematização. O ensino é o formador
de recursos humanos e de conhecimento.
O
campo da comunicação
Comunicação
interpessoal: processo que flui do século III ac., na
Grécia, se estendendo até a França no século
XVIII.
Comunicação
massiva: início do século XVII com o surgimento
do jornal diário. Virá a se fortalecer nos EUA
no século XX, quando do surgimento das indústrias
midiáticas e a conseqüente demanda de recursos humanos
mais especializados. As escolas norte-americanas marcam o agravamento
sensacionalista mediante a publicação dos jornais
diários, o que provoca a mudança de postura exercida
pela igreja católica que visará um potencial mais
moralizador. Tal condição favorece as instituições
de ensino à formação de comunicadores.
São três fluxos que determinam tal movimento: Industriais,
referentes às empresas de comunicação;
Profissionais, referentes aos profissionais midiáticos;
Cívicos, produção cultural de qualidade.
Que
tipo de campo é a comunicação?
Trata-se
de um "campo científico", no entanto, um campo
referente à esfera do universo comunicacional. Neste
sentido, tem-se um composto de cinco segmentos da atividade
intelectual:
"Humanidades:
reflexões e especulações sobre sua natureza
e impactos sociais (da Filosofia da Comunicação
à Pedagogia e a Historia da Comunicação)".
Tecnologias:
suportes que permitem a difusão das mensagens (Imprensa,
Telecomunicações e Informática).
Ciências
Sociais, análises sistemáticas sobre os fatores
que determinam os atos comunicacionais e seus reflexos no organismo
social (da Sociologia da Comunicação à
Antropologia da Comunicação...).
Conhecimento
Midiológico, saberes acumulados no interior das corporações
profissionais e das agências produtoras de bens midiáticos.
Eles fazem a simbiose entre as práticas legitimadas pela
aplicação cotidiana e as inovações
advindas das universidades ou dos centros de pesquisa que prestam
serviços especializados." (6)
Paradigmas
Latino-Americanos
O
campo da comunicação se estabeleceu na América
Latina nos anos 70, quando foi evidenciado novos espaços
de pesquisa da comunicação nas universidades.
Instituiu-se os cursos de mestrado e doutorado, tendo sido agregado
uma mescla de disciplinas desde a semiótica aos postulados
neo-liberais. A marca das elaborações científicas
foi o hibridismo teórico e a superposição
metodológica, resultando numa investigação
mestiça representativa da cultura latino-americana.
Este
resultado advém de um intercâmbio das tradições
européias, heranças pré e pós-colombianas,
costumes africanos, inovações americanas e das
migrações internacionais. As produções
iniciais do pensamento latino-americano resultam em reflexões
críticas e pragmáticas sobre a emergente indústria
midiática.
Contradições
e Perplexidades
A
Escola Latino-Americana de Comunicação, ELACOM,
instituída nos anos 70, se impôs como uma importante
e referente corrente do pensamento comunicacional a toda a comunidade
midiática, no entanto, corre o risco de perder-se no
esquecimento. O risco advém do complexo do colonizado,
as universidades se estruturam sob modelos estrangeiros, até
mesmo, para guiar o pensamento crítico. Este movimento
torna evidente o monopólio do campo científico.
Perspectivas
para o novo século
O
apoio está em um novo inventário crítico
da produção comunicacional latino-americano observado
através das iniciativas editoriais impressas e dos produtos
digitalizados que vêm evidenciar uma nova riqueza das
idéias comunicacionais latinas.
Conclusão
O
pensamento comunicacional latino-americano foi fortalecido pelo
interesse crítico dos seus pesquisadores, cujo objetivo
maior era o de intervir na cena comunicacional, contribuindo
para corrigir distorções e melhorar o desempenho
das instituições produtoras e acadêmicas.
O comprometimento era com o interesse público mais do
que com os interesses do sistema corporativo. É lamentável
que tal movimento venha sendo engolido pela própria sociedade
política do continente latino, vítima do complexo
do colonizado, permitindo o monopólio informativo. É
primordial privilegiar as idéias latino-americanas para
compreende-las como parte de um acervo analítico de processos
cognitivos próprios.
É
importante observar, diagnosticar e predizer situações
comunicacionais concretas a partir de um referencial teórico
e metodológico gerado no próprio ambiente sóciocultural.
3.
Identidades Brasileiras
Estratégias para sair do gueto acadêmico
Panorama
internacional
As
ações comunicacionais vêm sendo objeto de
reflexões teóricas e de observações
empíricas no âmbito das universidades em disciplinas
como lingüística, psicologia, antropologia e outras,
muito antes de uma nova era acadêmica alemã, francesa
e norte-americana que viriam a denominar mass comunication.
Essa identidade acadêmica traduzia a vocação
típica de estudos relacionados ao jornalismo, propaganda,
o divertimento e a teleducação.
Corresponde
às funções essenciais dos mass media enquanto
instituições sociais foram agrupadas no segmento
das ciências sociais aplicadas. Por esse motivo os cursos
pioneiros atuavam na instância da formação
profissional reproduzindo paradigmas da indústria midiática
vigente. Mais tarde, a cooperação com o sistema
produtivo, ou seja, empresas midiáticas, resulta em novas
técnicas de pesquisa mediante o intercâmbio e o
financiamento de pesquisas, apontando um novo equilíbrio
entre prática e teoria.
Singularidades
latino-americanas
Quando
a América Latina se transpôs aos moldes europeus
e americanos, a falta de experiência empírica colocou
obstáculos à sua formação acadêmica.
Houve uma ausência da tradição interdisciplinar
inviabilizando uma pesquisa institucionalizada provocando a
manutenção dos moldes humanos forâneos.
A partir dos anos 70, este quadro se modifica com a adoção
de um modelo comunicador polivalente. No Brasil, a liderança
das corporações midiáticas proporcionou
a formação de comunicadores especializados ao
exercício das profissões legitimadas. Nos anos
80, instituiu-se a liberdade curricular para as universidades
ampliando as possibilidades de formação acadêmica
a um caráter mais personalizado aos interesses sociais.
A
natureza do campo
Os
bens culturais que fluem através dos suportes midiáticos
invadem o tecido social resultando em estímulos para
observações empíricas das ciências
da sociedade. Estes conhecimentos são fonte permanente
de retroalimentação dos processos produtivos das
indústrias midiáticas. A comunicação
social começa a englobar as diferentes profissões
da indústria comunicacional, com exceção
ainda, da cinematografia, a videoplastia e a editoração.
Estratégias
pedagógicas
A
formação dos profissionais da comunicação
social pressupõe três blocos cognitivos:
"Conceitos comunicacionais que demarcam a identidade do
campo acadêmico (...) e dos respectivos segmentos ocupacionais
(...); os processos midiáticos que configuram a produção,
difusão e avaliação dos bens culturais
correspondentes a cada segmento ocupacional (...); os conteúdos
culturais que dão sentido às mensagens implícitas
nos bens simbólicos construídos e/ou difundidos
pelas indústrias/serviços midiáticos. (...)"
(7)
No
campo profissionalizante do campo das ciências sociais
aplicadas, deve-se considerar as seguintes variáveis:
"sintonia entre os processos didáticos e a natureza
de cada curso. (...) Disponibilidade de laboratórios
e equipamentos compatíveis com a natureza de cada segmento
profissional. (...) O ponto de partida para a organização
da grade curricular deve ser necessariamente o entorno local/regional
em que os cursos estão situados.(...) como decorr6encia
das inovações tecnológicas, das mudanças
econômicas r das transformações culturais,
não se justifica manter os cursos de graduação
com a longa duração que hoje possuem." (8)
Novas
profissões
A
conjuntura atual vive a "sociedade da informação"
em decorrência da expansão das novas tecnologias
de reprodução simbólica. Para tanto é
imprescindível que as universidades acolham profissões
emergentes deste novo campo e os dirigentes dos cursos de comunicação
fiquem atentos aos fenômenos para dar-lhes respostas imediatas.
2.
Pensamento Comunicacional Latino-Americano
1.
Gênese e Desenvolvimento
Passado, presente e futuro da Escola Latino-Americana de Comunicação
Panorama
histórico
A
pesquisa latino-americana no campo da comunicação
comemora 50 anos enfrentando o grande desafio da sua legitimação
dentro do espaço acadêmico. As primeiras pesquisas
surgem em ambientes profissionais dentro das indústrias
culturais constituindo a formação das primeiras
agências privadas dedicadas a pesquisa de opinião
pública, audiência dos mass media ou persuasão
dos consumidores. No Brasil, têm-se como exemplo, em 1945,
a primeira publicação da sondagem eleitoral feita
pelo IBOPE e a publicação do primeiro ensaio sistemático
sobre imprensa e jornalismo escrito por Carlos Rizzini. O ambiente
é favorável à difusão das idéias
modernizadoras que caracterizam a conjuntura posterior à
II Guerra Mundial.
O
papel das universidades
As
modernas escolas de comunicação social das principais
cidades latino-americanas nem sempre mostram-se comprometidas
com a pesquisa. Geralmente se dedicam a tarefas exclusivas de
formação, difundindo resultados de pesquisas feitas
pela indústria midiática ou, apenas polemizando
reflexões ensaísticas produzidas por intelectuais
de renome. Encontra-se, no entanto, em Quito, Equador, o maior
estímulo à pesquisa acadêmica promovido
pelo CIESPAL, o centro de estudos superiores de comunicação
criada pela UNESCO. Trata-se de uma instituição
que realiza diretamente projetos descritivos ou interpretativos
sobre as estruturas comunicacionais, em nível continental.
O trabalho investigativo realizado aqui é sem dúvida
muito importante num período caracterizado pela busca
de alternativas comunicacionais ou pela construção
de políticas democráticas de gestão dos
meios massivos.
Desideologização
Em
meados dos anos 80 ocorre um declínio dos centros de
perfil civilista, organizados como entidades de interesse público,
no entanto, geridos pelo sistema de administração
privada. Isto é decorrente da crise abatida pela UNESCO,
conseqüência da era Gorbatchev e a queda do muro
de Berlim. Existe um sentimento de derrota política assumida
pelas esquerdas latino-americanas, que se dividem em lutas eleitorais
pós-democracia.
Hibridismo
e mestiçagem
A
marca das elaborações científicas latino-americanas
é o hibridismo teórico e a superposição
metodológica baseados nas tradições européias,
americanas e outras fontes exteriores. O processo da difusão
da cultura acadêmica latino-americana se faz lenta pelo
motivo do colonialismo e por uma auto-estima da comunidade acadêmica,
impactada pelas mudanças políticas econômicas
que diminuem o protagonismo do estado e atribuem papéis
decisivos ao mercado e à sociedade civil. Tudo acaba
por resultar numa falta de agilidade em atender as exigências
dos centros contemporâneos e impedindo de se estabelecer
agendas de pesquisa que correspondam às demandas das
indústrias culturais. Isto é resultado das agruras
e angústias provenientes da era da guerra fria.
Globalização
e regionalização
Felizmente,
esta conduta não corresponde a toda a comunidade acadêmica,
que aponta uma nova geração que adota uma postura
mais pragmática, desenvolvendo práticas investigativas
apoiadas por um novo contexto histórico e demandas sociais.
O
México aponta como um exemplo da geração
McLuhan. Aqui, os acadêmicos se propuseram a realizar
uma forma de pesquisa priorizando variáveis da natureza
ideológica apoiada num tipo de operação
arqueológica para tornar palpável a realidade
da aldeia global. As fronteiras nacionais tornam-se relativas,
fortalecendo a cooperação entre as comunidades
acadêmicas dos países que integram o Mercosul.
O objetivo maior é estreitar laços de cooperação
intraregional para potencializar a preservação
dos interesses comerciais e a projeção das matrizes
culturais no quadro da economia mundial no âmbito das
comunicações.
Projeção
brasileira
O
Brasil manteve-se por toda a década de 90 como um dos
principais centros de produção científica
ao lado de países da Europa e América central.
Tal característica incentivou o crescimento do complexo
midiático brasileiro, que hoje possuí uma capacidade
de transito de informações por toda a extensão
territorial nacional, se utilizando todas as formas de comunicação
contemporâneas. Isto favoreceu tanto para o investimento
industrial comunicacional, como para a formação
de profissionais de comunicação mais especializados.
Com isso, também, houve um crescimento acadêmico
e institucional. Um grande volume de trabalhos de pesquisa científica
comunicacional apresentados tem caráter de ciência
aplicada, no instante em que possui nítido interesse
profissional, focalizando objetos relacionados com o sistema
de comunicação de massa: jornalismo, publicidade,
telenovelas, etc.
2.
Política, dimensão hegemônica
Das políticas de comunicação a comunicação
política
A
síndrome do espelho
Na
América latina, a política tem figurado como uma
variável principal no âmbito da comunicação
de massa. Após o período da guerra fria, quando
a democracia instaurou-se como nova ordem, a política
começou a se infiltrar na mídia massiva, apontando
para um espaço privilegiado entre a conquista e o poder.
Ocorre, então, a síndrome do espelho, onde existe
um grande trâmite entre os mundos da política e
da comunicação com novos sujeitos emergentes,
sem se notar nitidamente, de que lado estão situados.
A
pesquisa latino-americana sobre comunicação massiva
tem privilegiado, em sua tradição, a dimensão
política. Esta tendência manteve-se constante durante
toda a metade do século XX, e atingiu seu ponto alto
nos anos 70. Esta postura provocou questionamentos dentro da
comunidade acadêmica, emergindo, assim, outras vertentes,
tais como, cultura, tecnologia, psiquismo. Tão logo os
canais de participação dos intelectuais foram
abertos na estrutura de poder, os estudos comunicacionais readquiriram
o seu caráter acadêmico, muito embora, tenham conservado
a política numa dimensão privilegiada.
3.
Contribuições brasileiras
A presença do Brasil no cenário da escola latino-americana
de comunicação
Pensamento
latino-americano
A existência do pensamento comunicacional mediado por
uma reflexão crítica sobre os fenômenos
gerados pela ação e o impacto da mídia
nas sociedades latino-americanas, somente tomam corpo na segunda
metade do século XX. "Trata-se inicialmente de um
pensamento reflexo, espelhando as matrizes das idéias
comunicacionais hegemônicas na Europa Ocidental e na América
do Norte. O pensamento latino-americano só iria assumir
identidade própria na esteira do movimento intelectual
inspirado em duas matrizes ideológicas convergentes:
a teoria da dependência e a teologia da libertação."
(9)
Nos
anos 80, institucionaliza-se a ELACOM, um grupo de renovadores
das faculdades de comunicação, mantidos pelas
faculdades de comunicação de toda a região,
produzem um inventário e a exegese do pensamento latino-americano
sobre a mídia, estruturas de poder, mediações
culturais e outras pontuações críticas.
Este modelo foi sendo inviabilizado em virtude dos regimes autoritários,
porém, ainda mantêm-se sob algum vigor, mediante
mecanismos de comunicação e um fórum digital
trimestral oferecido pela revista científica PCLA.
Pensamento
brasileiro
O
conhecimento comunicacional brasileiro caracteriza-se pela diversidade
temática (imprensa, radiodifusão, cinema e novas
mídias) e pela pluralidade genealógica. É
marcada pela hegemonia européia até meados do
século XX, e no período pós-guerra, toma
da influência norte-americana. Existe uma dificuldade
de intercâmbio entre o Brasil e a América latina
por motivos de um bloqueio lingüístico decorrente
do desconforto que os intelectuais hispânicos pronunciam
em relação ao pensamento codificado em português.
Ainda assim, existe muito interesse pela produção
intelectual brasileira, de âmbito comunicacional, devido
o interesse por nossa originalidade e criatividade dos produtos
midiáticos gerados por nossa indústria cultural.
3.
Pensamento Comunicacional Luso-Brasileiro
1. Constituição da comunidade acadêmica
brasileira. Roteiro para uma história das ciências
da comunicação no Brasil
Panorama
internacional
No
século XX que o campo científico comunicacional
se legitima quando as universidades e o sistema empresarial
reconhecem o saber profissional e as investigações
acerca dos impactos sociais da comunicação. Este
processo tem seu início nos EUA. A formação
de uma comunidade acadêmica mundial, vai se fortalecer
após a segunda guerra mundial. Atualmente, na sociedade
globalizada, observa-se à construção de
uma identidade peculiar ao campo das ciências sociais
que busca uma automação teórica e metodológica,
mas mantendo a condição interdisciplinar característica.
A comunidade acadêmica mundial exercita um diálogo
instigante e criativo enquanto produtores críticos de
saberes comunicacionais.
Cenário
brasileiro
As
ciências da comunicação no Brasil existem
há 50 anos, quando foi instalada a primeira faculdade
de jornalismo, e com a criação dos institutos
de pesquisa. Inicialmente, sua produção intelectual
era de cunho ensaísta, sistematizando os saberes do mundo
profissional da imprensa, da propaganda e da opinião
pública. A incorporação de novas formas
de comunicação, como o cinema, rádio, editoração,
ocorre por volta dos anos 60; ao mesmo tempo em que, se iniciam
as atividades de pesquisa deste campo. Surgem os primeiros doutores
titulados no exterior ou aqui mesmo, dotados de um perfil híbrido.
Alguns pertencentes aos setores da comunicação
de massa e, outros, das ciências sociais.
É
com o surgimento das sociedades científicas que os pesquisadores
acadêmicos se fortalecem e ganham visibilidade internacional.
Cronologia
do campo
Desbravamento
(1873-1922): Nesta fase, a imprensa se converte em objeto de
pesquisa até o momento em que o jornalismo começa
a ser pensado como campo de ensino. Inicialmente, os intelectuais
é que se valiam da imprensa para a publicação
de suas idéias. Noutro instante, os jornais diários
iniciavam uma trajetória industrial desenhando a fisionomia
das sociedades de massa da Europa e América do Norte.
Pioneirismo
(1923-1946): Esta fase acena em direção ao empirismo,
embora ainda, persista uma certa hegemonia ensaísta.
Não somente a pesquisa foi favorecida, como também,
a luta pela regularização do ensino do jornalismo.
Havia trâmites para a consolidação da primeira
escola de jornalismo. A modernização e o crescimento
das empresas do ramo comunicacional, empurravam para esta solução,
pois, já não havia mais espaço para o treinamento
de profissionais dentro das redações.
Fortalecimento
(1947-1963): Neste período institui-se a universidade
de jornalismo com a criação da faculdade Casper
Líbero, em 1947, mediada pelo jornal A Gazeta; e, com
a criação do curso pela PUC de São Paulo.
Pouco tempo depois, implementou-se o curso de jornalismo na
Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1948. Iniciava-se
o ensino acadêmico, apoiado ainda, pelo empirismo, mas,
sendo a pesquisa já o grande incentivo acadêmico.
Consolidação
(1964-1977): Esta fase é marcada pelos grandes movimentos
culturais e políticos característicos desta época.
O interesse pela pesquisa dos fenômenos comunicacionais
ganha espaço nas universidades e atrai também,
forte interesse das empresas do ramo, o que vem a acelerar o
processo de modernização do setor. Surgem novas
revistas, jornais, e, o campo comunicacional se expande. Com
este movimento, a qualificação profissional passa
a ser valorizada, promovendo para o melhoramento da pesquisa
e da formação acadêmica. O academismo cresce
com o surgimento de publicações científicas,
revistas científicas, a organização de
instituições de pesquisa e ensino para conferências
e congressos e a formação de doutores e mestres
é instituída.
Institucionalização
(1978-1997): Surge à necessidade da comunidade acadêmica
de intercomunicação e intercâmbio das experiências
científicas e de pesquisa do campo comunicacional, daí
a organização desta comunidade no sentido de promover
esta relação de câmbio. Surge, então,
a ABI, ABEPEC, INTERCOM, ALAIC e outros órgãos
importantes tanto para o intercâmbio, como para a valorização
da formação comunicacional. (10)
2.
Formação da Comunidade Acadêmica Portuguesa
Memória do primeiro congresso português de ciências
da comunicação
Após
a revolução de Cravos, liderada pelo fascista
Antonio Salazar, Portugal deu início à formação
de especialistas da comunicação. O primeiro curso
de jornalismo em universidade surgiu em 1979. Portugal têm
uma tradição academicista forte, dificultando
o intercâmbio entre o saber científico e a comunidade
social. No entanto, na última década, houve um
crescimento muito significativo dos estudos comunicacionais
nas universidades, incentivando-se projetos sintonizados às
demandas profissionais do setor.
No
entanto, apenas em 1997, quando Portugal sediou o I Encontro
Lusófono das Ciências da Comunicação,
é que as pesquisas internas notaram a necessidade de
um intercâmbio maior e mais contundente, uma vez que,
os trabalhos internos ficavam apenas dentro dos âmbitos
das universidades portuguesas.
3.
Maturidade da Comunidade Acadêmica Brasileira
O papel da INTERCOM na legitimação do campo comunicacional
Com a expansão nacional dos cursos superiores de comunicação,
as lideranças da INTERCOM, se responsabilizaram por levar
a todo o território nacional, congressos com o objetivo
de se estimular o desenvolvimento da pesquisa científica.
Essa maturidade assume uma posição quantitativa
quando observado a participação dos estudiosos
e estudantes de comunicação nos últimos
congressos, apontando que a comunidade acadêmica exibe
seu fortalecimento. A INTERCOM implantou novas diretrizes, e
numa avaliação recente, estimou-se o recolhimento
de aproximadamente 600 trabalhos de pesquisa que incluíam
desde ensaios teóricos a relatos de pesquisas documentais,
e, ainda, investigações empíricas.
A
INTERCOM vem tornando constante em seus congressos a participação
de colegas da Europa, América do norte e América
latina com o objetivo de potencializar o diálogo entre
os comunicólogos brasileiros e a comunidade internacional.
4.
Cooperação Acadêmica Luso-Brasileira
Lusofonia midiática
O
marco decisivo para o estabelecimento da cooperação
luso-brasileira no campo das ciências da comunicação
foi quando houve a proposta da INTERCOM para a realização
de um Colóquio Luso-Brasileiro de Ciências da Comunicação
como um evento prévio ao III Congresso Internacional
de Jornalismo da Língua Portuguesa organizado em Lisboa.
Deste
encontro surgiu a SOPCOM e a LUSOCOM, potencionalizando o campo
de pesquisas entre os dois países. A partir daí,
esta união, junto com a participação dos
PALOP's, Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa,
congregam o maior segmento da comunidade acadêmica no
campo das Ciências da Comunicação, constituída
por 200 milhões de falantes da língua portuguesa,
superada apenas, pela comunidade anglófila. É
importante ressaltar que a conquista maior deve ser sempre a
de teor qualitativo acima da conquista quantitativa.
5.
Conhecimento Midiático Brasileiro
Estudos de mídia: identidades e fronteiras
O
autor tem como sua meta atual, inventariar criticamente as incursões
do terreno da midialogia brasileira e ao mesmo tempo delinear
identidades que marcam os sistemas midiático nacionais
na recente conjuntura histórica da globalização,
e, para isso, organizou um projeto temático. Sua articulação
segue um plano diacrônico para sistematizar e consolidar
o patrimônio midiológico brasileiro, delineando
fronteiras geoculturais ou sócio-científicas,
e, um plano sincrônico para confrontá-lo com as
tendências conjunturais, mapeando as identidades midiáticas
brasileiras numa quadratura histórica demarcada por processos
de globalização e regionalização.
A
metodologia adotada foi à comparativa visando estabelecer
nexos entre elementos estruturais conjunturais, enquanto compatibiliza
dados processuais e contextuais. A meta é a de construir
uma memória da midiologia brasileira e estimular a construção
de novos conhecimentos sobre os fenômenos midiáticos
peculiares a esta fase de transição secular. (11)
Parte
II
Personagens
4.
Grupos Comunicacionais Brasileiros
1. O Grupo Gaúcho
Na fronteira da América Latina
O
grupo gaúcho
No
ano de 1995, o autor foi ministrar a disciplina "História
das Ciências da Comunicação" aos alunos
de mestrado da PUC-RS, e também, ministrou o mesmo curso
na Universidade de Passo Fundo. Deste evento, surgiu o incentivo
à pesquisa de perfis bio-bibliográficos de pesquisadores
gaúchos pertencentes ao universo das ciências da
comunicação. Tratar-se-ia de uma classificação
provisória, cuja estrutura somente será possível
de ser definida a medida em que aconteça o avanço
da construção da memória das ciências
da comunicação no Brasil. O resultado tratou-se
de um agrupamento que não atendeu critérios etários
ou de gerações intelectuais. Os pesquisadores
foram agregados pela participação em etapas históricas
que caracterizaram o desenvolvimento dos estudos comunicacionais.
O
primeiro segmento denominou-se desbravadores, correspondendo
às personalidades que abriram fronteiras liderando a
implantação e/ou o fortalecimento de núcleos
institucionais. O segundo segmento denominou-se sedimentadores,
constituído por egressos dos cursos de mestrado e doutorado
do setor que desenvolveram pesquisas sobre objetos inseridos
no universo da indústria cultural.
O
terceiro segmento foi denominado continuadores, incluindo representantes
da nova turma que emerge no cenário comunicacional gaúcho,
disputando posições de liderança com os
seus mestres e colegas da geração que os precederam
no campus. A pesquisa não é completa, mas o objetivo
maior é o incentivo a continuidade da pesquisa e catalogação
destes desbravadores com o intuito de se aprofundar os estudos
das trajetórias intelectuais dos cientistas detentores
de maior projeção acadêmica. É de
suma importância a construção permanente
da memória, que deve proceder de acordo o ritmo da atividade
informacional da indústria midiática, para até
mesmo, preservar a sua própria identidade.
2.
Os Grupos do Centro-Oeste
Os
grupos comunicacionais do centro-oeste brasileiro - ousadia
e pioneirismo
Conjuntura
singular
A
fundação da Universidade de Brasília instituiu
o Planalto Central como um pólo intelectual arrojado
e inovador. Brasília funciona nos anos 60 como o maior
incentivador dos modernos estudos acadêmicos sobre a comunicação
de massa numa convergência de idéias vanguardistas
que circulavam no cenário internacional que se identificava
com o conceito de "aldeia global" de MacLuhan. Brasília
resgata as diretrizes das pioneiras escolas de jornalismo do
Brasil. Noutros estados da região centro-oeste destacam-se
as Universidades Federais dos estados de Goiás, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul e Pantanal.
3.
O Grupo de São Bernardo
Atualização histórica como estratégia
de sobrevivência
Vitalidade
intelectual
O
grupo comunicacional de São Bernardo é constituído
pelos pesquisadores atuantes no programa de pó-graduação
em Comunicação Social da Universidade Metodista
de São Paulo. A história deste grupo é
marcada por uma constante atualização da sua trajetória
acadêmica, promovendo um incessante exercício de
rejuvenescimento intelectual no sentido de ajusta-lo às
conjunturas típicas do entorno sócio-cultural
e político-econômico, mantendo o perfil vanguardista
que é sua principal característica. Para o grupo
de São Bernardo, privilegiar o dialógico, o popular
e o alternativo significa fortalecer o amplo sistema midiático
ancorado na sociedade civil, ávida de participação
e democracia.
5.
Pioneirismo Comunicacional Brasileiro
1. Frei Caneca, precursor da teoria da comunicação
Contribuições
precoces da igreja católica
A
igreja católica figura, no panorama histórico
brasileiro, como uma instituição culturalmente
hegemônica durante o período colonial, assumindo
a iniciativa de várias inovações também
dentro do campo do pensamento comunicacional. Os jesuítas
são pioneiros nos estratagemas da comunicação
praticada pelos agentes coloniais lusitanos. Haja visto os padres
José de Anchieta e Antonio Vieira quando da evangelização
dos índios e colonizadores.
Frei
caneca, o precursor da comunicologia brasileira
Frei
Caneca destaca-se historicamente, como um herói republicano
em Pernambuco. Foi jornalista destemido e redator do Tifis Pernambucano
e atuou como professor de retórica no convento carmelita
de Recife. Com a intenção de formar agentes de
comunicação com atitude discursiva, Frei Caneca
produziu alguns estudos basilares, reunindo uma precoce teoria
brasileira da comunicação. Ele era privilegiado
no exercício jornalístico e na sua atuação
como orador político, ouvido atentamente pelas lideranças
da igreja, nos recintos legislativos e era aclamado pelas multidões
rebeladas nas praças recifenses.
2.
Costa Rego, Pioneiro do Ensino da Comunicação
O primeiro catedrático de jornalismo
Personagem
legendário
Costa
Rego foi o precursor dos estudos universitários de jornalismo,
quando atuava como prestigiado secretário de redação
do jornal carioca Correio da Manhã, um dos principais
formadores de opinião pública no país na
década de 40. Costa Rego traçou uma biografia
política, jornalística e acadêmica de muito
sucesso. Sua contribuição como jornalista é
o exemplo de dedicação à profissão,
atuando como um profissional sério, disciplinado, rigoroso
e respeitado pela corporação. Como acadêmico,
sua austeridade fez escola e valeu grande incentivo a pesquisa
científica no campo das comunicações.
3.
Carlos Rizzini, Pioneiro dos Estudos Midiáticos
Da profissão à universidade: trajetória
bem-sucedida
Midiologia
Brasileira
Carlos
Rizzini foi o pioneiro da pesquisa midiática brasileira.
Ele formulava hipóteses e antecipava interpretações
de dados que seriam continuados e aprofundados de forma sistemática
pelos novos cursos universitários de comunicação
nas décadas de 50 a 70. Ele valia-se de fontes disponíveis
na bibliografia internacional, reconstituía o contexto
histórico do desenvolvimento do jornalismo, para então,
elaborar uma excelente análise de conjunturas sobra à
emergência da indústria da comunicação
no Brasil.
4.
Luiz Beltrão, Pioneiro das Ciências da Comunicação
Folkcomunicação, contribuição brasileira
à teoria da comunicação
Luiz
Beltrão destaca-se como uma figura paradigmática.
Seu nome está ligado a folkcomunicação,
quer dizer, a comunicação em nível popular
no que se refere ao povo, sem a utilização dos
meios formais da comunicação. Precisamente, é
a comunicação através do folclore. O seu
interesse pela cultura popular e pelas classes trabalhadoras
teve sua inspiração em seu pai dentista, na doutrina
social da igreja católica postuladas pelo papa Leão
XIII, simpático a Karl Marx, e, pelo ambiente socialista
do momento. O seu legado intelectual é instigante e provocativo.
6.
Pioneirismo Comunicacional Americano
1. Raymond Nixon, artífice da comunidade mundial
O liberal hostilizado pelos militantes do anti-americanismo
O
estudo da liberdade de imprensa
Nixon
foi um dos cientistas convocados pela UNESCO, em dezembro de
1957, para debater o projeto de criação de uma
sociedade mundial de estudiosos dos fenômenos da comunicação
de massa. Foi um pesquisador dos fenômenos noticiosos
e das suas conexões com as estruturas de poder. Estudou
também, os problemas da liberdade de imprensa no mundo
contemporâneo, ultrapassando os paradigmas dominantes
que enraizavam o controle da informação pública
exclusiva das malhas da ideologia e dos regimes políticos.
Resultou num modelo sobre a liberdade de imprensa combinando
variáveis dependentes e autônomas.
2.
Elihu Katz, Inovador da Escola Norte-Americana
Dos fluxos comunicacionais aos espetáculos midiáticos
Trajetória
acadêmica
Seu
primeiro livro, Personal Influence, escrito em parceria com
o mestre Paul Lazarsfeld, obteve grande impacto para a pesquisa
comunicacional, pois esboçava a teoria das diferentes
etapas no fluxo da comunicação de massa. Suas
pesquisas evidenciavam que os cidadãos usam a mídia
relativizando sua influência, filtrando-a através
das opiniões de lideranças situadas no entorno
familiar ou comunitário. Sua tese vem contradizer a comunidade
comunicacional de então, que atribuía aos meios
de comunicação um papel determinante na formação
das consciências individuais e conseqüentemente,
nas tendências de opinião pública. Katz,
em suas pesquisas empíricas, concluiu que a mídia
preocupava-se fundamentalmente com as expectativas e aspirações
da audiência, em função das quais define
sua programação.
3.
Luiz Ramiro Beltrán, Pioneiro da Escola Latino-Americana
As idéias de um visionário
Resgatando
identidades
O
grande pesquisador Béltran se preocupa em identificar
as matrizes forâneas das pesquisas realizadas pelos comunicólogos
da América Latina. Observou que tais pesquisadores combinavam
métodos quantitativos e qualitativos, recorrendo, dessa
forma, ao pragmatismo da teoria funcionalista e ao utopismo
da teoria crítica, embasando uma via mestiça de
análise e interpretação dos fenômenos
comunicacionais. Isto faz emergir das observações
de Béltran o diferencial que caracteriza o modo latino-americano
de produzir conhecimento sobre comunicação. O
pioneirismo da escola latino-americana quer efetivamente intervir
na cena comunicacioanl mundial, corrigir distorções
e melhorar o desempenho das organizações produtoras
de bens simbólicos.
4.
Jesús Martín Barbero, Inovador da Escola Latino-Americana
As mediações utópicas
Percurso
da latino-americanização
Barbero,
intelectual espanhol, latino-americanizou-se no processo de
conhecimento da complexa realidade comunicacional do subcontinente
latino, onde a mídia massiva e a cultura popular se hibridizam
criativamente. Seus estudos apontam uma análise semiológica
sobre os fenômenos mídiáticos; transita
entre os signos midiáticos para o contexto cultural em
que eles são produzidos, difundidos e recriados pelos
cidadãos.
A
dimensão marcante de sua personalidade está justamente
no hibridismo que se colocou, possibilitando sua intelectualidade
a um processo de interação cultural pela contingência
empática de conhecer, conviver e compreender um mundo
que conserva muitos traços da sua terra de origem.
Conclusão
Final
O
autor procura traçar um considerável panorama
do desenvolvimento da comunicação desde a Antigüidade
até os dias de hoje com a intenção de provocar
a elaboração de perspectivas futuras ao pensamento
comunciacional brasileiro através do incentivo à
pesquisa científica no âmbito das Ciências
da Comunicação.
Observa
que a formação de grupos de pesquisa deva funcionar
como um alicerce comprometedor com a agenda comunicacional do
novo século que precisa ser responsável, segura,
inovativa e alentadora.
As
principais lideranças atuantes das agências de
fomento científico devem sempre apresentar propostas
pedagógicas lógicas ao universo contemporâneo
que vivemos para resultar no incentivo à formação
de novos agentes da comunicação autônomos
e diferenciados.
A
pesquisa deve sempre manter-se pioneira, e para tanto necessita
olhar com atenção para todas as formas de comunicação,
seja de massa, científica, corporativa, industrial, midiática
ou outras. A memória também merece ser conservada
para termos sempre um ponto histórico referencial à
prática da investigação científica,
tal atitude favorece o intercâmbio mundial de pesquisas.
Para tanto, é primordial que se mantenha organizada e
vigente as instituições que promovem o incentivo
científico, seja ela a ELACOM, INTERCOM, UNESCO, CELACOM,
e outras; porque daqui é que se tem acesso as inovações
do pensamento crítico e criativo do campo comunicacional,
valorizando os profissionais da área, como também,
enobrecendo ainda mais o setor das comunicações.
Notas
(1)
Marques de Melo, José, História do Pensamento
Comunicacional: cenários e personagens.
Prefácio.
(2)
Marques de Melo, José, História do Pensamento
Comunicacional: cenários e personagens.
Página 15
(3)Marques
de Melo, José, História do Pensamento Comunicacional:
cenários e personagens.
Página 16
(4)
Marques de Melo, José, História do Pensamento
Comunicacional: cenários e personagens.
Página 17
(5)
Marques de Melo, José, História do Pensamento
Comunicacional: cenários e personagens.
Página 27
(6)
Marques de Melo, José, História do Pensamento
Comunicacional: cenários e personagens.
Página 36, 37.
(7)
Marques de Melo, José, História do Pensamento
Comunicacional: cenários e personagens.
Página 61.
(8)
Marques de Melo, José, História do Pensamento
Comunicacional: cenários e personagens.
Página 62, 63.
(9)
Marques de Melo, José, História do Pensamento
Comunicacional: cenários e personagens.
Página 130, 131.
(10)
Vide informações complementares sobre tal histórico
em: Marques de Melo, José, História do Pensamento
Comunicacional: cenários e personagens, páginas
166 a 171.
(11)
Vide detalhamento da pesquisa em: Marques de Melo, José,
História do Pensamento Comunicacional: cenários
e personagens, páginas 201 a 222.
Voltar
|