...................................................................... pjbr@eca.usp.br













...

Resenhas


Jornal Nacional chega
à sua maioridade

Por Ruth Vianna

Ficha Técnica:
Jornal Nacional - A Noticia Faz Historia
Autor: Globo
Editora: Jorge Zahar
ISBN 8571108102
Brochura - 408 pág.
1 Edição 2004


(Balzac)

A parede abre-se,
com o brusco movimento tremido.
O espírito sente-se empurrado e perdido
e o corpo mal se mantém de pé,
só o consegue graças à fé.
Mas fé em quê?
No sol - que nasce todas as manhãs?
Na noite - com salpicos de estrelas?
Ou fé: em deuses e satãs?
Em príncipes e cinderelas?
Em heróis e mitos?
Em reis e imperadores?
Em palavras e gritos?
Em farsas e impostores?

Mas que acontecerá quando o sol não nascer
numa manhã eclíptica?
Ou quando a noite cair
como um manto sem padrões?
Ou quando o divino se perder
para além da crença típica?
Ou quando o conto mentir
sobre as suas próprias ilusões?

Ou quando os heróis abandonarem
o seu quadro popular?
Ou quando imperadores mergulharem
numa loucura singular?
Ou quando palavras gritarem por silêncio absoluto?
Ou quando farsas se identificarem como o nosso último reduto?
Ou quando impostores mutantes
tornarem-se diletantes?

A parede sara as suas fendas;
a realidade cessa de tremer;
o espírito consegue finalmente compreender
como é sentir-se encontrado por entre as emendas
de uma tremura débil;
e o corpo foge do seu estado febril:
os olhos enchem-se de líquido,
fútil e insípido,
e o corpo jaz, derrubado no chão,
sem a sua fé
aquela cega paixão.
Tenta levantar-se e manter-se de pé,
mas é só uma tentativa,
fútil e inociva:
como pode o corpo levantar-se,
sem ter em que apoiar-se?


Como em Balzac, "o mundo é o das mulheres de trinta". A ninfa de prata está fazendo trinta e cinco anos e o seu telejornalismo também: Rede Globo de Televisão, império de comunicação construído pela família dos Marinhos, no Brasil, nos idos dos anos 60 está passando pela maioridade.

A forma que encontraram para tal comemoração simbólica foi a de lançarem o livro Jornal Nacional: A notícia faz história pela Jorge Zahar Editora [Rio de Janeiro, 2004, 407 páginas], no último mês de setembro deste 2004; cuja publicação, divulgadíssima pela imprensa falada, escrita e televisionada, além de apelos publicitários próprios das Organizações Globo (e que se diga de passagem que o apelo publicitário é popularesco para inculcar no público espectador e leitor as idéias que pretendem passar sobre seu comportamento em alguns fatos históricos significativos para a Nação: a defesa da emissora sobre as pesadas culpas que caíram sobre a emissora durante estes longos trinta e cinco anos). Com apelo publicitário desta grandeza, a edição do livro, já é, praticamente esgotada, com novas reedições em pleno lançamento.

Tal acontecimento já era de se esperar, pois afinal a Rede Globo de Televisão e o Jornal Nacional desde o seu surgimento têm suscitado amplos e polêmicos questionamentos enquanto veículo e conglomerado de comunicação no Brasil, motivados por questões comerciais, institucionais, culturais, econômicas e principalmente, políticas e comunicacionais.

Hoje, mas do que sempre, o Jornal Nacional das Organizações Globo apresenta índices de vigor. Os números que são apresentados sobre o JN e, trazidos a público pela Revista Veja, de 1º de setembro de 2004, páginas 100 a 108, em reportagem especial de capa, não deixam de ser surpreendentes, e, demonstram bem o significado e relevância destes dados, que fazem do JN o telejornal mais assistido do Brasil.

Conforme Veja o JN em números está assim representado:

"43 pontos no Ibope; possui 31 milhões de espectadores (...) 68% dos televisores sintonizados (...) 600 jornalistas em 118 cidades (...) Um comercial de trinta segundos nos intervalos do JN custa até 380.000 reais (...) O JN fatura cerca de 65 milhões de reais por mês e só perde para a novela das 8".

Ainda João Gabriel de Lima autor da reportagem especial de Veja sobre os 35 anos da Rede Globo, intitulada Como é produzir o Jornal Nacional, que vive uma fase de sucesso e, aos 35 anos, faz uma reflexão sobre sua história afirma categoricamente que "o noticiário, exibido pela emissora em horário nobre é assistido diariamente por 31 milhões de brasileiros, é campeão de audiência desde que o primeiro apresentador, Hilton Gomes, leu a primeira notícia no ar, há 35 anos". Segundo ele, "o Jornal Nacional é uma história de sucesso sem paralelo entre os telejornais brasileiros".

Os dados apresentados por Rede Globo à Veja chamam a atenção e dão primazia ao JN com 68% de aparelhos ligados na hora da emissão de seu telejornal de prime time*, perfazendo um total de 31 milhões de espectadores; enquanto TFI (França) com seu telejornal Journal de 20 Heures vem está em segundo lugar com 46% dos aparelhos ligados e 11 milhões de espectadores; a NBC (EUA) NBC, com o seu telejornal Nightly News, encontra-se em terceiro lugar com 15 % (aparelhos ligados) e 10 milhões de espectadores; a ABC (EUA) ao emitir o telejornal ABC Tonight mantém o quarto lugar com 12% (aparelhos ligados) e 8 milhões de espectadores; a CBS (EUA) com seu telejornal CBS Evening mantém 10% (aparelhos ligados) e 6 milhões de espectadores, obtendo o quinto lugar no ranking de telespectadores mundiais; a BBC (Inglaterra) ao apresentar o telejornal Six O'Clock News capta 26% (aparelhos ligados) e 5 milhões de espectadores conquista o sexto lugar neste mesmo ranking, e, por último, mantendo igualmente o sexto lugar obtido pela BBC, está também a Raí (Itália) com o seu telejornal TG1 , obtendo 31 % dos aparelhos ligados e 5 milhões de espectadores.

Gabriel faz comparações do êxito do JN em relação a demais telejornais de outros países democráticos, afirmando "que o Jornal Nacional se sobressai", o que evidentemente considero tal afirmação pouco cautelosa, pois há que se considerar a extensão geográfica brasileira; o número de habitantes; o tempo do programa em relação aos demais e, principalmente, o número de leitores de jornal impresso diário; o número de alfabetizados de um país para com o outro; pois ficou comprovado cientificamente em nossa pesquisa de doutorado que o JN apesar de toda importância e qualidades que poderá ter o JN é necessário se considerar que a liderança em audiência do programa se dá devido a um fator bastante importante e, também, muito preocupante: ser um dos únicos meios de informação de quase 90% dos brasileiros, que por questões econômicas e falta de escolaridade nem sempre podem desfrutar de leituras de periódicos impressos; de freqüentar salas de cinema, teatros; vernisagens; exposições; concertos musicais e outras formas de expressões culturais como é comum ocorrer com a população de outros países que não têm no telejornalismo ou mais especificamente na televisão a sua única forma de obter informação diariamente.

Não obstante, é preciso voltar ao tempo e analisar como é que a Rede Globo obtém todo este desempenho. É fato que a emissora conseguiu imprimir força em sua imagem institucional como veículo poderoso e de padrão de qualidade inquestionável frente ao cenário audiovisual brasileiro, e, também, no mundo televisivo.

As queixas habituais contra a emissora se dão devido às questões políticas do início de implantação da Rede Globo no Brasil, que coincide com o Golpe de 64, e a ascensão dos militares no poder; período considerado desenvolvimentista tecnológico; a emissora durante estes longos trinta e cinco anos tem levado a pecha de aliada do governo ditador que imperou no Brasil vinte e um anos: 1964 a 1985.

O estigma viria logo com a implantação da emissora no Brasil através das mãos do capital estrangeira da empresa norte-americana Time Life, ferindo a Constituição brasileira e, também, da comentada benevolência de Rede Globo e a política militar (ou de ambos) imposta no País e considerado politicamente o momento mais sombrio da Nação brasileira, que teve os meios de comunicação, da imprensa censurados, mortes, prisões, cassações dos direitos públicos, políticos, de expressão; eliminação de partidos políticos, dos movimentos estudantis, extinção dos movimentos sindicais e camponeses; exílios, etc... Era a época do AI-2; do AI -5, enfim a exclusão da democracia e do direito à cidadania.

Questões políticas como a histórica Campanha das Diretas Já (1984), a trágica eleição de Tancredo Neves e sua morte como mártir; Debate Eleitoral à presidência onde contracenaram Lula e Collor (1989); os Caras pintadas e o impeachment de Collor; a morte trágica de Ulisses Guimarães; eleições presidenciais de Fernando Henrique e Lula; e, fora os acontecimentos domésticos do cenário público e privado brasileiros são igualmente relevantes os dados dos acontecimentos internacionais como os das últimas guerras dos últimos vinte anos no mundo, que mudam significativamente o tabuleiro geopolítico no mundo ocidental e oriental. São fatos, histórias, estórias e lendas que se misturaram no imaginário popular, resultado de várias investigações científicas, que, em sua maioria se posicionaram contra a Rede Globo, ou em algumas poucas teorias menos rançosas à atuação da emissora no País.

A história da televisão no Brasil, que durante todo este tempo tem circulado nos meios acadêmicos, passa inevitavelmente pela história da Rede Globo; ou seja estas verdades ou mentiras são contadas de boca em boca; ou até mesmo nos círculos acadêmicos; intelectuais e de pesquisadores considerados mais sérios; nas escolas de comunicação e jornalismo, permiano por todas as demais áreas do saber não só aqui no Brasil, mas também em boa parte do mundo. Existem teorias bastante provocativas que podem levar a crer que "a Globo é o monstro que come criancinha e também as pessoas de todos os sexos e idades". Isto é: "é a televisão que te vê e não é você que vê a televisão" ... Ou... então.. que "a Globo é a Poderosa ... a melhor ... a de qualidade ... a que faz a notícia .. a que eleva mas também derruba .. que dá o poder, mas também desbanca do trono... discursos ... que durante todos estes anos foram considerados como verdades absolutas ou simplesmente boatos".

Algumas teses e livros foram escritos sobre a Rede Globo e o Jornal Nacional, cujos dados que somente agora a emissora aceita como verdadeiros já foram cientificamente comprovados, tais como a sua linguagem inócua para os quase 90% de seus telespectadores, mas que só agora os dirigentes do Jornal Nacional dão a mão à palmatória e aceitam como verdade ao dizerem:

"Percebe-se, através de levantamento, que muitos espectadores ainda não entendem perfeitamente o que é dito. (... Um exemplo: recentemente, foi exibida uma série de reportagens sobre reforma tributária. A pesquisa apontou que grande parte dos telespectadores simplesmente não conheciam o significado da palavra "tributária". A lição foi aprendida". (Veja, 1º de setembro de 2004, página 106).

Ora, pesquisas exaustivas e principalmente já demonstravam isto claramente. No entanto, estes dados somente são revelados agora.

Pesquisas científicas já demonstraram que o espectador não entende o que é dito, mas é na palavra que mais de 90% dos espectadores, tanto no Brasil como na Espanha, têm a sua atenção voltada e não na imagem como os profissionais da Rede Globo e demais televisões do Brasil e do mundo costumam atribuir. Eles continuam afirmando que "Televisão é antes de tudo imagem...", esquece-se que a imagem tem papel fundamental, mas que o discurso, a palavra é elemento preponderante e que o ser humano retém biologicamente muito mais informações auditivas (sonoras) do que imagéticas em nível cognitivo. O espectador poderá ficar mais impressionado, mais preso pela imagem em termos emocionais mas não de elaboração intelectual cognitiva sem a qual não é possível compreender o que ouvem e o que vêm.

Outro elemento que já havíamos demonstrado na pesquisa de doutorado e que somente agora a emissora admite é que as preferências dos espectadores se davam por reportagens de saúde, cultura e descobertas científicas... economia e política". De 1995 a 2000 não haviam resumos destas notícias uma tendência dos telejornais espanhóis e que só agora a Rede Globo se gaba em dizer que também faz. Já havíamos apontado esta tendência dos telejornais espanhóis em minha tese de doutorado e nos artigos apresentados nos congressos da área que participamos.

Igualmente este fato outro fator significativo está na questão relacionada a variedade de sotaques. Esta pode ser uma nova ordem editorial da emissora após trinta e cinco anos de críticas ao fato de que o sotaque do Jornal Nacional sempre foi linear e aos modos do linguajar do eixo Rio de Janeiro - São Paulo. Esta crítica já é antiga e na minha pesquisa de doutorado também foram apresentados exemplos gritantes de como o desrespeito ao se emitir sotaques de regiões que não fosse do Rio-São Paulo eram rigorosamente cobrados dos profissionais de jornalismo da Rede Globo que ousassem desobedecer. Na história da emissora está cheia de exemplos desta natureza, como os ocorridos com jornalistas que vinham do Rio Grande do Sul ou do Nordeste do país.

Segundo a Veja, Gabriel de Lima afirma em sua reportagem que "Por muito tempo esses episódios forma tabus na Rede Globo. Agora não são mais. No livro Jornal Nacional. A notícia faz história, elaborado por um time de historiadores contratados pela emissora, a Globo faz sua própria investigação e agora dá sua versão dos fatos".

A versão dos fatos da emissora, apresentada em reportagens e no próprio livro, lançados em massa, deve ser confrontada com a História real à qual dezenas, centenas de pesquisadores têm se debruçado a estudar e não ficar restrita, ou tida como a história oficial a um diz que diz como mostram os depoimentos apresentados no livro, que na verdade ficou o dito pelo não dito e realizado. E isto na leitura atenda que fizemos do livro fica evidente e qualquer análise de discurso mais rigorosa provará justamente o contrário.

Desde a implantação da Rede Globo no Brasil as demais emissoras de televisão permaneceram como simples eminências pardas ou no mínimo conseguiram imprimir uma imagem institucional incipiente quanto aos índices de audiência ou de preferência popular devido à força de capital e tecnologia utilizadas pelos Marinhos. Foram sufocados impérios comunicacionais televisivos como o dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, pioneiro ao trazer e implantar a TV no Brasil em 1950.

Até os inícios dos anos 90 a Rede Globo era tida como a rainha inquestionável de audiências. É sabido que isso se deu a custas de uma tecnologia de ponta e um padrão global de sua programação, cujos formatos e linguagem são adeptas da escola do telejornalismo norte-americana, tornando mais ágil a sua comunicação de massa bem ao gosto da demanda produzida pela indústria cultural implantada pelo Tio Sam no Brasil e em toda a América Latina pela política de boa vizinhança exportada pelos Estados Unidos no final dos anos 40 e início dos anos 50.

Assim, esta proposta comunicacional televisiva implantada pelos Marinhos matou no nascedouro telejornais de vanguarda, criativos e originais ao estilo brasileiro, ao ser introduzido o estilo ou a tendência da escola norte - americana de jornalismo eletrônico pela Rede Globo.

Somente com a transição democrática brasileira e no governo de Fernando Henrique Cardoso com a implantação do novo Sistema Monetário Brasileiro, o chamado Plano Real, é que a grande parcela de consumidores das classes D e E puderam pela primeira vez ter acesso ao seu primeiro aparelho de televisor; de aparelho de som; videocassete e outros bens de consumo como até mesmo pôde ter acesso à energia elétrica, pois até 1998, ainda havia um índice altíssimo da população brasileira que não desfrutavam da luz elétrica em suas casas.

Foi ai que as outras emissoras de televisão puderam também ter mais visibilidade pública, pois milhões de brasileiros se tornaram espectadores. Período este que coincide com a entrada da TV fechada (multicanal ou por assinatura) em nosso país, levando as emissoras de canal aberto a repensarem o conteúdo de sua programação para atender os milhões de novos telespectadores recém-chegados à telinha ou caso contrário estariam fadas à morte comercial dos canais abertos.

Em 1998 a rainha inquestionável se viu obrigada a tirar as suas luvas de madame e colocar a mão na massa (se preocupar com a nova clientela de baixa renda) como já estavam fazendo a recém re - inaugurada Rede Record pelos investimentos tecnológicos e de capital do Bispo Edir Macedo da Igreja Universal, cuja programação da emissora mostrava a cara real dos brasileiros subdesenvolvidos, desdentados e com carências de toda a ordem, principalmente de expressão, de comunicação, de se fazerem ouvidos e vistos. Foi à época do mundo cão dos ratinhos, madalenas e margaridas da vida.

Foi a época, (um pouco antes, no final dos anos 80) em que a emissora do empresário Abravanel, conhecido artista, chamado de Silvio Santos conheceu o que era jornalismo e quem eram os jornalistas no sentido exato da palavra, e resolveu apostar no gênero informativo, levando programas de conteúdo jornalístico para sua casa de artistas, até então líder em espetáculos e shows; dando, então, impulso significativo na informação televisiva brasileira, considerada uma nova era do jornalismo audiovisual no Brasil. Boris Casoy no TJ Brasil que passou a ser emitido pelo SBT, foi o alavancador de credibilidade deste processo e o informativo Aqui e agora, ao estilo glauberiano revolucionou a linguagem do jornalismo eletrônico brasileiro.

Rede Globo despencava em números de audiência em abril de 1998, e sua programação geral teve que ser repensada e nela, jornalistas experientes da imprensa escrita, foram trazidos do jornal O Globo e re - contratados urgentemente pelos Marinhos em sua TV para realizar um jornalismo mais digerível à camada de população menos culta da população brasileira, tendo que para isso adicionar na receita do "grande caldeirão de sua sopa suculenta", segundo o atual Editor Chefe e apresentador William Bonner, gramas de elementos culturais populares, mudando completamente o perfil editorial adotado pela empresa desde o seu surgimento, para voltar a ocupar o lugar de antes ocupado ou para pelo menos estabilizar seus índices no Ibope. Esta época na Rede Globo pode ser identificada como a época da macaquinha adultera de Brasília, que hoje, em seu livro a emissora busca desmistificar como uma reportagem amena e de curiosidade simplesmente.

Não obstante, como estamos falando de memória, tal como é identificada a obra Jornal Nacional. A notícia faz história, este lançamento de Rede Globo não poderia deixar de ter edição praticamente esgotada pelas curiosidades e também pela resposta à Nação que a emissora pretendeu dar a todas as questões levantadas sobre ela, boas ou ruins, durante estes longos anos.

Respostas que pelas quais a emissora tinha optado por permanecer no silêncio absoluto. As respostas, hoje, publicadas pela emissora, não deixam, entretanto, de serem passíveis de análises mais aprofundadas; pois fatos importantes foram simplesmente pasteurizados ou porque não dizer esterilizados, esvaziados de seu significado primeiro no momento em que ocorreram.

Por que Somente agora a Rede Globo quis tornar públicas questões tão importantes e relevantes, que redirecionaram, de uma certa forma, os destinos da Nação brasileira e que tinham ficado no silêncio absoluto e insondável para as Organizações Rede Globo e só agora vêm à tona? O país vive um novo momento político; um invejável e de bom augúrio econômico como nunca vistos até então. Nunca se falou tanto em espaço cidadão, democracia, exercício da cidadania como agora... Para desvendar tal mistério fomos à fonte: ler as informações que nos dispõe o livro e o que pudemos apreender nos deixou de certa forma mais aliviados mas não satisfeitos.

A obra lida e sorvida com avidez por esta pesquisadora do tema em tese de doutorado La palabra, la imagen y el sonido en los informativos televisivos brasileños y españoles. Estudio comparativo y análisis del lenguaje audiovisual, textual y narrativo (Universidad Autónoma de Barcelona, Barcelona, España, 1995-2000), professora e profissional do meio, nos mostra a superficialidade e a fragilidade com que temas importantes foram tratados pelos responsáveis da obra Jornal Nacional. A notícia faz história, restando para nós leitores um gostinho de amargor de um mea culpa fora do tempo, de espaço e de hora.

Um lavar de roupas sujas que saponáceo algum poderá alvejar as manchas que permeiam a história da informação audiovisual brasileira. O alívio que nos dá é que esta obra de Rede Globo corrobora para a necessidade, de mais uma vez ter que se delimitar o espaço da academia e o do mercado de trabalho, sendo que à academia fica o espaço da reflexão sobre o fazer e ao mercado o espaço do fazer, que infelizmente ainda hoje é feito sem a devida reflexão necessária por parte dos profissionais jornalistas em sua lida diária na rotina produtiva da notícia. Televisão é um meio que tem pressa e os seus produtores, também.

Ainda, este alívio não é de todo saudável, podendo em certos momentos até vir a ser pesaroso, pois, fica evidente também que academia e o mercado profissional continuam de costas dadas um para o outro, quando em países mais desenvolvidos a questão já foi resolvida há anos: as empresas de comunicação têm responsabilidade social, reservando portanto, espaço para a prática profissional em suas emissoras televisivas ou redações de jornais e rádio para os alunos de comunicação social que queiram vir a ser jornalistas. Esta prática é acompanhada pela Universidade e pelos seus professores. A empresa de comunicação ainda reserva uma parcela de suas vagas para os estagiários que se destacarem no estagio realizado.

Voltando à obra dos trinta e cinco anos de Rede Globo o mérito da mesma se encontra na documentação histórica do País e do mundo; das pessoas e personagens que produziram os acontecimentos, cujos depoimentos nem sempre justificam os porquês de Rede Globo, como se pode concluir com uma leitura bem feitas de suas 407 páginas editadas e publicadas.

Entretanto, na Parte I (1965-1974) do livro como fato novo, é relevante a pré-história do JN, tratada na página 18 sob o título Telejornais pioneiros. Aqui vale pelo documental:

"Em 1965, dois fatos seriam decisivos para garantir esse processo: a inauguração da TV Globo em abril e a criação da Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) em setembro. (...) Já no dia da inauguração da Globo, foi ao ar o Tele Globo, noticiário de meia hora de duração, dirigido por Rubens Amaral e apresentado por Hilton Gomes e Aluízio Pimentel. A equipe de jornalismo era dirigida por Mauro Salles. Mario de Moraes era chefe de redação e Baleche Filho o subchefe. O departamento funcionava em apenas uma sala, na sede da emissora, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro."

Ainda, a pré-história do Jornal Nacional teve como telejornais pioneiros o Tele Globo; o Ultranotícias e o Jornal da Globo. Segundo a obra Jornal Nacional. A notícia faz história (2004, RJ, páginas 17 a 19) "o primeiro telejornal da TV Globo, o Tele Globo, era exibido em duas edições: uma das 12hs e outra às 19h. Além de Hilton Gomes e Aluízio Pimentel, também foram seus apresentadores: Íris Lettieri, Paulo Gil, Nathalia Thimberg, Fernando Lopes e Teixeira Heizer".

Já o telejornal Ultranotícias, também com duas edições nasceu em janeiro de 1966, quando o Tele Globo passou a ter uma edição única, às 13 hs. Segundo o livro "A primeira edição do Ultranotícias era apresentada por Paulo Gil, com cinco minutos de duração e ia ao ar de segunda a sexta feira, às 15h. A segunda edição, de 19h45 às 20h, era comandada por Hilton Gomes e Irene Ravache. Em setembro de 1966, o programa passou a ter uma única edição, às 19h45".

Deste período, conforme descreve os autores de Jornal Nacional. A notícia faz história (2004, RJ, páginas 17 a 19) já havia importantes patrocinadores à moda do Repórter Esso, produzido pela agência publicitária norte-americana McCann Ericksson:

"O telejornal era patrocinado pelas empresas Ultragaz e Ultralar e produzido pela agência de publicidade McCann Ericksson. Na época era comum as agências interferirem na elaboração e até na orientação dos programas jornalísticos. (...)".

Os historiadores da Rede Globo contam que Armando Nogueira quando começou a trabalhar na empresa não gostou desta interferência e resolveu acabar com este telejornal em março de 1967, criando o Jornal da Globo. Este telejornal era apresentado por Luís Jatobá e Hilton Gomes, com exibição às 19 h 30, cujo editor - chefe era nada menos que José Ramos Tinhorão e os demais editores eram Silvio Julio Nassar e Jotair Assad. O redator internacional era Sebastião Nery, que mais tarde seria substituído por Humberto Vieira. Em 31 de agosto de 1969 o Jornal da Globo saiu do ar, dando lugar ao Jornal Nacional.

Assim teve início o primeiro telejornal em rede possibilitado pelas novas tecnologias espaciais e de satélite que a humanidade conquistava. 1969 o homem pisou no solo lunar e a Rede Globo transmitiu esta façanha científica e tecnológica.

A obra Jornal Nacional. A notícia faz história (2004, RJ, páginas 17 a 19) como já mencionamos anteriormente vale pelos dados históricos narrados. Pode-se apreciar com precisão quais foram os primeiros equipamentos utilizados pela emissora; o primeiro formato e a primeira abertura de seu telejornal.

Sobre a era dos anos de chumbo (ditadura militar), episódio pelo qual a emissora recebeu tantas críticas durante estes anos todos por sempre se fazer analogia da ditadura com a implantação da emissora, pois se entendia que a mesma foi implantada para ser a porta voz oficial do regime militar, os historiadores da Globo tentam demonstrar que a emissora e seus proprietários foram tão perseguidos quanto qualquer outro meio de comunicação; e embora tivessem um conceito de noticiário nacional já pré-estabelecido, com a censura não houve alternativa a não ser superdimensionarem o telejornalismo internacional. As notícias eram as que aconteciam no quintal dos vizinhos próximos ou distantes e não no Brasil, embora estivessem repletas de fatos e acontecimentos que bem podiam ilustrar o que ocorria no Brasil de fato, em nível político e institucional.

Foi neste período que as Organizações Rede Globo começam a sua trajetória expansionista no cenário audiovisual mundial, lançando bases e bandeiras em solos estrangeiros ao viabilizar a ida de seus primeiros enviados especiais e montar seus escritórios no exterior. Notícias internacionais importantes como a do Waltergate e renúncia de Nixon puderam ser acompanhadas pelos brasileiros devido a esta estrutura de recursos humanos e tecnológicos que a Rede Globo criou na América do Norte (EUA) e alguns países europeus como em Londres, dando cobertura a outros países como França, Itália, Espanha, Portugal, etc. Atualmente a Rede Globo mantém escritórios em New York (EUA) e Londres (Inglaterra).

Ainda nos anos 70 Rede Globo se consolidará enquanto rede (projeto inicial de abrangência em todo o território brasileiro) de sua empresa no Brasil, através do crescimento de suas afiliadas (emissoras de TV que foram conveniadas ou compradas pelas Organizações Rede Globo ou apenas repetidoras de suas programações). O projeto desenvolvimentista do regime militar brasileiro baseado na política imposta pelo FMI ao Brasil possibilitou um desenvolvimento considerável em termos tecnológicos comunicacionais, cujo propósito era o de interligar o país de forma tecnológica para levar a política estabelecida pelos militares do Oiapoque ao Chuí brasileiros, isto é de Norte ao Sul; Leste ao Oeste e Centro - Oeste (Vianna, Ruth, La palabra, la imagen y el sonido en los informativos televisivos brasileños y españoles. Estudio comparativo y análisis del lenguaje audiovisual, textual y narrativo (Universidad Autónoma de Barcelona, Barcelona, España, 1995-2000).

Conforme historiadores da Rede Globo "em 1971, a TV Globo começou a usar o aparelho situado logo abaixo da câmara e que projeta em letreiros, o texto para o locutor. Com o teleprompter, o apresentador lê com mais naturalidade e olha direto para o telespectador (reforçando o clima coloquial, a idéia de que o locutor está na sala da casa quase conversando com quem está assistindo). Em suas primeiras versões, era eletromecânico e dependia de um operador para rodar o texto impresso numa bobina" (Jornal Nacional. A notícia faz história. 2004, RJ, páginas 51-52).

Em 1972 é a chegada da televisão em cor no Brasil. O livro da Rede Globo é sincero ao afirmar que este feito tecnológico não foi utilizado pela sua empresa de forma pioneira, mas sim coube a outra emissora que não de sua propriedade:

"A primeira transmissão colorida ocorreu em rede nacional, via Embratel, no dia 10 de fevereiro. A responsabilidade pela geração das imagens - que registraram a Festa da Uva na cidade de Caxias, no Rio Grande do Sul - não foi da Rede Globo, mas da TV Difusora, com a colaboração técnica da TV Rio e com o apoio das TVs Gaúcha, Piratini e de Caxias. Mas a Globo tornou-se a grande atração do evento ao apresentar, no intervalo dos desfiles de carros alegóricos, artistas famosos de suas novelas e shows".

Não obstante, a chegada da tecnologia colorida, ao meio televisivo brasileiro, foi acompanhada de muitas controvérsias sobre qual o sistema de cores mais adequado para a realidade brasileira em termos nacionais. O relato da Rede Globo era a de que o sistema alemão PAL (Phase Alternative Line), o norte-americano NTSC (National Television Sistem Comitee) ou o francês SECAM (Sequentiel em Colleurs avec Mèmoire). No fim, acabou-se optando por uma adaptação do PAL: o PAL-M, sistema europeu modificado" (Ver também Vianna, Ruth (1995-2000 e Squirra [1988]).

Acertado o padrão tecnológico para a emissão em cores este advento tecnológico causou uma revolução no conceito de transmissões de imagens, pois se passou a perceber o efeito que causaria no público. Para conter os excessos dos paletós verdes e cor - de -abóbora ou quadriculado, a Rede Globo contratou profissionais especializados para cuidar da roupa de repórteres e locutores (apresentadores). Tal estratégia foi seguida por outras emissoras de televisão.

Ainda na década de 70 (anos 1970 a 1973) a Rede Globo que havia transmitido em pool com outras emissoras o mundial de futebol (Copa do México) passou a investir mais neste tipo de programação. As Olimpíadas de 1972 foram as primeiras apresentadas pela Rede Globo em parceria com a OTI (Organização de Televisões Ibero-Americanas). O sucesso deste tipo de programação com notícias diretas de esportes no Jornal Nacional, motivou a empresa a em abril de 1973 criar a Divisão de Esportes da Rede Globo.

Paralelamente a isto a programação jornalística da emissora ganhava força, que era realizado sob a responsabilidade da Central Globo de Jornalismo. O dia-a-dia da produção das notícias era pautado por regras de padronização de formatos e também de seu texto.

Quanto à preocupação com o texto, conforme relatado pela Rede Globo em seu livro na página 62, os historiadores afirmam que os responsáveis pela CGJ, Armando Nogueira e Alice-Maria sempre estiveram preocupados com a palavra e que realizaram uma campanha pela valorização da mesma e em 1975 foi lançado um pequeno manual sobre o assunto, com algumas regras sobre como escrever para a televisão. Não obstante, foi em 1983 que Luis Edegar de Andrade (antigo jornalista de imprensa escrita e veterano de cobertura do Vietñan) que fez a atualização do manual da arte de escrever notícia para a televisão.

Sobre este aspecto, ao qual a tese de doutorado de Ruth Vianna deu a maior ênfase é necessário ressaltar que o Manual de telejornalismo da Rede Globo, publicado em 1984 no Rio de Janeiro pela emissora de autoria de Luis Edegar de Andrade trata-se de uma publicação baseada no livro norte-americano Television News, que coloca em destaque a importância do uso da palavra para a televisão como sendo uma linguagem coloquial. Não obstante, no excesso desta busca do coloquial a Rede Globo tem pecado pela realização de uma linguagem extremamente empobrecida ou por vezes por termos de falta de conhecimento dos noventa por cento dos cidadãos brasileiros, como a palavra tributária que até mesmo, a própria emissora reconheceu não ser o termo mais correto de usar para amenizar o jargão econômico.

Ainda quanto à palavra utilizado nos telejornais brasileiros e não só da Rede Globo, cientificamente se comprovou que os espectadores não as compreende bem, havendo portanto uma falha comunicacional, não só pelo uso inadequado do idioma; mas principalmente pela falta de logicidade entre palavra-imagem-som que têm cada uma delas uma gramática específica a ser respeitada e combinadas entre si de forma harmônica. A falha comunicacional se dá também por não haver cuidados com os tempos verbais, ou seja, presente, passado e futuro, tanto em termos de palavras, palavras sonoras e imagens que obedecem a roteiros próprios de construção audiovisual.

O que se percebeu cientificamente é que na maioria das noticias apresentadas nos telejornais a palavra vai por um lado; a imagem para outro e o som (quase sempre manipulados e não som ambiente) vai para outro lado completamente diferentes, resultando em um ruído informacional, que dificulta a compreensão da maioria dos espectadores da informação audiovisual (Ver Vianna, Ruth, La palabra, la imagen y el sonido en los informativos televisivos brasileños y españoles. Estudio comparativo y análisis del lenguaje audiovisual, textual y narrativo (Universidad Autónoma de Barcelona, Barcelona, España, 1995-2000. Anexos I e II).

Em sua Parte II (1974-1983), intitulada de O JN em Época de Abertura Lenta e Gradual o livro Jornal Nacional. A notícia faz história (2004, RJ, páginas 69 a 135) reproduzirá os acontecimentos e fatos deste período e da participação da Rede Globo em cada um desses acontecimentos, desejando mostrar os porquês de seu envolvimento com a abertura o não, que segundo eles se davam devido ainda persistir, até o ano de 1976, forte esquema de censura do governo dos militares no país. O Brasil está sob o comando do quarto presidente após o Golpe de 1964, o General Ernesto Geisel.

Este é o período do início da distensão política brasileira o que favorece uma ampliação e reforço no noticiário da Rede Globo em Brasília com mais espaços para a reportagem política. Deste período são famosas as reportagens sobre a visita de Geisel ao Japão com a fala do presidente à imprensa; as eleições para prefeitos de 1976, na qual se pôde ver o avanço da oposição na campanha eleitoral e a proposta de Geisel para uma abertura lenta e gradual do sistema político no Brasil.

Em 1976 a política volta a estar em pauta no país. Conforme contam os historiadores da Rede Globo, o jornalista Toninho Drumond relata que: "as eleições de 1976 foram muito importantes para o jornalismo da Rede Globo, pois quase todos os estados estavam empenhados em acompanhar os fatos. (...) pela primeira vez (após o Golpe de 64), o Brasil todo apareceu falando de política. A política estava no centro de um debate nacional".

No entanto, entre os avanços e retrocessos da abertura de Geisel o período é recheado de fatos históricos políticos e econômicos importantes: "em abril de 1977, o governo decretou recesso no Congresso e baixou um conjunto de medidas que ficou conhecido como Pacote de Abril. Foram cassados os mandatos de líderes moderados e criada a figura dos senadores biônicos, eleitos indiretamente. Já antes das eleições, o presidente havia sancionado uma lei que alterava o Código Eleitoral, conhecida por Lei Falcão, impedindo a plataforma político-partidária nas campanhas no rádio e na televisão".

Essa mudança do Código Eleitoral se deu, claro, pelo avanço do antigo MDB nas eleições para prefeitos em todo o país e era uma forma de garantir maioria em favor dos militares no Colégio Eleitoral que, em 15 de novembro de 1978, deveria eleger o novo presidente n.

Segundo os historiadores da Rede Globo o jornalismo da emissora tentava seguir todos estes acontecimentos mais nem sempre era possível, mas em dezembro de 1977, após Geisel ter, através da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) ter anunciado o fim das exceções no país e ter nomeado o senador Petrônio Portela como principal negociador das mudanças políticas o JN tentou realizar reportagens que abordassem os temas da maior importância para o Brasil até então: "o destino do AI-5; o fim da censura; a missão Petrônio e a eleição de 1978". Para acompanhar tudo isto a Globo criou um setor, o Setor se chamava Petrônio Portela Nunes para o qual foi convidado a trabalhar como responsável o jornalista Carlos Henrique Amorim.

Não obstante, ainda nesta abertura lenta e gradual de Geisel, embora já tivesse em 11 de dezembro de 1978, aprovado a emenda constitucional nº 11 que revogava os atos institucionais e complementares, impostos pelos militares, inclusive, o AI-5, cujo texto tinha sido articulado por Portela com a colaboração do presidente da Câmara, Marco Maciel, a censura continuava ainda em vigor e segundo a Globo, o seu "noticiário se limitava ao factual, sobretudo quando se tratava de assuntos delicados, que envolviam episódios de tortura".

Este é o motivo pelo qual a Rede Globo tenta se eximir por não ter noticiado ou investigado de forma mais concreta os truculentos episódios da morte de Vladimir Herzog, Diretor de jornalismo da TV Cultura, em outubro de 1975, e do metalúrgico Manuel Fiel Filho, em janeiro do ano de seguinte, os dois crimes ocorridos nas dependências do Dói - Codi de São Paulo. Não obstante, foi a indignação popular que motivou uma crise militar que culminou com a demissão do comandante do II Exército, general Ednardo D'Ávila Melo.

Casos semelhantes são contados pelos historiadores da Rede Globo, como por exemplo, a cobertura da morte de Juscelino Kubitschek, que a manifestação popular saiu vitoriosa: "foi um evento comandado pela população (...) Foram momentos que ajudaram gradualmente a construir a democracia no país" (op.cit, pág. 77, RJ, 2004).

O livro Jornal Nacional. A notícia faz história (2004, RJ, páginas 76-77), mostra ainda que mesmo a emissora e a CGJ querendo fazer coberturas sobre acontecimentos políticos relevantes no país, os militares acabavam reclamando das matérias e censurando os programas jornalísticos como aconteceu com a matéria sobre a invasão policial da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, deixando o jornalismo de São Paulo, realizado pela Rede Globo, por algum tempo sem poder entrar no ar:

"Na noite de 22 de setembro de 1977, o Jornal Nacional mostrou, diretamente de São Paulo, imagens da invasão policial da Pontifícia Universidade Católica (PUC) durante a realização do 3º Encontro Nacional de Estudantes. Os policiais, chefiados pelo coronel Erasmo Dias, então secretários de Segurança Públicos do estado, atiraram bombas sobre os manifestantes. Os militares reclamaram da matéria, que mostrava a truculência dos policiais, e o jornalismo de São Paulo ficou algum tempo sem poder entrar ao vivo no JN".

Segundo os historiadores da Rede Globo, a censura naquele período não interferia apenas no conteúdo jornalístico, mas também na programação de entretenimento: a novela Roque Santeiro, de agosto de 1975 é um caso típico. Mas este era um investimento da família dos Marinhos de 500 mil dólares o que levou o presidente das Organizações Globo a se pronunciar, criticando a medida em horário nobre, em editorial no Jornal Nacional.

Neste período houve as greves do ABCD (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema) paulista, que deram notabilidade a São Paulo, fortalecendo o jornalismo da Rede Globo paulista. Mas, também a Rede Globo se desculpa pela falta de cobertura mais atuante, segundo ela, motivada pela censura dos militares:

"O jornalismo da TV Globo, no entanto, enfrentou restrições para cobrir o assunto. Armando Nogueira conta que os militares ordenaram à emissora uma cobertura leve, sem som ambiente e sem dar vozes às lideranças sindicais. Isso provocou grande descontentamento dos metalúrgicos, e areação de alguns deles chegou a ser violenta (....)".

Frente a essas desculpas da Rede Globo, procuramos no exemplar deste livro qualquer documento que comprovasse expressamente essas proibições da censura, realizadas pelos militares, mas não encontramos nada. A pergunta que nos passa à cabeça é de que forma ocorriam estas censuras: quem era esses militares? os militares ficavam pessoalmente na redação da emissora?; mandavam cartas; telex; telefonavam? Acreditamos que, este tipo de alegação fica um pouco prejudicado, pois até mesmo a primeira lição de jornalismo ensina que deve se ouvir os dois lados, os três... todos os lados da questão que se está reportariando ou historiando. E para os historiadores: "história, segundo o Aurélio quer dizer: "narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida de um povo, em particular, da humanidade, em geral", além de outras conotações.

Por outro lado, é claro a obra publicada pela Rede Globo, é válida pelo volume de informações trazidas sobre fatos de nosso Brasil e do mundo. Também sobre a nova era do jornalismo na emissora a partir da direção de Henrique Schroder, que tem colocado luzes sobre o jornalismo social, e, que a nosso ver, tem aí a explicação para a recuperação dos índices de audiência da Rainha e tanto sucesso da emissora, que queiram ou não queiram é um produto do Brasil, considerado Vip em todo o mundo.


Voltar


...
www.eca.usp.br/prof/josemarques