Resenhas
Jornal
Nacional chega
à sua maioridade
Por
Ruth Vianna
Ficha
Técnica:
Jornal Nacional - A Noticia Faz Historia
Autor: Globo
Editora: Jorge Zahar
ISBN 8571108102
Brochura - 408 pág.
1 Edição 2004
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Fé
(Balzac)
A
parede abre-se,
com o brusco movimento tremido.
O espírito sente-se empurrado e perdido
e o corpo mal se mantém de pé,
só o consegue graças à fé.
Mas fé em quê?
No sol - que nasce todas as manhãs?
Na noite - com salpicos de estrelas?
Ou fé: em deuses e satãs?
Em príncipes e cinderelas?
Em heróis e mitos?
Em reis e imperadores?
Em palavras e gritos?
Em farsas e impostores?
Mas
que acontecerá quando o sol não nascer
numa manhã eclíptica?
Ou quando a noite cair
como um manto sem padrões?
Ou quando o divino se perder
para além da crença típica?
Ou quando o conto mentir
sobre as suas próprias ilusões?
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Ou
quando os heróis abandonarem
o seu quadro popular?
Ou quando imperadores mergulharem
numa loucura singular?
Ou quando palavras gritarem por silêncio absoluto?
Ou quando farsas se identificarem como o nosso último
reduto?
Ou quando impostores mutantes
tornarem-se diletantes?
A
parede sara as suas fendas;
a realidade cessa de tremer;
o espírito consegue finalmente compreender
como é sentir-se encontrado por entre as emendas
de uma tremura débil;
e o corpo foge do seu estado febril:
os olhos enchem-se de líquido,
fútil e insípido,
e o corpo jaz, derrubado no chão,
sem a sua fé
aquela cega paixão.
Tenta levantar-se e manter-se de pé,
mas é só uma tentativa,
fútil e inociva:
como pode o corpo levantar-se,
sem ter em que apoiar-se?
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Como
em Balzac, "o mundo é o das mulheres de trinta".
A ninfa de prata está fazendo trinta e cinco anos e o
seu telejornalismo também: Rede Globo de Televisão,
império de comunicação construído
pela família dos Marinhos, no Brasil, nos idos dos anos
60 está passando pela maioridade.
A
forma que encontraram para tal comemoração simbólica
foi a de lançarem o livro Jornal Nacional: A notícia
faz história pela Jorge Zahar Editora [Rio de Janeiro,
2004, 407 páginas], no último mês de setembro
deste 2004; cuja publicação, divulgadíssima
pela imprensa falada, escrita e televisionada, além de
apelos publicitários próprios das Organizações
Globo (e que se diga de passagem que o apelo publicitário
é popularesco para inculcar no público espectador
e leitor as idéias que pretendem passar sobre seu comportamento
em alguns fatos históricos significativos para a Nação:
a defesa da emissora sobre as pesadas culpas que caíram
sobre a emissora durante estes longos trinta e cinco anos).
Com apelo publicitário desta grandeza, a edição
do livro, já é, praticamente esgotada, com novas
reedições em pleno lançamento.
Tal
acontecimento já era de se esperar, pois afinal a Rede
Globo de Televisão e o Jornal Nacional desde o seu surgimento
têm suscitado amplos e polêmicos questionamentos
enquanto veículo e conglomerado de comunicação
no Brasil, motivados por questões comerciais, institucionais,
culturais, econômicas e principalmente, políticas
e comunicacionais.
Hoje,
mas do que sempre, o Jornal Nacional das Organizações
Globo apresenta índices de vigor. Os números que
são apresentados sobre o JN e, trazidos a público
pela Revista Veja, de 1º de setembro de 2004, páginas
100 a 108, em reportagem especial de capa, não deixam
de ser surpreendentes, e, demonstram bem o significado e relevância
destes dados, que fazem do JN o telejornal mais assistido do
Brasil.
Conforme
Veja o JN em números está assim representado:
"43
pontos no Ibope; possui 31 milhões de espectadores
(...) 68% dos televisores sintonizados (...) 600 jornalistas
em 118 cidades (...) Um comercial de trinta segundos nos intervalos
do JN custa até 380.000 reais (...) O JN fatura cerca
de 65 milhões de reais por mês e só perde
para a novela das 8".
Ainda
João Gabriel de Lima autor da reportagem especial de
Veja sobre os 35 anos da Rede Globo, intitulada Como é
produzir o Jornal Nacional, que vive uma fase de sucesso e,
aos 35 anos, faz uma reflexão sobre sua história
afirma categoricamente que "o noticiário, exibido
pela emissora em horário nobre é assistido diariamente
por 31 milhões de brasileiros, é campeão
de audiência desde que o primeiro apresentador, Hilton
Gomes, leu a primeira notícia no ar, há 35 anos".
Segundo ele, "o Jornal Nacional é uma história
de sucesso sem paralelo entre os telejornais brasileiros".
Os
dados apresentados por Rede Globo à Veja chamam a atenção
e dão primazia ao JN com 68% de aparelhos ligados na
hora da emissão de seu telejornal de prime time*, perfazendo
um total de 31 milhões de espectadores; enquanto TFI
(França) com seu telejornal Journal de 20 Heures vem
está em segundo lugar com 46% dos aparelhos ligados e
11 milhões de espectadores; a NBC (EUA) NBC, com o seu
telejornal Nightly News, encontra-se em terceiro lugar com 15
% (aparelhos ligados) e 10 milhões de espectadores; a
ABC (EUA) ao emitir o telejornal ABC Tonight mantém o
quarto lugar com 12% (aparelhos ligados) e 8 milhões
de espectadores; a CBS (EUA) com seu telejornal CBS Evening
mantém 10% (aparelhos ligados) e 6 milhões de
espectadores, obtendo o quinto lugar no ranking de telespectadores
mundiais; a BBC (Inglaterra) ao apresentar o telejornal Six
O'Clock News capta 26% (aparelhos ligados) e 5 milhões
de espectadores conquista o sexto lugar neste mesmo ranking,
e, por último, mantendo igualmente o sexto lugar obtido
pela BBC, está também a Raí (Itália)
com o seu telejornal TG1 , obtendo 31 % dos aparelhos ligados
e 5 milhões de espectadores.
Gabriel
faz comparações do êxito do JN em relação
a demais telejornais de outros países democráticos,
afirmando "que o Jornal Nacional se sobressai", o
que evidentemente considero tal afirmação pouco
cautelosa, pois há que se considerar a extensão
geográfica brasileira; o número de habitantes;
o tempo do programa em relação aos demais e, principalmente,
o número de leitores de jornal impresso diário;
o número de alfabetizados de um país para com
o outro; pois ficou comprovado cientificamente em nossa pesquisa
de doutorado que o JN apesar de toda importância e qualidades
que poderá ter o JN é necessário se considerar
que a liderança em audiência do programa se dá
devido a um fator bastante importante e, também, muito
preocupante: ser um dos únicos meios de informação
de quase 90% dos brasileiros, que por questões econômicas
e falta de escolaridade nem sempre podem desfrutar de leituras
de periódicos impressos; de freqüentar salas de
cinema, teatros; vernisagens; exposições; concertos
musicais e outras formas de expressões culturais como
é comum ocorrer com a população de outros
países que não têm no telejornalismo ou
mais especificamente na televisão a sua única
forma de obter informação diariamente.
Não obstante, é preciso voltar ao tempo e analisar
como é que a Rede Globo obtém todo este desempenho.
É fato que a emissora conseguiu imprimir força
em sua imagem institucional como veículo poderoso e de
padrão de qualidade inquestionável frente ao cenário
audiovisual brasileiro, e, também, no mundo televisivo.
As
queixas habituais contra a emissora se dão devido às
questões políticas do início de implantação
da Rede Globo no Brasil, que coincide com o Golpe de 64, e a
ascensão dos militares no poder; período considerado
desenvolvimentista tecnológico; a emissora durante estes
longos trinta e cinco anos tem levado a pecha de aliada do governo
ditador que imperou no Brasil vinte e um anos: 1964 a 1985.
O
estigma viria logo com a implantação da emissora
no Brasil através das mãos do capital estrangeira
da empresa norte-americana Time Life, ferindo a Constituição
brasileira e, também, da comentada benevolência
de Rede Globo e a política militar (ou de ambos) imposta
no País e considerado politicamente o momento mais sombrio
da Nação brasileira, que teve os meios de comunicação,
da imprensa censurados, mortes, prisões, cassações
dos direitos públicos, políticos, de expressão;
eliminação de partidos políticos, dos movimentos
estudantis, extinção dos movimentos sindicais
e camponeses; exílios, etc... Era a época do AI-2;
do AI -5, enfim a exclusão da democracia e do direito
à cidadania.
Questões
políticas como a histórica Campanha das Diretas
Já (1984), a trágica eleição de
Tancredo Neves e sua morte como mártir; Debate Eleitoral
à presidência onde contracenaram Lula e Collor
(1989); os Caras pintadas e o impeachment de Collor; a morte
trágica de Ulisses Guimarães; eleições
presidenciais de Fernando Henrique e Lula; e, fora os acontecimentos
domésticos do cenário público e privado
brasileiros são igualmente relevantes os dados dos acontecimentos
internacionais como os das últimas guerras dos últimos
vinte anos no mundo, que mudam significativamente o tabuleiro
geopolítico no mundo ocidental e oriental. São
fatos, histórias, estórias e lendas que se misturaram
no imaginário popular, resultado de várias investigações
científicas, que, em sua maioria se posicionaram contra
a Rede Globo, ou em algumas poucas teorias menos rançosas
à atuação da emissora no País.
A história da televisão no Brasil, que durante
todo este tempo tem circulado nos meios acadêmicos, passa
inevitavelmente pela história da Rede Globo; ou seja
estas verdades ou mentiras são contadas de boca em boca;
ou até mesmo nos círculos acadêmicos; intelectuais
e de pesquisadores considerados mais sérios; nas escolas
de comunicação e jornalismo, permiano por todas
as demais áreas do saber não só aqui no
Brasil, mas também em boa parte do mundo. Existem teorias
bastante provocativas que podem levar a crer que "a Globo
é o monstro que come criancinha e também as pessoas
de todos os sexos e idades". Isto é: "é
a televisão que te vê e não é você
que vê a televisão" ... Ou... então..
que "a Globo é a Poderosa ... a melhor ... a de
qualidade ... a que faz a notícia .. a que eleva mas
também derruba .. que dá o poder, mas também
desbanca do trono... discursos ... que durante todos estes anos
foram considerados como verdades absolutas ou simplesmente boatos".
Algumas
teses e livros foram escritos sobre a Rede Globo e o Jornal
Nacional, cujos dados que somente agora a emissora aceita como
verdadeiros já foram cientificamente comprovados, tais
como a sua linguagem inócua para os quase 90% de seus
telespectadores, mas que só agora os dirigentes do Jornal
Nacional dão a mão à palmatória
e aceitam como verdade ao dizerem:
"Percebe-se,
através de levantamento, que muitos espectadores ainda
não entendem perfeitamente o que é dito. (...
Um exemplo: recentemente, foi exibida uma série de
reportagens sobre reforma tributária. A pesquisa apontou
que grande parte dos telespectadores simplesmente não
conheciam o significado da palavra "tributária".
A lição foi aprendida". (Veja, 1º
de setembro de 2004, página 106).
Ora,
pesquisas exaustivas e principalmente já demonstravam
isto claramente. No entanto, estes dados somente são
revelados agora.
Pesquisas
científicas já demonstraram que o espectador não
entende o que é dito, mas é na palavra que mais
de 90% dos espectadores, tanto no Brasil como na Espanha, têm
a sua atenção voltada e não na imagem como
os profissionais da Rede Globo e demais televisões do
Brasil e do mundo costumam atribuir. Eles continuam afirmando
que "Televisão é antes de tudo imagem...",
esquece-se que a imagem tem papel fundamental, mas que o discurso,
a palavra é elemento preponderante e que o ser humano
retém biologicamente muito mais informações
auditivas (sonoras) do que imagéticas em nível
cognitivo. O espectador poderá ficar mais impressionado,
mais preso pela imagem em termos emocionais mas não de
elaboração intelectual cognitiva sem a qual não
é possível compreender o que ouvem e o que vêm.
Outro
elemento que já havíamos demonstrado na pesquisa
de doutorado e que somente agora a emissora admite é
que as preferências dos espectadores se davam por reportagens
de saúde, cultura e descobertas científicas...
economia e política". De 1995 a 2000 não
haviam resumos destas notícias uma tendência dos
telejornais espanhóis e que só agora a Rede Globo
se gaba em dizer que também faz. Já havíamos
apontado esta tendência dos telejornais espanhóis
em minha tese de doutorado e nos artigos apresentados nos congressos
da área que participamos.
Igualmente
este fato outro fator significativo está na questão
relacionada a variedade de sotaques. Esta pode ser uma nova
ordem editorial da emissora após trinta e cinco anos
de críticas ao fato de que o sotaque do Jornal Nacional
sempre foi linear e aos modos do linguajar do eixo Rio de Janeiro
- São Paulo. Esta crítica já é antiga
e na minha pesquisa de doutorado também foram apresentados
exemplos gritantes de como o desrespeito ao se emitir sotaques
de regiões que não fosse do Rio-São Paulo
eram rigorosamente cobrados dos profissionais de jornalismo
da Rede Globo que ousassem desobedecer. Na história da
emissora está cheia de exemplos desta natureza, como
os ocorridos com jornalistas que vinham do Rio Grande do Sul
ou do Nordeste do país.
Segundo
a Veja, Gabriel de Lima afirma em sua reportagem que "Por
muito tempo esses episódios forma tabus na Rede Globo.
Agora não são mais. No livro Jornal Nacional.
A notícia faz história, elaborado por um time
de historiadores contratados pela emissora, a Globo faz sua
própria investigação e agora dá
sua versão dos fatos".
A
versão dos fatos da emissora, apresentada em reportagens
e no próprio livro, lançados em massa, deve ser
confrontada com a História real à qual dezenas,
centenas de pesquisadores têm se debruçado a estudar
e não ficar restrita, ou tida como a história
oficial a um diz que diz como mostram os depoimentos apresentados
no livro, que na verdade ficou o dito pelo não dito e
realizado. E isto na leitura atenda que fizemos do livro fica
evidente e qualquer análise de discurso mais rigorosa
provará justamente o contrário.
Desde
a implantação da Rede Globo no Brasil as demais
emissoras de televisão permaneceram como simples eminências
pardas ou no mínimo conseguiram imprimir uma imagem institucional
incipiente quanto aos índices de audiência ou de
preferência popular devido à força de capital
e tecnologia utilizadas pelos Marinhos. Foram sufocados impérios
comunicacionais televisivos como o dos Diários Associados
de Assis Chateaubriand, pioneiro ao trazer e implantar a TV
no Brasil em 1950.
Até
os inícios dos anos 90 a Rede Globo era tida como a rainha
inquestionável de audiências. É sabido que
isso se deu a custas de uma tecnologia de ponta e um padrão
global de sua programação, cujos formatos e linguagem
são adeptas da escola do telejornalismo norte-americana,
tornando mais ágil a sua comunicação de
massa bem ao gosto da demanda produzida pela indústria
cultural implantada pelo Tio Sam no Brasil e em toda a América
Latina pela política de boa vizinhança exportada
pelos Estados Unidos no final dos anos 40 e início dos
anos 50.
Assim,
esta proposta comunicacional televisiva implantada pelos Marinhos
matou no nascedouro telejornais de vanguarda, criativos e originais
ao estilo brasileiro, ao ser introduzido o estilo ou a tendência
da escola norte - americana de jornalismo eletrônico pela
Rede Globo.
Somente
com a transição democrática brasileira
e no governo de Fernando Henrique Cardoso com a implantação
do novo Sistema Monetário Brasileiro, o chamado Plano
Real, é que a grande parcela de consumidores das classes
D e E puderam pela primeira vez ter acesso ao seu primeiro aparelho
de televisor; de aparelho de som; videocassete e outros bens
de consumo como até mesmo pôde ter acesso à
energia elétrica, pois até 1998, ainda havia um
índice altíssimo da população brasileira
que não desfrutavam da luz elétrica em suas casas.
Foi ai que as outras emissoras de televisão puderam também
ter mais visibilidade pública, pois milhões de
brasileiros se tornaram espectadores. Período este que
coincide com a entrada da TV fechada (multicanal ou por assinatura)
em nosso país, levando as emissoras de canal aberto a
repensarem o conteúdo de sua programação
para atender os milhões de novos telespectadores recém-chegados
à telinha ou caso contrário estariam fadas à
morte comercial dos canais abertos.
Em
1998 a rainha inquestionável se viu obrigada a tirar
as suas luvas de madame e colocar a mão na massa (se
preocupar com a nova clientela de baixa renda) como já
estavam fazendo a recém re - inaugurada Rede Record pelos
investimentos tecnológicos e de capital do Bispo Edir
Macedo da Igreja Universal, cuja programação da
emissora mostrava a cara real dos brasileiros subdesenvolvidos,
desdentados e com carências de toda a ordem, principalmente
de expressão, de comunicação, de se fazerem
ouvidos e vistos. Foi à época do mundo cão
dos ratinhos, madalenas e margaridas da vida.
Foi
a época, (um pouco antes, no final dos anos 80) em que
a emissora do empresário Abravanel, conhecido artista,
chamado de Silvio Santos conheceu o que era jornalismo e quem
eram os jornalistas no sentido exato da palavra, e resolveu
apostar no gênero informativo, levando programas de conteúdo
jornalístico para sua casa de artistas, até então
líder em espetáculos e shows; dando, então,
impulso significativo na informação televisiva
brasileira, considerada uma nova era do jornalismo audiovisual
no Brasil. Boris Casoy no TJ Brasil que passou a ser emitido
pelo SBT, foi o alavancador de credibilidade deste processo
e o informativo Aqui e agora, ao estilo glauberiano revolucionou
a linguagem do jornalismo eletrônico brasileiro.
Rede
Globo despencava em números de audiência em abril
de 1998, e sua programação geral teve que ser
repensada e nela, jornalistas experientes da imprensa escrita,
foram trazidos do jornal O Globo e re - contratados urgentemente
pelos Marinhos em sua TV para realizar um jornalismo mais digerível
à camada de população menos culta da população
brasileira, tendo que para isso adicionar na receita do "grande
caldeirão de sua sopa suculenta", segundo o atual
Editor Chefe e apresentador William Bonner, gramas de elementos
culturais populares, mudando completamente o perfil editorial
adotado pela empresa desde o seu surgimento, para voltar a ocupar
o lugar de antes ocupado ou para pelo menos estabilizar seus
índices no Ibope. Esta época na Rede Globo pode
ser identificada como a época da macaquinha adultera
de Brasília, que hoje, em seu livro a emissora busca
desmistificar como uma reportagem amena e de curiosidade simplesmente.
Não
obstante, como estamos falando de memória, tal como é
identificada a obra Jornal Nacional. A notícia faz história,
este lançamento de Rede Globo não poderia deixar
de ter edição praticamente esgotada pelas curiosidades
e também pela resposta à Nação que
a emissora pretendeu dar a todas as questões levantadas
sobre ela, boas ou ruins, durante estes longos anos.
Respostas
que pelas quais a emissora tinha optado por permanecer no silêncio
absoluto. As respostas, hoje, publicadas pela emissora, não
deixam, entretanto, de serem passíveis de análises
mais aprofundadas; pois fatos importantes foram simplesmente
pasteurizados ou porque não dizer esterilizados, esvaziados
de seu significado primeiro no momento em que ocorreram.
Por
que Somente agora a Rede Globo quis tornar públicas questões
tão importantes e relevantes, que redirecionaram, de
uma certa forma, os destinos da Nação brasileira
e que tinham ficado no silêncio absoluto e insondável
para as Organizações Rede Globo e só agora
vêm à tona? O país vive um novo momento
político; um invejável e de bom augúrio
econômico como nunca vistos até então. Nunca
se falou tanto em espaço cidadão, democracia,
exercício da cidadania como agora... Para desvendar tal
mistério fomos à fonte: ler as informações
que nos dispõe o livro e o que pudemos apreender nos
deixou de certa forma mais aliviados mas não satisfeitos.
A
obra lida e sorvida com avidez por esta pesquisadora do tema
em tese de doutorado La palabra, la imagen y el sonido en los
informativos televisivos brasileños y españoles.
Estudio comparativo y análisis del lenguaje audiovisual,
textual y narrativo (Universidad Autónoma de Barcelona,
Barcelona, España, 1995-2000), professora e profissional
do meio, nos mostra a superficialidade e a fragilidade com que
temas importantes foram tratados pelos responsáveis da
obra Jornal Nacional. A notícia faz história,
restando para nós leitores um gostinho de amargor de
um mea culpa fora do tempo, de espaço e de hora.
Um
lavar de roupas sujas que saponáceo algum poderá
alvejar as manchas que permeiam a história da informação
audiovisual brasileira. O alívio que nos dá é
que esta obra de Rede Globo corrobora para a necessidade, de
mais uma vez ter que se delimitar o espaço da academia
e o do mercado de trabalho, sendo que à academia fica
o espaço da reflexão sobre o fazer e ao mercado
o espaço do fazer, que infelizmente ainda hoje é
feito sem a devida reflexão necessária por parte
dos profissionais jornalistas em sua lida diária na rotina
produtiva da notícia. Televisão é um meio
que tem pressa e os seus produtores, também.
Ainda,
este alívio não é de todo saudável,
podendo em certos momentos até vir a ser pesaroso, pois,
fica evidente também que academia e o mercado profissional
continuam de costas dadas um para o outro, quando em países
mais desenvolvidos a questão já foi resolvida
há anos: as empresas de comunicação têm
responsabilidade social, reservando portanto, espaço
para a prática profissional em suas emissoras televisivas
ou redações de jornais e rádio para os
alunos de comunicação social que queiram vir a
ser jornalistas. Esta prática é acompanhada pela
Universidade e pelos seus professores. A empresa de comunicação
ainda reserva uma parcela de suas vagas para os estagiários
que se destacarem no estagio realizado.
Voltando
à obra dos trinta e cinco anos de Rede Globo o mérito
da mesma se encontra na documentação histórica
do País e do mundo; das pessoas e personagens que produziram
os acontecimentos, cujos depoimentos nem sempre justificam os
porquês de Rede Globo, como se pode concluir com uma leitura
bem feitas de suas 407 páginas editadas e publicadas.
Entretanto,
na Parte I (1965-1974) do livro como fato novo, é relevante
a pré-história do JN, tratada na página
18 sob o título Telejornais pioneiros. Aqui vale pelo
documental:
"Em
1965, dois fatos seriam decisivos para garantir esse processo:
a inauguração da TV Globo em abril e a criação
da Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel)
em setembro. (...) Já no dia da inauguração
da Globo, foi ao ar o Tele Globo, noticiário de meia
hora de duração, dirigido por Rubens Amaral
e apresentado por Hilton Gomes e Aluízio Pimentel.
A equipe de jornalismo era dirigida por Mauro Salles. Mario
de Moraes era chefe de redação e Baleche Filho
o subchefe. O departamento funcionava em apenas uma sala,
na sede da emissora, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro."
Ainda,
a pré-história do Jornal Nacional teve como telejornais
pioneiros o Tele Globo; o Ultranotícias e o Jornal da
Globo. Segundo a obra Jornal Nacional. A notícia faz
história (2004, RJ, páginas 17 a 19) "o primeiro
telejornal da TV Globo, o Tele Globo, era exibido em duas edições:
uma das 12hs e outra às 19h. Além de Hilton Gomes
e Aluízio Pimentel, também foram seus apresentadores:
Íris Lettieri, Paulo Gil, Nathalia Thimberg, Fernando
Lopes e Teixeira Heizer".
Já
o telejornal Ultranotícias, também com duas edições
nasceu em janeiro de 1966, quando o Tele Globo passou a ter
uma edição única, às 13 hs. Segundo
o livro "A primeira edição do Ultranotícias
era apresentada por Paulo Gil, com cinco minutos de duração
e ia ao ar de segunda a sexta feira, às 15h. A segunda
edição, de 19h45 às 20h, era comandada
por Hilton Gomes e Irene Ravache. Em setembro de 1966, o programa
passou a ter uma única edição, às
19h45".
Deste
período, conforme descreve os autores de Jornal Nacional.
A notícia faz história (2004, RJ, páginas
17 a 19) já havia importantes patrocinadores à
moda do Repórter Esso, produzido pela agência publicitária
norte-americana McCann Ericksson:
"O
telejornal era patrocinado pelas empresas Ultragaz e Ultralar
e produzido pela agência de publicidade McCann Ericksson.
Na época era comum as agências interferirem na
elaboração e até na orientação
dos programas jornalísticos. (...)".
Os
historiadores da Rede Globo contam que Armando Nogueira quando
começou a trabalhar na empresa não gostou desta
interferência e resolveu acabar com este telejornal em
março de 1967, criando o Jornal da Globo. Este telejornal
era apresentado por Luís Jatobá e Hilton Gomes,
com exibição às 19 h 30, cujo editor -
chefe era nada menos que José Ramos Tinhorão e
os demais editores eram Silvio Julio Nassar e Jotair Assad.
O redator internacional era Sebastião Nery, que mais
tarde seria substituído por Humberto Vieira. Em 31 de
agosto de 1969 o Jornal da Globo saiu do ar, dando lugar ao
Jornal Nacional.
Assim
teve início o primeiro telejornal em rede possibilitado
pelas novas tecnologias espaciais e de satélite que a
humanidade conquistava. 1969 o homem pisou no solo lunar e a
Rede Globo transmitiu esta façanha científica
e tecnológica.
A
obra Jornal Nacional. A notícia faz história (2004,
RJ, páginas 17 a 19) como já mencionamos anteriormente
vale pelos dados históricos narrados. Pode-se apreciar
com precisão quais foram os primeiros equipamentos utilizados
pela emissora; o primeiro formato e a primeira abertura de seu
telejornal.
Sobre
a era dos anos de chumbo (ditadura militar), episódio
pelo qual a emissora recebeu tantas críticas durante
estes anos todos por sempre se fazer analogia da ditadura com
a implantação da emissora, pois se entendia que
a mesma foi implantada para ser a porta voz oficial do regime
militar, os historiadores da Globo tentam demonstrar que a emissora
e seus proprietários foram tão perseguidos quanto
qualquer outro meio de comunicação; e embora tivessem
um conceito de noticiário nacional já pré-estabelecido,
com a censura não houve alternativa a não ser
superdimensionarem o telejornalismo internacional. As notícias
eram as que aconteciam no quintal dos vizinhos próximos
ou distantes e não no Brasil, embora estivessem repletas
de fatos e acontecimentos que bem podiam ilustrar o que ocorria
no Brasil de fato, em nível político e institucional.
Foi
neste período que as Organizações Rede
Globo começam a sua trajetória expansionista no
cenário audiovisual mundial, lançando bases e
bandeiras em solos estrangeiros ao viabilizar a ida de seus
primeiros enviados especiais e montar seus escritórios
no exterior. Notícias internacionais importantes como
a do Waltergate e renúncia de Nixon puderam ser acompanhadas
pelos brasileiros devido a esta estrutura de recursos humanos
e tecnológicos que a Rede Globo criou na América
do Norte (EUA) e alguns países europeus como em Londres,
dando cobertura a outros países como França, Itália,
Espanha, Portugal, etc. Atualmente a Rede Globo mantém
escritórios em New York (EUA) e Londres (Inglaterra).
Ainda
nos anos 70 Rede Globo se consolidará enquanto rede (projeto
inicial de abrangência em todo o território brasileiro)
de sua empresa no Brasil, através do crescimento de suas
afiliadas (emissoras de TV que foram conveniadas ou compradas
pelas Organizações Rede Globo ou apenas repetidoras
de suas programações). O projeto desenvolvimentista
do regime militar brasileiro baseado na política imposta
pelo FMI ao Brasil possibilitou um desenvolvimento considerável
em termos tecnológicos comunicacionais, cujo propósito
era o de interligar o país de forma tecnológica
para levar a política estabelecida pelos militares do
Oiapoque ao Chuí brasileiros, isto é de Norte
ao Sul; Leste ao Oeste e Centro - Oeste (Vianna, Ruth, La palabra,
la imagen y el sonido en los informativos televisivos brasileños
y españoles. Estudio comparativo y análisis del
lenguaje audiovisual, textual y narrativo (Universidad Autónoma
de Barcelona, Barcelona, España, 1995-2000).
Conforme
historiadores da Rede Globo "em 1971, a TV Globo começou
a usar o aparelho situado logo abaixo da câmara e que
projeta em letreiros, o texto para o locutor. Com o teleprompter,
o apresentador lê com mais naturalidade e olha direto
para o telespectador (reforçando o clima coloquial, a
idéia de que o locutor está na sala da casa quase
conversando com quem está assistindo). Em suas primeiras
versões, era eletromecânico e dependia de um operador
para rodar o texto impresso numa bobina" (Jornal Nacional.
A notícia faz história. 2004, RJ, páginas
51-52).
Em
1972 é a chegada da televisão em cor no Brasil.
O livro da Rede Globo é sincero ao afirmar que este feito
tecnológico não foi utilizado pela sua empresa
de forma pioneira, mas sim coube a outra emissora que não
de sua propriedade:
"A
primeira transmissão colorida ocorreu em rede nacional,
via Embratel, no dia 10 de fevereiro. A responsabilidade pela
geração das imagens - que registraram a Festa
da Uva na cidade de Caxias, no Rio Grande do Sul - não
foi da Rede Globo, mas da TV Difusora, com a colaboração
técnica da TV Rio e com o apoio das TVs Gaúcha,
Piratini e de Caxias. Mas a Globo tornou-se a grande atração
do evento ao apresentar, no intervalo dos desfiles de carros
alegóricos, artistas famosos de suas novelas e shows".
Não
obstante, a chegada da tecnologia colorida, ao meio televisivo
brasileiro, foi acompanhada de muitas controvérsias sobre
qual o sistema de cores mais adequado para a realidade brasileira
em termos nacionais. O relato da Rede Globo era a de que o sistema
alemão PAL (Phase Alternative Line), o norte-americano
NTSC (National Television Sistem Comitee) ou o francês
SECAM (Sequentiel em Colleurs avec Mèmoire). No fim,
acabou-se optando por uma adaptação do PAL: o
PAL-M, sistema europeu modificado" (Ver também Vianna,
Ruth (1995-2000 e Squirra [1988]).
Acertado
o padrão tecnológico para a emissão em
cores este advento tecnológico causou uma revolução
no conceito de transmissões de imagens, pois se passou
a perceber o efeito que causaria no público. Para conter
os excessos dos paletós verdes e cor - de -abóbora
ou quadriculado, a Rede Globo contratou profissionais especializados
para cuidar da roupa de repórteres e locutores (apresentadores).
Tal estratégia foi seguida por outras emissoras de televisão.
Ainda
na década de 70 (anos 1970 a 1973) a Rede Globo que havia
transmitido em pool com outras emissoras o mundial de futebol
(Copa do México) passou a investir mais neste tipo de
programação. As Olimpíadas de 1972 foram
as primeiras apresentadas pela Rede Globo em parceria com a
OTI (Organização de Televisões Ibero-Americanas).
O sucesso deste tipo de programação com notícias
diretas de esportes no Jornal Nacional, motivou a empresa a
em abril de 1973 criar a Divisão de Esportes da Rede
Globo.
Paralelamente
a isto a programação jornalística da emissora
ganhava força, que era realizado sob a responsabilidade
da Central Globo de Jornalismo. O dia-a-dia da produção
das notícias era pautado por regras de padronização
de formatos e também de seu texto.
Quanto
à preocupação com o texto, conforme relatado
pela Rede Globo em seu livro na página 62, os historiadores
afirmam que os responsáveis pela CGJ, Armando Nogueira
e Alice-Maria sempre estiveram preocupados com a palavra e que
realizaram uma campanha pela valorização da mesma
e em 1975 foi lançado um pequeno manual sobre o assunto,
com algumas regras sobre como escrever para a televisão.
Não obstante, foi em 1983 que Luis Edegar de Andrade
(antigo jornalista de imprensa escrita e veterano de cobertura
do Vietñan) que fez a atualização do manual
da arte de escrever notícia para a televisão.
Sobre
este aspecto, ao qual a tese de doutorado de Ruth Vianna deu
a maior ênfase é necessário ressaltar que
o Manual de telejornalismo da Rede Globo, publicado em 1984
no Rio de Janeiro pela emissora de autoria de Luis Edegar de
Andrade trata-se de uma publicação baseada no
livro norte-americano Television News, que coloca em destaque
a importância do uso da palavra para a televisão
como sendo uma linguagem coloquial. Não obstante, no
excesso desta busca do coloquial a Rede Globo tem pecado pela
realização de uma linguagem extremamente empobrecida
ou por vezes por termos de falta de conhecimento dos noventa
por cento dos cidadãos brasileiros, como a palavra tributária
que até mesmo, a própria emissora reconheceu não
ser o termo mais correto de usar para amenizar o jargão
econômico.
Ainda
quanto à palavra utilizado nos telejornais brasileiros
e não só da Rede Globo, cientificamente se comprovou
que os espectadores não as compreende bem, havendo portanto
uma falha comunicacional, não só pelo uso inadequado
do idioma; mas principalmente pela falta de logicidade entre
palavra-imagem-som que têm cada uma delas uma gramática
específica a ser respeitada e combinadas entre si de
forma harmônica. A falha comunicacional se dá também
por não haver cuidados com os tempos verbais, ou seja,
presente, passado e futuro, tanto em termos de palavras, palavras
sonoras e imagens que obedecem a roteiros próprios de
construção audiovisual.
O
que se percebeu cientificamente é que na maioria das
noticias apresentadas nos telejornais a palavra vai por um lado;
a imagem para outro e o som (quase sempre manipulados e não
som ambiente) vai para outro lado completamente diferentes,
resultando em um ruído informacional, que dificulta a
compreensão da maioria dos espectadores da informação
audiovisual (Ver Vianna, Ruth, La palabra, la imagen y el sonido
en los informativos televisivos brasileños y españoles.
Estudio comparativo y análisis del lenguaje audiovisual,
textual y narrativo (Universidad Autónoma de Barcelona,
Barcelona, España, 1995-2000. Anexos I e II).
Em
sua Parte II (1974-1983), intitulada de O JN em Época
de Abertura Lenta e Gradual o livro Jornal Nacional. A notícia
faz história (2004, RJ, páginas 69 a 135) reproduzirá
os acontecimentos e fatos deste período e da participação
da Rede Globo em cada um desses acontecimentos, desejando mostrar
os porquês de seu envolvimento com a abertura o não,
que segundo eles se davam devido ainda persistir, até
o ano de 1976, forte esquema de censura do governo dos militares
no país. O Brasil está sob o comando do quarto
presidente após o Golpe de 1964, o General Ernesto Geisel.
Este
é o período do início da distensão
política brasileira o que favorece uma ampliação
e reforço no noticiário da Rede Globo em Brasília
com mais espaços para a reportagem política. Deste
período são famosas as reportagens sobre a visita
de Geisel ao Japão com a fala do presidente à
imprensa; as eleições para prefeitos de 1976,
na qual se pôde ver o avanço da oposição
na campanha eleitoral e a proposta de Geisel para uma abertura
lenta e gradual do sistema político no Brasil.
Em
1976 a política volta a estar em pauta no país.
Conforme contam os historiadores da Rede Globo, o jornalista
Toninho Drumond relata que: "as eleições
de 1976 foram muito importantes para o jornalismo da Rede Globo,
pois quase todos os estados estavam empenhados em acompanhar
os fatos. (...) pela primeira vez (após o Golpe de 64),
o Brasil todo apareceu falando de política. A política
estava no centro de um debate nacional".
No
entanto, entre os avanços e retrocessos da abertura de
Geisel o período é recheado de fatos históricos
políticos e econômicos importantes: "em abril
de 1977, o governo decretou recesso no Congresso e baixou um
conjunto de medidas que ficou conhecido como Pacote de Abril.
Foram cassados os mandatos de líderes moderados e criada
a figura dos senadores biônicos, eleitos indiretamente.
Já antes das eleições, o presidente havia
sancionado uma lei que alterava o Código Eleitoral, conhecida
por Lei Falcão, impedindo a plataforma político-partidária
nas campanhas no rádio e na televisão".
Essa
mudança do Código Eleitoral se deu, claro, pelo
avanço do antigo MDB nas eleições para
prefeitos em todo o país e era uma forma de garantir
maioria em favor dos militares no Colégio Eleitoral que,
em 15 de novembro de 1978, deveria eleger o novo presidente
n.
Segundo
os historiadores da Rede Globo o jornalismo da emissora tentava
seguir todos estes acontecimentos mais nem sempre era possível,
mas em dezembro de 1977, após Geisel ter, através
da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) ter anunciado
o fim das exceções no país e ter nomeado
o senador Petrônio Portela como principal negociador das
mudanças políticas o JN tentou realizar reportagens
que abordassem os temas da maior importância para o Brasil
até então: "o destino do AI-5; o fim da censura;
a missão Petrônio e a eleição de
1978". Para acompanhar tudo isto a Globo criou um setor,
o Setor se chamava Petrônio Portela Nunes para o qual
foi convidado a trabalhar como responsável o jornalista
Carlos Henrique Amorim.
Não
obstante, ainda nesta abertura lenta e gradual de Geisel, embora
já tivesse em 11 de dezembro de 1978, aprovado a emenda
constitucional nº 11 que revogava os atos institucionais
e complementares, impostos pelos militares, inclusive, o AI-5,
cujo texto tinha sido articulado por Portela com a colaboração
do presidente da Câmara, Marco Maciel, a censura continuava
ainda em vigor e segundo a Globo, o seu "noticiário
se limitava ao factual, sobretudo quando se tratava de assuntos
delicados, que envolviam episódios de tortura".
Este
é o motivo pelo qual a Rede Globo tenta se eximir por
não ter noticiado ou investigado de forma mais concreta
os truculentos episódios da morte de Vladimir Herzog,
Diretor de jornalismo da TV Cultura, em outubro de 1975, e do
metalúrgico Manuel Fiel Filho, em janeiro do ano de seguinte,
os dois crimes ocorridos nas dependências do Dói
- Codi de São Paulo. Não obstante, foi a indignação
popular que motivou uma crise militar que culminou com a demissão
do comandante do II Exército, general Ednardo D'Ávila
Melo.
Casos
semelhantes são contados pelos historiadores da Rede
Globo, como por exemplo, a cobertura da morte de Juscelino Kubitschek,
que a manifestação popular saiu vitoriosa: "foi
um evento comandado pela população (...) Foram
momentos que ajudaram gradualmente a construir a democracia
no país" (op.cit, pág. 77, RJ, 2004).
O
livro Jornal Nacional. A notícia faz história
(2004, RJ, páginas 76-77), mostra ainda que mesmo a emissora
e a CGJ querendo fazer coberturas sobre acontecimentos políticos
relevantes no país, os militares acabavam reclamando
das matérias e censurando os programas jornalísticos
como aconteceu com a matéria sobre a invasão policial
da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São
Paulo, deixando o jornalismo de São Paulo, realizado
pela Rede Globo, por algum tempo sem poder entrar no ar:
"Na
noite de 22 de setembro de 1977, o Jornal Nacional mostrou,
diretamente de São Paulo, imagens da invasão
policial da Pontifícia Universidade Católica
(PUC) durante a realização do 3º Encontro
Nacional de Estudantes. Os policiais, chefiados pelo coronel
Erasmo Dias, então secretários de Segurança
Públicos do estado, atiraram bombas sobre os manifestantes.
Os militares reclamaram da matéria, que mostrava a
truculência dos policiais, e o jornalismo de São
Paulo ficou algum tempo sem poder entrar ao vivo no JN".
Segundo
os historiadores da Rede Globo, a censura naquele período
não interferia apenas no conteúdo jornalístico,
mas também na programação de entretenimento:
a novela Roque Santeiro, de agosto de 1975 é um caso
típico. Mas este era um investimento da família
dos Marinhos de 500 mil dólares o que levou o presidente
das Organizações Globo a se pronunciar, criticando
a medida em horário nobre, em editorial no Jornal Nacional.
Neste período houve as greves do ABCD (Santo André,
São Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema)
paulista, que deram notabilidade a São Paulo, fortalecendo
o jornalismo da Rede Globo paulista. Mas, também a Rede
Globo se desculpa pela falta de cobertura mais atuante, segundo
ela, motivada pela censura dos militares:
"O
jornalismo da TV Globo, no entanto, enfrentou restrições
para cobrir o assunto. Armando Nogueira conta que os militares
ordenaram à emissora uma cobertura leve, sem som ambiente
e sem dar vozes às lideranças sindicais. Isso
provocou grande descontentamento dos metalúrgicos,
e areação de alguns deles chegou a ser violenta
(....)".
Frente
a essas desculpas da Rede Globo, procuramos no exemplar deste
livro qualquer documento que comprovasse expressamente essas
proibições da censura, realizadas pelos militares,
mas não encontramos nada. A pergunta que nos passa à
cabeça é de que forma ocorriam estas censuras:
quem era esses militares? os militares ficavam pessoalmente
na redação da emissora?; mandavam cartas; telex;
telefonavam? Acreditamos que, este tipo de alegação
fica um pouco prejudicado, pois até mesmo a primeira
lição de jornalismo ensina que deve se ouvir os
dois lados, os três... todos os lados da questão
que se está reportariando ou historiando. E para os historiadores:
"história, segundo o Aurélio quer dizer:
"narração metódica dos fatos notáveis
ocorridos na vida de um povo, em particular, da humanidade,
em geral", além de outras conotações.
Por
outro lado, é claro a obra publicada pela Rede Globo,
é válida pelo volume de informações
trazidas sobre fatos de nosso Brasil e do mundo. Também
sobre a nova era do jornalismo na emissora a partir da direção
de Henrique Schroder, que tem colocado luzes sobre o jornalismo
social, e, que a nosso ver, tem aí a explicação
para a recuperação dos índices de audiência
da Rainha e tanto sucesso da emissora, que queiram ou não
queiram é um produto do Brasil, considerado Vip em todo
o mundo.
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