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Resenhas


Democracia no Brasil: direito
à ComunicAção e à Cidadania

O papel da imprensa escrita, falada e
televisonada, da publicidade e das ONG's

Por Ruth Vianna

Comunicação Pública
Maria José da Costa Oliveira (org.)
ISBN: 85-7516-080-X
1ª Edição - abril/2004
204 p. (140 x 210mm)

Em 2004 o Brasil não pode mais ser considerado um país - chamado Brasil - de dez anos atrás. A sociedade civil deu saltos inimagináveis na conquista de seus direitos e exercício da cidadania sonhada durante longos e tempestuosos anos até chegarmos em um estágio que se pode chamar de "democracia" ou estado de "direito democrático", no qual o jornalismo tem papel principal, tanto na mídia escrita, falada e televisionada.

Assistimos - todos - o Partido dos Trabalhadores, o PT, assumir o Poder nas eleições presidenciais de 2002: Lula, o Luis Inácio da Silva é o Presidente do Brasil - fato sonhado durante os últimos vinte anos. Nos anos 80 também acenamos bandeirinhas vermelhas incrustadas de estrelinhas vermelhas petistas. Fizemos mais: trabalhamos por um meio de comunicação justo e soberano, por uma educação do primeiro grau ao superior tolerante e de qualidade, onde todos nós sem credo, nem cor e nem raça pudéssemos ter seus direitos humanos garantidos: moradia, saúde, educação, comunicação e cidadania; bem como ética e cidadania.

O povo brasileiro acreditou no trabalhador-mecânico de São Bernardo do Campo, apostou tudo, tudo mesmo, até o seu último sorriso ou até a sua última lágrima. Espera-se resultados sociais urgentes como trabalho, moradia, educação, saúde e o sonhado direito básico de qualquer cidadão: formas e direito à comunicação sem o qual não existe a Democracia.

A obra "Comunicação Pública" organizada pela Dra. Maria José da Costa Oliveira e publicada pela Alínea Editora, Campinas, São Paulo, de 210 páginas chega ao público leitor numa produção editorial bem cuidada, favorecendo uma leitura prazerosa e proveitosa, tanto pelo tema que se faz necessário: "pensar a comunicação pública na contemporaneidade, examinando os diversos antagonismos gerados pela complexidade da vida no século XXI" e, também por sua proposta editorial sofisticada.

A obra está dividida em três partes, sendo que na Primeira - Comunicação Pública e Sociedade - estão organizados cinco capítulos: "Análise Político-Sociológica do Reencontro da Sociedade Civil Brasileira com a Cidadania e a Democracia Segundo a Perspectiva da Comunicação Pública", de Lara Andréa Crivelaro Bezzon; "Comunicação Pública e Ciência Cidadã", de Graça Caldas; "Direito à Comunicação Comunitária, Participação Popular e Cidadania", de Cecília M. Krohling Peruzzo; "A memória da comunicação impressa brasileira e o exercício da cidadania", de Esther Caldas Bertoletti e "Comunicação e espaço público na sociedade da informação: reflexões sobre a política contemporânea", de Luciana Bernardo Miotto.

Na Segunda Parte - Comunicação Pública e Governo -, encontram-se os capítulos: "Discurso e imagens das instituições militares no Regime Democrático", de Heloiza Matos; "Percepções sociais sobre a publicidade de entidades públicas", de Gino Giacomini Filho e "O comunicador público entre o mar e o rochedo" de Mauricio Lara Camargos.

Já na Terceira e última Parte, dedicada à Comunicação pública e esfera pública não-estatal - são tratados os seguintes temas: "A Cultura do lazer e o papel das ONG's: o exercício da cidadania", de Vera Regina Toledo Camargo; "A comunicação pública da dimensão ecológica em produtos e processos produtivos", de Roberto Hoffmann e Irani Marchiori e "Comunicação pública e os setores não-estatais" da organizadora do livro, Dra. Maria José da Costa Oliveira.

Comunicação pública trata de temas candentes na sociedade brasileira contemporânea correlacionados com as demais sociedades Latino-americanas, Européias e norte-americanas - nas sociedades ocidentais e orientais - nas quais vivemos todos sobre os efeitos da globalização econômica, política, cultural e, principalmente, comunicacional frente às tecnologias digitais, que se impõem como uma nova cultura, um novo paradigma midiático ao qual todos nós devemos nos adequar a fim de nos integrarmos à sociedade inteligente, da informação que se vive neste novo milênio.

O prefácio preciso e significativo é do Ministro Luiz Gushiken da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica do Governo Federal. Nele Gushiken deixa transparente a intenção da obra e, também, as atuais preocupações do governo Petista quanto à sua Política de Comunicação, mostrando a importância da obra, uma vez que se faz necessário trazer ao debate temas que durante muitos anos foram considerados tabus ou eram, isto sim, "boicotados" pelos grupos poderosos da comunicação e pelos governos antidemocráticos que comandaram o país durante a ditadura militar.

Para Gushiken pensar a comunicação publica no caso brasileiro, tarefa proposta por este livro, "trata-se de pensar o exercício da comunicação pública dentro do novo contexto democrático do País e das transformações sociais e econômicas verificadas nas décadas recentes". (1)

Os estudos e pesquisas oferecidos ao leitor em Comunicação pública retratam os cenários vivenciados desde os regimes autoritários de Getúlio Vargas, passando pelos governos militares, com o golpe de 1964, cujo Estado autoritário permaneceu até o final dos anos 70, início dos anos 80 no Brasil.

Segundo o Ministro Gushiken "o conjunto de textos do livro é bem-vindo neste momento de reconstrução e reflexão sobre o estado no Brasil".O Ministro deixa claro que a obra leva também à reflexão sobre a importância de se "inserir a comunicabilidade como elemento também central no debate sobre os destinos do País" (...) (2) o que proporciona, segundo ele, "de saída, o reconhecimento da legitimidade dos conflitos e o estímulo à participação cidadã". Para ele, "são premissas relevantes para uma Nação que necessita de um sistema democrático capaz de orientar permanentemente a construção política e econômica do País sob a ótica do amplo reconhecimento dos direitos sociais". (3)

Comunicação pública propícia, ainda segundo a concepção de Gushiken, compreender os processos de comunicação e os atores sociais, ao dizer que:

"Um dos principais conceitos que sustentam as ações de comunicação é compreendê-la como um processo no qual os conflitos são expressos abertamente, dentro de um movimento que, ao respeitar a autonomia e a independência dos atores, busca também a troca, o diálogo, a negociação e a convergência. As relações entre Estado, Mídia e Sociedade só têm sentido se a perspectiva do outro, o que tem valor inestimável para a democracia e resgata, em meio ao individualismo exacerbado, a preocupação com o bem público e com a noção de coletividade. Esse debate contribui, portanto, para fixar na agenda da sociedade as preocupações com o interesse comum". (4)

Neste sentido é que Comunicação Pública trata de temas onde se contemplam e se leva em conta a presença de atores distintos no cenário: "Estado, ONG's, movimentos sociais, corporações empresariais, etc". (5) Não obstante, a incorporação da diversidade desses atores traz à tona os dilemas e tensões da realidade, que são enfatizadas pelo Ministro Gushiken da seguinte maneira:

"Os problemas contemporâneos estão à vista: a extraordinária mobilidade dos fluxos financeiros mundiais como foco permanente de instabilidade; a emergência de um pujante mercado global e a correspondente legião dos excluídos; a velocidade da informação e a banalização dos conteúdos; o espetáculo da cultura globalizada e a absorção das identidades; a vulnerabilidade de instituições e atores tradicionais - entre os quais o próprio Estado - perante a expansão de interesses fragmentados e demandas sociais sem atendimento, etc". (6)

Dando ênfase à necessidade de se dar voz à legião de excluídos no Brasil, Gushiken chama a atenção para a importância do Livro Comunicação Pública, que certamente propõe retomar a discussão sobre vários temas sociais e de cidadania que estiveram por muitos anos adormecidos no seio de nossa sociedade. O Ministro Gushiken reafirma que:

"Uma das exigências maiores no debate sobe a comunicação pública é refletir, também, sobre o SILÊNCIO DOS EXCLUÍDOS. Além da ausência de condições materiais básicas para a sobrevivência, grandes parcelas da população convivem hoje sem acesso aos bens que circulam nas velozes redes informativas. Esse silêncio alcança também outras dimensões: o alto grau de concentração da indústria de bens simbólicos e as dificuldades de outros atores levantarem suas vozes, face aos poderosos aparatos que monopolizam a geração e a distribuição de informações, com graves riscos para o pluralismo".(7)

1- Reencontro da Sociedade Civil Brasileira com a Cidadania

Lara Andréa Crivelaro Bezzon em seu instigante e necessário artigo "Análise político sociológica do reencontro da sociedade civil brasileira com a cidadania e a Democracia segundo a perspectiva da Comunicação Pública" nos mostra as dificuldades de como se deu a transição brasileira à democracia, cujo tempo foi maior do que a que ocorreu em outras sociedades que também estiveram dominados por governos autoritários.

Não obstante, esta transição "trouxe à arena política novos valores que puderam ser explicitados pela sociedade civil em suas reivindicações". (8) Bezzon ressalta a importância e a necessidade de se "construir a cidadania em uma sociedade que se quer democrática". Assim, para que não haja dúvidas quanto aos próprios valores democráticos, Bezzon acredita que:

"o acesso e o direito à informação torna-se requisito básico para a construção da cidadania, pois só a socialização da informação poderá fornecer aos membros da sociedade civil a cidadania integral". (9)

Lembra ainda que a sociedade brasileira ao passar pela transição democrática estava de certa forma "enferrujada", sem encorajamento para atuar de forma mais ativa e não de forma passiva e desmobilizada que a "experiência dos ANOS DE TERROR levou os indivíduos ao temor de contestação à autoridade e à hierarquia, à apatia e à aceitação da ordem dada". (Viana, 1995, p. 8. In Oliveira, 2004, pág. 18) Também enfatiza uma das características da nossa sociedade quanto a uma "fraca cultura política da sociedade brasileira", conforme já havia chamado a atenção o escritor J. A. Moisés em seu livro "Cidadania e participação" (São Paulo, Marco Zero, 1990). Faoro (2000, pág. 363) corrobora também com esta análise ao relatar o episódio de um viajante norte-americano na década de 1920, que descreveu o Brasil da seguinte forma, segundo nos exemplifica Bezzon:

"Existe no Brasil (...) uma massa desarticulada a que chamarei 'povo'. É completamente analfabeta. Por isso, não tem padrão próprio de agricultura, zootecnia ou arquitetura (...) Tem uma idéia muito vaga do resto do mundo a que alguns chamam englobadamente de 'Paris'. Não toma parte da administração pública. Desprovida de terras, em sua maioria, trabalhando por conta de outrem: o patrão ou chefe político (...) Existe também, porém, outra classe altamente articulada e que chamarei 'traidores do povo'. São letrados, capazes de compor frases sonoras (...) Conhecem o conforto das moradias arejadas. Sabem muito mais a respeito do resto do mundo que de seu próprio país. O governo á a missão para a qual julgam ter nascido (...) No exagero das cores, filtra-se uma conseqüência: o povo quer a proteção do Estado, parasitando-o, enquanto o Estado mantém a menoridade popular, entre ela imperando. No plano psicológico, a dualidade oscila entre a decepção e o engodo".(10)

Bezzon mostra com isto que a realidade histórica brasileira sempre persistiu a estrutura patrimonial. Segundo ela, "até 1930, o poder Executivo Federal via na eventual constituição de grandes partidos nacionais uma ameaça ao seu predomínio, tendo seu apogeu em 1937, com a implantação do Estado Novo, e a eliminação do pluripartidarismo. A partir de 1945 até 1960, apesar dos obstáculos, os partidos alcançaram um grau razoável de consolidação, quando, segundo Lamounier (1986) 'desagregaram-se'. A ruptura causada pelo golpe militar de 1964, veio restringir a pluralidade partidária, com a implantação do bipartidarismo, que só seria retomada em 1979". (11)

Bezzon chamará a atenção também para o direito à informação, demandas necessárias e urgentes em uma sociedade democráticas após a transição ocorrida no Brasil, pois conforme Lafer (1991) "o direito à informação é uma liberdade democrática a permitir uma autônoma e igualitária participação dos indivíduos na esfera pública". (12) Igual acrescenta Santos (1987), "que a socialização da informação pode dar ao cidadão a dimensão de um homem, formando a cidadania integral".

A autora mostra ainda em seu brilhante artigo que "a organização da sociedade civil na reivindicação de seus direitos, principalmente durante as duas últimas décadas, recolocou a cidadania na agenda política, questionando uma cultura política autoritária e excludente. Houve uma reapropriação do espaço público, abrindo horizontes para a presença participativa dos indivíduos - cidadãos". (13)

2 -Os avanços da Ciência e tecnologia: "comunicação pública e ciência cidadã"

Graça Caldas falando dos avanços da ciência e tecnologia no mundo e também no Brasil nos dá conta da necessidade de se trabalhar a questão de forma mais apropriada na mídia para o melhor entendimento do cidadão comum.

Chama a atenção para ampliação destes temas nos meios de comunicação sejam eles impressos, falados e televisionados, mas que nem sempre estão elaborados de acordo com o conhecimento comum da maioria da população, e, ainda que "o papel do conhecimento científico como prática de libertação social, porém, é ainda pouco discutido, assim como as discussões que envolvem política científica". (14)

Não obstante, a ciência brasileira tenha conquistado respeito nacional e internacional o tema não tem sido passado para o público de forma mais acessível: o público continua sendo excluído dos debates de temas polêmicos tais como: "clonagem, energia nuclear, transgênicos e a Lei de Biossegurança", por exemplo.

Caldas afirma que "face ao impacto da C&T na sociedade é necessário o aperfeiçoamento da percepção pública da ciência. Segundo ela, "embora o Livro Branco Ciência, Tecnologia e Inovação, de junho de 2002, dedique em suas Diretrizes Estratégicas um capítulo, o VII, a "Educar para a sociedade da ciência do conhecimento, e no qual o processo de popularização da ciência inclui o incentivo à cobertura da área pelos meios de comunicação, isso também não resolve o problema do analfabetismo científico". (15)

Para Caldas, "questões dessa natureza devem ser debatidas no espaço público, arena natural da sociedade civil". (16) Acredita que "é necessário desenvolver mudanças culturais no processo de aprendizado da ciência e d tecnologia, nas escolas (do ensino primário ao universitário), nos centros de ciência e na divulgação científica nos meios de comunicação e promover mudanças culturais nos alunos e nos professores". (17)

A autora propõe ainda como trabalhar Ciência e Educação; Ciência e mídia; fala da Lei de Biossegurança e mídia e como fazer para que haja uma melhor compreensão pública da ciência, conforme mostra uma exaustiva pesquisa científica sobre o tema, pesquisa realizada na Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai e desenvolvida pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e da Rede Ibero-Americana dos Indicadores de Ciência e Tecnologia (RICYT/CYTED), que elaboraram o projeto de Indicadores de Percepção Pública, Cultura Científica e Participação dos Cidadãos.

Graça Caldas mostra em seu artigo ainda a importância de unir ciência e arte para a divulgação da ciência no Brasil.Traz como exemplos peças de teatro no Rio e São Paulo (O Método Científico; Galileu e Copenhague). Além disto, "no carnaval de 2004, a Escola de Samba Unidos da Tijuca, do Rio de Janeiro levou à passarela o enredo 'O sonho de criação e a criação do sonho: a arte da ciência no tempo do impossível", (18) manifestações artísticas culturais como forma de popularização da ciência.

Caldas destaca ainda o papel do Estado e interesse público como o agente regulador da Ciência e Tecnologia. Para ela, "o grande desafio que se coloca é que o Estado não pode se ausentar de sua responsabilidade como instituição reguladora dos interesses públicos. Não pode deixar que área tão importante e estratégica como C6T seja manipulada pelo mercado". (19)

3 -Direito à Comunicação Comunitária, Participação e Cidadania

Cicília Peruzzo nos brinda com o artigo "Direito â Comunicação Comunitária, Participação Popular e Cidadania", texto mais do que necessário, pois a autora faz uma retrospectiva histórica abrangente de como se tratou a questão nos anos 60, 70 e como se deu a evolução dentro de novos paradigmas sociais com a transição democrática em nosso país.

Coloca, de forma clara e didática, o papel hoje da comunicação comunitária, cuja participação popular não passiva é sinônimo de cidadania. Trata-se de um estudo inédito que muito ajudará as investigações na área, pois a matéria vinha sendo tratada de forma ultrapassada e que agora pesquisadores, professores e alunos não poderão mais prescindir do mesmo.

Peruzzo deixa claro que "a questão central que permeia o texto é a da participação do cidadão e de suas organizações coletivas na condição de protagonistas do processo de comunicação comunitária". (20)

Desta forma, tece considerações sobre a comunicação nos movimentos populares e ampliação da cidadania. Afirma que:

"No seu processo de constituição, descobriram a necessidade de apropriação pública de técnicas (da produção jornalística, radiofônica, estratégias de relacionamentos públicos, etc) e de tecnologias de comunicação (instrumentos para transmissão e recepção de conteúdos, etc) para poderem se fortalecer e realizar os objetivos propostos (Peruzzo, 2004) (...) num primeiro momento descobriram a utilização da comunicação - desde as formas grupais e individuais até os meios tecnológicos - como uma necessidade, ou seja, como canais importantes para se comunicarem entre si e com seus públicos, sejam eles os usuários reais ou potenciais dos serviços oferecidos à imprensa, aos órgãos públicos aliados e ao conjunto da sociedade". (21)

Para Peruzzo houve uma grande transformação na comunicação dos movimentos populares. Hoje, "trata-se de uma outra comunicação que ganha expressividade nas últimas décadas por envolver diversos setores das classes subalternas, tais como moradores de uma determinada localidade desassistidos em seus direitos e educação, saúde, transporte, moradia, segurança, etc; trabalhadores da indústria; trabalhadores do campo; mulheres, homossexuais; defensores da ecologia; negros; cidadãos sem terra para produzir meios à sua própria subsistência, etc". (22)

A autora ressalta que "essa comunicação não chega a ser uma força predominante, mas desempenha um papel importante da democratização da informação e da cidadania, tanto no sentido da ampliação do número de canais de informação e na inclusão de novos emissores. Como no fato de se constituir em processo educativo, não só pelos conteúdos emitidos, mas pelo envolvimento direto das pessoas no que no fazer comunicacional e nos próprios movimentos populares". (23)

Isto porque até os anos 90, segundo Peruzzo, "os meios de comunicação popular/comunitária eram vistos como uma necessidade de expressão dos movimentos sociais". (24) Hoje é vista como direito de cidadania (processo que vem ocorrendo pouco a pouco).

No seio da sociedade civil mundial estas transformações já se fazem notar. Peruzzo cita por exemplo que "no nível do discurso, várias entidades, estudiosos e ativistas têm se posicionado publicamente a favor do direito à comunicação, tornando-o como um mecanismo de se efetivar a democratização dos meios de comunicação (...) tipo de direito representado na Campanha CRIS (Communication Rights in the Information Society; (...) democratização das tecnologias de informação e comunicação (TICs) e promover um fórum mundial alternativo ao CMSI (Cumbre Mundial de la Sociedad de la Información), cúpula convocada pela ONU (Organização das Nações Unidas) (...)". (25)

Peruzzo conceitua ainda o que se entende por direito à comunicação, cuja definição se transformou com o passar dos tempos e as novas demandas sociais. Citando Osvaldo Leon (2002, p. 3), Peruzzo nos define que:

"direito à comunicação se apresenta agora como aspiração que se inscreve no dever histórico que começou com o reconhecimento de direitos aos proprietários dos meios de informação, logo aos que trabalham sob relações de dependência com eles, e, finalmente, a todas as pessoas, que a Declaração dos Direitos Humanos (...) consignou como direito à informação e à liberdade de expressão e de opinião (...). Esta é parte de uma concepção mais global (...) que incorpora de maneira peculiar os novos direitos relacionados com as mudanças de cenário da comunicação e um enfoque mais interativo da comunicação e um enfoque mais interativo da comunicação, no qual os atores sociais são sujeitos da produção informativa e não simplesmente receptores passivos da informação." (26)

Ainda várias definições são apresentadas por Peruzzo, segundo a conceituação de distintos autores estudados por Peruzzo, tais como: Irene Leon (apud Bush, 2004); Antonio Pasquali e Ronel Jurado (2002, p. 2-3); Cees Hamelink (2002); Victor van Oeyen, Paulo Lima e Graciela Selaimen (2002, p.2) e Miguel Reis (2004, p.1-2), realizando uma verdadeira e atualizada revisão bibliográfica sobre o tema.

Peruzzo (27) ainda nos fala sobre "Quando o direito à comunicação é explicitado na prática"; do "Direito â comunicação no contexto dos conceitos de direitos de cidadania"; da "Participação popular na comunicação como estratégia para ampliar o status da cidadania"; e da novidade que vem sendo a implantação de "Comitê local de comunicação", que segundo ela "um Comitê Local de Comunicação pode tr como finalidade básica servir de pólo motivador, aglutinador e facilitador das atividades de comunicação relacionadas ao desenvolvimento comunitário". (28)

Em suas conclusões Peruzzo finaliza o texto chamando a atenção para a importância do Direito à comunicação como prática de cidadania ao dizer que:

"Os meios de comunicação soa bens políticos constituídos pelo conhecimento acumulado pela humanidade. Pertencem à sociedade e a ela devem estar subordinados. Tanto o controle oligárquico dos meios de comunicação, como os impedimentos ao acesso amplo das comunidades aos canais de comunicação decorrem de contingências históricas que podem ser transformadas pela ação dos próprios cidadãos". (29)

4 -A memória da comunicação impressa brasileira e o exercício da cidadania

Da maior importância também na obra Comunicação Pública - organizado adequadamente por Maria José da Costa Oliveira - é o artigo de Esther Caldas Bertoletti, que dá destaque ao resgate e preservação da memória da comunicação impressa brasileira como um dever e exercício de cidadania, uma vez que no Brasil esta é ainda uma área incipiente e árdua de se realizar, devido há vários anos de descaso dos governantes com uma política de cultura e de educação do povo brasileiro, principalmente ao que se refere à preservação dos bens intelectuais produzidos no país e que não foram indexados e arquivados adequadamente e colocados à disponibilidade de consulta dos cidadãos, de um modo geral.

A exemplo de outros países como a França toda a produção de comunicação impressa que trata da Revolução Francesa estão devidamente catalogadas e colocadas à disposição da sociedade, o Brasil, ainda hoje, carece deste tipo de trabalho o que com muitas dificuldades começa a ser realizado por um projeto que a autora realiza sob a coordenação do professor da UFRJ e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), Dr. José Murilo de Carvalho sobre os "Panfletos Políticos da Independência" que circularam no Brasil. Esta pesquisa tem o propósito de tornar-se um patrimônio dos cidadãos e que deverá ser publicada ainda neste ano de 2004. (30)

Bertoletti relata ainda a importância da Biblioteca Nacional, com sede no Rio de Janeiro e o papel que tem nesta tarefa de preservação da memória comunicacional impressa brasileira. Segundo ela, "a guarda e a conservação dos jornais, folhetos, panfletos, almanaques e toda sorte de periódico compete a Biblioteca Nacional de cada país, por determinação legal, abrangendo todo tipo de impresso, para além dos livros". (31)

Como mentor deste trabalho árduo de preservação da produção intelectual brasileira na área da comunicação impressa, Bertoletti relembra a figura do historiador José Honório Rodrigues (1913-1987), que foi também diretor do Arquivo Nacional e da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional que durante toda a sua vida chamou a atenção para a luta da preservação das fontes documentais como democratização do acesso aos registros passados.

A autora traz a público o precioso trabalho de pesquisa que vem realizando nos últimos anos - Projeto Resgate "Barão do Rio Branco" - que tem importância vital para a preservação da memória nacional, que como afirma "é um resgate da documentação histórica sobre o período colonial existente no exterior. (...) Esse complexo projeto desenvolvido sob a coordenação geral da Assessoria Internacional do Gabinete do Ministro da Cultura, desde 1992. Com o apoio de diversos outros Ministérios e governos de Estados, além de Universidades e Fundações de Amparo à Pesquisa, realizou um trabalho sistemático de re-ordenamentos e re - organização dos documentos avulsos e dos Códices (...)". Um volume imenso de documentos que estão nos arquivos europeus, principalmente diz a autora, no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.(32)

Bertoletti vem trabalhando arduamente em seu projeto técnico de resgate de obras que procuram retratar desde a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, trabalho este que desde a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1838 tem apresentado sempre de forma parcial. Como resultados dos trabalhos de Bertoletti "já foram publicados cerca de 23 catálogos com os verbetes resumos dos documentos das Capitanias e três guias de fontes (Holanda, Espanha e França)". (33) Segundo a autora espera a publicação de mais três catálogos (Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro).

4.1 - Documentos históricos também são monumentos: o resgate da imprensa escrita, falda e televisionada

A importância deste trabalho de Bertoletti é fundamentalmente a de chamar a atenção para a necessidade de conscientização de que todos os documentos também são monumentos. Segundo ela:

"Há muito os que trabalham em arquivos e bibliotecas têm procurado conscientizar a todos de que os documentos são também monumentos e, neste sentido, o Ministério da Cultura do governo Luiz Inácio Lula da Silva, com o total entusiasmo do Ministro Gilberto Gil e de seu Secretário de Articulação Institucional e de Difusão Cultural, Professor Márcio Augusto Freitas de Meira (...) está lançando as bases de um grande programa de caráter nacional chamado Documenta, que, à semelhança do Programa Monumenta, certamente contará com provável e substantivo apoio do BID/UNESCO para a preservação dos nossos documentos". (34)

Os resgate da memória das informações produzidas seja no meio impresso, radiofônico, televisivo ou on-line, pela internet também devem ser arquivados de forma adequada. A comunicação pública tem esse papel preponderante de colocar este bem intelectual à disposição do cidadão. Assim Bertoletti questiona como deverá ser realizado tal trabalho quando a informação que circula for apenas no meio eletrônico, internet? Segundo ela, "quem as armazenará para daqui a, digamos, vinte anos? Ela, a informação, pode não ter sido 'captada' no momento mesmo em que é veiculada, pode 'escapar' ao cidadão. Uma vez perdida a noticia, ele, o cidadão, perde o direito a ter acesso a ela? Como fica, então, a história do quotidiano, a preservação da memória nacional?". (35)

Desta forma Bertoletti chama a atenção para a importância o denominado "Depósito Legal". Segundo ela, "normalmente, o local lógico e adequado para o cidadão buscar a "sua noticia perdida" deveria ser as bibliotecas públicas, sejam as municipais, sejam as estaduais e, em última instância, a Biblioteca Nacional, localizada no Rio de Janeiro. E é exatamente por essa razão, que existe o assim chamado "depósito legal", instrumento jurídico presente em praticamente todos os países do mundo", esclarece. (36)

Para Bertoletti todos devem se preocupar com esta questão e os 5.559 municípios brasileiros deveriam, através de suas bibliotecas públicas municipais e estaduais, arquivar sistematicamente toda a produção impressa de sua cidade. A produção dos brasileiros realizadas no exterior também deveriam ser catalogadas e arquivadas no Brasil, bem como as obras editadas por autores e editores estrangeiros sobre o Brasil. Lembra também que poderiam ser arquivados e catalogados também outros tipos de material que fazem a memória coletiva, como discos de 78 rotações, longs plays, fitas cassetes, CDs, CDS-ROMs e os atuais DVDs. (37)

Exemplo disto é a Coleção do Correio Braziliense (1808-1822) jornal editado em Londres por Hipólito da Costa cópias de fac-símiles recuperadas por Alberto Dines, bem como outros documentos de jornais e revistas impressos que foram fac-similados pela Dra Ana Maria de Almeida Camargo, pesquisadora, arquivista e historiadora da USP. (38)

Não obstante, o trabalho ainda a ser feito de recuperação de publicações periódicas é muito grande ainda no Brasil. A Lei de Imprensa e o depósito legal reforçam esta necessidade incentivando o arquivamento destes documentos. A falta de incentivo e interesse das autoridades brasileiras acabam por deixar ocorrer o que ocorreu com a falada Biblioteca do historiador e diplomata Manuel de Oliveira Lima, que segundo a autora se encontra na Universidade Católica de Washington (EUA). Bertoletti relembra ainda da sempre indignação de Franklin de Oliveira "que reclama sempre da falta de recursos, da crise do sistema; do saque cultural e da atenção que deve ser dada para evitar a perda do patrimônio histórico e artístico brasileiro". (39)

Bertoletti deixa claro em seu artigo que o "acesso à informação é um direito do cidadão". Chama a atenção para a memória da imprensa sindicalista; da feminista; dos folhetos de cordel; dos jornais de bairro, revistas e boletins comunitários, pois segundo ela "não se fará a História do Brasil sem a pesquisa nos periódicos, nos panfletos, nos almanaques, enfim, nos jornais...". (40) Recorda o conceito de cultura como direito do cidadão definido por Marilena Chauí: como direito de acesso à informação e de fruição da criação cultural; como direito de produção das obras culturais; e como direito de participação nas decisões de política cultural". Traz também a definição de cultura do Ministro Gilberto Gil, proferida na Audiência Pública sobre a Política Cultural do Governo Lula na Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados, em 14 de maio de 2003:

"Cultura como a dimensão simbólica da existência social brasileira. Cultura como o conjunto dinâmico de todos os atos criativos de nosso povo. Como tudo aquilo que, no uso de qualquer coisa, se manifesta para além do mero valor de uso. Como aquilo que, em cada objeto que um brasileiro produz, transcende o aspecto meramente técnico. Cultura como usina de símbolos de cada comunidade e de toda a nação. Como eixo construtor de nossa identidade. Como espaço de realização da cidadania. Cultura como síntese do Brasil." (p.45) In Comunicação Pública, 2004, págs. 92-93. (41)

4.2. Marques de Melo e o resgate da imprensa brasileira

Alguns trabalhos importantes nesta direção têm sido realizados que a autora exemplifica: "o da Secretaria especial de Comunicação Social da Prefeitura do Rio de Janeiro; com a publicação dos folhetos intitulados Cadernos de Comunicação: Série Estudos e Série Memória. Com uma média de 70 a 100 páginas, que segundo a autora esses cadernos vêm suprindo uma lacuna existente na história da imprensa na cidade do Rio de Janeiro" (42) e o "trabalho do grupo de pesquisadores da história da imprensa e jornalistas reunidos em torno de uma idéia mater liderados pelo jornalista, pesquisador e professor emérito da USP, Prof. José Marques de Melo, detentor da Cátedra UNESCO de Comunicação, (no Brasil e sediada na UMESP Universidade Metodista de São Paulo), vem articulando projetos ligados às comemorações dos 200 anos da criação da imprensa no Brasil, em 2008". (43)

Bertoletti enfatiza ainda os dois trabalhos importantes que vem sendo realizado por Marques de Melo no sentido de preservação e resgate da memória da imprensa brasileira: o do Núcleo da Rede Alfredo de Carvalho, que já realizou dois encontros nacionais (Rio de Janeiro e Florianópolis) e em 2005 realizará o terceiro encontro em Novo Hamburgo (RGS) e também os sucessivos artigos do Prof. José Marques publicados na Revista Imprensa sob a rubrica '200 anos de Imprensa', (44) conclui a autora.

5- Sociedade da Informação

Com destaque importante na obra Comunicação Pública é também o artigo de Luciana Bernardo Miotto que nos fala da "Comunicação e Espaço Público na Sociedade da Informação: reflexões sobre a política contemporânea".(45) Miotto nos dá a dimensão exata de que o novo sistema de comunicação digital promove a integração global em todos os setores da vida humana mas ao mesmo tempo causa o isolamento dos seres humanos.

Retoma o conceito de tecnologias da informação feito por Castells, que segundo ele são "as tecnologias da microeletrônica, computação, telecomunicação/radiodifusão, opto-eletrônica e também genética". (46) Há um novo modelo de desenvolvimento: "o modo informacional de desenvolvimento, cuja fonte de produtividade está na tecnologia de geração de conhecimentos e processamento de informação, afirma. Segundo Miotto:

"Conhecimento gera conhecimento, ou seja, o conhecimento é aplicado para melhorar a tecnologia e vice-versa. Por isso, o modo informacional de desenvolvimento utiliza o paradigma tecnológico baseado nas tecnologias da informação". (47)

Miotto retoma também as principais características do paradigma das tecnologias formuladas por Castells (1999), que segundo o autor catalão seriam: "a informação como matéria - prima; a penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias, a lógica das redes, a flexibilidade, a convergência da microeletrônica, das telecomunicações e dos computadores para um sistema integrado de informação". (48)

Não obstante, o fundamental disto tudo é a velocidade. Vários autores são unânimes em afirmar, como por exemplo Dupas, citado por Miottto, que "a informação converteu-se em componente indispensável da reprodução econômica e dos ganhos da competitividade; a quantidade e a qualidade das idéias que circulam pela internet facilitam a apropriação de conhecimentos; por outro lado, as redes representam importante fonte de lucros da chamada nova economia". (49)

Castells, por outro lado, "se refere às tecnologias da informação, a tecnologia per se que é a questão fundamental e o ponto de partida de suas investigações sobre o Estado, a sociedade e a economia", afirma Miotto. Segundo ela, a opção metodológica de Castells "é de que a tecnologia não determina a sociedade, pois novas formas e processos sociais não surgem como resultado da transformação tecnológica. A tecnologia é a sociedade e esta não pode ser entendida sem suas ferramentas". (50)

Desta forma o Estado ganha papel preponderante, pois segundo Castells (Miotto, 2004, p.100) "a tecnologia expressa a habilidade de uma sociedade para impulsionar seu domínio tecnológico por intermédio das instituições sociais inclusive o Estado". (51)

Miotto retoma também os conceitos de Bauman que afirma "vivermos em uma modernidade líquida" (...) onde "os problemas vividos pelos seres humanos não são tangíveis, embora suas conseqüências possam ser sentidas (...) desestruturação das organizações tradicionais e a falta de legitimidade das instituições e dos sistemas políticos". (52)

A ênfase central deste estudo proposto por Miotto é a de que "há informação, que circula em grande volume nas redes, mas não há comunicação entre os grupos sociais" e este seria o grande conflito, dilema a ser resolvido pelas sociedades democráticas, uma vez que "a verdadeira política perdeu seu poder, já que o espaço público está vazio ou foi tomado pelo capital". (53)

Desta forma Miotto, propõe reflexões sobre a condição humana baseadas nos conceitos de Bauman e Hannah Arendt, pois para Bauman:

"Ser um indivíduo não significa necessariamente ser livre. A forma de individualidade disponível no estágio final da sociedade moderna e na sociedade pós-moderna, aliás comuníssima nesta última, é a da individualidade privatizada, que significa essencialmente uma antiliberdade" (Bauman, 2000, p.70. In Comunicação Pública, p.102). (54)

5.1 - Palavra viva e a ação vivida

Miotto se valerá dos conceitos de Hannah Arendt para demonstrar a estreita relação entre política e liberdade. Tema tratado também por Lafer (1991, p. 342). A definição de liberdade de Arendt, segundo Lafer é a seguinte: "só pode ser exercida mediante a recuperação e a reafirmação do mundo público, que permite a identidade individual através da palavra viva e da ação vivida, Arendt trabalha com o conceito de res pública, portanto, para ela "não se trata da liberdade moderna e privada da não-interferência, mas da liberdade pública de participação da res pública". Neste sentido, segundo Miotto, "a liberdade somente é construída no exercício da política". (55)

Com base nestas premissas Miotto nos fala da sociedade contemporânea; do discurso e da ação humana e da chamada 'sociedade da informação'. Nesta sociedade chamada por Martins (1996a) de "tecnosfera onipresente", que segundo ele "leva à miserabilização da natureza" (...) (56) pois "as possibilidades tecnológicas de transformação dos seres humanos levantam questões éticas fundamentais", (57) afirma.

Uma vez mais apoiada nos conceitos de Bauman (2000), Miotto nos fala da necessidade de uma sociedade de indivíduos independentes: "os indivíduos são livres quando podem instituir uma sociedade que promova a sua liberdade". Para Bauman, "trata-se do poder de influenciar as condições da própria existência, dar um significado para o 'bem comum' e fazer as instituições sociais se adequarem a esse significado" (In Comunicação Pública, 2004, p.105). Miotto enfatiza, a partir daí que "que essa discussão só pode ser realizada no espaço público da política. Daí a necessidade de recuperá-lo pois encontra-se abandonado (ou destruído) na chamada 'sociedade da informação.'"(58)

Política e liberdade são espaços de reflexão e análise de Miotto para se entender a sociedade da informação, pois somente na polis, onde se exercitava a ação e o discurso os homens eram livres. Miotto deixa claro que: "um homem que vive apenas uma vida privada encontra-se destituído de sua essência verdadeiramente humana. O homem privado não se deixa conhecer e, assim é como não existisse". (59)

A autora aponta ainda para o perigo da ilusão de que na sociedade da informação o homem se completa, pois há informação e não comunicação, ao dizer que:

"Talvez seja este um dos aspectos surpreendentes (e contraditórios) da sociedade da informação: enquanto a informação é base do atual modelo de desenvolvimento, faltam-lhe referências éticas, normativas e filosóficas. E isso ocorre porque o espaço público da política perdeu seu real sentido: o do exercício da liberdade". (60)

6- Comunicação pública e governo

Nesta segunda parte da obra Comunicação Pública, a organizadora Drª Maria José da Costa Oliveira dedicou espaço aos temas relacionados mais diretamente à comunicação pública e governo, na busca de dirimir equívocos constantes entre estas duas esferas.

Heloiza Matos relata a sua pesquisa que investigou a publicidade institucional do governo brasileiro no período de consolidação democrática, cujo recorte surge da análise de 1.400 peças da publicidade institucional pós-ditadura militar veiculada na mídia televisiva, no período que se seguiu ao fim do regime, em 1985, até o início do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1998, conforme expõe Matos. O estudo de caso é o da propaganda televisiva das instituições militares.

Para Matos houve evolução da comunicação governamental para o alargado conceito de comunicação pública. Assim, Matos com a pesquisa realizada pretendeu verificar qual o "caráter do novo discurso e posicionamento das instituições militares diante da nação". Segundo ela, "mais do que um registro histórico, a pesquisa procura oferecer subsídios para compreender como as forças armadas brasileiras estão se adaptando ás mudanças sociais e políticas ocorridas nos últimos anos e, especialmente, com a chegada ao poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva".. (61)

Matos trabalha com os elementos de comunicação pública entre a persuasão ou a interação. Recorre aos autores Zemor (1995) e Loisier e Cosette (1995) para tentar dar o conceito exato de Comunicação Pública, que segundo ela, "múltiplos objetivos e finalidades pressupõem também a multiplicidade de atores envolvidos, dificultando traçar o âmbito e o conceito da Comunicação Pública como modalidade de comunicação política". (62)

De acordo com Matos, "Zemor (1995, p.23) classifica as formas da Comunicação Pública que as divide em cinco categorias, todas tendo a informação como objetivo: a) responder à obrigação que as instituições públicas têm de informar o público; b) estabelecer uma relação de diálogo de forma a permitir a prestação de serviço público; c) apresentar e promover os serviços da administração: d) tornar conhecidas as instituições (comunicação externa e interna) e e) divulgar ações de comunicação cívica e de interesse geral". (63) A autora acrescenta a estas cinco categorias "a comunicação do processo decisório que acompanha a prática política".

Matos, entende que a partir daí que o conceito contrapõe informação e persuasão, mas segundo ela "abre a possibilidade de integrar a comunicação governamental como tarefa da instituição pública não utopicamente separada da lógica do mercado, mas sem de todo eximir o Estado das responsabilidades de mediador legitimo da sociedade". (64)

Como hipótese da pesquisa realizada com os filmetes de propaganda institucionais das instituições militares analisadas por Matos se ateve a este conceito: "o discurso da Comunicação Pública seria então construído como estratégia ditada pelo cenário do mercado político e estatal, levada em consideração na elaboração do planejamento e na tomada de decisões governamentais". (65) Não obstante, para Matos "a propaganda pareceu-lhe estar fora deste cenário".

Matos explica o porquê disto: "já em estúdios anteriores (Matos, 1989) constataram que a instituição militar sempre negou o caráter propagandístico de suas peças de comunicação. Mesmo durante o governo Médici, o período mais duro da ditadura militar, a comunicação era anunciada como social, cívica e voltada para a construção do discurso democrático constituído pelas metas do desenvolvimento e da segurança nacional, em contradição flagrante com a censura e a repressão aos discursos dissidentes". (66)

A pesquisa realizada por Matos contou com peças indistintamente dos Ministérios do Exército; EMFA, Marinha e Aeronáutica. Matos fez a seguinte classificação dos filmetes: Alistamento; Datas comemorativa; Técnicas de Pesquisa e exploração e Imagem Institucional.

Os resultados, ainda que parciais, apresentados pela autora são surpreendentes e bastante significativos para compreender o período estudado e a atual situação das Forças Armadas dentro de um contexto democrático. Apenas como ilustração citamos uma das conclusões evidenciadas por Matos:

"Na década analisada, o Exército alterou seguramente sua imagem como opção de carreira: a ênfase na profissionalização transmitiu a opinião pública à imagem de uma corporação moderna e, por esse ângulo, afeita às necessidades da sociedade brasileira". (67)

Importante notar que a pesquisa do período estudado (1986 a 1997) por Matos reafirma a idéia de "que o pensamento militar figuram como elementos estranhos â sociedade civil". Segundo ela, "É certo que se aproximar da sociedade pareceu ser um dos objetivos da publicidade institucional das instituições militares neste novo período democrático. Porém fica claro que não foram encontrados os meios que explicitem ao público o papel dessas instituições, suas políticas, os serviços". (68)

7 - Percepções sociais sobre a Publicidade de Entidades Públicas: matérias jornalísticas e pesquisas

Gino Giacomini Filho em Comunicação Pública retoma os estudos das percepções sociais sobre a publicidade de entidades públicas através de documentos de matérias jornalísticas e pesquisas para realizar uma investigação bibliográfica e documental para estudar sobre a hipótese de que "os investimentos publicitários de órgãos públicos não seriam legítimos". (69) Giacomini apresenta quatro possibilidades porque as pessoas crêem que esses gastos publicitários por parte dos órgãos públicos seriam incorretos: a) existiriam outras prioridades, como gastos com saúde, educação e segurança; b) a publicidade serviria mais como autopromoção das pessoas em cargos públicos, inclusive visando propósitos eleitorais; c) a publicidade dos serviços públicos, em certa medida, poderia ser desnecessária e dispendiosa ao erário público e, d) os gastos publicitários seriam uma compensação às agências, pessoas e instituições que prestaram serviços em outras ocasiões, como em eleições.(70)

Não obstante, esta e o setor publicitário apresentam também ampla lista de razões para o uso legitimado da publicidade no setor público.Gino apresenta cinco delas:

a) informação aos cidadãos sobre seus direitos, muitas vezes pouco evidenciados pela legislação;

b) persuasão para alterar positivamente comportamentos sociais, como em campanhas de saúde pública;

c) melhor conhecimento dos serviços públicos, pois muitos cidadãos desconhecem o que tais entidades podem oferecer;

d) maior competitividade, porque muitas instituições públicas competem com outras de cunho privado, mas as primeiras agregariam valores sociais que precisam ser conhecidos e

e) maior visibilidade das realizações feitas por entidades e órgãos públicos face Ao noticiário negativo (contrapropaganda) proporcionado por entidades como imprensa, intelectuais, associações e partidos políticos. (71)

O excesso de burocracia, descasos com o cidadão e gastos não justificados têm pesado decisivamente na imagem do setor público, sendo esta a forma como a sociedade encara os serviços publicitários para este tipo de anunciantes, conforme pesquisa realizada em matérias jornalísticas por G. G. Filho.

O objeto de estudos do pesquisador focou simplesmente e especificamente "o estudo da publicidade de entidades públicas (governos) e atitudes sociais (da Imprensa, intelectuais e contribuintes) perante tal fenômeno no Brasil", deixando de lado as ações eleitorais. (72)

Gino apresenta as funções e legitimidade social da publicidade pública, argumentando que "historicamente (...) muitos cidadãos acreditam que a oferta de produtos e serviços públicos seja 'natural' em uma relação de causa (dever público em função de impostos pagos) e efeito (produtos e serviços públicos bons e gratuitos)". Não obstante, segundo ele, novos fatores adicionam elementos a esta visão, tais como: "o conceito de 'dever público' (...); o cidadão tem sido mais exigente (...) A sociedade da informação, cobrando melhor qualidade, diversificação e conveniência de produtos e serviços políticos, algo que é relativizado pela escassez de recursos e investimentos face às dificuldades na gestão pública política". (73)

Desta forma, é inevitável que o setor público necessite de implementação de estratégias de marketing, que segundo o autor necessita sintonizar oferta e mercado.Igualmente qualquer outro setor o setor público passa a ter a sua demanda comunicacional como 'mercadoria' e como mercadoria envolverá estratégia de marketing em sua plenitude: "pesquisa, planejamento, promoção, gerência de marcas, logística, gestão da qualidade de produto e atendimento, dentre outras, ações essas que envolvem investimentos materiais e humanos", (74) enfatiza.

O autor lembra ainda que o público deste segmento do setor público tem igualmente que ser atendido como o público de qualquer outro setor, "cuja estrutura de marketing terá de buscar satisfazer necessidades e desejos, caso contrário pode provocar insatisfação se as estratégias contiverem erros ou se os consumidores aumentarem seus níveis de exigência".

Sobre esta concepção G. G. Filho recorre aos conceitos de Hirschmann (1983, p.15) que fala dos atos de consumo, satisfação, decepção e insatisfação.Ainda há o elemento qualidade e persuasão, que do ponto de vista de Adler (2002, p.20. In Comunicação Pública, 2004, p.134-135), que diz "Do ponto de vista prático, o papel da publicidade é simples e direto: transmitir mensagens cuja intenção é persuadir os consumidores a comprar determinados produtos ou serviços". Ou então, conforme Brum, (1988, p.17. In Comunicação Pública, 2004, p.135) segundo indica G. G. Filho:"Não existe Comunicação neutra, o que já subentende um posicionamento político, assim como não é possível uma Política efetiva sem uma Comunicação adequada". (75)

Exemplos positivos da utilização d a publicidade na administração pública e que servem para complementar os esforços de promoção social têm ocorrido em outros países como Inglaterra, Irlanda do Norte; Canadá entre outros. G. G. Filho retoma a lista de funções da Comunicação na Administração Pública, relacionada por Rego (2002, p.121-123. In Comunicação Pública, 2004, p. 136), das quais, segundo ele, podem ser atribuídas à publicidade: "Gerar integração interna; Expressar a identidade; Lançar valores; Possibilitar o direito à informação; orientar o discurso dos dirigentes; mapear os interesses sociais; orientar os cidadãos assumindo função educativa; democratizar o poder; promover a integração social; ser um instrumento a serviço da verdade, assumindo função ética da cidadania". (76)

A qualidade ou a má qualidade da comunicação pública também é tratada pelo autor onde para ele a publicidade tem papel a ser cumprido. Entre as instituições públicas que zelam por um relacionamento positivo com o cidadão/cliente, mas que segundo a pesquisa de matérias jornalísticas realizadas pelo autor "todas transitam por 'desqualificação e qualificação com o tratamento ao cidadão/cliente'; pode-se citar as posturas positivas, em casos específicos como Banco Central; Embrapa; Serviço Poupa-tempo, que têm apresentado patamares de qualidade reconhecidos". (77)

G. G. Filho enfatiza ainda as questões da agenda pública versus agenda privada, mostrando a necessidade de haver sintonia de agenda pública com a agenda publicitária. Para G. G. Filho "é preciso ter em conta também que existe uma "Crise na publicidade e na esfera pública". (78) Há problemas de credibilidade por parte da população com relação â publicidade, cuja imagem negativa se dá nos três poderes.

Filho realizou pesquisa com as edições de 2000 a 2002, do jornal Folha de S.Paulo, onde as matérias jornalísticas sobre os gastos do governo com publicidade, sendo que nenhuma trazia enfoque positivo. Segundo o autor, "todas elas eram neutras e, em sua maioria negativa". (79) Gino Giacomini Filho, cita por exemplo: "Orçamento: Despesas da União com publicidade crescem 156% (05/07/2000); São Paulo: Covas eleva gastos publicitários, diz PT (03/09/2000); PSDB entra na Justiça contra propaganda oficial da prefeitura (25/09/2001); Política: Palocci gasta 870% a mais com propaganda (10/06/2001); Governo: Gasto publicitário aumenta 13,9% de 2000 para 2001 (17/01/2002) e, Governo já gastou 78,5% da verba de propaganda de 2002 (29/05/2002)." (80)

8 - Em tempos de Democracia é a vez do Comunicador público

Ainda no capítulo oito de Comunicação Pública destacamos o instigante artigo de Maurício Lara Camargos, intitulado "O comunicador público entre o Mar e o Rochedo", que trata do crescimento e do aumento do Ibope que a imprensa escrita, falada e televisionada vem tendo após a vitória do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considerado meritório processo de consolidação da democracia no Brasil.

Camargos apresenta dados realmente surpreendentes e relevantes quanto ao interesse público em consumir matérias jornalísticas seja ela na imprensa escrita, no rádio e na televisão ou on-line (internet). Vejamos alguns dados apresentados por Camargo:

"1 - A entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedida ao Fantástico, Rede Globo, no dia 17 de agosto de 2003, levou a audiência do programa a picos de 45 pontos no Ibope, quando o normal são 36 pontos (Mônica Bergamo, FSP, 119/08/2003);

A Revista Veja (ano 36, nº 33, de 20 de agosto de 2003) publicou longa entrevista com o Presidente Lula. Na edição seguinte a Revista se vangloriou de que a reportagem foi reproduzida e/ou citada por 56 outras publicações ou agências de noticias nacionais e estrangeiras"."(81)

O fato é que Lula dá Ibope. Todos querem ver e ouvir o presidente-mecânico falar, pois segundo parcelas pobres significativas da população "O Presidente da República (...) Na televisão ele fala, nas reportagens com ele, quando ele viaja para os Estados Unidos para se encontrar com o governo de lá, com o presidente de lá, tudo é mostrado..." (Ver pesquisa SECOM/PR-SINTES de Belo Horizonte, Camargo, 2004, p.148). (82)

Camargo afirma que quando o cidadão adulto de 20 a 45 anos afirma que quando Lula fala "tudo é mostrado" "pode-se inferir que, agora, ele presta atenção no que faz o Presidente". Isto porque, Camargo crê que o fato é que é o Lula Presidente, uma vez que sempre, desde os generais no poder quando viajavam, inclusive as viagens internacionais a imprensa também mostrava", mas o cidadão não se sentia cidadão e não prestava atenção. Para Camargo, então, "logo, a novidade é a de estar prestando atenção". (83)

8.1. Mais responsabilidade para a comunicação governamental

Neste caso, Camargo chama a atenção para que "se há mais interesse do cidadão, aumenta a responsabilidade de quem lida com a comunicação governamental" é importante notar também que, segundo Camargo, "a tendência é que a população mais atenta exija cada vez mais qualidade, completude e transparência na informação a ela oferecida". Para ele, "a palavra informação passa a merecer um adjetivo: qualidade". Este tipo de preocupação sabe-se que "sucessivos governos, seja na esfera municipal, estadual ou federal, tem sabido identificar essa necessidade de comunicação (...)". (84)

Por outro lado, Camargo, "esse crescimento que reage ao aumento de demanda nem sempre vem acompanhado da respectiva consciência de que ele acontece no bojo de um processo de fortalecimento da democracia e do avanço da cidadania". (84a) Segundo o autor, "muitas vezes, governantes e seus propostos só conseguem entender que precisam de Comunicação como ingrediente fundamental para a continuidade e mesmo para a sobrevivência do governo". (85)

E na visão de Camargo, "é que na outra ponta da linha está o cidadão e, do ponto de vista dele, o que importa não é a imagem boa o ruim da administração, mas a transparência, a possibilidade de fiscalização, a existência de meios que permitam o julgamento de uma ação administrativa". (86) Camargo crê que "o fundamental para o cidadão, o que deveria prevalecer é a Informação como um direito inalienável, básico. Em última instância, a verdade dos fatos". (87)

8.2.Direito à informação implica em ter acesso à informação

Camargo deixa claro em seu artigo que a sociedade, o debate sobre os avanços do direito da sociedade à informação pressupõe desafios, pois como o próprio Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão estratégica da Presidência da República (Secom/PR) "a garantia do direito à informação, por si só, não basta, se todos os cidadãos não tiverem a possibilidade de exercer esse direito".(88)

Ainda neste artigo de Camargo o autor deixa claras as políticas de comunicação que o Ministro Gushiken tem como meta em sua gestão. Dentre as muitas preocupações do Ministro, uma delas é a que diz respeito à "universalização que faz parte da inclusão social", que segundo ele, "considerando que há uma enorme exclusão no Brasil no que se refere o acesso à informação". Para ele, "as razoes são várias e vão desde a vergonhosa chagas do analfabetismo, passam pelas dificuldades geográficas, dadas a extensão territorial e as desigualdades regionais, e chegam à centralização do poder da mídia, que deixa lacunas importantes quanto à possibilidade de existência de uma imprensa regional e local fortalecida e capaz de suprir a necessidade de informação da população". (89)

Como corolário desta discussão Camargo relembra a definição de Lula do que seria de interesse da Imprensa: "Notícia de verdade é aquilo que a gente não quer falar e sai na imprensa. Aquilo que a gente está doidinho para falar não é noticia, é publicidade" (Lula, em 10 de setembro de 2003 e 118 de dezembro de 2003). (90)

9. Comunicação pública e esfera pública não-estatal

Finalizando a obra Comunicação Pública, Costa Oliveira traz os artigos de Vera Regina Toledo Camargo que trata da questão da Cultura do Lazer e o papel das ONG's como exercício da cidadania; Andréas Roberto Hoffman e Irani Marchiori tratam da questão da comunicação pública e da dimensão ecológica em produtos e processos produtivos, cujo papel da imprensa escrita, falada e televisionada são fundamentais para o exercício da cidadania.

O último artigo é o da organizadora Maria José da Costa Oliveira que fala da Comunicação pública e os setores não - estatais. Nele a autora busca dar a definição correta do que venha a ser Comunicação Pública, carente no Brasil de exatidão conceitual e de prática, embora seja um tema de primeira grandeza, mas que é pouco focalizado no Brasil.

Costa Oliveira deseja deixar clara a diferença entre o conceito de público não-estatal ao afirmar que:

"Procuramos aqui destacar a atuação de setores não-estatais naquilo que é público, considerando o papel do terceiro setor e das empresas, inseridos no conceito de público não-estatal. Há, em geral, uma grande confusão entre público e estatal, parecendo que um representa o sinônimo do outro. Entretanto, o espaço público não se limita à noção de estatal".(91)

Importante ressaltar deste artigo de Costa Oliveira é o papel que os meios de comunicação e principalmente a imprensa escrita, falada e televisionada têm na consolidação e valorização do Terceiro setor. Segundo a autora, "essa organizações estão transformando a realidade de muitas pessoas, criando, inclusive, alternativas à miséria e à exclusão, com perspectiva de convívio social e aprendizado".

Para ela o "Terceiro Setor surge como opção para assumir os espaços que deixaram de ser cobertos pelo Estado que, burocrático e fragilizado, tem sido incapaz de cumprir as suas funções sociais básicas. Assim, as necessidades de alianças precisam ser estabelecidas de maneira clara, transparente e bem definida, com a utilização de uma comunicação que assuma seu papel neste desafiante contexto público".(92)

Segundo Costa Oliveira o jornal Folha de S.Paulo de 27/01/01 mostra o porquê do sucesso das ONG's junto â imprensa e a mídia de um modo geral:

"As razões do sucesso das ONG's foram identificadas como sendo ligadas ao fato de que elas estão sempre na ofensiva, difundem suas mensagens diretamente ao público, são capazes de formar coalizões, têm causas claras e compreensíveis, agem com a velocidade da Internet e sabem falar com a mídia". (93)

10 - Notas e referências bibliográficas

1 - Gushiken, Luiz. Prefácio. IN Comunicação Pública, de Oliveira, Maria José da Costa (Org.), Alínea Editora, 2004; ps. 1-7.
2 - Idem. op. cit.
3 - Idem. op. cit.
4 - Idem. op. cit.
5 - Idem. op. cit.
6 - Idem. op. cit.
7 - Idem. op. cit.
8 - Bezzon, Lara Andréa Crivelaro. Análise político-sociológica do reencontro da sociedade civil brasileira com a cidadania e a democracia segundo a perspectiva da comunicação pública. IN Comunicação Pública, de Oliveira, Maria José da Costa (Org), Alínea Editora, 2004; ps.1 7-28.
9 - Idem. op. cit.
10 - Idem. op. cit.
11 - Lamounier (1986). In op.cit.
12 - Lafer (1991). In op.cit.
13 - Ibidem.
14 - Caldas, Graça. Comunicação pública e ciência cidadã. IN Comunicação Pública, de Oliveira, Maria José da Costa (Org.), Alínea Editora, 2004; ps. 29 -47.
15 - Idem. op. cit.
16 - Idem. Op. cit.
17 - Idem. Op.cit.
18 - Idem. Op.cit.
19 - Idem. Op.cit.
20 - Peruzzo, Cicília M. Krohling. Direito à comunicação comunitária, participação popular e cidadania. In Comunicação Pública, de Oliveira, Maria José da Costa (Org.), Alínea Editora, 2004; ps. 49 - 79.
21 - Idem. op. cit.
22 - Idem. op. cit.
23 - Idem. op. cit.
24 - Idem. op. cit.
25 - Idem.op.cit.
26 - Idem. op. cit.
27 - Idem. op. cit.
28 - Idem. op. cit.
29 - Idem. op. cit.
30 - Bertoletti, Esther Caldas. A memória da comunicação, imprensa brasileira e o exercício da cidadania. In Comunicação Pública, de Oliveira, Maria José da Costa (Org.), Alínea Editora, 2004; ps. 81 -96.
31 - Idem. op. cit.
32 - Idem. op. cit.
33 - Idem. op. cit.
34 - Idem. op. cit.
35 - Idem. op. cit.
36 - Idem. op. cit.
37 - Idem. op. cit.
38 - Idem. op. cit.
39 - Idem. op. cit.
40 - Idem. op. cit.
41 - Idem. op. cit.
42 - Idem. op. cit.
43 - Idem. op. cit.
44 - Idem. op. cit.
45 - Miotto, Lucianna Bernardo. Comunicação e espaço público na sociedade da informação: reflexões sobre a política contemporânea. In In Comunicação Pública, de Oliveira, Maria José da Costa (Org.), Alínea Editora, 2004; ps. 97-113.
46 - Idem. op. cit.
47 - Idem. op. cit.
48 - Idem. op. cit.
49 - Dupas. In Idem. op. cit.
50 - Castells. IN Idem. op. cit.
51 - Idem. op. cit.
52 - Idem. op. cit.
53 - Idem. op. cit.
54 - Bauman (2000). In Idem. op. cit.
55 - Arendt e Lafer (1991, p.342) In Idem. op. cit.
56 - Martins (1996). In Idem. op. cit.
57 - Idem. op. cit.
58 - Bauman (2000). In Idem. op. cit.
59 - Idem. op. cit.
60 - Idem. op. cit.
61 - Matos, Heloiza. Discursos e imagens das instituições militares no regime democrático. In Comunicação Pública, de Oliveira, Maria José da Costa (Org.), Alínea Editora, 2004; ps. 117-129.
62 - Zemor (1995). In Idem. op. cit.
63 - Loisier e Cosette. In Idem. op. cit.
64 - Zemor (1995). In Idem. op. cit.
65 - Idem.o p. cit.
66 - Idem. op. cit.
67 - Idem. op. cit.
68 - Idem. op. cit.
69 - Filho, Gino Giacomini. Percepções sociais sobre a publicidade de entidades públicas. In Comunicação Pública, de Oliveira, Maria José da Costa (Org.), Alínea Editora, 2004; ps. 131 - 146.
70 - Idem. op. cit.
71 - Idem. op. cit.
72 - Idem. op. cit.
73 - Idem. op. cit.
74 - Idem. op. cit.
75 - Idem. op. cit.
76 - Idem. op. cit.
77 - Idem. op. cit.
78 - Idem. op. cit.
79 - Idem. op. cit.
80 - Idem. op. cit.
81 - Camargos, Maurício Lara. O comunicador público entre o mar e o rochedo. In Comunicação Pública, de Oliveira, Maria José da Costa (Org.), Alínea Editora, 2004; ps. 147 - 156.
82 - Idem. op. cit.
83 - Idem. op. cit.
84 - Idem. op. cit.
85 - Idem. op. cit.
86 - Idem. op. cit.
87 - Idem. op. cit.
88 - Idem. op. cit.
89 - Idem. op. cit.
90 - Da Silva, Luiz Inácio Lula In Idem. op. cit.
91 - Camargo, Vera Regina Toledo. A cultura do lazer e o papel das ONG's: o exercício da cidadania. In Comunicação Pública, de Oliveira, Maria José da Costa (Org.), Alínea Editora, 2004; ps. 159-166.
92 - Oliveira, Maria José da Costa (Org.) Comunicação pública e os setores não-estatais. In Comunicação Pública, Alínea Editora, 2004; ps. 187 -201.
93 - Idem. Op. cit.

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