Resenhas
2o.
Encontro da
Rede Alfredo de Carvalho
Por
Paulo Henrique Ferreira*
"Afinal,
quem foi Alfredo de Carvalho?". A pergunta circulava
informalmente entre os 200 participantes do 2o. Encontro
Nacional da Rede Alfredo de Carvalho, realizado nos dias
15 a 17 de abril de 2004, em Florianópolis, Santa
Catarina.
|
|
Curiosos,
os pesquisadores, estudantes, professores e profissionais de
comunicação social levantavam esta e outras questões,
em um congresso que publicou 118 artigos, distribuídos
em 9 grupos de trabalho. Estes artigos abriram debates sobre
diversos assuntos que giravam em torno do tema central do congresso
- a "História do Ensino de Jornalismo e das profissões
midiáticas no Brasil" - e reforçavam a missão
central da Rede Alcar, de preservar a memória e construir
a história da imprensa no Brasil.
Diversidade
das pesquisas
As
pesquisas publicadas abordaram temas regionais, nacionais e
até mesmo "d'além" mar - como foi o
caso das contribuições de pesquisadores portugueses
presentes no encontro. Pesquisas regionais como a história
do rádio em Santa Catarina ou sobre a jornalista Maura
de Senna - que foi apresentada no evento como a primeira jornalista
do estado - mostraram o grau de maturidade dos trabalhos publicados
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), não
por acaso, a sede do encontro.
Outras
regiões foram igualmente bem representadas, com artigos
sobre a história da imprensa de estados como Maranhão,
Minas Gerais, Piauí, Tocantins, Paraíba, Bahia,
Pernambuco, Rio Grande do Sul, entre outros; além de
análises sobre fenômenos midiáticos em cidades
como Londrina, Itajaí, Rio Claro, Capivari e Piracicaba,
entre outras regiões.
A
grande diversidade de produções logo alçou
o debate para o âmbito nacional, com o resgate de períodos
que marcaram a história da imprensa brasileira, como,
por exemplo, o suicídio de Getúlio Vargas - amplamente
debatido no grupo de trabalho sobre a "História
da Mídia Sonora". Outras personalidades como o jornalista
Alceu Amoroso, o Repórter Esso e Machado de Assis também
deram compuseram o panorama histórico desenhado durante
o congresso.
Panorama
completo, aliás: foram publicadas pesquisas sobre temas
relevantes na cultura nacional - como o futebol e as novelas
(em rádio e televisão) - além de artigos
sobre práticas jornalísticas durante diferentes
acontecimentos históricos, incluindo aí o descobrimento
do Brasil, a ditadura militar e o atualíssimo episódio
do Waldomiro Diniz - caso que deflagrou uma das primeiras crises
no governo Lula.
Presente
e futuro
Com
tantas referências sobre o passado da nossa mídia,
o presente foi encarado face-a-face. O atual nível de
qualidade do ensino das profissões de comunicação
social foi debatido com uma mesa redonda que reuniu os professores
Nilson Lage, da Universidade Federal de Santa Catarina; José
Marques de Melo, da Universidade de São Paulo e Cátedra
Unesco/Umesp; Ana Arruda, da Associação Brasileira
de Imprensa; e Erasmo Nuzzi, da Faculdade Cásper Libero
- acadêmicos que são referências centrais
para o debate.
Como
conseqüência do debate em torno do ensino, o preocupante
cenário do mercado de trabalho foi analisado e chegou-se
à conclusão que os futuros profissionais devem
estar preparados para construir suas oportunidades no mercado
e, para tanto, o ensino universitário deve ser aprimorado.
Em suma, o debate sobre o ensino destas profissões levou
os professores a assumirem a posição de protagonistas
na formação de profissionais qualificados e de
um mercado promissor.
Por
falar em promessas, o futuro da profissão também
esteve em pauta com artigos que discutiam as tendências
das teorias da comunicação, interdisciplinaridade,
convergência de mídia e o impacto da evolução
tecnológica no jornalismo e na comunicação.
O congresso também abriu espaço para novos projetos:
o jornalista e professor português Luís Humberto
Marcos propôs a criação de um museu de imprensa
sem fronteiras nos países de língua portuguesa,
para solidificar a relação entre a imprensa e
pesquisadores de todos os países que falam o idioma.
Com
base na sua experiência de dez anos trabalhando no Museu
Nacional de Imprensa, no Porto, em Portugal, o pesquisador pôde
detalhar quais são os passos necessários para
a implantação da proposta de um museu sem fronteiras.
A proposta também reforça a relação
de cooperação entre pesquisadores de jornalismo
do Brasil e de Portugal, países representados no encontro.
Lançamentos
e novidades
Enquanto
os planos para o futuro eram traçados, os lançamentos
de novidades também marcavam o evento.
O livro "A Esfinge Midiática" do Prof. Marques
de Melo e a revista acadêmica de "Estudos em Jornalismo
e Mídia", publicada pela UFSC, foram os principais
lançamentos, que ajudaram a celebrar os 25 anos do curso
de jornalismo da universidade. Outra
realização importante foi a cobertura do evento,
feita por jornalistas e alunos do curso de jornalismo da UFSC,
que noticiaram os principais fatos ocorridos no congresso em
programas de rádio, televisão, boletins impressos,
além da cobertura em tempo real, no site do evento (www.jornalismo.ufsc.br/redealcar).
Neste
site, o internauta ainda pode acessar todos os trabalhos publicados
durante o encontro. Estas atividades que envolveram os graduandos,
diga-se de passagem, refletem a boa estrutura e organização
do curso de jornalismo da UFSC.
Organização
também vista nas demais atividades do encontro, tanto
na parte estrutural, quanto nas atividades sociais, tais como
almoços, coquetéis e festas, que possibilitaram
trocas de experiências entre os pesquisadores. Na visão
do Prof. Marques de Melo, presidente da Rede Alfredo de Carvalho,
estas experiências devem ser continuamente estimuladas
através de núcleos regionais da Rede Alçar,
para serem consolidadas nas edições anuais do
encontro nacional de pesquisadores da rede. Em 2005, é
a vez da cidade de Novo Hamburgo receber o encontro.
Conclusão
Toda
a coesão de idéias observada no 2o. Encontro da
Rede Alcar propiciou terreno fértil para muitas perguntas
e respostas, inclusive para pergunta que abriu esta resenha:
"Mas, afinal, quem foi Alfredo de Carvalho?". É
bom ressaltar que questão teve vida curta, pois já
na primeira noite do encontro, assim como a dúvida surgiu,
a resposta veio à tona.
Alfredo
de Carvalho (1870-1916), historiador pernambucano, entrou para
a história como um dos pioneiros no estudo sobre a imprensa
brasileira, ao consolidar o inventário sobre o primeiro
século da imprensa brasileira (1808-1908). Quase cem
anos depois, sua memória é resgatada e propagada,
com o crescimento da rede que leva o seu nome. Uma justa homenagem
que cresce a cada ano e agrega mais pesquisadores preocupados
com o passado, com o presente e com o futuro do jornalismo brasileiro.
*Paulo
Henrique Ferreira é mestrando em jornalismo na ECA/USP.
Voltar
|