Resenhas
JORNALISMO
O repórter e a notícia
Por
Carla Jamile*
|
|
Nos
dias 26 e 27 de maio, foi realizado o I Seminário Brasileiro
Esso IETV de Telejornalismo, no Rio de Janeiro, exibindo
as dez melhores reportagens de 2003. O evento teve a participação
do jornalista da Rede Globo César Tralli e Roberto Cabrini,
apresentador do Jornal da Noite, na Band, e vários outros
jornalistas conhecidos.
Após
a exibição de vídeos com algumas matérias,
veio o debate com a platéia. O primeiro convidado foi
César Tralli, que discutiu a banalização
da câmera oculta e o rigor na apuração dos
fatos. Disse Tralli:
-
A câmera oculta é fundamental nas reportagens de
investigação, mas hoje vejo uma banalização
de alguns programas de televisão, que talvez não
fosse necessária. Deve-se ter cuidado em relação
a sua utilização.
Para
ele, é preciso cuidado na investigação:
-
Temos que ter uma preocupação nas reportagens
investigativas. A começar desconfiando da própria
testemunha e do denunciante. Não existe matéria
bem apurada que não tenha o envolvimento de várias
testemunhas e não tenha muito rigor na hora de pegar
esses testemunhos.
Ele
chamou a atenção para os interesses por trás
da notícia:
-
Essas reportagens de repercussão nacional envolvem interesse,
cifras milionárias, traições extremamente
complexas, jogos de interesse, os mais diversos possíveis.
O
repórter da Globo comentou ainda a respeito da relação
do jornalista com a polícia:
-
Hoje no Brasil quem faz reportagem investigativa acaba sendo
confundido com policial. No fundo, nós estamos mostrando
o eles deveriam mostrar e não o fazem, então é
lamentável . Faz parte do nosso trabalho denunciar e
mostrar onde é que está a falha, e muitas vezes
a falha está no aparelho policial ou no judiciário.
Tralli
professou sua paixão pelo Jornalismo:
-
A maneira de trabalhar em reportagem investigativa não
pode ser hipócrita. Quem resolve fazer este tipo de reportagem
está correndo risco e tem que saber que esses riscos
são permanentes.
Ele
lembrou do tempo em que foi correspondente:
-
Eu já fui correspondente, repórter esportivo e
escolhi ser repórter investigativo. Tudo tem um preço,
e o preço do risco é um preço permanente,
convivo com ele o tempo todo. Ameaça de morte já
recebi umas quinze no ano passado, troquei de celular dez vezes,
não ando com carro blindado, nem com segurança,
porque quanto mais gente do seu lado, mais engessado você
fica e menos você consegue circular. Vou para a periferia,
entro nos buracos, eu assumo os meus riscos. Eu gosto disso,
faço com uma puta paixão e me arrisco mesmo sabendo
que amanhã pode me acontecer alguma coisa. Eu não
vou deixar de fazer este trabalho nunca, acho importantíssimo
para a sociedade hoje e tem pouca gente para tocar a reportagem
. Eu me arrisco e me arrisco com orgulho.
Roberto
Cabrini também compartilhou a sua experiência de
jornalista investigativo:
-
Jornalismo investigativo ficou convencionado como aquele que
se aprofunda mais nas reportagens, mas em tese todo jornalismo
é investigativo. Mas, existe tanto exemplo de jornalismo
superficial, publicitários fantasiados de jornalistas,
que se convencionou que o jornalismo investigativo é
aquele que tenta entrar com uma profundidade maior no assunto.
Dito isso, eu acho que você pode analisar e julgar o grau
de desenvolvimento de uma sociedade através do grau de
jornalismo que ela segue.
Ele
ainda enfatizou a importância do jornalismo investigativo:
-
O jornalismo investigativo assume uma dimensão ainda
maior, principalmente, quando as pessoas não têm
acesso às autoridades. As pessoas, às vezes, procuram
jornalistas por achar que os jornalistas têm a chance
de expor a situação, ele pode ser muito mais eficaz
do que a própria polícia. O que é, antes
de tudo, preocupante, angustiante, inquietante e revoltante.
Certamente, teríamos uma sociedade melhor se primeiro
se confiasse na autoridade e depois nos jornalistas.
Cabrini
não deixou de admitir a pressão existente sobre
esse tipo de jornalismo:
A
realidade de quem faz este jornalismo é pressão,
os processos, onde os valores estão totalmente invertidos.
Enquanto surtir efeito tem que continuar. Você é
testado até a última instância, a sua convicção,
seu compromisso para com sua profissão.O caminho da sua
dignidade é um só, não vai depender do
seu sucesso, do juiz ,vai depender do seu bem mais precioso
que é a sua confiança.
Ele
finalizou chamando a atenção para um grave problema:
-
Uma coisa fundamental: nós, jornalistas, não podemos
ficar refém das fontes, só que muitos fornecem
essas informações a um preço mórbido.O
fato de a fonte te dar uma informação implica
que existe uma relação de confiança, mas
só até o momento que signifique que você
não irá compactuar com o crime, porque existe
uma forma de corrupção pouco comentada: a corrupção
da informação. Há autoridades que comentam
as informações em troca de silêncio e da
conivência de jornalistas. Há uma manipulação
muito cara para aqueles que detêm informações.
No Brasil só se pune quem está excluído
do centro do poder.
*Carla
Jamile É estudante de Jornalismo das Faculdades Integradas
Hélio Alonso (RJ).
Fonte:
Balaio de Notícias - Webjornal - Quinzenal - Edição
57 - Aracaju, 06 a 20 maio de 2004. <http://www.sergipe.com/balaiodenoticias/index.htm>
Voltar
|