Nº 10 - Jul. 2008
Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ANO V
 

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RESENHAS
 


Teoria do jornalismo
à moda brasileira

Por Francisco de Assis*

A transposição da prática jornalística das redações para a academia, a visão crítica sobre seus aspectos ideológicos e estruturais, o pioneirismo dos estudos midiáticos no Brasil e mais uma extensa lista de abordagens correlacionadas ao universo do jornalismo no país são os componentes do livro Teoria do jornalismo: identidades brasileiras.

Reprodução
De autoria de José Marques de Melo, professor do programa de pós-graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo e diretor da Cátedra Unesco/Umesp de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, a coletânea foi publicada em 2006 pela editora Paulus e chega às livrarias como resposta a diversas dúvidas originadas pelas rápidas mudanças sofridas pela mídia no último século.

Diferentemente de outras obras que se ocupam das correntes teóricas formuladas nos Estados Unidos e na Europa, o livro explora as singularidades da trajetória histórica da imprensa brasileira, com reflexões que vão desde tentativas de explicar a chegada tardia da atividade jornalística à Terra de Santa Cruz, até sua compreensão como área do conhecimento científico, fonte preciosa para pesquisadores do campo das Ciências da Comunicação e de áreas afins.

O vasto terreno que Marques de Melo se propôs a percorrer apresenta, segundo seu próprio discurso deixa a entender, uma face muito particular, que só pode ser compreendida após o conhecimento das tentativas frustradas de implantação da tipografia no país, promovidas por diferentes Estados e desiguais interesses, e com a  assimilação do que significou o início do jornalismo brasileiro, marcado por ações episódicas.

Após traçar tal panorama histórico, o autor elabora um consistente painel sobre a realidade do periodismo praticado no Brasil nas últimas décadas, valorizando autores nacionais, embora sem deixar de citar grandes nomes das teorias universais da comunicação e do jornalismo. Com isso, mostra que a vocação da produção científica da área, no país, se apóia, principalmente, na pesquisa empírica, fato que comprova ainda mais sua identidade peculiar.

Especial atenção, sem sombra de dúvidas, merecem as “leituras complementares” que encerram cada capítulo. São textos curtos e objetivos, geralmente prefácios de outras publicações ou transcrições de discursos proferidos pelo professor, que traduzem a essência da teoria jornalística brasileira e oferecem ricas sugestões de bibliografias que podem aprimorar o estudo que se fizer à luz do referido livro.

Mas os focos de observação descritos nas 277 páginas do volume não se resumem ao cotidiano da imprensa: o pensamento jornalístico ali esboçado também questiona a formação de leitores brasileiros e aponta alguns motivos que promovem o desinteresse pela leitura de jornais, tais como as condições precárias de vida de grande parte da população e a própria formação escolar, que direciona os alunos ao aprendizado de gêneros literários distantes de seu dia-a-dia, em vez de colocá-los em contato mais próximo com textos que reflitam sua própria realidade.

Também não se pode deixar de notar a preocupação do autor, nessa mesma linha de raciocínio, para com o estudo específico dos gêneros jornalísticos. Seu relato sobre as primeiras experiências empíricas a esse respeito, realizadas por alunos do programa de pós-graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), em meados a década de 1980, remete a uma percepção pouco discutida no Brasil: pensar a organização dos gêneros na imprensa é discorrer sobre uma taxonomia em constante mutação, que reflete conjunturas e momentos historicamente delineados.

São reflexões dessa natureza, sempre amparadas por dados estatísticos e pela coleta de dados feita junto a profissionais que se mantêm ativos no mercado da informação, que fazem a obra de José Marques de Melo despertar o interesse do leitor: trata-se de um texto leve, embora com rigor científico, de fácil assimilação e que consegue dialogar perfeitamente com iniciados e iniciantes do campo.

Por se tratar de uma coletânea de textos de referência, o leitor irá encontrar escritos produzidos em diferentes circunstâncias. Essa reunião de discussões pretéritas mostra-se uma grande contribuição da antologia, principalmente por recuperar boa parte dos textos outrora publicados no livro Para uma leitura crítica da Comunicação, que atualmente está fora de circulação no mercado editorial, restrito a poucas bibliotecas universitárias e particulares.

Além de tudo isso, Teoria do jornalismo: identidades brasileiras ainda pode ser utilizado como glossário de termos ligados aos estudos em jornalismo do Brasil. Pois, muito embora não seja este o objetivo central da obra, a característica didática do texto auxilia na compreensão de denominações não tão claras para a comunidade científica – como o conceito de comunicação comunitária –, especialmente para os pesquisadores em princípio de carreira.

A antologia, por fim, chama a atenção por conseguir reunir num mesmo espaço assuntos tão próximos e, ao mesmo tempo, tão diversificados. Também é convidativa, no sentido de deixar certo gostinho de “quero mais” em cada abordagem, incentivando a procura por obras complementares e por outros materiais que elucidem, ainda mais, as teorias originadas da invenção de Gutenberg.

É leitura obrigatória para estudantes de comunicação, profissionais da área e para todos aqueles que se interessam e conhecer as particularidades do jornalismo verde-amarelo.

Serviço: MARQUES DE MELO, José. Teoria do jornalismo: Identidades brasileiras. SP: Paulus, 2006. 277 p.

*Francisco de Assis é jornalista, pesquisador do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Comunicação (Nupec) e mestrando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).


Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro [ISSN 1806-2776]