Monografias
Resistência,
Acomodação, Resignação ou Indiferença
Ato Institucional n° 5 no jornalismo
maranhense: um estudo de conteúdo
nos jornais Pequeno e do Maranhão
Por
Rodrigo Caldas Freitas*
|
Reprodução

|
Esse
trabalho é resultado de uma pesquisa realizada nos jornais
Pequeno e do Maranhão, no período de 20 de fevereiro
a 02 de julho de 2004. O período estudado vai de 14 de
dezembro de 1968 a 13 de março de 1969. Na leitura desses
jornais, ficou bem clara a influência do Ato Institucional
n° 5 sobre a imprensa maranhense. Um exemplo disso foi o
fim da Coluna da Oposição, escrita pelo jornalista
Milson Coutinho, que só voltou a escrever no jornal em
31 de janeiro de 1969 e, mesmo assim, em um artigo chamado "Dia
da Poesia".
A
escolha dos jornais estudados seguiu os seguintes critérios:
escolhemos o Jornal Pequeno por ser, dos disponíveis,
o único que ainda continua em circulação.
Além disso, o Pequeno diz-se um jornal de oposição,
o que o tornava ainda mais interessante para a análise
proposta.
Já a escolha do Jornal do Maranhão deveu-se à
sua vinculação direta a uma instituição
religiosa - a Igreja Católica. Além disso, a Igreja
mostrou-se, como a sociedade brasileira, dividida entre aqueles
que apoiavam e eram contra o governo militar.
O
corpus de análise do Jornal do Maranhão é
menor, mas nem por isso menos interessante. O jornal circulava
semanalmente e, no período delimitado, foram publicadas
11 edições, e dessas, 6 não têm nenhuma
notícia que interesse a esse estudo. Essa pouca freqüência
dos assuntos políticos nacionais pode ser explicada pela
própria linha do jornal, que era da Arquidiocese e tratava,
principalmente de temas ligados à Igreja.
No
entanto, podemos dizer que o Jornal do Maranhão trouxe
- pelo menos proporcionalmente - mais pontos em que se nota
a resistência ao AI-5 do que o Pequeno. Isso se mostra
logo na primeira edição analisada, a de 15/12/68.
O jornal, contrariando o resto da imprensa, não divulgou
a decretação do novo Ato Institucional e trouxe
as suas duas páginas centrais (págs. 4 e 5) em
branco.
Das
cinco notícias que fazem parte do corpus de análise,
4 apresentam elementos de resistência à ditadura,
e apenas uma traz a versão dos militares para a situação
do Brasil na época. Fica clara, também, a sutileza
do jornal ao tratar de temas que poderiam criar problemas junto
à censura, como veremos adiante.
Já
a pesquisa do Jornal Pequeno é mais extensa. Ao todo,
111 notícias foram pesquisadas. Dessas, 88 apresentam
traços das características que estamos buscando
identificar (vale salientar que o exemplar de 13 de dezembro
de 1968, dia da instauração do AI-5, não
consta do acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite,
bem como o de 22 de fevereiro de 1969).
No
Pequeno, encontramos uma variedade maior no teor das notícias,
indo da resistência ao apoio ao regime. Uma característica
marcante no jornal é a forte presença do discurso
oficial, inclusive com a transcrição de decretos
e normas baixados pela presidência da República.
Outra característica é a repetição
de notícias. Uma delas tem como manchete "Titular
da justiça falou sobre o Ato Institucional" e foi
publicada nos dias 15 e 16 de dezembro de 1968. A outra, "Padres
em liberdade", foi publicada nos dias 27 e 28 de dezembro
de 68, com textos diferentes, mas o mesmo conteúdo. Note-se
que uma das notícias é a fala oficial sobre o
AI-5, enquanto a outra fala sobre padres que foram soltos, pois
não se conseguiu provar nada contra eles. Isso revela
bem como o jornal não demonstrava uma posição
clara.
É
difícil identificar quando o Jornal Pequeno pode ter
deixado de publicar notícias, devido à censura,
e tenha colocado outras coisas em seu lugar. A falta de uma
uniformidade em seu projeto gráfico é um dos fatores
que leva a isso. Outro fator é que o jornal constantemente
trazia textos dos mais variados tipos, como "Aumente o
seu vocabulário", publicado em 17/12/1968, que trazia
o significado de várias palavras. Já no dia 24/12/68
o Pequeno traz, em duas de suas páginas, as letras das
músicas participantes do 3° Festival Internacional
da Canção. "Para não dizer que não
falei das flores", um verdadeiro "hino de resistência",
no entanto, não está incluída. Músicas
eram presença constante nas páginas do jornal.
No
que consideramos pontos de resistência, notamos mais uma
vez a sutileza na forma de tratar as notícias. Mas, na
maioria das vezes, o jornal trata apenas de citar fatos. Não
há como saber se alguns desses fatos - como o fechamento
de jornais ou a prisão de jornalistas e políticos
- eram ou não do interesse do governo. Avisar sobre quando
viriam novas cassações, por exemplo, pode ser
considerado como uma forma de resistência?
A
metodologia de análise ou o protocolo de leitura
Para proceder a análise pretendida, montamos um Protocolo
de Leitura [1] que se adequasse à realidade estudada.
Como pontos de partida para essa montagem, usamos Santaella
(2001), que nos indica os primeiro passos sobre como trabalhar
uma pesquisa em Comunicação. Outra obra de grande
valor foi a de Antônio Fausto Neto (1999), que é
o resultado de uma pesquisa.
Juntando
a teoria de um e a prática do outro, conseguimos começar
a visualizar o caminho a ser seguido.
José
Marques de Melo foi, na verdade, a grande base para a montagem
de nosso protocolo de leitura. Partimos do protocolo montado
pelo autor em "Estudo comparativo do comportamento editorial
de jornais e revistas brasileiros em relação às
telenovelas de maior impacto nacional nas décadas finais
do século XX", e fizemos as alterações
necessárias, já que a pesquisa de Marques de Melo
trata das telenovelas brasileiras e trabalha com as variáveis
angulação, atitude narrativa e valores éticos,
entre outras.(DE MELO, 2002)
Para
esse trabalho fez-se uma adaptação da metodologia
adotada por Melo, uma vez que os conteúdos são
diferentes e os objetivos a que nos propomos também.
Buscam-se traços de resistência, acomodação,
resignação ou indiferença ao Ato Institucional
N° 5. Adotamos, como já dissemos, uma análise
de conteúdo a partir das seguintes variáveis:
Conteúdo
das matérias: Nesse aspecto, os pontos a serem analisados
são os seguintes:
a)
Angulagem: Qual é a perspectiva dominante? A do real,
do imaginário ou o sincretismo?
b)
Foco Descritivo: O que é privilegiado? A vida das personagens,
dos atores, o cenário ou o contexto social?
c)
Atitude Narrativa: Qual a postura adotada pelo redator? Apocalíptica,
Integrada ou Neutra?
d)
Protagonistas Individuais: Quem são? Militares, políticos,
artistas, jornalistas, personalidades públicas, anônimos?
e)
Protagonistas Institucionais: Quais? Forças Armadas,
Estado, Igreja, Polícia, Entidades organizadas?
f)
Dimensões Sociais: Vida cotidiana, violência,
política, pobreza, riqueza, arte?
g)
Valores Éticos: Que polarizações foram
observadas? Justiça / Injustiça, Honestidade
/ Corrupção, Pacifismo / Belicosidade, Responsabilidade
/ Irresponsabilidade?
A
Análise
A
partir das 93 notícias selecionadas para a realização
dessa análise, fizemos uma classificação
entre aquelas que apresentavam traços de resistência
e acomodação ou resignação (consideramos
as duas últimas características juntas, pois estão
bem próximas, sendo, às vezes, bastante complicado
a sua diferenciação). Podemos ver que os jornais
maranhenses não foram, portanto, indiferentes à
realidade nacional.
Nessa
primeira triagem, encontramos 21 notícias com traços
de resistência e 72 que se enquadram na categoria acomodação/resignação.
Entre estas, estão incluídas várias que
primam pela "objetividade", sem emitirem qualquer
opinião sobre os fatos noticiados; as que trazem claramente
o discurso oficial; e, mesmo, aquelas que demonstram apoio irrestrito
ao governo militar e aos seus atos. Já entre as notícias
que demonstram a resistência ao AI-5, existem as que denunciam
- direta ou indiretamente -; as que se utilizam de textos não
noticiosos, como cartas, crônicas e outras; e até
aquelas que parecem legitimar o sistema, mas trazem, em seu
corpo traços de crítica sutil.
Nesse
corpus, no entanto, há repetição de temas
e formas de tratamento.
Por
isso, e devido mais uma vez à adequação
às regras do encontro, definimos um número de
três notícias a serem analisadas mais atentamente,
observando todos os critérios do protocolo de leitura
criado. Com isso, não podemos ter nessa análise
a mesma proporção encontrada na primeira triagem
(aproximadamente 22,5% adequadas ao critério resistência
e aproximadamente 77,5 % no critério acomodação/resignação).
As
notícias analisadas são:
1)
uma de caráter claramente favorável ao governo
militar;
2)
uma contrária ao poder dominante e às imposições
trazidas pelo AI-5; e
3)
um texto bastante ambíguo, principalmente para os leitores
da época, que não tinham, como temos hoje, a noção
do período que o país atravessava, no qual o autor
faz grandes elogios ao governo militar, especialmente no que
se refere ao respeito às liberdades individuais. Não
fica claro, portanto, se o autor utilizou-se de ironia para
"elogiando", tratar de assuntos que seriam certamente
censurados.
Análise
das notícias selecionadas segundo o protocolo de leitura
Exploração
Comunista
|
Jornal
Pequeno
|
20.12.1968
|
PÁG.
01
|
O
texto é bastante sarcástico, apresentando
a situação vivida pelo Brasil como uma "desfiguração"
da realidade feita pela Rádio Paz e Progresso,
de Moscou. Segundo a transmissão da rádio,
o Brasil vivia uma restrição de liberdades
devido à possibilidade de um golpe fascista, que
seria dado por um "General Sarmento". Além
disso, segundo a notícia veiculada, aconteciam
passeatas protestando contra a dissolução
do Congresso e a violação dos direitos humanos.
A notícia termina afirmando que "Desencontros
entre êsse tipo de transmissão e a realidade
dispensa maiores comentários e demonstra até
onde pode chegar a exploração comunista."
(Jornal do Maranhão, 20/12/1968, p.01)Apresentada
como um erro, a notícia dessa transmissão
conseguiu trazer ao público acontecimentos que
realmente aconteciam, mesmo que para isso tivesse que
usar dados fictícios, como a figura do "General
Sarmento".
|
Critérios
de análise
|
a)
Angulagem |
A
perspectiva dominante é a do sincretismo. Mesclam-se
fatos reais e imaginários, inclusive com a colocação
de fatos reais tidos como imaginários, distorções. |
b)
Foco
Descritivo |
O
privilégio é dado ao contexto social, apesar
de os autores, tidos como deformadores da realidade. |
c)
Atitude
Narrativa |
A
postura adotada é neutra. |
d)
Protagonistas
Individuais |
Os
protagonistas individuais presentes são o Ministro
da Justiça, Gama e Silva e o "Gal. Sarmento",
possível responsável por um golpe que seria
dado no país. |
e)
Protagonistas
Institucionais |
Os
protagonistas institucionais são muitos: Agência
Nacional; Ministério da Justiça; Rádio
Paz e Progresso; Embaixada dos EUA; Congresso Nacional;
bancos e Caixa econômica; Movimento Comunista. |
f)
Dimensões
Sociais |
São
abordadas a política; a violência;e a economia
. |
g)
Valores
Éticos |
As
polarizações principais são verdade/mentira;e
responsabilidade/irresponsabilidade da citada rádio. |
Punição
aos Errados (Escreve: Rodolfo Coelho Cavalcante)
|
Jornal
Pequeno
|
16.02.1969
|
PÁG.
03
|
Não
se trata de uma notícia, mas de um artigo de apoio
ao Ato Institucional N°5. Segundo o autor, a medida
até demorou a ser tomada, pois o governo seria
como um pai de família: se não há
autoridade - talvez ele queira dizer autoritarismo - o
lar fica desgovernado. O autor fala ainda sobre a liberdade,
que estaria sendo defendida pelo governo, e sobre os estudantes,
que segundo ele, deveriam estar em suas escolas ou universidades.
Por fim, Cavalcante defende que quem diz defender a lei
contra a própria lei, merece ser réu da
lei, e parabeniza o presidente Costa e Silva pelo AI-5.
|
Critérios
de análise
|
a)
Angulagem |
Domina
a perspectiva do real, embora algumas opiniões possam
ser contestadas. |
b)
Foco
Descritivo |
Privilegia-se
o contexto social, embora o texto seja de felicitação
e apoio ao presidente da República. |
c)
Atitude
Narrativa |
O
narrador mostra uma perspectiva integrada. |
d)
Protagonistas
Individuais |
Presidente
Costa e Silva; e Ruy Barbosa. |
e)
Protagonistas
Institucionais |
Governo;
família; escola; e Forças Armadas. |
f)
Dimensões
Sociais |
Trata-se
da vida cotidiana; da violência; dos movimentos estudantis
armados; e da política. |
g)
Valores
Éticos |
Mais
uma vez podemos apreender a questão da necessidade
ou não do AI-5. além disso, trata-se da questão
da violência/pacifismo e da justiça, através
dos movimentos estudantis. |
"Imprensa,
arte sublime por excelência" (Dr. Paulo Castello
Branco)
|
Jornal
Pequeno
|
11.01.1969
|
PÁG.
06
|
Mais
uma vez, trata-se de um artigo. Esse fala sobre a imprensa
e depois de um histórico que vem desde Gutenberg,
entra na questão da liberdade de imprensa. O autor
afirma que a liberdade de imprensa é inalienável
e que no Brasil essa liberdade é garantida e, por
isso, os jornalistas não se calam e não
se deixam amedrontar. O autor afirma que o governo Costa
e Silva "não permitirá jamais que seja
cerceada a liberdade de [...] imprensa [...]". É
interessante esse artigo em um momento em que a imprensa
vinha passando por censura, sua liberdade era restrita
e vigiada. O que se pode tirar como conclusão?
Esse artigo seria de apoio, uma tentativa de sensibilização
aos militares ou uma ironia às medidas adotadas?
Acomodação ou resistência ao AI-5?
|
Critérios
de análise
|
a)
Angulagem |
Cremos
no sincretismo presente nesse artigo. O histórico
feito é real, mas as condições apresentadas
sobre a liberdade de imprensa no país são
absolutamente falsas. |
b)
Foco
Descritivo |
Privilegia-se,
novamente, o contexto social. |
c)
Atitude
Narrativa |
O
narrador mostra uma postura integrada |
d)
Protagonistas
Individuais |
Johann
Gutenberg; E. Labonlaye; Marechal Castelo Branco; Artur
da Costa e Silva. |
e)
Protagonistas
Institucionais |
Constituição
Federal; Revolução de 31 de março de
1964. |
f)
Dimensões
Sociais |
Trata
da vida cotidiana e da questão da liberdade de imprensa. |
g)
Valores
Éticos |
A
única polarização perceptível
é liberdade de imprensa/censura. |
Conclusão
Vimos
no decorrer desse trabalho que o jornalismo é uma área
de enorme amplitude. Informativo e construtor de realidades
a princípio, não terminam aí as possibilidades
levantadas pelos jornais. Formadores de um conhecimento aparentemente
limitado, os jornais podem ser grandes armas para pesquisas
e estudos, que buscam conhecimentos aprofundados sobre os mais
diversos assuntos.
Norteados
pelas teorias da Ação Política, Construtivistas,
e Organizacional, segundo conceituação de Nelson
Traquina (Traquina 2002), vemos o jornalismo como uma forma
de construção de conhecimento. Utilizando-se os
conceitos de William James, podemos dizer que os jornais fornecem
aos seus leitores um tipo de conhecimento que ele chama de "familiaridade
com", que seria:
Tipo
de conhecimento que inevitavelmente se adquire no decurso
dos contactos pessoais e imediatos com o mundo que nos rodeia.
É o tipo de conhecimento que advém do uso e
do costume e não de uma investigação
formal e sistemática (PARK in PISSARRA, 2002, p. 35)
A
"familiaridade com" pode ser contraposta com o "conhecimento
sobre" que, segundo James, seria justamente aquele conhecimento
mais formal e sistemático, o qual parte de uma investigação.
A
princípio, podemos crer que realmente a função
do jornalismo é a de trazer um conhecimento até
certa forma limitado. Para Ivone Pavão, por exemplo,
o jornalismo pode ser considerado um construtor de memória,
mas essa é limitada, efêmera:
Por
isso é que se diz que o jornalismo constrói uma
memória efêmera. E essa memória jornalística
é resultante de um processo de adequação
da experiência cotidiana às regras do discurso
jornalístico, por exemplo: objetividade; parágrafos
curtos; predominância do uso de verbos; evitar adjetivos,
advérbios e neologismos; e uso da voz ativa.
Desse modo, a memória jornalística é fabricada
através de fatos reais, que em primeiro plano são
experimentados integralmente pelos indivíduos e, em segundo
plano, usurpados pelos meios de comunicação. Depois,
ao passarem por um processo de mediatização, os
fatos são devolvidos à realidade, preservando
o que eles têm de soberano, a sua existência, mas
revestidos e reestruturados pelo discurso jornalístico,
que transforma o todo num quebra-cabeça constituído
de minúsculas peças, fáceis de serem perdidas
e difíceis de serem montadas. (PAVÃO, 2004, p.31)
Segundo
a autora, o fato de o jornalismo trazer informações
fragmentadas contribui para que a memória ou o conhecimento
produzidos pelos jornais seja efêmera e completa afirmando
que isso "é preocupante, pois a memória é
fundamental para o registro da história". (Ibidem,
p.10)
Diferente
é a opinião de Nelson Traquina. Para o autor português,
características como frases e parágrafos curtos,
palavras simples e sintaxe direta são traços que
permitem a comunicação "através das
fronteiras de classe, étnicas, políticas e sociais
existentes numa sociedade". (TRAQUINA, 2002, p. 156)
Pavão
afirma que a linguagem jornalística, tida como "instrumental"
vai contra a narrativa, o que excluiria a experiência
do leitor. Com esse declínio da narrativa:
[...]
conseqüentemente a manutenção da memória
também entra em crise. Isso porque para aquisição
da memória, é mister a experiência. [...]
Portanto, fica claro que sem narrativa, não há
troca de experiências, o que impossibilita a construção
da memória, cada vez mais escassa nos dias de hoje.
(PAVÃO, 2004, p. 37)
Convém
trazer essa afirmativa para o nosso dia-a-dia. Quem não
se chocou com os atentados terroristas de 11 de setembro? Quem
não se alegrou com a conquista do pentacampeonato de
futebol pela seleção brasileira? Esses são
apenas dois exemplos de fatos que, com certeza, fazem parte
de nossas memórias e que, pelo menos a maioria de nós,
só tivemos acesso através do jornalismo. Não
podemos, então, afirmar que a narrativa jornalística
leva ao fim da memória, pois seria uma assertiva falaciosa.
Carlos
Chaparro, em recente artigo, chamado "O xis da questão",
fala sobre o assunto. Para ele, o jornalismo se nutre dos acontecimentos
e que estes são "efêmeros apenas em sua materialidade".
O autor coloca que nem todos os acontecimentos são alvo
das matérias jornalísticas, mas apenas aqueles
que podem causar mudanças ou transformações.
Portanto, o jornalismo teria o "gene da transformação,
não o da efemeridade" e conclui:
[...]
eu penso que a relação do jornalismo com o acontecimento
não se dá na instância do efêmero.
Dá-se no plano da vocação transformadora
dos fatos noticiáveis, entendidos como ações
humanas conscientemente produzidas e controladas, para desorganizar
e/ou reorganizar as coisas, na contínua e fascinante
elaboração do presente. (CHAPARRO, 2004)
A
muitos pode não interessar a leitura de um jornal do
dia ou semana anterior, mas eles continuam existindo e podem
ser revistos a qualquer momento. Portanto, mais que simples
mecanismos de atualização de uma sociedade, os
jornais são também retratos - construídos
ou não - de uma realidade e, tal qual a fotografia, imortaliza
um momento. Não podemos desprezar a idéia, que
vem do surgimento do Positivismo, no séc. XIX, de que
os jornais são "fontes" para a construção
da história. Portanto, a sua forma efêmera depende
de quem os lê.
Não
queremos, no entanto, dizer que jornalismo é História.
Mas também não podemos reduzir os jornais a produtos
perecíveis, com duração de um dia no máximo.
Se o que importa no jornal é apenas ser novo, trazer
"furos", eles já não fazem mais sentido,
pois outros meios de comunicação conseguem, na
maioria dos casos, ser mais ágeis, como já dissemos.
Roberto
Elísio dos Santos afirma, baseado no historiador Ciro
Flamarion Cardoso, que os próprios meios de comunicação
são fontes históricas em si:
Os
meios de comunicação tornaram-se fontes de investigação
histórica aceitas pelos pesquisadores. A esse respeito,
Ciro Flamarion Cardoso comenta: 'As fontes históricas
são todos os tipos de informação acerca
do devir social no tempo, incluindo tal noção
igualmente os próprios canais de transmissão
dessa informação, isto é, as formas em
que foi preservada e transmitida'. Nesse contexto, os meios
de comunicação ganham o status de fontes históricas.
(SANTOS, 1989, p. 157)
Baseando-se
na idéia de Schlesinger, que afirma que a notícia
encontra-se "em oposição radical à
História" e que "o sistema de ciclos ao longo
do dia noticioso tende para a abolição da consciência
histórica" (SCHLESINGER, 1977/1993 apud TRAQUINA,
2002, p. 159), o trabalho aqui realizado não faz sentido.
Nem esse nem qualquer outro trabalho sobre a história
do jornalismo, ou que use os jornais como fontes de pesquisa.
Para
o historiador Fernand Braudel:
Um
evento, a rigor, pode carregar-se de uma série de significações
e familiaridades. Dá testemunho por vezes de movimentos
muito profundos e, pelo jogo factício ou não
das 'causas' e 'efeitos' caros aos historiadores de ontem,
anexa um tempo muito superior à sua própria
duração. Extensível ao infinito, liga-se,
livremente ou não, a toda uma corrente de acontecimentos,
de realidades subjacentes, e impossíveis, parece, de
destacar desde então uns dos outros. (BRAUDEL apud
SANTOS, p.161)
Segundo Braudel, um fato não existe por si só.
Ele tem uma significação, está ligado a
outros fatos. Portanto, não pode ser visto como algo
com início e fim em si mesmo.
Partindo
dessa nova perspectiva, não podemos dizer que o jornalismo
leva os indivíduos apenas à "familiaridade
com", mas também ao "conhecimento sobre",
relembrando as categorias de James. Se os media são fontes
históricas, permitem uma investigação mais
aprofundada. Portanto, os jornais, por exemplo, podem levar
seus leitores ao chamado "conhecimento sobre".
Mas
isso acontece com os leitores que se interessam em fazer essa
pesquisa, essa investigação.
Reforça
essa idéia o pensamento de Adelmo Genro Filho. Para ele,
o jornalismo é uma forma de conhecimento que não
se limita à funcionalidade característica a esse
modo de produção.
[...]
se tomarmos o conhecimento como a dimensão simbólica
do processo global de apropriação coletiva da
realidade, poderemos conceber o jornalismo como uma das modalidades
partícipes desse processo e, igualmente, atravessado
por contradições. (GENRO FILHO, 1987, p. 60)
Para
Genro Gilho, essa característica advém, exatamente,
de o jornalismo ser uma forma de construção da
realidade:
[...]
não podemos falar de uma correspondência de funções
entre o jornalismo e a percepção individual,
mas sim de uma simulação dessa correspondência.
É a partir dessa simulação que surge
propriamente um gênero de conhecimento, pois enquanto
se tratar de relação imediata dos indivíduos
com os fenômenos que povoam o cotidiano, da experiência,
sem intermediação técnica ou racional
instituída sistematicamente, o que temos é realmente
a percepção tal como a psicologia a descreve.
[2] Quer dizer, um grau determinado de conhecimento, um nível
de abstração elementar. (Ibidem, p. 58)
Podemos
afirmar, portanto, que o jornalismo é um formador de
conhecimento. Dentro desse pressuposto encontramos a relação
entre o jornalismo e a História. Estas áreas,
que alguns consideram incompatíveis, opostas, como Schlesinger
(apud TRAQUINA, 2002), mostram muitas afinidades, seja nas suas
formas - baseiam-se na narrativa, e em fatos, por exemplo -
ou mesmo na relação existente entre as duas: o
jornalismo se serve da História para enriquecer ou, por
vezes, dar sentido aos seus conteúdos; e a História
usa o jornalismo tanto como fonte para suas pesquisas quanto
como objeto de estudo.
O
caso dessa pesquisa é um exemplo disso. Nosso objeto
de estudo não é necessariamente a sociedade maranhense,
mas a imprensa de São Luís na época do
Ato Institucional N° 5.
De
acordo com o exposto na pesquisa, vimos que a imprensa maranhense
teve uma postura prioritariamente de acomodação
e resignação quanto à realidade vivida
pelo país. Como demonstra a pesquisa, cerca de 77,5%
das notícias veiculadas pelos jornais estudados e que
tinham alguma ligação com a ditadura militar e
o AI-5, adotavam essa postura. Os traços de resistência
também foram encontrados, mas somaram apenas 22,5%.
Um
ponto a se destacar é o que se pode considerar, em um
primeiro momento uma contradição: o Jornal Pequeno,
que se notabiliza até os dias atuais por ser um jornal
de oposição, mostrou um tratamento muito mais
ameno às questões ligadas à ditadura do
que o Jornal do Maranhão. Este, um jornal ligado à
Igreja Católica, não tinha um cunho político,
tanto que na maior parte das edições estudadas
não fazia nenhuma menção à situação
do país.
Seu
objetivo, como já dissemos, era dar visibilidade às
notícias da Igreja, divulgar aquilo que era de interesse
dos fiéis. Mesmo assim, suas críticas mostraram-se
bem mais contundentes, mas sem perder a sutileza que era um
requisito necessário para qualquer tipo de crítica
feita na época.
Não
podemos, entretanto, "culpar" os jornais maranhenses
por sua postura de não enfrentamento. Em primeiro lugar,
adotar esse tipo de atitude poderia ser danoso, não só
ao jornal quanto ao seu corpo funcional. A violência empregada
pelos militares não tinha critérios que beneficiassem
qualquer classe ou grupo. Podemos, portanto, crer que os jornais
de São Luís avançaram até onde conseguiram,
mas não ousaram uma atitude como a do alternativo Opinião,
que enfrentou a ditadura até as últimas conseqüências,
mas sabendo que o resultado dessa postura seria o seu fim.
Por
outro lado, pensemos: os jornais maranhenses calaram-se frente
ao poder militar ou apenas refletiram a sociedade ludovicense?
Lembremos-nos que Caldeira afirma que a sociedade maranhense,
no período de 1956 a 1976, era isolada, e "pouco
[foi] atingida pelos processos de transformação
aos quais se submeteu a sociedade nacional [...]." (CALDEIRA,
1978, p. 57)
O
sociólogo complementa:
A
escolha do período 1956/1976 para a averiguação
das causas da estabilidade da sociedade civil do Maranhão
e das crises do poder político do Estado, para as finalidades
deste estudo se baseou, também na averiguação
das razões que mantiveram o Estado à margem
dos fenômenos ocorridos no País, no mesmo período,
e que foram causadores da alteração dos contornos
do perfil da sociedade civil brasileira, ao lado das crises
que compeliram o poder político nacional a optar por
reformulações dos seus mecanismos de regulação.
(Ibidem, 1978, p. 63 [grifo nosso])
Fechamos
esse trabalho, portanto, com uma pergunta: o que levou os jornais
maranhenses a adotarem a postura de não enfrentamento
ao regime militar?
Medo,
insegurança, apoio ao regime, ou simplesmente a realidade
local.
Vemos
que, segundo Caldeira, São Luís não era
uma ilha apenas geograficamente, mas também vivia à
margem das transformações que vinham acontecendo
no país. Portanto, se a sociedade maranhense não
estava inserida nessas mudanças, teria algum sentido
os jornais trabalharem com essa perspectiva?
ANEXO
A - Exploração comunista
JORNAL
PEQUENO - 20.12.68 - CAPA
EXPLORAÇÃO
COMUNISTA
BRASÍLIA,19
(AGÊNCIA NACIONAL) - A situação brasileira
tem sido desfigurada no noticiário da Rádio Paz
e Progresso, de Moscou, cuja emissão especial, no dia
14 último, às 21h30m irradiou o seguinte: "O
Ministro da Justiça, Gama e Silva, tentou justificar
as medidas, falando da necessidade de defender altos interesses
da Nação. No entanto, o próprio setor da
opinião pública brasileira e os observadores estrangeiros
auguram a estas medidas do governo, como anulação
dos últimos indícios de liberdade no país".
Prosseguindo disse a Rádio de Moscou: "Um correspondente
da France Press afirma que há possibilidade do general
Sarmento dar um golpe nazista e instalar no Brasil um regime
francamente facista.
O
general Sarmento é conhecido pelo seu sadismo e também
como facista".
"As
ruas do Rio de Janeiro", disse ainda a Rádio Paz
e Progresso de Moscou, "são patrulhadas pela Polícia
Militar e forte contingente protege a Embaixada dos Estados
Unidos, na Avenida Wilson. E enormes são as filas nos
bancos e agências da Caixa Econômica. No Rio de
Janeiro e em São Paulo são feitas passeatas de
protesto contra a dissolução do Congresso e a
violação dos direitos elementares do homem".
Desencontros entre êsse tipo de transmissão e a
realidade dispensa maiores comentários e demonstra até
onde pode chegar a exploração comunista.
ANEXO
B - Punição aos errados
JORNAL
PEQUENO - 16.02.69 - Pág. 03
PUNIÇÃO
AOS ERRADOS
ESCREVE: RODOLFO COELHO CAVALCANTE
O
Governo não acordou tarde, embora que demorou um pouco
em terminar com as anarquias de subversões estudantis
e demais que j estavam sendo observados pelos brasileiros que
tem senso. O Governo e como pai de família.
Quando
não há autoridade paternal os filhos fazem o que
entendem e o lar fica desgovernado.
O
Nôvo Ato do sr. Presidente da República veio acabar
com o abuso daquêles que julgavam que o Govêrno
estava dormindo.
Disse
o Grande Mestre Ruy Barbosa: "A Liberdade só é
Liberdade quando não se atinge a Liberdade de alguém".E
o que estavam praticando os derrotados, os vendilhões
da pátria, aquêles que abusando da liberdade que
o nosso país oferecia? Vinha somente praticando anarquias.
O Brasil sempre foi a terra da Liberdade é que o nosso
Presidente tomou as medidas necessárias em acabar com
o abuso daqueles que não amam a liberdade!
É
necessário que a verdadeira mocidade ajude os nossos
governantes manterem a Paz, a Liberdade na expressão
máxima da Democracia, e não ser jogada aos caprichos
dos corruptos e dos vendidos procurando perturbar a Paz e a
Tranqüilidade da Família Brasileira. Lugar do Estudante
é na boa Escola ou na sua Faculdade. O lugar do Soldado
é defender a sua pátria.
Como
pode o estudante se envolver na política ou querer defender
as causas nacionais com armas sem que primeiro receba a instrução
militar? Começa o êrro daí. "Não
pode o carro andar na frente dos bois" diz o adágio
popular.
Para
que a classe estudantil possa demonstrar o seu ardor patriótico
então deve, primeiramente, receber as instruções
militares e que seja comandada pôr aquêles que melhor
possa dirigir. Batalhão sem comandante é como
cego sem guia. Quem julga defender a Lei contra a própria
Lei pode ser considerado como réu da própria Lei.
Parabéns sr. Presidente, não permita mais que
a nossa Democracia seja ferida pela falsa mocidade, que incentivada
pelos corruptos querem fazer de nossa Pátria uma nova
Cuba.
ANEXO
C - "Imprensa, arte sublime por excelência"
JORNAL
PEQUENO - 11.01.69 - Pág. 6
"IMPRENSA,
ARTE SUBLIME POR EXCELENCIA"
Dr. Paulo Castello Branco
Ao
ensejo do corrente ano, achei por bem e de melhor agrado escrever
algo sobre a imprensa escrita e falada desde a sua aparição
neste mundo de meu Deus.
E,
o faço imbuído dos melhores e dos mais elevados
propósitos de bem informar aqueles que ate então,
desconhecem o que e realmente a imprensa e o papel preponderante
que ela desempenha no âmbito da coletividade.
Devemos,
inegavelmente a Johann Gutemberg, o magistrado sábio
alemão era grande dádiva de haver sido o inventor
da imprensa.
O
seu verdadeiro nome era Johann Gensfleish, entretanto, pelo
simples fato de sua família, residir em Gutemberg Hof,
tornou-se, desse modo, conhecido pelo primeiro nome da cidade
em que morava.
Nasceu
o insigne inventor da imprensa no ano da graça de 1398,
e pereceu em 1468. Seus primeiros planos para a famosa invenção,
foram iniciados em Estrasburgo, com tipos de madeira, entretanto,
foi em Mogunaia, tendo como sócios Brechter e João
Furst, que lhe havia concedido empréstimo de oitocentos
florins, que Gutemberg pôde imprimir a celebre e tão
falada Bíblia de Moguncia, em latim, nos idos de 1455.
E Gutemberg, a seguir, imprimira diversas obras, mas em nenhuma
delas colocara o seu nome, dada a sua grande modéstia.
Como
preito de gratidão e sincera homenagem, ergueram-lhe
em 1937, uma estatua de bronze, cujo modelo era de Thoneahan.
Em vários lugares, a posteridade ergue-lhe monumentos
outros, bem assim como Estrasburgo.
Apesar
de tôda a gloria que lhe fôra rendida, entretanto,
feneceu Gutemberg, na mais completa miséria, pois o seu
sócio João Furst, quando de sua falência,
tomou-lhe todos os bens, tendo, então, Gutemberg sido
abandonado totalmente pelos antigos amigos, aqueles que quando
o famoso inventor da imprensa se achava em grande evidência,
dada a fama e a gloria que brilhantemente conquistara, em virtude
do seu audacioso feito, o cortejavam a todo instante, tendo
vivido os seus últimos dias, pela generosidade do Arcebispo
de Moguncia, que o tinha anteriormente auxiliado na imprensa.
Gutemberg,
apesar dos grandes sofrimentos, e, hoje, uma figura venerada
e respeitada, com todos os esplendores da gloria, enquanto que
o seu ex-sócio João Furst, e um nome que passou
a historia, sem nenhuma expressão, nome esse lido, com
asco e o mais desprêzo . E, por outro lado, a vida de
Johann Gutemberg constitui, mais um exemplo de falsa e interesseira
amizade, indigna, portanto, desse modo que envenena as relações
sociais da humanidade. Da primeira edição da Bíblia,
existem alguns exemplares em papel e em pergaminho, os quais
valem verdadeiras fortunas.
A
estátua de Gutemberg na cidade de Estrasburgo, foi concedida
e realizada por David D'Angers.
Assim
sendo, devemos a Johann Gensfleish, mais conhecido por Johann
Gutemberg a invenção da nossa imprensa que constitui
um dos mais arrojados empreendimentos do passado, sintetizados
exatamente na pessoa daquele inesquecível vulto, que
tudo fizera para que pudéssemos ter, como hoje têmo-la
na realidade, crescendo e se agigantando a cada momento e a
cada instante vai se tornando ainda mais aperfeiçoado,
graças, portanto, aos novos e hodiernos métodos
que lhe têm sido impostos pela brilhante e digna classe
dos jornalistas, da qual, embora modestamente, me orgulho em
pertencer, pois ser jornalista constitui, não resta dúvida,
uma das maiores virtudes do mundo, assim o considero.
A
liberdade de imprensa, hoje, por tal sorte radicada neste país,
que dificilmente, se não possível, poderá
ser aniquilada, porquanto conquistamo-la com a nossa completa
emancipação política e social.
E,
de nenhuma das liberdades consagradas em nossa Lei Maior, temos
sabido mais nos aproveitar e temo-nos mostrado mais zelosos.
É
que o nosso querido Brasil compreendeu desde os primórdios,
a verdade consagrada nas célebres palavras proferidas
por certo orador inglês, que dizia textualmente: "Levem-nos
tôdas as outras liberdades, mas deixem-nos a liberdade
de imprensa e com esta reconquistaremos tôdas as outras".
E,
assim, podemos nos desvanecer de possuir, protegidos pela lei
e pelo costume, pela tradição, êsse baluarte
das liberdades públicas, a mais poderosa garantia contra
o despotismo dos governos atrabiliários e ineptos.
Dizia
com bastante acêrto e justiça Caming: "Quando
o Parlamento está reunido, é com êle que
governamos; isto dura seis meses; durante os outros seis meses,
o governo passa à imprensa".
Atualmente,
ninguém de bom senso, poderá negar a influência
benéfica e decisiva que exerce sobre a vida de um povo
a nossa imprensa. Ela é um fórum dos povos modernos.
Reúne o jornal, cada manhã, pelas mesmas idéias
e pelos mesmos sentimentos milhões de pessoas. Digamos
mesmo, suprimir a imprensa é suprimir com êsse
jato a liberdade, que se nos assegura a Lei Básica do
País que é a nossa Constituição
Federal vigente.
A
imprensa constitui, na sua mais alta acepção (em
sentido latu sensu) o veículo por excelência de
informações, notícias, comentários
e a crítica construtiva que realiza em tôrno de
certos e determinados atos e fatos que quotidianamente passam
através dêste Brasil em fora, para os quais a imprensa
com seriedade e com a mais completa imenção de
ânimo, aponta as soluções mais viáveis
e cabíveis para a sua completa resolução.
Ela é a auxiliar do poder constituído; dá
mais voz aos interêsses que sofrem; se o ínfimo
julga-se sacrificado, poder defender e advogar sua causa perante
a Nação. E, ante êsse grito repetido e aumentado
por muito ecos, ficam sem forças, o egoísmo e
a intriga mesquinha daquêles que vêem os seus interesses
pessoais contrariados e as suas ambições frustradas.
São
êsses elementos que procuram sempre esconder os seus erros
e faltas cometidas através de ameaças aos bravos
jornalistas que não se deixam amedrontar ante as intimidações
dos potentados, porquanto existe realmente neste país
a liberdade de imprensa, cuja liberdade deve ser assegurada
em tôda a sua plenitude.
Dizia
E. Labonlaye, referindo-se à imprensa, o seguinte: "Quem
não perceber o laço que há entre a liberdade
de imprensa e a fortuna dos povos, estará cego, pela
ignorância ou pelo preconceito. É a imprensa a
pedra do toque do liberalismo. Tôdo aquêle que tiver
mêdo dos jornais e não conceber o papel que representam
na civilização moderna, êsse , qualquer
que seja seu espírito, não ama a liberdade, ou
o que vem a dar na mesma coisa, não a compreende".
A
liberdade de imprensa no Brasil, como sabemos, é contemporânea
da nossa nacionalidade. E, na defesa dos nossos sagrados direitos,
tem a imprensa escrita e falada, representado papel tão
saliente, e tomado parte bastante ativa, que em qualquer medida
que ora pretendesse tomar em sentido de restringir essa liberdade,
até hoje, não violada impunemente, veria o País
destruída a mais segura garantia de um govêrno
livre, honesto, dinâmico, respeitado e democrático.
Com
o advento da nossa gloriosa Revolução de 31 de
Março de 1964, que teve como um de seus mais autênticos
Chefes ou inditos Marechais Humberto de Alencar Castello Branco
de saudosa memória e Artur da Costa e Silva, nosso eminente
e honrado Presidente da República, passou a imprensa
escrita e falada do Brasil a gozar das mais amplas garantias,
garantias essas consagradas nos rádios princípios
que nortearam aos ideais da salvadora Revolução
de 1964, que em tão boa hora livrou êste País
da subversão, da corrupção, da fraude,
da anarquia, enfim do verdadeiro caos em que se encontrava e
continua na sua marcha triunfal, porquanto a vitoriosa Revolução
de 31 de Março de 1964 não parou, ela prossegue
até alcançar realmente os seus reais e legítimos
objetivos sob a égide do ilustre e bravo Presidente Marechal
Artur da Costa e Silva, que tem sabido conduzir os destinos
desta Nação a contento geral da coletividade brasileira.
E,
S. Excia, o Senhor Marechal Presidente Artur da Costa e Silva
imbuído dos mais elevados propósitos há
de assegurar durante todo o seu dinâmico, honesto e digno
govêrno tôdas as garantias à imprensa brasileira,
porquanto S. Excia. é acima de tudo um homem de imprensa
e como tal não permitirá jamais que seja cerceada
a liberdade de uma imprensa que tem por dever precípuo
ajudá-lo e orientá-lo, apontando soluções
mais adequadas na resolução dos mais intricados
problemas que afligem o nosso País.
A
imprensa escrita e falada, foi, é e será por todos
os tempos em fora, uma das mais sublimes artes, pois nela repassam
justamente os mais elevados, honestos, dignos e nobres propósitos
de defensora intransigente de nossas liberdades democráticas,
_______ dessa vitoriosa Revolução de 31 de Março
de 1964, que constitui para nós brasileiros um "Movimento
de Redenção Nacional".
Notas
[1]
Expressão criada por Jacques Derrida para indicar o percurso
adotado como metodologia para análise de um projeto (DERRIDA
apud SCHOLES, 1989, p. 13).
[2]
"O termo percepção é tomado, aqui,
como aquela apreensão imediata do real que fornece os
elementos que, através da generalização
em maior ou menor grau, vão constituir os conceitos e
as idéias mais abstratas" (GENRO FILHO, 1987, p.
58).
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