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Monografias

Os mitos de gênero no telejornalismo brasileiro:
Estudo de caso do Jornal Hoje
Por Ana Sílvia Laurindo da Cruz*

 

Resumo

No telejornal, uma reportagem aparentemente inocente pode carregar vários mitos de gênero, relacionados ao papel que homens e mulheres devem desempenhar na sociedade. Considera-se, aqui, gênero como categoria socialmente construída, e não determinada biologicamente.

Este trabalho aborda opressão exercida através do telejornal, que é simbólica, silenciosa e aparentemente insensível. O programa escolhido para amostragem é o Jornal Hoje, da Rede Globo, que é analisado a partir da estrutura significante. O objetivo é mostrar os mecanismos de linguagem que permitem a construção de um ideal de mulher e de relação que ela deve manter com o homem, buscando explicitar os principais signos que manifestam a visão androcêntrica, com a contribuição da Mitologia proposta por Roland Barthes e dos estudos que resgatam a história das mulheres e da construção do ideal moderno de feminilidade.

1. Introdução

Em 2004, o Jornal Hoje, da Rede Globo, veiculou uma matéria sobre o aumento da participação das mulheres na construção civil. Junto a esta constatação, a mensagem trouxe uma série de adjetivos que, associados às mulheres, estabelecem uma certa identidade feminina. Fragilidade, delicadeza, sensibilidade são algumas das características que aparecem como inatas à mulher.

As "pedreiras" viraram notícia porque possuem algo de espetacular: são mulheres ocupando um espaço tradicionalmente masculino. O estranhamento causado por esse acontecimento tem uma justificativa histórica, e isso é abordado a seguir. Pretende-se compreender como uma simples matéria de telejornal reproduz determinadas idéias acerca do papel que homens e mulheres devem desempenhar na sociedade brasileira.

Para tanto, são analisadas reportagens do Jornal Hoje, da Rede Globo de Televisão. O foco deste trabalho é a mensagem produzida pelo telejornal enquanto estrutura significante, e o tratamento dado às relações de gênero.

Ao falar de gênero, ou gêneros, faz-se referência à construção social normatizadora das categorias "homem" e "mulher", e não a uma determinação biológica. Considerando a produção televisiva como potencial instrumento de manutenção da ordem simbólica, demonstra-se como o jornalismo contribui para a naturalização de conceitos e preconceitos. Mesmo que, no processo de produção da reportagem, a construção de um discurso preconceituoso não seja deliberada, essa mensagem existe, é consumida e interpretada.

O objetivo é levantar questões para a reflexão sobre os objetos analisados. Ao demonstrar o que os signos de uma matéria carregam dentro do contexto da construção histórica do papel de homens e mulheres, retira-se a produção jornalística do espectro cotidiano e banal, para ressaltar o potencial que possui para manter ou revolucionar a ordem das coisas.

Questiona-se a dominação masculina, porque a divisão entre os sexos e a imposição da visão machista parece não só "normal", como inevitável. Para BOURDIEU (1997, p. 18): "A força da ordem masculina se evidencia no fato de que ela dispensa justificação: a visão androcêntrica impõe-se como neutra e não tem necessidade de se enunciar em discursos que visem a legitimá-la".

2. Descrição da Pesquisa

Este trabalho traz uma abordagem da construção social e, portanto, histórica dos gêneros masculino e feminino, atentando para a divisão sexual do trabalho e a constituição do ideal moderno de feminilidade. Para isso, recorre-se principalmente ao sociólogo francês Pierre BOURDIEU (2003), à psicanalista Maria Rita KEHL (1998) e aos estudos organizados por Mary DEL PRIORE (1997) sobre a história das mulheres no Brasil. As relações entre homens e mulheres são estudadas enquanto relações de poder, neste caso, desiguais.

O segundo passo é a análise do papel desempenhado pela televisão na sociedade contemporânea e, dentro desse contexto, o telejornalismo no Brasil. O telejornal e suas mensagens são vistas a partir da produção inserida no que Guy DEBORD (1997) chamou de "Sociedade do Espetáculo", da notícia como mercadoria, do discurso da objetividade como fio condutor e da estrutura significante como produtora de mitos.

Então, parte-se para a análise de diversos aspectos da mensagem do telejornal no que diz respeito à constituição de mitos sobre o que é "ser mulher" e "ser homem" além de vislumbrar como determinado padrão de feminilidade é reproduzido pelos meios de comunicação atualmente.
Ao analisar o discurso jornalístico, demonstra-se como o signo e a linguagem refletem e refratam as condições de produção social, trazendo em sua materialização, nos enunciados, as marcas das formações sociais, ideológicas e discursivas de uma época e as relações de desejo, poder, classe e ideologia que são instauradas através da linguagem.

3. Metodologia

O Jornal Hoje (JH) foi escolhido como objeto de análise pelas características editoriais que permitem a identificação da polêmica das relações de gênero com mais clareza, por ser dirigido, especialmente, ao "público feminino" e possuir índices de audiência maiores entre as mulheres.

As edições do JH estudadas foram exibidas entre os dias 19 e 25 de outubro de 2004. A seleção do período foi feita aleatoriamente. Ao trabalhar com o telejornal, entra-se em um setor do vasto campo simbólico ao qual todos estão submetidos desde o primeiro contato com o mundo. Assim, qualquer período escolhido teria relevância para o estudo.

O primeiro passo para a análise é a "desconstrução" das edições do JH, a partir da transcrição total da fala dos apresentadores nas escaladas [1] de todos os dias e a organização dessas informações em quadros. Cada edição também terá uma tabela relacionando a quantidade de sonoras [2] realizadas com homens e mulheres e a identificação de cada pessoa.

Em cada uma das edições, uma matéria é selecionada para ser estudada. As matérias também são transcritas e "desmontadas" em um quadro, a partir da estrutura horizontal [3] do VT. [4] Em resumo, cada edição do JH tem dois quadros descritivos (da escalada e da matéria selecionada) e uma tabela com informações adicionais.

Parte-se, então, à análise de signos presentes na matéria selecionada, compreendendo e relacionando imagens e texto. Concluídas as análises, confronta-se os dados obtidos e a hipótese levantada sobre o papel do discurso jornalístico na TV como instrumento de opressão simbólica e de legitimação da dominação masculina, através da reprodução relacional dos mitos que envolvem as representações da mulher e do homem.

3.1 Mitologia

A opressão das mulheres faz parte de um processo de naturalização da dominação masculina que é construída historicamente. A legitimação do arbitrário histórico é detectável na forma como nos comunicamos, em nosso relato sobre o mundo, em nossos discursos que mascaram a realidade através da linguagem. Roland BARTHES (2003) vai trabalhar com o conceito de mito para tratar desse processo.

Analiticamente, o mito não é estudado como a língua, a ciência que será utilizada para tanto é a Semiologia, Ciência Geral dos Signos, postulada pelo lingüista suíço Ferdinand SAUSSURE e publicada pela primeira vez em 1916. BARTHES (2003) aponta que, enquanto estudo de uma fala, a mitologia representa uma parte da ciência dos signos.

Recorrendo à Semiologia, é preciso estabelecer a relação não de igualdade, mas de equivalência entre um significante e um significado. Deve-se também considerar um terceiro termo, o signo, que representa o conjunto dos dois anteriores. BARTHES (2003) lembra que o significante é vazio e o signo é pleno, é um sentido. Assim, carregando um significante de um significado definitivo, constitui-se um signo. Este esquema formal pode receber conteúdos diferenciados. Neste caso, optamos pelo esquema proposto por SAUSSURE (1971), mas ampliando sua aplicação.

O mito é uma fala, um sistema de comunicação, uma mensagem. Não é um objeto, um conceito ou uma idéia: ele é um modo de significação, uma forma. Se a fala mítica é uma mensagem, não precisa necessariamente ser oral, pode ser formada por um discurso escrito, visual ou por ambos. Exemplos disso são: a fotografia, o cinema, as reportagens, a publicidade, o esporte, os espetáculos.

No mito, temos o mesmo esquema tridimensional já apresentado, composto por significante, significado e signo. Mas, o mito constitui um sistema específico, pois é formado a partir de uma cadeia semiológica anterior, sendo chamado, por BARTHES (2003) de um sistema semiológico segundo. O signo de um sistema transforma-se no significante do sistema segundo (do mito).

Por mais complexo que seja o signo global da primeira cadeia semiológica (como uma fotografia, por exemplo), ao se transformar em matéria-prima do mito, fica reduzido a um simples significante.

No mito, o significante é ao mesmo tempo termo final do sistema lingüístico (sentido) e termo inicial do sistema mítico (forma). O significado é chamado por BARTHES (2003) de conceito. Na língua, o terceiro termo que correlaciona os dois primeiros é o signo; como o significante do mito já é constituído de signos, seu terceiro termo é chamado de significação.

Apesar do empobrecimento, o sentido não desaparece, fica à disposição da forma mítica, como uma "reserva de história". Os mitos são provisórios, alguns objetos permanecem na linguagem mítica durante certo tempo, em seguida desaparecem e outros mitos são constituídos. A fala mítica é escolhida pela História, assim, não pode surgir da natureza das coisas.

A leitura e decifração do mito, segundo BARTHES (2003) pode ser feita a partir de três pontos de vista. Primeiramente, é preciso resgatar a duplicidade deste: é simultaneamente sentido e forma. Se focalizar o significante vazio (forma), temos um sistema simples, onde o conceito preenche a forma do mito, sem ambigüidade, e a significação volta a ser literal; para o autor, esta á a abordagem do produtor de mitos, por exemplo, o jornalista, que procura uma forma para o conceito.

Atentando para o significante do mito, como totalidade emaranhada de sentido e forma, obtém-se uma significação ambígua, é a posição do leitor que reage segundo a dinâmica do mito. Porém, se o foco for um significante pleno, é possível destruir a significação do mito, desmistificar, distinguindo sentido e forma e a deformação que um provoca no outro. Essa é a decifração própria do mitólogo e que pretendo desenvolver neste trabalho.

Para BARTHES (2003), o mito não esconde nada, ele deforma, o inconsciente não é necessário para entendê-lo. O princípio do mito é transformar a história em natureza e essa naturalização faz com que o mito apareça como uma fala inocente, pondo em andamento o próprio processo da ideologia burguesa, dominante. Essa despolitização acontece segundo uma lógica utilitária, os homens despolitizam as falas de acordo com suas necessidades. O mito, ao passar da história à natureza, confere simplicidade aos atos humanos, suprimindo qualquer dialética, qualquer contradição.

Assim, uma linguagem revolucionária, inclusive no sentido da emancipação das mulheres, não pode ser uma linguagem mítica, pois a revolução, como aponta BARTHES (2003) se destina a revelar a carga política do mundo, produzindo uma fala inicialmente e finalmente política e não inicialmente política e finalmente natural como o mito produz.

4. Análise de Dados

Essa análise desvela os mecanismos através dos quais as reportagens do JH afirmam esquemas de dominação masculina, admitindo que neste processo há espaço para uma luta cognitiva por parte das mulheres que por vezes questionam sua condição.

Nas edições analisadas do JH, 62,4 % das sonoras das reportagens foram feitas com homens e 37,6% com mulheres. Os números mostram que o discurso do telejornal dá preferência à consulta aos homens quando necessita de intervenções para legitimar as idéias que apresenta. A escolha dos entrevistados nunca vai contradizer o que os repórteres estão dizendo, não porque a "opinião pública" ratifica o que é dito no telejornal, mas porque enquanto constrói a reportagem, o jornalista seleciona a pessoa que vai ser entrevistada, muitas vezes combina o que será dito e, posteriormente, seleciona o trecho da fala das pessoas que melhor se encaixa no discurso que ele está construindo.

No Manual de Telejornalismo escrito por BARBEIRO e LIMA (2002), a recomendação é a seguinte: "Boas entrevistas são as que revelam conhecimentos, esclarecem fatos, e marcam opiniões" (ibid., p. 84). Essas características devem estar de acordo com os objetivos editoriais do veículo, do enfoque pretendido para a matéria, salvo exceções em que a fala do entrevistado surpreende e dá um novo gancho para o repórter.

Conhecimentos relevantes, capacidade de esclarecimento e opiniões fortes esperadas das fontes entrevistadas, como mostram os dados, estão mais associados aos homens do que às mulheres. Aliás, essas atribuições, assim como a capacidade retórica e a desenvoltura em público são ligadas às atividades historicamente concebidas como masculinas. Trata-se então de autoridade. Associadas historicamente às atividades privadas, as mulheres passam a ter uma suposta "autoridade" (não no sentido de poder) para falar sobre aspectos ligados aos filhos, ao lar e à comunidade onde vivem. Já os homens possuem essa mesma autoridade quando se fala de política, de direito, de ciência.

Mais do que a freqüência com que homens e mulheres são chamados a apresentar-se na mídia, a identificação que recebem e o papel que desempenham em relação ao assunto tratado na reportagem é fundamental para compreender-se como o telejornal reproduz a dominação simbólica e produz mitos sobre feminilidade e mulheres.

A pesquisa mostra que, das 41 mulheres que apareceram em sonoras, 15 (36,6%) receberam o rótulo de donas de casa. Depois, em menor número, aparecem mulheres identificadas como crianças (pela idade), mães, professora, relações públicas, perfumista, jovem (também pela idade), estudante, vendedora, moradora, representante de organizações civis, procuradora, desempregada, comerciante, funcionária de universidade, garçonete.

E, dos 63 homens que apareceram em sonoras, 14 (22,2%) foram identificados como profissionais liberais (médico, advogado, engenheiro, programador etc.); recebem destaque 6 representantes do poder executivo e 6 forças armadas (exército e polícia civil, militar e federal). Também aparecem sonoras com operário, mecânico, artista, aposentado, estudante, representante de organizações civis, agricultor, desempregado, empresário, jovens, pesquisador, pai, promotor de justiça, instrutor, intérprete, gerente de banco, dono de imóvel.

Como a construção social de homens e mulheres ocorre a partir de uma existência relacional, é fácil também identificar oposições recorrentes nessa relação: a principal delas é entre a esfera pública relacionada majoritariamente aos homens e a esfera privada/doméstica às mulheres. Isto tem relação com a posição que cada um dos gêneros ocupa em relação ao trabalho. Temos, por exemplo: a mulher comerciante e o homem empresário; a professora e o instrutor; a moradora e o dono de imóvel; a funcionária de universidade e o pesquisador.

A partir das identificações recebidas nas sonoras com homens e mulheres, percebe-se que essa consulta a pessoas "comuns" trata de gerar uma aceitação com naturalidade da divisão sexual do trabalho em linhas gerais, o que não quer dizer que não existam mulheres nas forças armadas e homens que cuidem sozinhos da casa e dos filhos. Como aponta BOURDIEU (2003, p. 112):

Os homens continuam a dominar o espaço público e a área de poder (sobretudo econômico, sobre a produção), ao passo que as mulheres ficam destinadas (predominantemente) ao espaço privado (doméstico, lugar de reprodução) em que se perpetua a lógica da economia de bens simbólicos, ou a essas espécies de extensões deste espaço, que são os serviços sociais (sobretudo hospitalares) e educativos, ou ainda os universos da produção simbólica (área literária e artística, jornalismo etc.).

A aparente normalidade com que homens e mulheres são chamados a falar sobre assuntos determinados para cada um dos gêneros só é possível a partir dos mitos. Como o mito é uma fala despolitizada, a incidência de mulheres "donas de casa" no telejornal não é requisitada para demonstrar o caráter subalterno das atividades que desempenha, mas para afirmar um caráter naturalizado de mulheres falando sobre questões ligadas ao dia a dia do lar.

Não se trata da significação, mas do significante, da imagem da mulher, associada a uma legenda que sintetiza a leitura que se deve ter dos signos.

As mulheres "donas de casa" são aquelas dedicadas ao trabalho doméstico, aqui, a palavra "dona" de maneira nenhuma atribui à mulher uma situação de proprietária. Basta perceber que quando a idéia de propriedade é requerida, o significante é outro: na edição do Jornal Hoje do dia 22 de outubro, uma das sonoras traz um homem com o GC [5] "dono de imóvel", neste caso, o homem é proprietário de um bem material e essa atribuição nada tem a ver com as atividades domésticas, aliás, carrega o mito de que o homem não assume papel submisso. Como veremos a seguir, mesmo quando a mulher é identificada de forma diferenciada, em uma categoria que detém mais status, como no caso da promotora de justiça, por exemplo, o mito está presente.

Maria

As reportagens selecionadas nos dias 19 e 23 de outubro tratam do mesmo tema: o programa Bolsa Família do Governo Federal. A abordagem e o enfoque também são parecidos, elas são complementares no que diz respeito à produção do mito "mulher-dona de casa-pobre".

Marion Otberg

Nessas matérias, vê-se como o jornalismo pode "paradoxalmente, ocultar mostrando", utilizando a expressão de BOURDIEU (1997). O enfoque e a abordagem do assunto vai delimitar o que é importante e o que é insignificante. É o princípio mesmo do mito, que despolitiza uma fala segundo suas necessidades. As duas matérias iniciam com a colocação de que pessoas carentes têm direito ao Bolsa Família, em seguida, definem quem são essas pessoas carentes: as mulheres. A matéria do dia 23 é o ponto de partida dessa análise, já no primeiro off, [6], temos a narração: "Uma agência só para Marias, essa rua foi interditada em Maceió por causa das filas".

Neste momento, aparece a imagem da fachada de uma agência da Caixa Econômica Federal, com uma faixa onde está escrito "Todas as 'Marias'". Na rua, uma multidão de mulheres amontoada na rua protege-se do sol com sombrinhas coloridas. Signos verbais e imagens unem-se para construir o mito da mulher que depende do Bolsa Família. É uma mistura de "Maria mãe do filho de Deus", com "Maria que faz o serviço de casa", "pobre Maria!". É uma categoria de mulheres que vai aparecer nas duas matérias numa posição de dependência em relação ao Estado, que não produzem, estão à margem do sistema, precisam da ajuda do governo para sustentar os filhos e a si mesmas.

A presença de crianças próximas às mulheres, em ambas as matérias, também deve ser levada em conta no que diz respeito à construção do mito. Os filhos aparecem como dependentes, neste caso, dessa dedicação materna como a de "Dona Antonia", que diz "Pra pegar uma ficha aqui tem que ser a gente vir um dia pra dormir, pra pegar um cantinho aqui, porque a fila dobra"; ou como a de Josiane Moura, que com o filho no colo aguarda uma "benção". Falando de mito, por que não explorar também a sensibilidade e a instabilidade, itens típicos do mito da feminilidade? É isso que se faz na matéria do dia 23. "Dona Ângela" aparece retirando o dinheiro do Bolsa Família no caixa eletrônico do banco. Um plano seqüência [7] dá conta de mostrar a felicidade da mulher, saindo do banco e fazendo sinal de positivo. Em seguida, na sonora, em primeiro plano, [8] a Ângela chora ao falar: "Eu tenho nove filhos, tenho um deficiente, né, e vou agora no mercadinho comprar as coisas para eles".

Na matéria do dia 19, a expressão de pobreza é mais evidente, as ruas de terra, as casas de madeira mal cuidadas, sem muros, sem calçadas chegam a ser agoniantes. Numa mesma casa, uma mulher negra cuida de crianças enquanto a mulher branca trabalha no quintal. Nessa mesma matéria, o contraponto: primeiramente, a sonora com uma mulher não identificada com GC, com o cenário já descrito ao fundo, ela diz que vai reclamar e não consegue resolver o problema do benefício. Depois, uma sonora com um homem, Altair Gonçalves, identificado como operário, trabalha em um depósito.

No off, o repórter afirma que Altair conseguiu descobrir o que estava acontecendo e resolveu o problema. Aqui, vemos uma série de oposições entre o homem e a mulher, relacionando os dois casos:

  • identificação/anonimato; capacidade/incapacidade;
  • eficiência/ineficiência; produtivo/improdutivo.

Cinco mulheres aparecem em sonoras nas duas reportagens, todas na posição de donas de casa, aliás, este rótulo é dado pelo GC que estabelece a função legitimadora que a mulher entrevistada tem em relação à mensagem produzida pelo repórter. É como se as mulheres pobres estivessem fadadas a depender do marido ou do Estado como provedores. E, essa relação é naturalizada, sua história não aparece, assim como a história das mulheres trabalhadoras não aparece. Enquanto o único homem entrevistado é um operário, mostrado durante o trabalho.

Voltando na história, vê-se que, no século XIX, o Brasil sofre mudanças significativas, o capitalismo consolida-se, a burguesia ascende e a vida urbana começa a se desenvolver. A mentalidade burguesa passa então a reorganizar a vida doméstica e familiar e as atividades das mulheres. Segundo D'INCAO (apud DEL PRIORE, 1997, p. 225): "A vida burguesa reorganiza as vivências domésticas. Um sólido ambiente familiar, lar acolhedor, filhos educados e a esposa dedicada ao marido e sua companheira na vida social são considerados um verdadeiro tesouro". De certa forma, os homens dependiam da imagem que as mulheres passavam no grupo de convívio social, estas possuíam um capital simbólico importante, mesmo que a autoridade familiar se mantivesse nas mãos do pai ou marido.

A emergência da família burguesa reforça no imaginário a importância do amor familiar e do cuidado com os filhos e redefine o papel feminino, reservando para as mulheres atividades domésticas. A mulher era um objeto com valor econômico e político, já que os casamentos eram verdadeiros negócios que deveriam garantir questões como herança e propriedade. Neste caso, a virgindade que para muitas mulheres é tabu até hoje, funcionava como um "selo de garantia", que atribuía status às noivas. As mulheres encontravam-se sob extrema vigilância como forma de garantir esse sistema de casamento por interesses políticos e econômicos. Essa vigilância, no decorrer do século XIX e começo do século XX, diminui na medida em que as mulheres internalizam a opressão e passam a se autovigiar, aprendem a se comportar segundo os padrões exigidos na época.

Já a organização familiar da classe popular era diferenciada, no início do século XX, muitas famílias eram chefiadas por mulheres sem maridos, não só por dificuldades econômicas, mas por valores próprios da classe. Então, chega o momento em que os valores burgueses precisam ser inculcados nas classes trabalhadoras, que devem ser disciplinadas de acordo com o espaço e o tempo de trabalho, com reflexos nas demais esferas da vida.

De um lado, então, temos a moral, o casamento, a submissão e castidade da mulher burguesa; do outro, a falta de legitimidade e de casamentos, a insatisfação feminina. A moralidade oficial estava completamente deslocada da realidade da mulher pobre, que sempre trabalhou fora de casa; o baixo salário do marido dificilmente seria suficiente para sustentar a casa, no entanto, se ela se dedicasse ao trabalho na rua, correria o risco de ser tachada, como aponta Cláudia FONSECA, [9] de "mulher pública". A mulher que tinha trabalho assalariado, ao invés de ser valorizada, tinha que se defender da difamação moralista.

A visão de muitos setores sociais era de que o mundo do trabalho seria uma ofensa à honra feminina e levaria à desagregação da família, um ataque à organização do Estado. Portanto, as mulheres deveriam se dedicar às atividades domésticas somente. Além disso, com a fabricação industrial de produtos antes feitos em casa, as atividades domésticas foram desvalorizadas e a ideologia reproduzida pelo discurso masculino trata de atribuir determinado papel às mulheres:

Ser mãe, mais do que nunca, tornou-se a principal missão da mulher num mundo em que se procurava estabelecer rígidas fronteiras entre a esfera pública, definida como essencialmente masculina, e a privada, vista como lugar natural da esposa-mãe-dona de casa e de seus filhos (RAGO apud DEL PRIORE, 1997, p. 591).

Como a participação da mulher no trabalho torna-se inevitável, passa a difundir-se em toda a sociedade brasileira, como aponta RAGO (apud DEL PRIORE, 1997), o ideal de "mãe cívica", com dupla jornada, é a trabalhadora moderna e competente mãe de família, que passa a instruir-se e participar dos grandes debates nacionais.

Nesse sentido, há outro aspecto interessante em relação à matéria do dia 19: mulheres de um bairro pobre de Uberlândia, Minas Gerais, reúnem-se para descobrir por que não estão recebendo o benefício do governo. O repórter diz: "As mulheres suspeitam de fraude, nesta reunião, nomearam representantes que vão investigar por conta própria por que o dinheiro não veio". As mulheres estão reunidas em um círculo no meio da rua de terra, as crianças brincam em volta. Estamos diante de "mães cívicas", mas também de "mulheres a beira de um ataque de nervos" de Pedro Almodóvar. Na verdade, uma conversa que costuma acontecer normalmente entre as mulheres é transformada, nessa matéria, em um grande ato de cidadania, é o cotidiano transformado em extraordinário, mães que não podem deixar de "lutar" pelos direitos que possuem. Aqui, o mito estabelece até onde precisa ir a ação política das mulheres. Nada de transformar a sociedade nem mesmo acabar com opressões, basta exigir o "mata-fome" do governo.

Questão de Justiça

A reportagem do dia 20 fala sobre a Defensoria Pública e o direito constitucional de acesso à justiça. A análise é feita, primeiramente sobre a imagem da mulher em relação à imagem do homem e, posteriormente, sobre a representação da mulher identificada como "promotora".

Para isso, utiliza-se as sonoras realizadas com Frederico Bizzoto e Mariângela Sarrubo. A sonora de Frederico é precedida pelo seguinte off: "No Rio de Janeiro, as queixas mais comuns são contra bancos, cartões de crédito, empresas de telefonia e planos de saúde. Graças aos defensores públicos, a dignidade e a cidadania podem ser exercidas por todos". Enquanto isso, as imagens mostram os guichês de atendimento, documentos sendo entregues por um homem que é atendido pelo defensor, um primeiro plano do rosto em plon-g [10] do defensor com tilt [11] para as mãos que seguram e folheiam um livro. Essas imagens trazem toda a importância do defensor, filmado de baixo para cima, ele adquire grandiosidade e expressividade, o livro sendo folheado é um elemento que atribui legitimidade e autoridade a Frederico, que fala em seguida: "Se existe o lado mais fraco, aqui pela Defensoria Pública, através do defensor, isso é equilibrado, e na justiça, essa briga acontece de igual para igual". O GC identifica Frederico como "defensor público", ele está vestido de terno e gravata, o plano médio [12] nos permite ver pessoas sendo atendidas em segundo plano.

No caso de Frederico percebemos o mito do super-herói, o defensor dos "mais fracos", como ele mesmo diz. Aliás, como mostram as imagens, ele tem autoridade no assunto, sabe o que diz e está mesmo resolvendo o problema das pessoas, basta olhar em volta dele.

Com Mariângela Sarrubo, a abordagem é outra. Desta vez, a mulher aparece em uma posição diferenciada, ocupa uma posição de status social. Ela é identificada pelo GC como promotora. Está vestida com um tailler vermelho, sentada em uma pomposa cadeira de madeira talhada. Em segundo plano, vemos uma estante de livros. Aqui, podemos achar que o mito não existe, mas de qualquer forma está presente, pois o acesso da mulher a cargos importantes do sistema judiciário é recente e encontra dificuldades como em outras áreas. A imagem de Mariângela também não nos faz pensar que a questão da classe social é um agravante para a formação da mulher, dessa forma, as funcionárias públicas de alto escalão acabam fazendo parte de um setor "aristocrático" da classe trabalhadora, que sente bem menos a opressão, justamente por possuir uma posição social melhor. Além disso, apesar da concorrência com os homens em cargos de carreira, no serviço público, os rendimentos entre homens e mulheres tendem a ser igualados.

Além disso, há outra questão: nas edições do JH analisadas, além de Mariângela Sarrubo, outros dois promotores aparecem em sonoras. O CG os identifica como "promotores de justiça", e no caso dela, somente como "promotora". Pode ser que isso tenha acontecido por acaso, mas em um jornal da Rede Globo, que segue tantas normas e padronizações, é estranho que isso aconteça. De qualquer forma, propositadamente ou não, a imagem da mulher, diferentemente dos homens, não foi associada à questão da "justiça".

Se pensarmos que muitas pessoas não sabem o que é uma promotora nem que atividades ela desempenha, esse detalhe faz grande diferença. São essas mínimas coisas que reproduzem a ideologia dominante de maneira insensível.

Mulher em pele de homem

No dia 21 de outubro, a matéria selecionada é sobre tecnologia e Fórmula 1. A princípio pode-se pensar uma análise somente sobre a completa hegemonia dos homens nos esportes automobilísticos. Porém, esta abordagem inclui também o papel da repórter mulher e a ironia que carrega nesta reportagem.

Primeiramente, é considerada a situação histórica que confere o espaço da prática de esportes ao domínio masculino. É notável que essa situação tem sofrido mudanças significativas e as mulheres têm cada vez mais praticado esportes e atividades de lazer que antigamente eram exclusividade dos homens. Como lembra BRUHNS (apud ROMERO, 1995), o Decreto-Lei 3.199, de 1941, vigente até 1975, em seu artigo 54 estabelece que "às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza". E, em 1965, o Conselho Nacional de Desportos delibera que as entidades desportivas devem seguir a seguinte norma em relação à prática esportiva das mulheres: "Não é permitida a prática de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, pólo, halterofilismo e beisebol". Hoje, essas normas não têm validade, mas ainda há muito que mudar.

Mesmo praticando esportes que antes eram proibidos, as mulheres precisam vencer diversos obstáculos. No futebol, por exemplo, a profissionalização é infinitamente mais difícil para as mulheres, porque não há uma entidade forte que organize o futebol feminino e também não há investimento público nem privado. Se no mercado de trabalho as mulheres precisam se destacar e se dedicar mais do que os homens para receber o mesmo reconhecimento e remuneração, nos esportes não é diferente, basta lembrarmos que a equipe de futebol feminino do Brasil foi vice-campeã olímpica em 2004 e, de volta ao país, jogadoras e comissão técnica lutam para organizar uma liga profissional ao menos no estado de São Paulo.

No caso de esportes mais caros, a situação fica mais complicada. No automobilismo, assunto da matéria analisada, a hegemonia também é masculina, o que se deve a vários fatores: primeiramente, sabemos que quando nasce uma criança, de acordo com a configuração dos órgãos sexuais, ela será estimulada a ter certas preferências, ou seja, meninos ganham carrinhos, armas e bonecos de super-heróis, enquanto meninas ganham bonecas e miniaturas de eletrodomésticos e utensílios. Assim, as crianças adquirem valores de papéis sexuais, tornando-se homens ou mulheres a partir da socialização, que sofre influência também da classe social à qual pertencem.

Em linhas gerais, o estímulo ao desenvolvimento de habilidades no automobilismo é muito maior no caso dos meninos:

Sobre um menino, mesmo antes de nascer, já recai toda uma expectativa de segurança e altivez de um macho que vai dar seqüência à linhagem (...) mais tarde, esse menino começa a brincar na rua (futebol, pipa, subir em árvores, carrinho de rolemã, skate, bolinha de gude, bicicleta, taco etc.), porque, segundo as mães, se ficar em casa vai atrapalhar. Em torno de uma menina, quando nasce, paira toda uma névoa de delicadeza e cuidados (...) são estimuladas o tempo todo a agir com delicadeza e bons modos, a não se sujar, não suar. Portanto, devem ficar em casa, a fim de ser preservadas das brincadeiras 'de menino' e ajudar as mães nos trabalhos domésticos, que lhes serão úteis futuramente quando se tornarem esposas e mães. Esses hábitos corporais masculinos e femininos vão, ao longo do tempo e dependendo da sociedade, tornando um sexo mais hábil do que outro em termos motores (BRUHNS apud ROMERO, 1995, p. 102).

Como há exceções, meninas também se interessam em participar das categorias de base, como das corridas de Kart, mas na maioria das vezes precisam vencer o preconceito dos pais, dos demais participantes e organizadores, e do discurso opressor disfarçado de dito popular: "mulher no volante, perigo constante". Com todas essas adversidades, muitas acabam desistindo e não passando às outras categorias. Além disso, esse esporte requer um investimento financeiro alto e os pais não investem porque acham que a mulher nesse espaço não terá "futuro". Quando as mulheres conseguem entrar no meio tradicionalmente masculino, recebem rótulos que desmerecem sua atuação como atleta, em relação a atributos como beleza, sensualidade.

Lembremos do caso da sem-terra Débora Rodrigues, a única mulher que corre de caminhão na Fórmula Truck, quando foi "descoberta" pela mídia tornou-se um dos mais cobiçados objetos de desejo, símbolo sexual que fez grande sucesso nas revistas masculinas.

Iniciando pelos signos verbais da reportagem selecionada, podemos verificar que já na cabeça da reportagem constitui-se a relação mítica entre homem e tecnologia. "Homem" não no sentido genérico, mas no sentido do gênero masculino. A colocação: "Na Fórmula 1, os carros roubam a cena, mas a tecnologia não é exclusividade das máquinas (...) os equipamentos de segurança usados pelos pilotos também são aperfeiçoados", nos permite a livre associação entre tecnologia de ponta e a atividade masculina. Mais à frente vemos que o material das roupas dos pilotos foi "criado originalmente para os astronautas na década de 60", o que confirma a associação. É um mundo dos homens para os homens, é a segurança garantida nos momentos em que esses se expõem ao risco. Aliás, a exposição a situações de perigo faz parte de uma realidade masculina construída desde a infância, com a idolatria dos super-heróis que vencem o perigo como maior expressão de seu poder, a certeza e necessidade de superação de limites, aliás, estes são muito mais amplos do que os impostos às mulheres.

Como essa tecnologia desenvolvida para propiciar segurança tem apelo industrial, a matéria traz um empresário do ramo têxtil para falar com propriedade sobre os benefícios do produto não só para os pilotos, de como a tecnologia trabalha para garantir a vida dos heróis das pistas. Além disso, o segundo off atribui status ao tecido, dizendo que suas fibras, de meta-aramida, são produzidas na Europa e estão presentes no macacão e acessórios dos pilotos. Essa preocupação com a segurança torna-se obrigatória, como coloca a repórter, depois do acidente de Nick Lauda, em 1976, que fez o "herói" ter a face desfigurada pelo fogo. Este tipo de falha não é aceitável no mito do homem tecnológico.

Vamos às imagens: uma falsa subjetiva [13] do piloto ultrapassando outros carros é seguida de PG da pista de corrida e uma fusão com o lançamento de um foguete. São duas atividades que fazem parte de uma mesma realidade: de superação, determinação, coragem, poder acessível a poucos privilegiados que passam a ter status de herói. Depois, temos imagens das roupas de meta-aramida dos pilotos de Fórmula 1, penduradas em cabides ou expostas em prateleiras, não se trata de moda, apesar do design avançado, trata-se de tecnologia, de ciência aplicada. Por isso, não teria lógica colocar um modelo desfilando com o macacão e os acessórios. Um modelo não, mas a repórter coloca a roupa para dar um ar de irreverência na matéria que trata de assunto tão sério, mas ligado também à prática esportiva, que costuma ser tratada mais informalmente no jornalismo.

Inicia a passagem da repórter Adriana Bittar: "Segurança total, dos pés à cabeça. Não é só a roupa que é resistente ao fogo. Você já deve ter reparado, numa corrida, só os olhos do piloto ficam de fora. Parece um gorro, não parece? Isso aqui é a balaclava, fundamental para proteger o rosto".

Enquanto ela fala, sua imagem surge com movimento dolly [14] dos pés à cabeça, em segundo plano estão as prateleiras com capacetes, e então, um plano médio mostra a repórter retirando a balaclava. O que temos aqui? A mulher não aparece nas corridas, não é astronauta, nem empresária. É repórter, que vai servir de manequim para as roupas que são de uso exclusivo dos homens no automobilismo. Sua postura não é de atleta, mas tem pose de mulher recatada: pernas fechadas, corpo de lado; tem também sensualidade nos cabelos libertados numa imagem típica de propaganda de xampu.

Em nenhum momento a imagem de Adriana está ligada à noção de superação de perigos, de acesso à tecnologia de ponta e nada traz à idéia de heroína.

Ela é um manequim, um objeto de exposição, que como o da vitrine, não se relaciona com a finalidade social do que veste. É o mito da mulher-objeto, passiva, deslocada em um mundo que não é o dela. Este deslocamento gera um tom irônico na matéria, afinal, "o que é esta mulher com macacão de piloto?", ela recebeu permissão para isso, como se o acesso àquela posição fosse de alguma forma possível. Como aponta BARTHES (2003), essa comicidade tem uma razão de ser:

A patologia de tal divertimento é difícil de suportar: se nos divertimos com uma contradição é porque pensamos que os seus termos estão muito afastados, isto é, os reis são de uma essência sobre-humana. Quando assumem temporariamente certas formas de vida democrática, trata-se indubitavelmente de uma encarnação contrária à natureza, apenas possível por condescendência (ibid., p. 36).

O mito da concorrência leal

Disputa por emprego temporário. Este assunto vira lugar-comum nas edições de jornal conforme nos aproximamos do final de ano. Aparentemente inocente e favorável às mulheres, essa matéria traz mitos próprios do caráter que assume a dominação masculina no modo de produção capitalista.
Antes da matéria principal, a apresentadora Sandra Annenberg lê uma nota sobre as taxas de desemprego no país. Porcentagem e número absoluto tratam do desemprego como um todo, em nenhum momento fala-se da diferença existente nos índices de desemprego entre homens e mulheres.

Já na reportagem, o apresentador Evaristo Costa inicia: "Na batalha por uma vaga, muita gente torce por um fim de ano mais tranqüilo, já que nessa época aumentam as chances de um emprego temporário. E será que todos sabem quais as regras desse tipo de trabalho?". Segundo esta colocação, a massa de trabalhadores e trabalhadoras desempregadas é indiferenciada. Mas, eles vão além durante o primeiro off: "Valdomiro preencheu a ficha de candidato como quem escreve uma cartinha para Papai Noel", Valdomiro aparece sentado preenchendo uma ficha em segunda plano, em primeiro plano, uma mulher mais velha do que ele também escreve.

Já o segundo off diz: "Rogevânia tem experiência no comércio", enquanto a imagem mostra Rogevânia sentada escrevendo. A partir do discurso construído até aqui, a mulher está em vantagem em relação ao homem, enquanto ela tem experiência, portanto, condições reais de conseguir um posto de trabalho, ele espera uma dádiva, um presente de Papai Noel. Esta é a própria expressão do mito enquanto inversão da realidade social. Em São Paulo, por exemplo, a pesquisa do DIEESE mostra que, em 2003, a taxa de desemprego estrutural entre as mulheres chegou a 23,1% e dos homens era de 17,2%. Além disso, os dados também mostram que a entrada da mulher no mercado de trabalho é marcada pela desigualdade de inserção, de remuneração e de oportunidades, desenvolvendo atividades mais precárias e sofrem mais com a instabilidade no emprego, caso típico dos empregos temporários de final de ano. Ignora-se também na mensagem da matéria que, quanto mais idade, mais difícil é conseguir uma vaga.

E, essas condições são uma herança do passado. No começo do século XX, no Brasil, grande parte do proletariado era constituída por mulheres e crianças, que enfrentavam longas jornadas de trabalho, tinham salários baixos, sofriam com os maus tratos dos patrões e com o assédio sexual. A maioria delas era de imigrantes, que vinham principalmente da Europa e constituíam mão-de-obra barata.

Na divisão do trabalho, as mulheres costumavam ficar com as tarefas menos especializadas e mal remuneradas. Muitas trabalhavam como costureiras em casa para completar o orçamento doméstico. Além disso, eram empregadas domésticas, lavadeiras, cozinheiras, governantas.

Apesar da significativa presença da mulher no mercado de trabalho brasileiro do início do século XX, elas não foram progressivamente substituindo os homens nas fábricas, pelo contrário, com o tempo, elas vão sendo expulsas das fábricas com o aumento da industrialização. Nessa época, o discurso científico tratava de difundir a idéia de que a participação da mulher na vida pública era incompatível com sua natureza biológica.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as mulheres encontram novas oportunidades, já que os homens saudáveis foram para as trincheiras, elas estavam dispostas a ocupar as vagas deixadas nas fábricas, nos escritórios e nas universidades. [15]

Voltando a outro aspecto da reportagem em questão, uma das mulheres que conseguiu um trabalho é a jovem Karina Castro. Vai trabalhar durante três meses em uma loja de brinquedos. Na sonora, Karina diz: "Chego no horário, nunca cheguei atrasada e pretendo ficar aqui". Atrás de Karina, um mundo cor-de-rosa, sua imagem aparece em meio a brinquedos considerados "para meninas", a tentativa de identificação é inegável. Além disso, ao que parece, basta a disciplina para que ela consiga um posto fixo de trabalho. Estas simplificação e redução também são próprias do mito.

Ditadura do corpo

A matéria escolhida para análise do dia 25 de outubro fala sobre a estudante de medicina, Priscilla Meirelles, brasileira que ganhou o concurso de "Miss Terra". Este concurso, iniciado em 2001 e realizado anualmente, é uma promoção da Carousel Productions Inc, sediada em Manila, nas Filipinas. O "Miss Terra" é considerado um dos maiores concursos de beleza do mundo, e está, assim como o Beleza Brasil, ligado à questão turística, principalmente ao eco-turismo. Em 2002, o concurso contou com a participação de 53 países.

A matéria começa com a seguinte fala de Sandra Annenberg: "A beleza da mulher brasileira segue conquistando o mundo". Aqui, já se evidencia uma padronização, "a" beleza, um único tipo de beleza própria das mulheres brasileiras, na verdade, a beleza que deve servir de exemplo, que deve ser buscada a qualquer custo.

É como se a mulher brasileira que não possui "a" beleza, não possuísse nenhum outro atributo a ser valorizado.

Reprodução

Sandra Annenberg

É a própria expressão do "mito da beleza" abordado por Maritza Maffei da SILVA (apud ROMERO, 1995, p. 119): "não admite a feiúra ou a velhice, vende-se um modelo erótico-estético que age por exclusão - o que não se amolda a ele está fora do jogo".

Annenberg continua: "A universitária Priscila Meirelles de vinte e um anos concorreu com misses de mais de sessenta países e, é claro, se emocionou quando soube que era Miss Terra 2004". Segundo este discurso, a realização da mulher a partir de um concurso de beleza, em que ela se submete à expressão máxima da reificação, moldando-se a um padrão que deve ser aprovado e consumido, parece óbvia. A miss se emociona "é claro", como se ali tivesse conseguido alcançar a felicidade plena, uma felicidade que reside simbolicamente nos objetos e na conformação dos corpos. Os meios de comunicação cada vez mais produzem essa confusão em relação à felicidade e à personalidade.

Ainda: "(...) as candidatas devem promover a defesa do meio ambiente e o ecoturismo. No ano passado, o concurso ganhou fama pela presença de uma miss do Afeganistão, que marcou a volta do país aos concursos de beleza feminina, depois de trinta anos". Este trecho da matéria nos traz três pontos para discussão. Primeiro, como o avanço da mulher no mercado de trabalho e em atividades intelectuais é evidente, o discurso mítico precisa se adequar a essa nova realidade, o ideal de beleza vem associado à capacidade de pensar, é a forma encontrada pelo mito para dialogar com a atualidade, até porque o mito não é uma mentira, ele não esconde nada, apenas deforma. Em segundo lugar, "promover o ecoturismo" refere-se à submissão da miss aos interesses mercadológicos que ela deve atender, não podemos esquecer que o concurso é realizado por uma entidade privada, que passa a ter propriedade sobre as ações das "eleitas".

Em terceiro, temos a "presença da miss do Afeganistão", como se o concurso de beleza fosse a maior expressão de liberdade e democracia para as mulheres que viviam submetidas a regimes políticos extremamente opressores, que utilizam-se não só da violência simbólica, mas da violência física para manter as mulheres numa posição de subjugo. No entanto, a ditadura da beleza é mais do que presente e a abordagem desta matéria, além de tudo, legitima a intervenção militar norte-americana naquele país. Neste ponto, a imagem traz um plano médio da miss Afeganistão sentada na platéia, ao invés da burka, um belo vestido decotado, o rosto descoberto e maquiado. Não se quer aqui, de forma nenhuma, sugerir que a situação dela era melhor antes, mas não se pode deixar de perceber como a imagem da mulher é usada neste caso.

As imagens veiculadas nessa matéria são importantes para compreendermos a construção do mito da beleza, mas também da erotização e da estética perfeita. Um plano geral da miss brasileira vestida de verde numa clara referência patriótica, sendo coroada por uma mulher de vestido vermelho, em meio a outras mulheres, em uma escadaria, sob chuva de papel picado é a representação de um acordo social existente de que todas as mulheres buscam os mesmos objetivos, todas têm os mesmo sonhos e, mesmo competindo, são capazes de comemorar juntas o êxito na adequação aos padrões, mesmo que alegria em relação à vitória da outra seja dissimulada, aliás, a capacidade de dissimulação é uma das características essenciais para o exercício do reinado da miss. O zoom-in [16] da coroação aproxima o público da "felicidade" demonstrada pelo sorriso da brasileira e ratificada pelo comentário de Sandra Annenberg: "é claro, se emocionou quando soube que era Miss Terra".

A panorâmica das candidatas na escadaria do palco, parecendo estar fantasiadas, atribui um caráter carnavalesco ao concurso e talvez possamos falar em carnaval no sentido bakhtiniano, [17] de momento único de inversão da realidade social: é o momento em que as mulheres adquirem expressão pública, mesmo que não precisem falar, pois seus corpos normatizados falam por si. Uma outra panorâmica das quatro mulheres premiadas, todas morenas, altas e magras de certa forma demonstra o que se espera de uma mulher. A última imagem da matéria nos coloca diante de uma prateleira de produtos indiferenciados, é um zoom-out [18] das mulheres descendo a escadaria, todas com biquíni azul e batendo palmas: corpos idênticos, com vestimenta idêntica, comportamento idêntico, ações idênticas. Com certeza, nada de personalidade, é como estar diante de uma coluna de soldados nazistas em marcha.

Nelson LUCERO (apud ROMERO, 1995, p. 50) recorre à "Sociedade do consumo", de Jean BAUDRILLARD [19] para tratar da representação da mulher-objeto:

Sob o signo da libertação física e sexual, a sua onipresença (...) na publicidade, na moda e na cultura de massa - o culto higiênico, dietético e terapêutico com que se rodeia, a obsessão pela juventude, elegância, virilidade/feminilidade, cuidados, regimes, práticas sacrificiais que com ele se conectam, o Mito do Prazer que o circunda - tudo hoje testemunha que o corpo se tornou [sic] objeto de salvação.

BARTHES (2003) diria que, reduzidas a um rosto, a ombros, a cabelos, essas mulheres expressam a virtuosa irrealidade de seu sexo. Os discursos produzidos pela mídia, especialmente a propaganda, induzem as pessoas a determinadas práticas e comportamentos em relação ao corpo. Muitas vezes, esses discursos buscam uma legitimidade "cientifica", na tentativa de estabelecer "verdades" aparentes que justifiquem esses comportamentos, de acordo com os interesses de grupos hegemônicos. Assim, em cada época, define-se o perfil ideal de homens e mulheres, com padrões corporais, de valores e supostas necessidades.

No período do Renascimento, por exemplo, há uma redescoberta do corpo, ligada à preocupação de liberdade do ser humano no sentido liberal; nas artes, o nu é recorrente. No século XVIII, ao mesmo tempo em que existe uma preocupação com a formação de homens ativos e livres,
o corpo passou a ser estudado e investigado num contexto médico-científico (...) com a finalidade de normalização de condutas tidas como 'anormais/desviantes', dando origem a uma ciência que precisava saber tudo sobre o corpo, para poder controlá-lo melhor no campo da saúde pública (...). Finalmente, precisou haver uma conceituação do processo curativo que deveria ser organizado de tal maneira que despertasse a 'culpa' no indivíduo, mantendo-o dentro do universo padrão exigido pela sociedade" (SIEBERT apud ROMERO, 1995, p. 21).

Além de evitar a culpa, no caso das mulheres, passa-se a assumir a feminilidade para ser feliz, a lógica do consumo na sociedade burguesa cria a cada dia novas necessidades, supostamente indispensáveis para o alcance da felicidade. Essa é a origem do que FOUCAULT (1987) chama de corpos dóceis e úteis, para ele, as sociedades ocidentais desenvolvem uma "ciência do corpo" na tentativa de estabelecer a "verdade" sobre o corpo para poder dominá-lo através da disciplina e, assim, manter a sociedade numa situação de "normalidade". Essa vigilância, que se efetiva a partir da relação com a idéia de punição é internalizada e passa a fazer parte dos hábitos dos sujeitos, e por que não dizer, dos habitus.

O "lar burguês" configurado no século XIX vai permitir a criação de um padrão de feminilidade que ainda sobrevive, com a função principal de promover o casamento entre a mulher e o lar, o espaço privado. Além disso, "a adequação entre mulher e o homem, e a produção de uma posição feminina que sustente a virilidade do homem burguês é a segunda função da feminilidade nos moldes modernos" (KEHL, 1998, p. 52).

Então, a feminilidade que hoje nos parece tradicional, faz parte da história de constituição do sujeito moderno, a partir do final do século XVIII e ao longo do XIX. A educação, a família, o senso comum, e grande parte da produção científica estabeleciam normativamente o que era necessário para que cada mulher fosse verdadeiramente uma mulher. Abordar a construção histórica dessa tradição que institui uma "posição feminina" associada às mulheres é não deixar cair no esquecimento a dimensão simbólica que nos determina, sob pena de aceitarmos a naturalização do modo como vivemos.

A sociedade industrial, também sociedade do consumo, produz discursos que estão de acordo com o projeto da classe dominante, a burguesia investe na construção de um homem que suporte a nova ordem política e econômica. SIEBERT (apud ROMERO, 1995, p. 23) considera que:

O projeto burguês era não apenas controlar racionalmente a saúde, mas, principalmente, a moral das classes subalternas, domesticando as subjetividades, modificando seu cuidado com o corpo e seu modo de vida.
Essa domesticação diz respeito às atividades cotidianas, como alimentação, consumo, sexualidade, lazer, relacionamento, trabalho. O desejo torna-se necessidade, criada exatamente para manter a ordem das coisas e sustentar o sistema capitalista, é a expressão pura e simples do fetichismo da mercadoria, o corpo é moldado para ser consumido. É dessa forma que as mulheres assumem um papel de produtora-consumidora em relação aos corpos.

5. Conclusões

Terminadas as análises das reportagens selecionadas do Jornal Hoje, conclui-se, primeiramente, que as mensagens do telejornal atuam como reprodutoras simbólicas de mitos relativos à questão de gênero, num sentido conservador da estrutura androcêntrica da sociedade brasileira. Entre os principais mitos observados neste trabalho, estão: a mulher-objeto, a mulher-esposa, a mulher-mãe, a mulher-dona de casa, a mulher-pobre, o homem-herói e o mito da igualdade de oportunidades para homens e mulheres. Esses mitos aparecem, na maioria dos casos, relacionam-se entre si para conformar um discurso opressor. A linguagem é, dessa forma, uma das principais vias de manutenção da ordem sexista.

Cada um desses mitos pode ser fonte de uma ampla pesquisa para desvelar a história que eles tratam de esconder. Neste trabalho, é feita uma abordagem geral de cada um, para mostrar que eles estão presentes nos falas e imagens que consumimos diariamente, especialmente através dos meios de comunicação. Os mitos estabelecem que as atuais relações entre os gêneros são naturais, imutáveis. Neste caso, se quisermos mudar a sociedade e as relações sociais que nela estão imbricadas, temos que agir tanto na estrutura, na transformação das relações de produção materiais, quanto nas relações de produção e reprodução simbólica.

No caso do jornalismo, os mitos próprios do processo de produção, relativos à objetividade, neutralidade, imparcialidade, relacionam-se com a estrutura significante das mensagens, cedendo-lhes uma aura de "verdade".

A partir da realização deste trabalho, tive a certeza de que a história não é uma simples sucessão de fatos, mas sim um processo dialético através do qual os sujeitos criam, reproduzem e transformam a sociedade em todas as dimensões. Isso nos permite deslegitimar a visão naturalizadora da estrutura de dominação masculina, assim como as demais formas de dominação.

Os meios de comunicação não são bons nem maus por natureza, dependem da lógica de produção à qual estão submetidos. É fundamental que os profissionais de comunicação social tenham consciência disso, para que não assumam posturas fatalistas nem ingênuas diante das possibilidades que os media oferecem.

A partir das considerações realizadas nesta pesquisa, posso afirmar que a emancipação das mulheres depende de suas ações em âmbito político, no sentido de colaborar para a transformação estrutural da sociedade, e, também, em nível simbólico, rejeitando sua redução a simples mercadoria com padrão de qualidade, objeto de seduzir, ou mera procriadora, defensora da família nuclear burguesa e doméstica por natureza.

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*Ana Sílvia Laurindo da Cruz é mestranda em Sociologia na Universidade Federal do Paraná. E-mail: analaurindo@yahoo.com.br.

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