Monografias
A
arte da palavra: Alceu Amoroso Lima
e o jornalismo como missão civilizadora
Por
Marcelo Januário*
"Tudo
é literatura desde que no seu meio de expressão,
a palavra, haja uma acentuação, uma ênfase
no próprio meio da expressão, que é
seu valor de beleza."
AlcAlceu Amoroso Lima
(1)
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I
- A atração das sensibilidades
"A
arte literária se apresenta como um verdadeiro poder
de contágio que a faz facilmente passar de simples capricho
individual para traço de união, em força
de ligação entre os homens" (Lima Barreto)
(2)
Qualquer
abordagem acadêmica sobre o pensamento jornalístico
de Alceu Amoroso Lima (1893-1983) terá de, antes de tudo,
avançar sobre o terreno da estética. Apesar de
(ou até por isso) nunca ter ocupado cargos públicos,
seu prestígio político é irrefutável,
como demonstra a incansável e reconhecida luta contra
as ditaduras que empreendeu em sua longa existência, assim
como a atuação de influente pensador religioso
e líder máximo da renovação católica
no Brasil. Sua influência é notória também
como educador e scholar laico brilhante, especialista em áreas
diversas do conhecimento como economia, psicologia, sociologia,
pedagogia, direito ou filosofia política.
Quaisquer
destas áreas e temas poderiam constituir o foco de análise
da trajetória deste humanista analético,(3)
personagem controversa e nem de longe inconteste, mas que, segundo
testemunhos de autoridades como Afrânio Coutinho e Alfredo
Bosi, além de ser o crítico por excelência
de nosso modernismo, sempre acreditou na liberdade, na justiça
e nos valores da pessoa humana. No seu caso, pelo prisma do
catolicismo eclesiástico.
De
fato, seu legado possibilita dissertações em quase
todas as áreas e sobre quase todos os aspectos da vida
nacional, sendo, independentemente de avaliações
político-ideológicas ulteriores, um autêntico
autor paradigmático do desenvolvimento intelectual do
país no século XX. Paradigma em crise de extinção,
na verdade, tendo em vista a aparente indiferença e o
quase que completo olvido por parte da intelligentsia nacional,
historicamente mais afeita (ou afoita) aos (pelos) modelos externos
e de ocasião.
O
enfoque desta monografia, entretanto, supõe que a arte
(e suas possibilidades no uso da palavra), assim nos parece,
define a trajetória de Alceu Amoroso Lima como pensador
do jornalismo, configurando-se no guia conceitual que fornece
a chave das idéias humanistas deste intelectual, autor
de mais de 80 livros e 4 mil artigos em 90 anos de vida, na
mais longa e intensa atividade jornalística puramente
cultural de toda a história da inteligência brasileira.
(4)
Como destaca Gilberto Mendonça Teles, "para ele,
os problemas estéticos estão em relação
íntima com os problemas militares, políticos,
econômicos, jurídicos ou religiosos, pois a arte
não se separa, como nenhuma das atividades humanas, de
uma filosofia geral da existência". (5)
Mas
Alceu Amoroso Lima também defendeu a autonomia dos valores
estéticos: "Um mau poema será sempre inferior
à boa crítica que sobre ele for feita". (6)
O diferencial de seu pensamento, portanto, que ademais se encontra
tão solidamente enraizado em sua geração
quanto diluído na nossa, está no projeto idealista
de uma prática jornalística com caráter
social e de atuação cívica intrínsecos,
além de realização formal superior. Ideal
este que, fiel às suas origens clássicas, transcende
a mera questão do formalismo e enlaça a ética
e a filosofia, (7)
na "missão catártica de refletir as paixões
humanas para o aperfeiçoamento da natureza". (8)
Este
é um tema oportuno de resgate crítico em um momento
em que a mentira se torna a pedra de toque do modelo (9)
empobrecido de jornalismo que é adotado com uma confiança
inaudita por nossos profissionais e até mesmo por pesquisadores
de comunicação. Há sinais de desconforto
com esta situação de isolamento arrogante por
parte dos agentes do jornalismo.
Estudiosos
como o professor espanhol Manuel Angel Vasquez Medel alertam
que "o campo concreto dos estudos jornalísticos
exibe há décadas um andar claudicante e reumático,
atribuível em boa medida ao reiterado descuido das colaborações
mais significativas provenientes de disciplinas sociais e humanísticas
tais como a lingüística em seus diferentes ramos,
a (...) semiologia, a filosofia da linguagem, a chamada nova
retórica e, em geral, o amplo e fecundo campo dos estudos
literários". (10)
Se
o debate é atual, a problemática tem largo trajeto
em nossas letras.
Assim, a maior contribuição de Alceu Amoroso Lima
ao pensamento jornalístico brasileiro, mesmo que tal
contribuição seja, como veremos, contestada e
acusada de descompasso conceitual com a realidade que as novas
tecnologias configuram, talvez esteja justamente na inclusão
do jornalismo entre os capítulos da arte literária,
na defesa da preponderância do estilo, da beleza e da
precisão da palavra, da ética imbuída na
realização formal do jornalismo enquanto verdadeira
obra estética, que reflete a sociedade humana enquanto
a civiliza. Idéias presentes tanto na teorização
e praxis de uma crítica literária expressionista,
(construtiva, integrativa, humanista, criadora, analítica),
como na polêmica tese do jornalismo como gênero
literário:
"Se
a, literatura, como expressão individual, é da
responsabilidade pessoal do seu autor e está no plano
da liberdade do fazer, a literatura jornalística, como
expressão social, está no plano do dever, de modo
que sua responsabilidade coletiva abrange um campo ainda mais
vasto." (11)
Além
de meras preocupações acadêmicas, as questões
relativas ao jornalismo como gênero literário se
referem à própria vitalidade do fenômeno
jornalístico, de sua finalidade extra-estética
e de possíveis caminhos para o futuro, em uma época
de crise e impasse histórico nas funções
sociais da palavra como se apresenta a nossa. E para situarmos
Alceu Amoroso Lima no debate concernente a estas questões,
após verificar sua concepção de crítica
e de jornalismo, retomaremos seu clássico livro O Jornalismo
como Gênero Literário, estudado à luz de
reflexões de acadêmicos e profissionais sobre as
relações entre literatura e jornalismo.
Tal
campo de hibridização é desde sempre tema
marcante na história do pensamento brasileiro, de importância
central para a prática discursiva e para sobrevivência
da "musa plebéia", (12)
como Leon Trotsky (1879-1940) certa vez referiu-se ao jornalismo.
A dignidade do ofício também é reiteradamente
questionada através do tempo em nosso país e fora
dele, situação ilustrada pelo fato de que, já
no início do século, escritores-jornalistas como
Euclides da Cunha (1866-1909) e Lima Barreto (1881-1922) "denunciavam
(...) a degeneração cultural que invadiu a República,
sobretudo [com] os efeitos do jornalismo sobre as consciências
e a literatura". (13)
O jornalismo e seus profissionais precisam fugir ao estigma
ainda vigente de, nas palavras de Lima Barreto, fazer "de
imbecis gênios, de gênios imbecis; [que] trabalham
para a seleção das mediocridades". (14)
Neste
contexto, o olhar atento ao pensamento de Alceu Amoroso Lima
possibilita a reflexão sobre as possibilidades de inovação
conceitual e técnica que possam revigorar a atividade
e o campo. Pois a reforma do jornalismo sempre foi clamada pela
sociedade civil, como deixa claro este trecho de recente (2002)
ensaio do jornalista Carlos Peixoto:
"É
preciso reformular o fazer jornalístico, atualmente preso
às concepções técnicas, desde o
levantamento da informação -o lead das escolas
norte-americanas- à mecanização dos textos
determinada pelas camisas-de-força dos projetos gráficos-editoriais
adotados em série. É preciso dar ao texto jornalístico
a mesma atenção que à narrativa literária,
deixando para os meios de comunicação eletrônicos
a tarefa limitante da reprodução mecânica
da realidade". (15)
Nossa
hipótese é que, em um período histórico
marcado por crises cíclicas de paradigmas e de redefinição
dos caminhos, se pesquisadores e profissionais de jornalismo
reconsiderarem um tema tão caro à nossa história
intelectual, talvez possamos conceber novos modelos de captação
do real e de transformação da sociedade. A raiz
grega de crítica (e também de crise), krínein,
significa "decidir", implicando em uma substância
espiritual que oriente as ações empreendidas em
sociedade.
Que
possamos construir uma lógica comunicacional baseada
em uma estética social, ou, na expressão do sociólogo
francês Michel Maffesoli (1944), em uma "ética
da estética", (16)
definida como a "atração das sensibilidades
que podem engendrar novas formas de solidariedade". Decidamos.
II
- O globalismo crítico
Alceu
Amoroso Lima começou a escrever crítica literária
em 1919, quando contava com 25 anos. Seu artigo de estréia,
"Bibliografia", saiu no 1o número de O Jornal
(17.06.1919), assinado Tristão de Athayde. (17)
De 47 a 66, manteve no Diário de Notícias a coluna
"Letras e Problemas Universais".
Colaborou também com Jornal do Brasil, Diário
de Notícias, Folha de S.Paulo, O Diário (Belo
Horizonte), A Tribuna (Recife), Jornal do Dia (Porto Alegre),
La Prensa (Buenos Aires). Vencedor do Prêmio Moors Cabot
em 1969, láurea mais antiga do jornalismo internacional,
Alceu Amoroso Lima foi o primeiro crítico a citar Marcel
Proust e Teilhard de Chardin no Brasil, além de, em 1928,
ter apresentado a literatura nordestina ao país, através
de crítica do romance "A Bagaceira", estréia
do então desconhecido escritor paraibano José
Américo de Almeida.
Visionário,
através de sua obra é possível se entender
uma época da literatura brasileira. Para muitos a mais
importante geração de nossa acossada literatura.
O próprio autor considerava sua maior contribuição
intelectual ao campo das idéias o fato de "ter feito
a defesa intransigente do modernismo brasileiro, à raiz
mesma de suas primeiras manifestações contra todos
-e eram todos então- que viam na revolução
literária de 1922 apenas a gaiatice pedante de alguns
moços desocupados". (18)
A
patrulha ideológica, entretanto, fez com que sua obra
fosse parcialmente ignorada. Acusado por décadas de simpatia
pelo fascismo, após o golpe militar de 1964 sua autoridade
intelectual possibilitou-lhe romper o cerco da censura imposta
ao país e, em suas colunas no Jornal do Brasil e na Folha
de S.Paulo, posicionar-se politicamente contra o novo regime.
Em sua busca pelo homem integral, converteu-se em símbolo
de resistência ao arbítrio do Estado, à
violência e à tortura, na "voz da consciência
nacional, da liberdade, do respeito aos direitos humanos, na
luta pela anistia e redemocratização do país".
(19)
Intelectual
autônomo, não se filiou a nenhum grupo específico
do modernismo, sendo pioneiro no próprio campo moderno:
"Aparecendo pouco depois da morte de Sílvio Romero
e José Veríssimo, Tristão de Athayde abriu
um caminho pessoal e novo na crítica brasileira. Tornou-se
um mestre desse gênero literário". (20)
O estudo Tristão de Athayde: o Crítico, de Afrânio
Coutinho, traça o inventário do arcabouço
teórico e prático de Alceu Amoroso Lima sobre
literatura. Demonstra que a criação, entendida
como expressão verbal, é a condição
primaz da crítica literária. A arte provém
do estudo do texto e não do bio-social, da busca de uma
obra aberta, fundamentada no isomorfismo, no interdito e na
intertextualidade. Elementos constituintes da crítica
literária moderna, conceituada por Benedetto Croce e
herdeira da tradição francesa da crítica
em periódicos (Sainte-Beuve) e do reviewing anglo-americano,
primando, sobretudo, pelo interesse no texto, na obra-de-arte
de linguagem:
"Escrevendo
para jornal, sujeitando-se às conhecidas limitações
do tempo e do espaço jornalísticos, Tristão
de Athayde tinha consciência de que a sua análise
não chegava a ser exatamente uma análise no sentido
científico ou filosófico do termo. A sua inteligência
'decompunha' ou 'desmontava' a obra, mas não era compelida
a examinar a funcionalidade ou reciprocidade dos elementos da
estrutura literária: bastava a escolha dos que lhe despertassem
maior simpatia ou que lhe motivassem comentários de interesse
cultural. Na verdade, o que contava em primeiro lugar era a
síntese expressiva, era a linguagem crítica que,
por isso mesmo, pôde desde os primeiros momentos teóricos
ser percebida como literária, ao contrário do
que até então se fazia." (21)
Professando
que toda crítica supõe uma filosofia da vida,
Alceu Amoroso Lima enumera três requisitos para o seu
correto exercício: a ciência, a inteligência
e a vontade. Também destaca o descrédito pela
vaidade e a necessidade perene de objetividade: "A crítica
é atividade intelectual e não afetiva, filosófica
e não apenas psicológica, objetiva em seus fins
e não puramente subjetiva". (22)
A
crítica expressionista de Alceu Amoroso Lima, inspirada
na teoria estética de Benedetto Croce (1866-1952), tem
por matrizes históricas os paradigmas platônicos
(perspectiva extraliterária ou extrínseca; instrumento
de valores que não os estético-literários;
exterior do fenômeno e corpus doutrinário) e a
exis aristotélica (verdade poética e verdade histórica
não são iguais; como fenômeno específico
da natureza, a literariedade não se confunde com o histórico-social).
A
singularidade e o universalismo são a argamassa do fazer
artístico. "A verdadeira arte é a captação
do universal no particular, no singular, no concreto. Sem o
singular, não há arte. Mas sem essa captação
do universal no particular, nós não saímos
do noticiário". (23)
A
crítica deve ser fiel ao objeto, mas como obra de criação
deve também ser fiel ao sujeito - "Ao jornal compete
menos a obra de criação do que o comentário
e a divulgação. O jornal deve ser um orientador
de espíritos, um guia consciencioso de consulta fácil.
Assim, não pode uma seção de bibliografia
confinar-se na seca enumeração de livros".
(24)
De maneira que o jornalismo crie enquanto comente e aprecie.
"Não
é possível julgar uma obra sem a ter compreendido,
e a compreensão só é possível com
a renúncia transitória ao racionalismo. Para se
operar a transfusão do espírito da obra no espírito
do crítico, indispensável para a compreensão
daquela - é mister que seja o sentimento do crítico
a absorver a obra, antes que a inteligência a analise."
(25)
Neste
modelo expressionista, os princípios conceituais do Globalismo
Crítico são estabelecidos nos primados da Cultura
(humanismo, visão panorâmica, interdisciplinar
e supranacional), da Teoria (filosofia geral, estética
e teoria literária) e do Estético (valores artísticos
autônomos). O programa estético-literário
e ético inclui a objetividade na informação
e no comentário; a subjetividade na expressão
e no cunho pessoal do juízo; a superioridade às
escolas, tendências e grupos; a seletividade no que respeita
ao número de livros a examinar; a sinceridade e impessoalidade
nos pronunciamentos; a independência em relação
a camaradagens e idiossincrasias; e finalmente o revestimento
da crítica de um valor docente. As ferramentas analíticas
residem na leitura receptiva, que abrange totalidade, hierarquia
de valores, originalidade, simultaneidade e autonomia.
Mas
é mesmo a obra em si que orienta tal abordagem global:
"(...) o dever primordial de toda 'crítica sincera,
plástica e arguta' é essa fusão da alma
do crítico com a obra. É a crítica no gênero
de Diderot, De Sanctis, Carlyle, Goethe e Sainte-Beuve".
(26)
Especificados
os conceitos gerais, Alceu Amoroso Lima divide a crítica
em dois tipos: críticas inferiores ou parciais, que incluem
a eclética (moda / ocasional / superficial), a pessoal
(autoral / personalismo / tendenciosa), a partidária
(sociológica / metafísica / grupal) e a gramatical
(normativa / padrões); e as críticas superiores
ou de filosofia da vida, desmembradas em estética (supremacia
da arte / esteticismo), sociológica (primazia da sociedade
/ social ou econômico), psicológica (impressões
pessoais / análise interior) e apologética (moral
/ religião).
Em
cada destes tipos, as críticas formam diferentes níveis,
todas "com seu corpo de doutrinas mais ou menos contraditórias,
com suas pretensões científicas, com suas modalidades,
suas especialidades, suas ramificações, mas com
sua autonomia": autocrítica (prática individual
rigorosa do ofício e aperfeiçoamento da teoria
crítica), endocrítica (autocrítica coletiva),
e exocrítica (crítica propriamente dita).
Captando
o processo de desintegração dos valores e paradigmas
então em curso, e hoje em estágio ainda mais avançado,
o autor traça o diagnóstico do desaparecimento
da autêntica crítica literária, e diríamos
do próprio jornalismo cultural brasileiro sob este cenário.
Assim, assevera que "à crítica literária
falta em nossos dias precisamente um critério qualquer
'tanto de ordem ontológica (religiosa ou filosófica)
como de ordem sociológica ou estética'. E
essa ausência é o que está matando a crítica
literária". (27)
Décadas
se passaram e a crítica de fato declinou, e se não
se encontra em estado terminal de extinção, no
mínimo necessita de revitalização urgente,
como indicam as abordagens contemporâneas sobre o tema:
"É
preciso perder o medo de usar palavras menos óbvias,
fugir ao lugar-comum, costurar melhor descrições
e argumentos, acres-centar pitadas de humor, ironia e até
lirismo, usar recursos como metáforas, trocadilhos e
mudanças de andamento. É preciso diversificar
os gêneros. E também, com a demanda crescente do
leitor por análises que ponham os dados em perspectiva
e desafiem o marasmo vigente, é preciso revitalizar a
crítica, filha pragmática do ensaísmo,
tirando-a do achismo e do parasitismo". (28)
Instituição
social com interesses financeiros e políticos, o jornalismo
não pode voltar-se contra a sociedade, e sempre que "envenena
a Opinião Pública, fanatiza-a ou a informa mal,
está falhando à sua finalidade". (29)
Na visão de Alceu Amoroso Lima, o preparo intelectual
e a ética são os pilares de sustentação
de um jornalismo como gênero literário e socialmente
responsável, garantia de superação das
eventuais falhas sistêmicas.
"A
qualidade intelectual é que conta para a autoridade autêntica
da imprensa. Como a responsabilidade moral é o sentido
do dever que lhes incumbe, como verdadeira missão social.
Esse sentido do dever é capital para a imprensa, mesmo
como gênero literário. É um gênero
literário intrinsecamente inserido em sua dupla função
de informação e de formação. De
informação, baseada na verdade dos fatos. De formação,
no sentido educativo que toda a literatura, como arte da palavra,
deve ter". (30)
Porém, a prerrogativa da responsabilidade individual
parece-nos de uma pueril e ingênua boa-fé, a crer
no ceticismo reinante desde então, a despeito da esperança
que os homens tenham na estatura moral e na altivez, superiores
ao tempo e às relações. Assim, como entidade
que se constrói no domínio do acontecimento e
da ação, "O jornalista é aquele que,
dentro de uma estrutura e de uma legislação que
lhe garantam a liberdade de informação e de comunicação,
exerce o seu jornalismo com a responsabilidade daquelas outras
exigências morais e até mesmo estéticas,
ligadas à profissão, que são a veracidade
da informação, a honestidade da notícia
e a decência de não ser subordinado a quaisquer
interesses estranhos." (31)
Afrânio
Coutinho (32)
observa que a trajetória de Alceu Amoroso Lima, enquanto
pensador, gravitou das formas (estética) para as idéias
(filosofia) e então para os fatos (política).
Mas no que se refere estritamente ao nosso objeto, a concepção
de Alceu de que "a expressão verbal literal é
a mais ampla e mais compreensiva de todas as expressões
da arte" e de que "a arte é uma forma de comunicação"
notabiliza sua apreciação estética do fenômeno
jornalístico.
O
caráter social do jornalismo, o senso de atualidade e
a objetividade, seriam os seus dados diferenciais principais
em relação ao campo literário: "O
jornalismo não é literatura pura, sem dúvida,
como é um poema, no qual a palavra vale apenas como palavra
(embora nele se contenha o mundo) e não como transmissão
de um pensamento ou de uma mensagem. O jornalismo tem sempre,
por natureza, (...) um fim que transcende ao meio". (33)
III
- O paradoxo da qualidade jornalística
Em
O Jornalismo como Gênero Literário, publicado originalmente
em 1958, Alceu Amoroso Lima faz uma reflexão sobre as
distintas concepções de gênero literário,
procurando encontrar um denominador comum entre literatura e
produção jornalística, que é caracterizada
como uma arte verbal enquanto prosa de apreciação
de acontecimentos.
Pela
tese contida neste livro, não poderíamos considerar
o crítico Tristão de Athayde como representativo
do exercício de um jornalismo cultural ou literário,
sendo que define a crítica como um gênero à
parte no território da literatura. Ainda assim o faremos,
não sem certa hesitação, mas com a premissa
viável de que a apreciação de obras, pelo
prisma da própria crítica expressionista criativa,
nos fornece o exemplo prático mais acabado das idéias
que o autor encerrou em seu estudo de fenomenologia literária.
A
obra se inicia com a exposição da controversa
questão: o jornalismo é um gênero literário?
Para o escritor e humanista francês André Gide
(1869-1951), prêmio Nobel de Literatura de 1947, a resposta
é negativa, pois "jornalismo é tudo o que
amanhã interessará menos" (34)
que hoje; O acadêmico mineiro Antonio Olinto (1919), membro
da Academia Brasileira de Letras (ABL) e um dos principais teóricos
da literatura brasileira, coloca-se em direção
contrária, afirmando que a "penetração
[do jornalismo] no dia-a-dia, em busca do que se possa ter de
permanente", o habilita à condição
literária; Já o advogado, jornalista, ensaísta,
historiador, professor e político pernambucano Barbosa
Lima Sobrinho (1897-2000), é mais cauteloso ao posicionar-se
entre os dois autores anteriores: "Talvez", afirma
o imortal da ABL, "mas é temerária a inclusão".
(35)
Como
se vê, muitas e diferentes são as opiniões,
e provavelmente tal controvérsia tenha continuidade no
século digital, a se fiar na bibliografia recente que
o tema produz e no caloroso debate entre teóricos, escritores
e jornalistas, envolvidos diretamente na avaliação
do próprio objeto de suas atividades. Quanto à
questão, Alceu Amoroso Lima teoriza afirmativamente e
procura demonstrá-lo neste pequeno ensaio, mas não
há conclusão pacífica sobre o assunto,
tal a maleabilidade que o uso da palavra propicia na construção
do conhecimento humano.
Aproximando-se
do problema, Alceu Amoroso Lima analisa a genologia (36)
(concepção de Paul Van Thiegen, autor de Le Mouvement
Romantique: Angleterre-Allemagne-Italie-France) e as soluções
deste campo para o estudo dos gêneros literários:
-
clássica: forma superior de pedagogia (meio e não
fim) com caráter imperativo e com um código de
construção estética de normas objetivas
que a composição deve obedecer, representada por
Aristóteles, Quintiliano e Horácio; (37)
-
integral: concepção integrista (seleção
natural) dos gêneros como entidade à parte (hipóstase
e hipertrofia), cuja objetividade científica considera
autores e obras como órgãos efêmeros de
um organismo constante, representada pelo crítico Ferdinand
Brunetière (1849-1906);
-
negativa: concepção nominalista, considera os
gêneros fora da estética (separando arte e ciência)
e nega sua rigidez e superioridade aos artistas e obras, representada
pelo Benedetto Croce;
-
racional: de concepção descritiva, foge do caráter
ontológico para o metodológico e liga os gêneros
às características exteriores (sem limitação
ou normas fixas), ao passo que dimensiona os princípios
ordenadores dentro da própria arte do criador, na livre
disciplina e na soma de esquemas estéticos.
Representada
por René Welleck e Austin Warren, é a partir desta
concepção metodológica e racional, que
busca um denominador comum dos gêneros, que Alceu Amoroso
Lima considera o jornalismo como um deles.
No
capítulo A Condição Literária, Alceu
Amoroso Lima define o gênero literário como construção
estética determinada por uma concepção
flexível de disposições interiores, segundo
afinidades intrínsecas e extrínsecas. Pergunta
se devemos considerar o jornalismo como literatura para concluir
que, "se tomarmos o conceito de literatura como a arte
da palavra, a expressão pelo verbo, devemos incluir o
jornalismo". (38)
Concebe a literatura nos sentidos lato, como toda expressão
verbal, falada ou escrita (valor de meio: instrumento); corrente,
ênfase nos meios de expressão verbal (valor de
fim: estilo) e estrito, de caráter ficcional com separação
entre estética e vida e exclusão dos fins (Croce).
Assim,
o jornalismo possui o elemento diferencial (a palavra) que o
torna apto a ingressar no campo das letras. Como o modo de se
empregar o verbo é que realmente importa, o critério
de efêmero (sem poder de penetração na realidade)
não está intrinsecamente ligado ao jornalismo,
que depende de sua qualidade e não de sua natureza, já
que o mau jornalismo, como vimos, será posto à
margem da literatura, como a má poesia. Ocorre uma passagem
do plano empírico utilitário ao plano gratuito
(ênfase nos meios de expressão):
"Sempre
que se reduzir o meio (a palavra) a um simples instrumento de
transmissão, deixará de ser jornalismo para ser
apenas publicidade ou propaganda, ou noticiário, ou anúncio."
(39)
A
Ciência parte do que é (medido pelo objeto); a
Moral parte do que deve ser (adequação ao dever)
e a Arte parte do que pode ser (domínio da liberdade;
expansão das possibilidades). Na intersecção
(por equivocidade, por univocidade ou por analogia) dos valores
germina a beleza: "A beleza é uma integração
de todos os valores. Não um valor em si. É tudo
mais, com uma acentuação primacial na sua forma
de expressão, seja a palavra na literatura, seja o som
na música, seja a cor na pintura e assim por diante."
(40)
A
fonte da arte é o gênio criador, o fim é
a obra. O que as distingue são as causas intermediárias,
materiais (com que se faz) e formais (com qual estilo).
As diferenciações relativas e pragmáticas
dos gêneros (analógicos e intercomunicantes) se
dão em seu caráter metodológico com diferenciadas
especificações de autonomia, uma vez que os subgêneros
são inumeráveis, e as combinações
de gêneros e subgêneros também são
ilimitadas.
A
palavra é o sinal característico da literatura
como entidade autônoma. Entendida como arte, ela é
uma ordenação acrescentada à natureza.
"A palavra, como natureza, é um simples instrumento
de comunicação. Como arte é um meio de
transmissão, com caráter de fim". (41)
Se a palavra é utilizada como artifício, redunda
em verbalismo ou não-literatura. Se o meio é transformado
em fim, origina a estética. A diferenciação
é tênue e cambiável:
"O verso é o primado específico da palavra,
dentro do seu primado geral. A prosa é a marginalidade
da palavra e sua subordinação ao sentimento, à
idéia, à paixão, à narração,
ao que não for propriamente palavra, dentro também
de sua primazia em princípio". (42)
Na
função da palavra, conforme migramos do verso
para a prosa, assistimos a um grau decrescente de lirismo e
a um grau crescente de instrumentalidade (de-graduação),
mas nunca ocorre o desaparecimento daquele. Neste processo,
o lirismo objetivo (poesia lírica) é a representação
da própria realidade e o lirismo subjetivo (conversação,
oratória, epistolografia etc.) é a comunicação
da natureza humana.
A
esquematização do território da literatura
é então apresentado, dividido em verso e prosa.
A poesia lírica em verso é a fonte de toda literatura,
a depuração suprema do verbo. Supõe a "informação
poética de qualquer forma de expressão",
no que tange à imobilidade, interioridade e plenitude
ontológica. Nesta categoria, onde a palavra é
ligada à pessoa, pode haver poesia em todos os gêneros.
"Verso
é o corpo que se une à forma, à alma, para
formar esse ser-em-si, ser poético, com sua realidade
própria, distinta do ser-das-coisas ou do nosso ser,
mas nem por isso menos real, de uma realidade própria,
que constitui a autonomia do verbo, que deriva, afinal, em última
análise, do Verbum que é o princípio de
todas as coisas, o Logos helênico, que São João
exprimiu na sentença imortal com que começa o
seu Evangelho: In principio erat verbum." (43)
Na
poesia épica o lirismo é transportado para o plano
da narrativa, com a palavra ligada ao fato, e este ao campo
verbal (realidade histórica). É o domínio
da descrição (o outro supera o eu), em que a palavra
ainda continua a ser o objeto próprio da expressão.
A
poesia dramática insere o diálogo e o contato,
a palavra é ligada à ação, à
relação social e ao movimento. Trata-se de uma
ação dialogada: "O verso dramático
é uma transposição, para o plano da convivência
humana, do que já nos haviam dado a solidão do
lirismo e a narração da épica, isto é,
expressão e fato".
A
prosa é definida como poesia sem verso, de transmissão
de mensagem onde a palavra deixa de ser, acima de tudo, valor
de ineidade para assumir um valor de alteridade. Ocorre neste
formato um valor crescente de meio e de instrumentalidade, sendo
que "entre verso e prosa não há uma diferença
de natureza, e sim de grau". No verso, o drama já
tinha tendência à alteridade, mas na prosa há
a intenção que transcende da expressão
(palavra pela mensagem, pelo fato, pela idéia, pela paixão,
pela paisagem, pelo comentário, pela divagação
etc.). Assim resulta, por exemplo, que o coloquialismo possui
o grau mínimo de lirismo e o grau máximo de instrumentalidade
(mecanização).
Na prosa de ficção reina o mundo dos símbolos,
a criação, a invenção do homem a
partir da originalidade, da introdução de novas
formas no mundo, da estilização da realidade e
descoberta de uma realidade outra, o que pode ou não
corresponder a uma realidade ontológica: "O artista
é o grande concorrente de Deus".
Na
prosa de apreciação, há o juízo
a formar, a consideração do já existente
e o discernimento e análise: "Mas a apreciação
e valorização (evaluation), a meditação
sobre a obra, as pessoas ou os acontecimentos já existentes,
são tão legitimamente obras de arte, como a gestação
de um ser verbal, ainda não existente, como ocorre nos
gêneros, que chamamos de ficção".
Na
prosa de comunicação, chega-se à transmissão
da mensagem, "não porque toda arte não seja
de certo modo comunicação, ao menos potencial,
mas porque nele a nota predominante é precisamente essa
de levar ao outro uma mensagem, de agir sobre alguém,
de transmitir alguma coisa. E essa transmissão é
uma finalidade que transcende o meio de transmissão.
E por isso mesmo constitui um sistema de gênero à
parte". (44)
Avançando em seu esquema-andaime do território
da literatura, Alceu Amoroso Lima estrutura a prosa de ficção
em romance (transposição da poesia épica),
conto e novela (diferenciados quantitativamente) e teatro (verso
e prosa); a prosa de apreciação em apreciação
de obras ou crítica (recriação de forma
alheia com o objetivo de interpretar, avaliar, recriar) -"O
poeta é proprietário. O crítico é
mercenário"-, de pessoas ou biografia (finalidade
é o autor; a vida da pessoa humana) e de acontecimentos
ou jornalismo -"Quando a utilização da palavra,
em um jornal, tem apenas um fim pragmático não
é jornalismo. (...) O que faz o gênero jornalístico
não é o meio da expressão, é o modo
de expressão, é a natureza da expressão.
E
a marca principal, como vimos, é de uma apreciação
e não uma criação em si, sob a forma de
ficção, de biografia ou de crítica"
(45)
- e a prosa de comunicação em conversação
(permuta direta de idéias), oratória (forense,
política, religiosa, de convencimento público)
e epistolografia (permuta de idéias à distância).
O
jornalismo, como prosa de apreciação de acontecimentos,
apresenta tríplice acepção: os sentidos
lato (tudo o que aparece no jornal), figurado (qualificação
pejorativa; superficialidade; pressa) e próprio (que
tem o acontecimento como dado imediato da consciência
jornalística e especificador de sua autonomia literária).
"A
natureza própria da crítica é apreciar
a obra de criação. Mas não podemos separar
as duas atividades e apenas distingui-las. Em toda obra de arte
há uma parte de criação. É essa
parte que a torna propriamente obra de arte, e não de
natureza, ou de ciência ou mesmo de arte mecânica
ou de arte liberal. A crítica, como obra de arte, é
por natureza criadora. A crítica como obra de ciência,
essa, está fora do domínio da arte. É a
história literária. É a filosofia da literatura.
É a gramática. (...) uma arte cercada de ciência."
(46)
Em
um sentido eclético, o jornalismo será "mais
arte, quanto menos for exclusivamente arte". Nos tópicos
Informações e Atualidades e Estilo Jornalístico
encontramos os conceitos que definem a nota típica do
jornalismo nesta acepção. O conceito de informação
implica em uma "tradução intensiva do acontecimento
para comunicação ao Outro", sendo o elemento
essencial do jornalismo, onde ocorre o duplo contato com o acontecimento
e com o leitor e a permanência no fluxo vital dos fatos,
que visa extrair o essencial do acidental, o permanente do corrente.
Este
conceito se desdobra em In-Formação (formação
do público; finalidade moral e social do jornalista),
missão de criação e orientação
da opinião pública, enquanto arte social com fins
estéticos, morais e sociais. Tal característica
reside no acento agudo sobre o receptor, em seu caráter
público, coletivo e social e na sua finalidade para-estética:
"Daí o paradoxo da qualidade jornalística
não pode ser avaliada apenas do ponto de vista estético".
(47)
O segundo conceito, a atualidade, alude à retirada do
tempo na eternidade, à descoberta do que há de
singular no momento, em "encontrar o segredo do efêmero,
com o efêmero", o "auge do acontecimento",
o perecível, o evanescente e o temporal. Nestes termos,
o jornalista é o homem do presente, vive no tempo e capta
a mensagem do tempo; seu grande pecado é ser inatual,
tanto por passadismo (anacronismo) como por futurismo (utopismo).
O jornalista é o companheiro da morte contínua
dos momentos.
A objetividade, tão demonizada na academia e fora dela,
exige o contato com o fato; a veracidade, o realismo. Sendo
uma arte pragmatista, que almeja o concreto em sua singularidade,
sua objetividade se baseia no primado do objeto e na preocupação
com a verdade (espírito científico).
Por
fim, o estilo jornalístico, qualidade preliminar ao estilo
do jornalista, considerado um elemento intrínseco da
vocação, um documento de identidade: "O verdadeiro
estilo é uma conseqüência, não uma
causa, é uma resultante não uma finalidade. E
subirá em perfeição à medida que
descer do plano da consciência para o substrato da personalidade."
(48)
Ápice da formação ética e estética,
o estilo transcende ao indivíduo. Uma vez que "nem
em arte, nem em ciência, nem em política, nem em
filosofia, nem em nada, liberdade se confunde com licença",
o autor propõe as condições para a construção
de um estilo comum, exigências que garantem autenticidade,
precisão dos termos, concisão, clareza, transparência
e brevidade ("A palavra adequada é sempre a palavra
justa"). (49)
O
êxito profissional requer dinamismo, sendo que "o
grande jornalista é aquele que escreve depressa, em face
do acontecimento do dia, com precisão e no menor número
de palavras, levando uma informação exata ao leitor
e formando honestamente a opinião pública".
(50)
Tal
tarefa, desafiadora, emerge do domínio da razão
sobre a paixão -"jornalismo é uma arte da
inteligência, antes de ser da emoção"-
e da aquisição de cultura geral, sem direito à
ignorância: "(...) o jornalista autêntico tem
o dever de não fornecer ao público o ópio
que ele pede, e sim a verdade de que ele sempre precisa".
Para
atingir um estilo próprio, o autor reitera a necessidade
algo telúrica do mistério da vocação,
o diferencial do talento inato e a afirmação da
personalidade, sem limites ou prescrições: "Não
sou contra os cursos de jornalismo. (...) Só temo é
que se queira algum dia confundir o diploma com a vocação";
ou: "O diploma de jornalista é apenas um certificado
de estudos, não um atestado de valor". (51)
A
conclusão de que jornalista nasce feito e necessita apenas
afirmar sua personalidade pelo estilo é bastante compreensível
se considerarmos a época e o contexto em que Alceu Amoroso
Lima (ele próprio também catedrático e
reitor) desenvolveu seu pensamento. Em outras palavras e sem
cair no mérito da afirmação, consideramos
tal postura tão aceitável em sua época
como discutível na atualidade. Por fim, descreve os perigos
do jornalismo, que, de modo esquemático, bem ao gosto
do autor, seriam:
·
Facilidade: Absorção pelo acontecimento; conformismo
(ordem moral) e mimetismo (ordem verbal); cinismo; imitação
do público. Abuso "da gíria, dos modismos,
das frases de efeito, dos slogans da moda, para melhor ser lido
e ouvido";
·
Sensacionalismo: Atmosfera de sensação; passagem
do plano racional para o passional; exagero; depreciação
de princípios e idéias; "A tirania do fato
é um perigo tão grande como o desdém pelo
fato";
·
Venalidade: macrocefalia jornalística; usura; medo; amoralismo;
ganância;
·
Sectarismo: polêmica; controvérsia infundada; "Ora,
uma coisa é o espírito de luta por princípios,
no apreciar os acontecimentos, outra muito diversa é
a paixão polêmica que torce a verdade dos fatos
e se torna um espetáculo pitoresco ou uma sátira".
(52)
Pelo
que podemos perceber, e pelo teor da apresentação
da professora Alice Mitika Koshiyama à reedição
deste clássico do jornalismo brasileiro, (53)
estes perigos todos parecem enraizados como tradições
bastardas nos órgãos de imprensa não só
brasileiros, mas também internacionais. É fato,
o ideal não se realizou.
Para
quem imagina que se trata de decadência contemporânea
ou fenômeno hodierno, relembramos as palavras, escritas
há quase 50 anos, que encerram o também clássico
Jornalismo e Literatura, do professor Antonio Olinto:
"Essa
é uma tragédia diária. Depois de algum
tempo, no entanto, o que era trágico se tornas rotineiro,
porque até a tragédia pode cair na rotina. E
o jornalista deixa de lutar. Perdendo o domínio sobre
a notícia, sobre o assunto e, depois, sobre a linguagem,
acaba perdendo também de vista o objetivo, o fim, o público.
Precisa, para que tal não aconteça, de manter
uma permanente vigilância sobre si mesmo, sobre o modo
como se aproxima da realidade, sobre o seu senso de valores,
bem como sobre sua mistura de resistência e adaptação
à pressão do tempo, do espaço e do público".
(54)
IV
- A cisão conceitual
Como
vimos, a tese é polêmica. Anteriormente ao próprio
Alceu Amoroso Lima, já Lima Barreto refutava a classificação
em gêneros literários, mas abria espaço
para a hibridização dos gêneros: "Nós
não temos mais tempo nem o péssimo critério
de fixar rígidos gêneros literários, à
moda dos retóricos clássicos com as produções
do seu tempo e anteriores.
Os
gêneros que herdamos e que criamos estão a toda
hora a se entrelaçar, a se enxertar, para variar e atrair".
(55)
Danton Jobim (1906-1978), primeiro scholar brasileiro no campo
da comunicação, também se coloca "entre
os teóricos que, reconhecendo que literatura e jornalismo
lidam com um mesmo instrumento de trabalho -a língua-
acabam por concluir que ambos têm objetivos diferentes".
Nas palavras de Danton, "(...) não convém
esquecer que a proximidade, no tempo, dos fatos, que são
matéria-prima exclusiva do jornalismo, não somente
o priva da perspectiva histórica, como lhe tira, até
certo ponto, a perspectiva literária". (56)
Sob um olhar técnico, Alice Mitika Koshiyama argumenta
que "não há fundamentação teórica
coerente que sustente o esquema apresentado por Alceu Amoroso
Lima colocando o jornalismo como gênero literário.
Aparentemente a teoria literária não é
o centro de suas preocupações. É a prática
do jornalismo que mobiliza sua capacidade analítica".
(57)
Também a professora e pesquisadora Cremilda Medina rejeita
a proposição, porém de forma integral,
classificando-a de obsoleta e desatualizada:
"Um
aspecto se tornou claro: não se trata de discutir as
manifestações da mensagem jornalística
conforme uma classificação literária de
gêneros. Nem cabe a velha questão: jornalismo,
um gênero literário? O fato da palavra, o signo
verbal, ser um elemento comum e o fato de, numa fase histórica,
o escritor se confundir com jornalista, não sustenta
o enquadramento do Jornalismo na Literatura, nem em sua divisão
de gêneros. Alceu Amoroso Lima levanta quatro critérios
de especificidade: é realmente uma arte verbal, uma arte
verbal em prosa, uma prosa de apreciação do acontecimento.
Há
nestes critérios uma certa imprecisão, como por
exemplo no termo 'apreciação', mas de qualquer
maneira ele identifica o objeto do Jornalismo: informação
atual sobre o acontecimento. (...) Pelo que se pode perceber,
os autores acima citados analisam o fenômeno jornalístico
com padrões literários pré-cultura de massa."
(58)
Independentemente
dos julgamentos decretados, a tese de Alceu Amoroso Lima levanta
a questão para um fato iniludível: a crise que
se abate sobre o jornalismo atual também se vincula ao
empobrecimento da linguagem e ao abandono dos valores éticos
mais elementares. À distância do tempo, podemos
avaliar com maior precisão este processo de embotamento
contínuo da atividade, como sugere a análise histórica
realizada por Daniel Piza:
"Alguém
poderia atribuir a ausência de teor literário nos
jornais de hoje ao processo de modernização da
linguagem jornalística promovido no Brasil desde os anos
60. O jornalismo nacional até então era retórico,
verborrágico, personalista (...) inspirados na escola
americana, os reformadores dos jornais nos anos 60 começaram
a exigir uma abordagem mais objetiva, menos participante, concentrada
em contar histórias sem editorializá-las. Até
aí, ótimo. Mas nos anos 80 veio uma nova onda
de 'modernização', que nos anos 90 consolidaria
uma triste realidade: textos relatoriais, burocráticos,
com pobreza de palavras e recursos, tanto mais tendenciosos
quanto mais se pretendem 'neutros'". (59)
Convém
ressaltar que toda esta reforma "modernizadora" foi
louvada de maneira unânime pelas novas gerações
de jornalistas, plenamente convictos de suas percepções
do espírito do tempo e maravilhados pelos efeitos da
terceira revolução tecnológica. Uma leitura
possível é que o jornalismo brasileiro atravessou
o século XX imerso no dilema, digamos, da decadência
e do renascimento.
Investigando a Belle Époque brasileira, o historiador
da cultura Nicolau Sevcenko escreve que "a nova grande
força que absorveu quase toda a atividade intelectual
nesse período foi sem dúvida o jornalismo. (...)
O jornalismo, impondo uma vigorosa padronização
à linguagem e empregando praticamente todos os homens
de letras nas suas redações, acabou necessariamente
exercendo um efeito geral negativo sobre a criação
artística.
Tendendo
ao sufocamento da originalidade dos autores e contribuindo em
definitivo para o processo de banalização da linguagem
literária, suas baixas remunerações exigiam
ainda uma facúndia e prolixidade tal dos escritores,
que impediam qualquer preocupação com o apuro
da expressão ou do estilo".
Para
exemplificar, Nicolau Sevcenko ressalva que no início
daquele o século, autores como Lima Barreto já
apontavam para este traço autofágico de nossas
letras, sedimentando a ambigüidade entre a corrosão
e o vitalismo. "Ao problema do amesquinhamento da linguagem
e da literatura, ele [Lima Barreto] tentaria responder ainda
com uma reinfusão de atualidade que as tonificasse, recuperando-lhes
a antiga força e eficácia. Iria buscar esse tom
de atualidade no fenômeno cultural que dividia com a ciência
a hegemonia das convicções neste período
- o jornalismo". (60)
De fato, Lima Barreto vivia em crise com a imprensa do país,
que ele considerava no mínimo suspeita. No entanto, o
impacto do jornalismo em sua arte, era evidente e decisivo.
Através do jornalismo, a estética de Lima Barreto
se destacaria pela linguagem simples, "pelo despojamento,
contenção e espírito de síntese,
aplicados à linguagem narrativa; enquanto que o tratamento
temático se voltaria para o cotidiano, os tipos comuns,
as cenas de rua, os fatos banais e a linguagem usual".
Foi
através do jornalismo que Lima Barreto encontrou as bases
de sua obra: a crônica cotidiana. (61)
De forma dialógica, "escoimado de seus vícios,
que Lima censurava com tenacidade, o jornalismo (...) fixaria
algumas das qualidades mais marcantes de seus textos, praticamente
indissociáveis de sua longa carreira de assíduo
colaborador da imprensa carioca". (62)
Pelos jornais, Lima Barreto nos ensinou que o efeito da arte
sobre a comunidade humana é decisivo.
Por
outra perspectiva, ainda nos anos 50, ao enumerar os tipos representativos
do romancista-jornalista Antonio Olinto cita as obras do escritor
norte-americano Ernest Hemingway (1899-1961), prêmio Nobel
de Literatura de1954, como o modelo de texto que mais conseguiu
"equilibrar" os dois estilos e que embasa a apreensão
do jornalismo como forma literária capaz de permanência:
"O jornalismo deu, a Hemingway, uma concisão no
criar um ambiente, externo ou psicológico, e uma vivacidade
vocabular fora do comum".
De
exemplos como o de Hemingway, Olinto extrai a possibilidade
que o jornalista, na descoberta de uma linguagem própria,
encontre "algumas razões pelas quais o homem vive
a vida". O jornalista que, "conseguindo vencer o impacto
da realidade sobre o pensamento, coloca-se em posição
de escrever páginas que o futuro poderá guardar
como documentos importantes de uma época". (63)
Depreende-se
destas passagens o caráter de mão dupla do jornalismo
na gestão de nossa identidade cultural e em sua auto-imagem.
Na aurora do séc. XX, em um período de solidificação,
"o jornalismo era ainda uma forma em brotamento, sua indefinição
fica patente pelo esforço que faz para trazer ou manter
a literatura dentro de si, na linguagem, nas crônicas,
no folhetim e nas 'matérias especiais', invariavelmente
de cunho literário". (64)
Quase
um século depois, à distância suficiente
para visualizarmos aquilo que Alice Mitika Koshiyama cunhou
como ideal inatingido, a saber, o malogro do jornalismo no cumprimento
da missão de força civilizadora nas sociedades
modernas, constatamos pela observação leiga dois
eixos importantes para análise: em termos de formalismo
estético, devemos ter em mente que, como escreveu Antonio
Olinto, "a adequação existente entre o sentido
e a linguagem está num nível que poucos escritores
atingem"; (65)
e em termos sociais, o fato que a concepção de
uma imprensa orientada por "nobres princípios morais,
éticos e políticos" (como concebida por Alceu
Amoroso Lima) constitui-se em letra morta não apenas
na literatura acadêmica, como "não acontece
na prática quotidiana da imprensa predominante no mundo
capitalista", inclusive (ou principalmente) no Brasil.
NOTAS
(1)
LIMA, Alceu Amoroso. O Jornalismo como Gênero Literário.
SP: Edusp, 2003. p. 36.
(2)
Sem cair na questão do que seja jornalismo, ou se
jornalismo é literatura ou não, subscrevemos a
luta inconformista por solidariedade e dignidade de autores
como Lima Barreto. Apud SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão.
SP: Editora Brasiliense, 1989. p. 233.
(3)
"Uma das fontes da minha evolução cultural
é a coexistência dos contrários na simultaneidade
das leituras". Apud KOSHIYAMA, Alice Mitika. O Ideal Inatingido
do Jornalismo. In: LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 14. (Apresentação).
(4)
VILLAÇA, Antonio Carlos. Alceu Amoroso Lima: do
Agnosticismo ao Catolicismo Militante. In: LIMA, Alceu Amoroso.
Alceu Amoroso Lima (1893-1983): Bibliografia e Estudos Críticos.
Salvador: Centro de Documentação do Pensamento
Brasileiro, 1987. p. 34.
(5)
TELES, Gilberto Mendonça. O Pensamento Crítico-Literário
de Tristão de Athayde. Idem. p. 35.
(6)
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 26.
(7)
"A beleza do jornalismo ultrapassa a beleza estética
e liga-se à função e finalidade para-estética
-social, política, moral, coletiva, civilizadora- parte
de sua característica como gênero literário".
Idem. p. 19.
(8)
LIMA, Alceu Amoroso. Idem. p. 26.
(9)
Os recentes escândalos de falsificação e
plágio como o do repórter Jayson Blair (2003),
que balançou a credibilidade (além de provocar
as renúncias do diretor-executivo e do diretor de redação)
da Old Grey Lady, como é conhecido o jornal The New York
Times, mais influente jornal planetário, evidenciam que
o jornalismo norte-americano passa por uma das maiores crises
de sua história. O impacto a todo custo, o abuso de fontes
anônimas, a interferência da correção
política na atividade, a ditadura do lide e a decorrente
desper-sonalização do texto, assim como a pobreza
vocabular e de reflexão crítica, são alguns
pontos sensíveis na questão. O reflexo é
(ou deveria ser) imediato em nossa realidade e em nossos media,
repetidores compulsivos de modelos externos.
(10)
MEDEL, Manuel Angel Vasquez. Discurso Literário
e Discurso Jornalístico: Convergências e Divergências.
In: CASTRO, Gustavo de. e GALENO, Alex. (Org.). Jornalismo e
Literatura: a Sedução da Palavra. SP: Escrituras
Editora, 2002. p. 21.
(11)
Cf. LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit.
(12)
MEDEL, Manuel Angel Vasquez. Discurso Literário e Discurso
Jornalístico: Convergências e Divergências.
Op. Cit. p. 17.
(13)
SEVCENKO, Nicolau. Op. Cit. p. 126.
Idem. p. 173.
(14)
PEIXOTO, Carlos: Seis Propostas para o Próximo Jornalismo.
In: CASTRO, Gustavo de. e GALENO, Alex. (Org.). Op. Cit. p.
128.
(15)
"(...) o paradigma estético é o ângulo
de ataque que permite justificar toda uma constelação
de ações, de sentimentos, de ambientes específicos
do espírito do tempo pós-moderno". Cf. MAFFESOLI,
Michel. No Fundo das Aparências. RJ: Editora Vozes, 1996.
(16)
Alceu Amoroso Lima assumiu o pseudônimo para não
confundir a atividade literária com a de industrial.
Mais tarde descobriu que Tristão de Athayde fora um violento
pirata português que atuava na Índia, como aparece
no livro "Décadas", de João de Barros.
(17)
Cf. BARBOSA, Francisco de Assis. Memorando dos 90: Entrevistas
e Depoimentos. RJ: Nova Fronteira, 1984.
(18)
Idem. p. 88-90.
(19)
Cf. COUTINHO, Afrânio. Tristão de Athayde, o Crítico.
RJ: Agir, 1980.
(20)
TELES, Gilberto Mendonça. Op. Cit. p. 40-43.
(21)
COUTINHO, Afrânio. Op. Cit. p. 22.
(22)
VILLAÇA, Antônio Carlos. O Desafio da Liberdade.
RJ: Agir, 1983. p. 226.
(23)
Cf.
COUTINHO, Afrânio. Op. Cit.
(25)
COUTINHO, Afrânio. Op. Cit. p. 22.
(26)
Ibidem.
(27)
COUTINHO, Afrânio. Op. Cit. p. 39.
(28)
PIZA, Daniel. Jornalismo e Literatura: Dois Gêneros
Separados pela Mesma Língua. In: CASTRO, Gustavo de.
e GALENO, Alex. (Org.). Op. Cit. p 137.
(29)
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 62.
(30)
BARBOSA, Francisco de Assis. Op. Cit. p.88-90.
(31)
BARBOSA, Francisco de Assis. Op. Cit. p.148.
(32)
Cf. COUTINHO, Afrânio. Op. Cit.
(33)
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 37-38.
(34)
"[André Gide] Afirmou a independência entre
os dois -jornalismo e literatura- negando àquele o caráter
de obra de arte. A interpretação de Gide vinha
de um preconceito e de uma interpretação unilateral
do assunto. Para ele, jornalismo era exatamente o contrário
da permanência: era a morte da palavra". OLINTO,
Antonio. Jornalismo e Literatura. RJ: MEC/DIN, 1955. p. 41.
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 25-26.
(35)
Ibidem.
(36)
Alceu destaca que a concepção de gratuidade só
surgiria depois de Plotino. A de arte pela arte apenas com os
Alexandrinos e, modernamente, com o parnasianismo, com o simbolismo
(esteticista) e com os neo-escolásticos.
(37)
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 33.
(38)
Idem. p. 38.
(39)
Idem. p. 37.
(40)
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 43
(41)
Ibidem.
(42)
Idem.
p. 48.
(43)
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 49-52.
(44)
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 54.
(45)
Ibidem.
(46)
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 61.
(47)
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 67.
(48)
Idem. p. 68.
(49)
Idem. p. 70.
(50)
LIMA, Alceu Amoroso. Op. Cit. p. 72.
(51)
Idem . p. 73-75.
(52)
Cf. KOSHIYAMA, Alice Mitika. Op. Cit.
(53)
OLINTO, Antonio. Jornalismo e Literatura. MG: MEC: Serviço
de Documentação. 1954. p. 76.
(54)
Apud SEVCENKO, Nicolau. Op. Cit. p. 164.
(55)
Apud PEIXOTO, Carlos. Op. Cit. p 122-123.
(56)
Cf. KOSHIYAMA, Alice Mitika. Op. Cit. p. 19.
(57)
MEDINA, Cremilda de Araújo. Notícia: Um Produto
à Venda (Jornalismo na Sociedade Urbana e Industrial).
SP: Alfa-Omega, 1978. p. 77-78.
(58)
PIZA, Daniel. Op. Cit. p. 135.
(59)
SEVCENKO,
Nicolau. Op. Cit. p. 176.
(60)
A crônica, na definição de Marques de Melo,
está "situada na fronteira entre a informação
de atualidades e a narração literária".
Tal gênero contemporâneo nos parece ser o último
resquício de um autêntico jornalismo literário
em nossa imprensa diária. Cf. MARQUES DE MELO, José.
A crônica. In: CASTRO, Gustavo de. e GALENO, Alex. (Org.).
Op. Cit. p. 147.
(61)
SEVCENKO, Nicolau. Op. Cit. p. 167.
(62)
OLINTO, Antonio. Op. Cit. p. 36.
(63)
SEVCENKO, Nicolau. Op. Cit. Idem. p. 26.
(64)
OLINTO, Antonio. Op. Cit. p. 56.
(65)
KOSHIYAMA, Alice Mitika. Op. Cit. p. 20-21.
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA,
Francisco de Assis. Memorando dos 90: Entrevistas e Depoimentos.
RJ: Nova Fronteira, 1984.
CASTRO,
Gustavo de. e GALENO, Alex. (Org.). Jornalismo e Literatura:
a sedução da palavra. SP: Escrituras Editora,
2002. (Coleção Ensaios Transversais). 180 p.
COUTINHO,
Afrânio. Tristão de Athayde, o Crítico.
RJ: Agir, 1980.
DEL
RIO, Nilce Rangel. As Múltiplas Vozes de Tristão
de Athayde. RJ: Editora José Olympio, 1988.
LIMA,
Alceu Amoroso. Alceu Amoroso Lima (1893-1983): Bibliografia
e Estudos Críticos. Salvador: Centro de Documentação
do Pensamento Brasileiro, 1987. 60 p.
___________________.
Em Busca da Liberdade. RJ: Ed. Paz e Terra, 1974.
___________________.
O Jornalismo como Gênero Literário. SP:
Edusp, 2003.
LIMA,
Cláudio Medeiros. Alceu Amoroso Lima [Memórias
Improvisadas]. Petrópolis: Ed. Vozes, 1973.
MOREIRA,
Moacyr Limongi. Cartas Inéditas de Alceu Amoroso Lima.
São José dos Campos: UNIVAP, 1993. (Compilação).
SEVCENKO,
Nicolau. Literatura como Missão. SP: Editora Brasiliense,
1989. 257 p.
VILLAÇA,
Antônio Carlos. O Desafio da Liberdade. RJ: Agir,
1983.
*Marcelo
Januário é jornalista e mestrando na ECA/USP.
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