Entrevistas
Os
clássicos do jornalismo brasileiro
Entrevista
concedida por José Marques de Melo a
Elaine Melo*
EM
- Qual a importância dos "Clássicos do
jornalismo brasileiro" para a nova geração
de jornalistas?
JMM - Foi justamente pensando nas novas gerações
de jornalistas que decidi organizar a coleção
"Clássicos do Jornalismo Brasileiro", publicada
pela Editora da Universidade de São Paulo no final dos
anos 80. Inquietava-me o fato de que ao ministrar conhecimentos
teóricos sobre jornalismo na universidade, os alunos
reclamavam a ausência de fontes capazes de explicitar
o pensamento brasileiro disponível.
Selecionei
então 6 textos que se tornaram clássicos e cujos
autores são recorrentes na biliografia acadêmica
da área: Rui Barbosa, Barbosa Lima Sobrinho, Alceu de
Amoroso Lima, Carlos Lacerda e Danton Jobim.
EM
- Que motivo o levou a elaborar os "Clássicos
do jornalismo brasileiro" com obras escritas na década
de 20 e 50?
JMM - Como se trata de uma coleção de clássicos,
era natural fixar-me em textos que foram legitimados historicamente.
Por isso, selecionei obras de autores que haviam pensado o jornalismo
em geral, e o brasileiro em particular, na primeira metade do
século XX. Trata-se do momento histórico em que
o nosso jornalismo adquire nítida identidade brasileira,
distanciando-se dos modelos forâneos que o inspiraram
durante todo o século XIX.
EM
- Houve alguma alteração entre as obras originais
e a edição atual?
JMM - As edições originais foram mantidas na sua
integridade textual. Elas foram contudo revistadas do ponto
de vista da ortografia, para adaptá-las às normas
vigentes. Elas foram também enriquececidas por textos
introdutórios, escritos por pesquisadores da USP, que
oferecem contextualização adequada em relação
aos autores e suas obras.
EM
- Qual o público alvo de leitores?
JMM - A coleção foi planejada para os estudantes
e profissionais de jornalismo. Ela contudo pode ser útil
a qualquer cidadão interessado em conhecer a maneira
pela qual jornalistas paradigmáticas pensaram e criticaram
o seu ofício profissional.
EM
- Qual a sua opinião sobre a nova geração
de profissionais da imprensa?
JMM - A nova geração de profissionais da imprensa
é constituída por pessoas que busaram formação
universitária. Por isso mesmo, dispõem de referencial
cognitivo mais consistente, uma vez que as gerações
que a precederam eram marcadas pelo amadorismo e pelo diletantismo.
Além
de dominar melhor o ofício nas dimensões ética
e técnica, os jovens jornalistas cultivam sua identidade
profissional e revelam maior compromisso com o interesse público.
Talvez
a deficiência das novas gerações esteja
na sua preferência pelas fontes cognitivas de natureza
audiovisual (cinema, televisão, internet), reduzindo-se
o seu apetite pela leitura dos textos clássicos, tanto
literários quanto científicos.
Essa
primazia do audiovisual parece estar moldando atitudes coletivas
pautadas pela fragmentação e pelo superficialismo.
Em face disso, tenho redobrado meus esforços na formação
dos futuros jornalísticas, procurando desafiá-los
para estocar mais conhecimentos holísticos e incentivando-os
a buscar constante reciclagem intelectual.
*Elaine
Melo é estudante de jornalismo das Faculdades Integradas
Rio Branco.
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