Da
celebração à punição
A televisão de João Batista
de Andrade (1972-1979)
Por
Igor Sacramento*
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Reprodução

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Resumo
Neste
artigo, apresento o projeto da obra televisiva de João
Batista de Andrade, analisando os vestígios do declínio
e da continuidade da "estrutura de sentimento dos filmes
do Cinema Novo" do qual o diretor fazia parte e o impacto
da indústria cultural neste processo. Nos programas Hora
da Notícia da TV Cultura de São Paulo,
entre 1972 e 1974, e no Globo Repórter, de 1975
até 1979, seus documentários e reportagens, embora
não sendo revolucionários, denunciavam a realidade
do povo brasileiro. Como mostrarei, Wilsinho Galiléia
(1978), na Rede Globo, por levar tal experiência à
crítica radical, é censurado no dia em que seria
exibido.
Palavras-Chave:
João Batista de Andrade / Cineasta de Esquerda /
Televisão
A
estrutura de sentimento dos filmes do Cinema Novo
Utilizar
a idéia de estrutura de sentimento é necessária
para entender que "a feitura da arte nunca se dá
no tempo passado", mas que ocorre sempre como "um
processo formativo, com um presente específico",
em que a primazia de certas presenças e processos, de
"atualidades tão diversas e no entanto específicas,
foram vigorosamente afirmadas e reclamadas, como na prática
são vividas todo o tempo" (Williams, 1979: 131).
Toda
estrutura de sentimento é compartilhada por um grupo
de maneira heterogênea, o que, ao contrário, não
impossibilitou uma aproximação, formando, assim,
as qualidades peculiaridades de uma geração e
período específicos. É constituinte de
uma consciência prática que corresponde àquilo
que é realmente vivido, mas não àquilo
que se pensa estar sendo vivido. Enfim, "é um tipo
de sentimento e pensamento que é realmente social e material,
mas em fases embriônicas, antes de se tornar uma troca
plenamente articulada e definida" (Williams: 1979: 133).
É
também característico pelas complexas relações
que estabelece com o que já está articulado e
definido. Williams escolhe "sentimento" para ressaltar
"uma distinção dos conceitos mais formais
de 'visão de mundo' e 'ideologia" (Williams, 1979:
133) para se analisar, assim, os significados e valores como
vividos e sentidos ativamente, as relações entre
eles e com as crenças mais formais ou sistemáticas.
O
autor prefere não utilizar "estruturas de experiência",
porque um dos sentidos da palavra remete a um tempo passado,
anterior, o que se evita com sentimento. Uma alusão a
físico-química é bastante esclarecedora:
"as estruturas de sentimento podem ser definidas como experiências
sociais em solução, distintas de outras
formações semânticas sociais que precipitadas
existem de forma mais evidente e imediata" (Williams, 1979:
136).
No
entanto, isto não quer dizer que toda manifestação
artística já nasça como tal. Pelo contrário,
a maioria delas já surge afinada com formações
sociais já dominantes. Fica clara também a tendência
de, no decorrer da história, os sentimentos em solução
se precipitarem e sedimentarem a ordem: o que era vivido passa
a ser registrado.
Então,
parece-me bastante interessante a leitura feita por Ridenti
"do surgimento de um imaginário crítico nos
meios artísticos e intelectuais brasileiros na década
de 1960 e depois sua transformação e (re)inserção
institucional a partir dos anos de 1970" (2005: 81-82),
épocas em que se deram o apogeu e o declínio da
estrutura de sentimento da brasilidade (romântico-)revolucionária.
[1]
Como
mostra o autor, a estrutura de sentimento da brasilidade revolucionária
não nasceu do combate à ditadura, momento em que
começa a se vincular à ordem, mas foi "forjada
no período democrático período democrático
entre 1946 e 1964, especialmente no governo Goulart, quando
diversos artistas e intelectuais acreditavam estar na crista
da onda da revolução brasileira em curso"
(Ridenti, 2005: 85).
A
conjuntura internacional, com a emergência dos países
do chamado Terceiro Mundo, pela Revolução
Cubana e pela Guerra Fria, também proporcionou
para a construção deste sentimento de revolução
(Cf. Ridenti, 200: 33-42). Tudo isto será interrompido
pelo golpe de abril de 1964.
A
pertinência do uso de estrutura de sentimento, neste caso,
é evidente quando se reforça que ela diz respeito
à "articulação de uma resposta a mudanças
determinadas na organização social, é a
articulação do emergente, do que escapa à
força acachapante da hegemonia, que certamente trabalha
sobre o emergente nos processos de incorporação"
(Cevasco, 2001: 157-158), o que fica evidente na entrada de
artistas de esquerda na televisão.
Pode-se
pensar em estrutura de sentimento para um tipo de cinema assim
como de teatro, de literatura e de outras artes, que, naquele
momento, faziam parte de um projeto revolucionário. Isto
não significou, porém, que houvesse "total
identidade entre eles [artistas que compartilhavam aquela estrutura
de sentimento], que por vezes eram mesmo rivais, nem que suas
obras deixassem de ser diferenciadas" (Ridenti, 2005: 94).
Na
arte revolucionária, foi exemplar dessa estrutura de
sentimento a "estrutura de sentimento do filmes do Cinema
Novo". Partindo de um diálogo com o neo-realismo
italiano, com a nouvelle vague e com escritores brasileiros,
os filmes de Nelson Pereira dos Santos - Rio 40 graus
(1955) e Rio Zona Norte (1957) e Vidas secas (1963),
o curta de Linduarte Noronha - Aruanda (1960), Deus
e o diabo na terra do sol (1963) de Glauber Rocha e Os
Fuzis (1963) de Ruy Guerra são fundadores da estética
cinema-novista (cf. Bernardet, 1967; Salles Gomes, 1995; Xavier,
2001) ao lado da produção da época de Arnaldo
Jabor, Cacá Diegues, David Neves, Eduardo Coutinho, Gustavo
Dahl, Leon Hirzman, Luiz Carlos Barreto, Paulo César
Saraceni e Walter lima Júnior.
Embora
sem o reconhecimento deste grupo, o fundador, obras de cineastas
herdeiros da velha estética da Vera Cruz -Anselmo Duarte,
Roberto Faria e Roberto Santos - assim como os que estavam em
São Paulo (Francisco Ramalho, João Batista de
Andrade, Luiz Sérgio Person, Maurice Capovilla e Renato
Tapajós) também faziam parte da "mesma estrutura
de sentimentos dos filmes do Cinema Novo", uma vez que
suas obras eram caracterizadas pela valorização
da "brasilidade arraigada no homem simples do povo (no
campo ou habitante da periferia das grandes cidades), [pela
denúncia] das desigualdades sociais" (Ridenti: 2005,
95) e pela busca do desvendamento da realidade brasileira.
Sobre
a polêmica, João Batista de Andrade definiu as
obras do grupo a que pertencia como "Cinema Novo Tardio
de São Paulo" (Andrade, 1998, 26).
Nos
anos 1970, começam a se dissolver as condições
históricas da estrutura de sentimento da brasilidade
revolucionária, como resultado, principalmente, das ambigüidades
do Estado autoritário que "com a mão direita
punia duramente os opositores que julgava mais ameaçadores
- até mesmo artistas e intelectuais -, e com a outra
atribuía um lugar dentro da ordem não só
aos que docilmente se dispunham a colaborar, mas também
a intelectuais e artistas da oposição" (Ridenti,
2005: 98).
No
caso do cinema, entra em vigor a Embrafilme e se abre a possibilidade
para cineastas de esquerda aproximarem a denúncia social
do entretenimento como única maneira de fazer com que
a arte cinematográfica nacional-popular sobreviva em
meio à dominante "pornochanchada" (cf. Abreu,
2002; Simões, 1981) e chegue a seu objetivo de conscientização,
mesmo que baseado na indústria e no comércio (Amâncio,
2000; Jorge, 2002 e Ramos, 1983).
É
importante notar também que, neste momento de esvaziamento
das condições para uma revolução
social, como observa Sonia Wanderley (2005: 13), a televisão,
com o apoio da ditadura militar, está a caminho de se
construir como a expressão mais importante da indústria
cultural brasileira e passa a ser estratégica para a
consecução do projeto de integração
nacional do regime, merecendo destaque nesse processo a Rede
Globo (Carvalho, 1980; Khel, 1986: 169-272; Miceli, 1994:
41-67; Oliveira, 2001: 25-48; Ortiz, 2001: 113-148), assim como
começa a reformular a sua programação em
busca da qualidade e do "nível perdido" (Freire
Filho, 2005: 168-170; Mira, 1995: 30-52; Wanderley, 1995: 78-110).
Essas
transformações possibilitaram que a emissora carioca,
especialmente, acolhesse artistas e intelectuais daquela estrutura
de sentimento.
Vestígios
da continuidade e do declínio de uma estrutura de sentimento
Para
mostrar a continuidade e o declínio daquela estrutura
de sentimento na indústria cultural, optei por construir
uma história a partir de vestígios. Neste sentido,
Ana Paula Goulart Ribeiro e Marialva Baborsa desenvolvem uma
interessante metodologia. Para as autoras, baseadas no pensamento
de Agnes Heller (1993), "a tarefa da história não
é recuperar o passado tal como ela se deu, mas interpretá-la
com base em vestígios que podem, numa da realidade cultural,
ser lido como mensagem" (2005: 206), sendo interpretadas
criticamente pelo presente.
O
vestígio é considerado algo significante, que
se constitui de documentos e de memórias. Sem vestígios
não há passado. Então, para se contar uma
história, é preciso que sejam investigadas as
pistas deixadas para o presente.
A
adoção dessa perspectiva, certamente, fornece
ótimos ganhos para os estudos da comunicação.
No caso desta pesquisa, é preciso aproximar a teoria
tratada anteriormente e a metodologia que está sendo
descrita surge da vontade de evitar as tentações
de uma contextualização mais ampla sobre o impacto
da televisão na estrutura de sentimento dos filmes do
Cinema Novo e partir para a materialização disso
em textos e imagens.
Antes
de entrar na televisão, o cineasta havia dirigido o documentário
Liberdade de Imprensa (1967), [2] uma produção
do Grupo Kuatro, cineclube formado por estudantes da Escola
Politécnica da USP que contava com apoio da UNE, e Gamal,
o Delírio do Sexo (1971).
Concomitante
a esta experiência, ele lançou também Doramundo
(1975) e, depois, O Homem que Virou Suco (1979).
A
TV Cultura de São Paulo foi inaugurada em setembro
de 1960 por Edmundo Monteiro, presidente dos Diários
Associados. Em 1969 é comprada pelo Governo do Estado
de São Paulo, ficando sob a tutela da Fundação
Padre Anchieta. A trajetória da emissora foi marcada
por disputas entre o projeto original elitista de "levar
erudição ao 'povo inculto' e de, ao mesmo tempo,
atender às elites com programas de 'bom gosto" (Leal
Filho 1988: 29) e a propostas populistas para buscar audiência,
de conciliação entre a programação
populista e elitista e de atender às demandas populares.
Celebrado
pela imprensa como um telejornal que oferece ao espectador "uma
análise concreta dos acontecimentos, e não simplesmente
a enumeração das notícias-manchetes do
dia" (Folha de São Paulo, "Helena Silveira
vê TV", 10/12/1972: 51), o programa Hora da Notícia,
cuja estréia foi em setembro de 1972, ao fazer um "jornalismo
interpretativo" representa a corrente que queria uma programação
popular. (Leal Filho 1988: 53-54).
Convidado
por Vladimir Herzog e Fernando Pacheco Jordão, editor
e diretor do programa, respectivamente, João Batista
de Andrade se interessa pelo projeto e fica responsável
por realizar pequenos documentários diários que
mostrassem as "imagens que a ditadura ocultava" (Andrade
2002: 258). O cineasta resume esta que afirma ser o momento
mais rico de sua vida como cineasta e cidadão:
Um
exemplo desse trabalho é o Migrantes [documentário
em curta metragem de 1972], que recuperei como filme, depois
de ter ido ao ar em nosso programa. Migrantes partia
da leitura de uma reportagem de primeira página de
um jornal paulista: moradores do Parque Dom Pedro reclamavam
da presença de "marginais" sob o viaduto.
Minha leitura era outra e fui filmar. Debaixo do viaduto minha
câmera encontra uma família de migrantes fugindo
do desemprego no Nordeste. Vendo um paulistano tipo executivo
assistir à filmagem, imaginei do quanto de preconceito
ele estaria impregnado e, sem nada dizer, dirigi o microfone
para ele. O diálogo dos dois - o paulistano engravatado
e o migrante - é o núcleo revelador da obra.
(Andrade, 2002: 258).
Experiências
interessantes como estas foram repetidas pelo cineasta, por
exemplo, nos documentários Ônibus e Pedreira
(1973) e na seção Queixas e Reclamações,
em que o microfone era aberto para as reclamações
dos transeuntes, revelando "a falta de canais de comunicação
entre a população e os poderes instituídos
(Caetano, 2004: 172). Em virtude dessa postura crítica
que desagradou os governos federal e estadual, em 1974, toda
a equipe de jornalismo do programa foi demitida.
Tentando
dar continuidade ao projeto abandonado com o fim de Hora
da Notícia, João Batista de Andrade procurava
investir numa linha documental em que pudesse ser abordado "os
problemas vividos pelo povo brasileiro naquele momento"
(Andrade, 2002: 262). Ele pretendia que "a imagem do Brasil
real ocupasse a tela elitista e ilusória dos aparelhos
de TV" (Caetano 2004: 185), diferindo, assim, da posição
de "neutralidade por meio da obsessão pela técnica"
da Rede Globo.
Fruto
da série de documentários sob o título
de Globo-Shell Especial, o Globo Repórter [3]
foi exibido pela primeira vez, em caráter experimental,
em 3 de abril de 1973, mas sua estréia oficial só
ocorreu em 7 de agosto do mesmo ano, [4] o programa
ocupou o horário das 23 horas da terça-feira.
Deslumbrado
com a qualidade das quarto reportagens (escolas de samba; eleições
no Chile, Argentina e França; a carreira de Emerson Fittipaldi;
e o caso dos índios Siouse) apresentadas pelo programa
em sua estréia, três de abril de 1973, Artur da
Távola escreveu: "Globo Repórter foi
um dos acontecimentos mais importantes do ano televisivo!"
(O Globo, 07/04/1973: 14). É preciso lembrar que
junto com o Fantástico, lançado em agosto de 1973,
o Globo Repórter são símbolos do
Padrão Globo de Qualidade. Em sua primeira década
de existência, o programa contou a participação
de diversos cineastas de esquerda, [5] numa rica contribuição
para a história da televisão.
Além
de ter sido o único programa da emissora a usar equipamento
cinematográfico, o Globo Repórter teve
o mérito de "fazer passar, de uma maneira mais candente,
informações boicotadas pelos demais telejornais"
(Carvalho, 1980: 36), diferindo-se do ritmo alucinado e da desconexão
das matérias veiculadas presentes em telejornais da época
o Jornal Nacional, o que não permitia a contextualização
dos acontecimentos assim como o adensamento das discussões.
Já, no outro programa, temas sociais, como a miséria,
que eram ignorados ou pouco tratados em outros programas jornalísticos,
entravam em cena, especificamente nos programas dirigidos pelos
cineastas que mencionei.
No
Globo Repórter, João Batista de Andrade
dirigiu para o programa A escola de 40 mil ruas, A
batalha dos transportes e Eleições (1974);
Viola contra guitarra, Mercúrio no pão
de cada dia, Volantes, mão de obra rural,
O grito em debate Meningite e Desaparecidos (1976);
Caso Norte (1977) e Wilsinho Galiléia (1978).
O diretor ainda dirigiu, em 1975, O jogo do poder para
o Esporte Espetacular e O lenhador de automóveis
e Vidreiros para o Fantástico. Nas
palavras dos cineastas, eram filmes desconfortáveis à
estética e à editoria do "show da vida":
o programa-símbolo da renovação da programação
da emissora (Caetano, 2004: 196).
Destes,
por conta das limitações de um artigo, gostaria
de destacar dois: Viola contra guitarra e Caso Norte.
Em 1976, o primeiro investigava as contradições
do que seja o progresso para os moradores e para os donos do
poder de Boa Esperança do Sul, no interior paulista.
Na disputa pública entre guitarristas e violeiros, o
documentário evidencia que o progresso vem de fora e
as manifestações artísticas regionais sofrem
essa influência. O apresentador da disputa perguntava
qual instrumento havia ganhado ("A guitarra ou a viola?")
e a população gritava em resposta.
No
ano seguinte, ele dirigiu Caso Norte, que reconstituiu,
por meio de depoimentos e encenação, o crime praticado
pelo vigia José Joaquim de Santana durante uma briga
num bar, ocorrido em 21 de setembro de 1977.
Neguinho,
como era conhecido, veio do Rio Grande do Norte em busca de
melhores condições de vida em São Paulo.
Em legitima defesa, comete o crime, mas por ser negro, pobre
e nordestino não consegue provar a inocência. O
filme discute também a questão da migração
nordestina para o Sudeste e a frustrante falta de oportunidades.
O tema retorna, com mais força, no filme O homem que
virou suco (1981).
Em
1978, João Batista faz o documentário Wilsinho
Galiléia, seguindo a linha de misturar depoimentos
e encenação, para contar a história do
criminoso Wilson Paulino da Silva, que desde os 14 anos, já
vinha colecionando mais de 17 homicídios e assaltos à
mão armada e que, pouco depois de fazer 18, foi fuzilado
numa emboscada da Polícia, que invadiu a casa onde estava
refugiado.
Divido
em duas partes, o programa iria ao ar às 21 horas do
dia 31 de outubro e do dia 7 de novembro. A censura proíbe
a exibição. João Batista de Andrade se
desliga da Rede Globo.
Wilsinho
Galiléia: um país que não foi ao ar
Já
com chamadas na televisão e com divulgação
na imprensa, o tão aguardado programa não pôde
ir ao ar. O Jornal do Brasil anunciava como o "programa
que procura reconstruir vida e morte de um jovem marginal, levantando
e discutindo os motivos que o levaram a esta marginalização"
(31/09/1978, p.07). Na Folha de S.Paulo, na matéria
intitulada "Algumas histórias brasileiras para o
consumo", lia-se:
Às
9 da noite o programa que deve ser necessariamente visto:
Globo Repórter Documento apresentando Wilsinho Galiléia,
a história verídica de um menino que se tornou
bandido em conseqüência da marginalização
econômico-social que é imposta a um grande segmento
da sociedade. Wilsinho Galiléia, 17 anos, foi morto
pela polícia em agosto deste ano. O documento é
do cineasta João Batista e do repórter Dácio
Nitrini que fez a cobertura do acontecimento para a Rádio-Globo-SP
(30/09/1978, p. 28).
Como de costume, os produtores do Globo Repórter
enviaram o programa um dia antes de sua exibição,
para a Censura do Rio, como contou Paulo Gil Soares na matéria
do Jornal Brasil, intitulada "Wilsinho Galiléia
- censura explica a proibição: 'não é
filme para entrar em casa de família".
Mas,
desta vez, ela não teve autonomia para fazer a liberação
do programa, que foi enviado para Brasília, no mesmo
dia em que iria ser exibido. Depois de muita insistência,
cinco censores (normalmente ia um) foram à sede da emissora
no Jardim Botânico e solicitaram que Wilsinho Galiléia
só fosse exibido às 23 horas - e não às
21 horas quando o programa ia ao ar tradicionalmente.
Atendendo
a esta modificação, a Rede Globo "ontem
mesmo havia colocado chamadas do Globo Repórter
no ar, avisando os telespectadores do novo horário",
como informou a matéria "Censura não libera
filme sobre pivete" da Folha de S.Paulo (01/11/1978,
p.28), que vinha com uma foto de Wilsinho com uma venda nos
olhos, denunciando a existência da censura.
Às
16 horas, veio o comunicado oficial de que o programa não
poderia ser exibido. Rogério Nunes, chefe da Censura
Federal, respondeu ao jornal que o filme foi proibido "devido
à sua mensagem não se adaptar para a televisão"
(Jornal do Brasil, 02/11/1978, p. 09). Ele ainda completa
que o documentário também não poderia ser
exibido no cinema. Mesmo assim, a emissora solicitou a avaliação
do então ministro da Justiça, Armando Falcão,
como conta Andrade (1998: 66), mas ele confirmou: "esse
filme não vai passar nas casas da família brasileira".
Mantinha-se aqui a imagem ideal de família como aquela
que estava presente em diversos filmes educacionais da ARP,
especialmente.
Como
explica Fico (1997: 132), a imagem da família "não
poderia ser de outra forma: pais e mães eram entendidos,
acima de tudo, como 'educadores dos lares', que deveriam buscar,
em relação aos filhos, o 'fortalecimento do caráter
nacional", da moral e dos bons costumes, o que não
se aplica, de maneira nenhuma, à família de Wilsinho,
que não poderia ser retratada e exibida para milhares
de casas de família, podendo influenciá-las negativamente
com tão mau exemplo.
Isto
fica mais claro ao lermos a descrição do Jornal
do Brasil do programa que deveria ter ido ao ar:
O
programa apresentaria, no primeiro segmento, a idéia
do mito, que foi Wilsinho Galiléia, um delegado de
polícia descreve sua crueldade e fala de sua periculosidade;
no segundo segmento seria apresentada a reconstituição
das ações extremamente violentas de Galiléia
e seu bando [na noite em que ele foi fuzilado]: quatro mortes
a sangue-frio, o que pensam os moradores onde viva Wilsinho,
depoimentos dos seus amigos e da mãe. A segunda parte
do programa apresentaria entrevistas com Ramiro (13 anos),
irmão de Wilsinho, também acusado de crimes
de morte; a visita de sua mãe aos outros três
irmãos presos na Casa de Detenção, os
outros Galiléia e, finalmente, a morte de Wilsinho
reconstituída pelo depoimento de testemunhas e de atores,
além de mostrar o seu bairro, a sua casa, hoje demolida
(02/11/1978, p. 09).
O caráter de denúncia do programa impressionou
o chefe da Censura Federal, ao dizer que o filme não
se adapta à televisão (Jornal do Brasil,
31/10/1978, p. 09), ele cobra da Rede Globo a submissão
de se calar diante dos problemas sociais do Brasil e, mais,
não utilizar o seu alcance nacional para produzir crítica
da realidade brasileira, mesmo que, na época, como mostrei,
certa produção do Globo Repórter
já tenha feito isto. Wilsinho Galiléia
não agradou.
Depois
da concretização da censura e do prejuízo
para a emissora, que teve de reprisar um capítulo de
Dancin' Days e tampar o buraco da terça posterior
com "Globo Repórter: Ciência apresentando
Rio Vermelho" [6] (Folha de S.Paulo, 07/11/1978,
p. 07), a direção da emissora se voltou contra
Fernando Pacheco Jordão (editor-chefe do programa) e
João Batista de Andrade.
Na
época, o cineasta, que acabara de ganhar o prêmio
de melhor filme do Festival de Gramado por Doramundo
(1978), resolve abandonar a emissora e se dedicar ao cinema.
Sobre a retaliação da Globo, ele conta
(1998: 67):
A
nova avaliação, depois de consumada a censura,
é a de que tínhamos ido longe demais e de que
eu teria sido "parcial", por exemplo, por não
ouvir as famílias das vítimas do bandido Wilsinho,
transformando-o, assim, em uma espécie de herói
intolerável para um programa de TV do prestígio
e da audiência do Globo Repórter. Tolices oportunistas
que mal escondiam o medo e o desejo de desviar a culpa do
inimigo, - poderoso demais-, para um outro, dentro de casa,
passível de ser enfrentado, mesmo que envergonhadamente.
Sem
querer discutir imparcialidade ou objetividade, Fernando Jordão,
em entrevista ao Caderno B do Jornal do Brasil
disse que queria "ir fundo no problema, pôr o dedo
na ferida, expor uma situação de miséria
humana, dentro da cidade de São Paulo, que gera um Galiléia"
(02/11/1978, p. 09).
O
jornalista não estava defendendo o fuzilamento do bandido,
mas queria promover um debate que colocasse a questão
em perspectiva. Afinal: "Carlos Saura, cineasta espanhol,
fez seu 'Cria Cuervos' e achei que poderíamos fazer o
nosso 'Cria Bandidos". Esta idéia, como mostrarei,
é a tese central do programa, o que certamente não
agradou o regime militar.
João
Batista acha que o problema foi pelo fato de o episódio
ter questionado a própria busca de independência
da TV em relação ao Estado e, principalmente,
a "abertura política", que já vinha
sendo alardeada pelo governo Geisel, mas que efetivamente não
existia. A negociação da anistia implicou o confronto
entre os diversos projetos políticos voltados para a
conjuntura de transição vivida pelo país.
A anistia de 1979 foi resultado da transação entre
setores moderados do regime militar e da oposição,
que foi liderada e guiada pelos primeiros.
Era
preparada a transição do regime, não necessariamente
para outro qualitativamente diferente, mas para outra forma,
que incorporasse novas forças políticas, sem descartar
a tutela militar. Os limites das reformas foram dados pelo caráter
autoritário e conservador na condução do
processo. Queria-se com a transição manter as
condições de dominação política
experimentada durantes os anos de ditadura militar.
João Batista (1998: 68-69) ainda vai além, mostrando
sua surpresa pela ausência de liberdade na época
em que já se falava em abertura política.
Com
este caso, ela pôde levantar mais questões:
Opor-se
ao governo, enfrentar seus desígnios, só até
bem antes do ponto de ruptura. A partir daí, valia
a subserviência oportunista, sob a qual se desenvolvia
a atividade empresarial do ramo. Foi assim com "Wilsinho
Galiléia". Proibido, tornou-se um filme maldito,
exatamente por ter criado um problema de relacionamento da
TV com o regime tutelar dos militares. E, para que o episódio
não gerasse mais frutos incômodos, o próprio
programa Globo Repórter, já sobejamente vigiado,
passou a um controle mais rígido ainda, a ponto de,
em perspectiva, inviabilizá-lo. Em pouco tempo o programa
sairia dos cineastas para cair nas mãos dos repórteres
de vídeo, [7] encerrando mais uma rica experiência
de casamento entre TV e cinema brasileiros.
O cineasta lembra que uma seqüência do filme causou
bastante polêmica. Foi aquela em que, intercalada com
imagens - dramatizadas por atores - que mostram a violência
dos atos do criminoso e ele brincando num parque de diversões,
traz também vizinhos e seus conhecidos do bairro da periferia
de São Paulo, falando entre outras coisas que "ele
era matador, mas também era ser humano".
Patrícia,
mulher do seu comparsa Chiquinho, diz: "Ele era triste.
Dava
até pena, porque parece que ele tinha complexo da vida
que ele levava. Ele dizia que só roubava carrão.
Carrão que ele dizia é Opalla, Dodge Dart. Ele
adorava Dodge Dart. Ele gostava de parecer filho de papai".
Com cenas de Wilsinho (Paulo Wuedes), a voz em off da
amiga continua: "Ele adorava a fama. Ele adorava aparecer
em jornal. Ele fazia tudo isso para aparecer em jornal. Todo
dia ele comprava o jornal pra ver se tinha alguma coisa dele".
É
interessante notar, neste ponto, as conseqüências
da desigualdade social, produzindo cada vez mais marginais.
O Estado autoritário construía o Brasil sob a
lógica do "milagre econômico" e da "integração
nacional", deixando fora do "Brasil Grande" todos
que não faziam parte das redes comunicativas e de consumo,
gerando "outros wilsinhos galiléias" (Folha
de S.Paulo, 01/11/1978, p. 28).
Ficava
de fora todos aqueles que não podiam consumir "estilos
de vida" da classe média. Quando foi à Febem,
onde Galiléia ficara detido, João Batista ouvia
o lamento de um menor: "Eu comecei a roubar porque meus
pais não podiam me dar o que eu queria. Eu chorava, mas
eles não podiam me dar.
Queria
uma roupa e não tinha dinheiro. Queria ir ao baile com
uma menina e não tinha dinheiro", respondeu, ao
seu perguntado sobre o motivo de ter iniciado seus crimes.
João
Batista, habilmente, não procurou desconstruir ou mitificar
o bandido.
Sua
intenção, na medida em que a fita avança,
especialmente nas falas emocionadas de Dona Eliete, mãe
de Wilsinho, é colocar a questão não no
indivíduo, mas na sociedade brasileira da época
que produzia tais marginais.
Quando
o filme entra na que seria a sua segunda parte, aos 28 minutos,
é iniciada, por meio das falas de seus familiares e da
apresentação que é dada a eles, uma crítica
à marginalização de tantos "cidadãos
brasileiros", que aquém do poder do Estado (senão
pela presença da polícia), parecem traçar
um destino inevitável para a criminalidade, não
para um futuro grandioso.
A
segunda parte do filme começa com Dona Eliete chorando
a morte do filho no cemitério de Vila Formosa, num plano-seqüência
longo e silencioso de quase um minuto. Depois, na porta de sua
casa, na favela Galiléia, onde o Wilsinho cresceu, na
época uma das maiores de São Paulo, sua mãe
vista do alto fala com a câmera se aproximando:
Antes
do pai dele morrer, ele já saía à noite,
chegava 10 horas da noite em casa, mas ninguém sabia
o que ele estava aprontando na rua. Ele estava mais ou menos
com 7 anos. Ele saía com os coleguinhas, mas ninguém
sabia o que o que ele estava aprontando com os colegas. Depois,
uma vez, o pai dele foi pegar ele no Juizado de Menores, mas
foi coisa leve. Depois, o pai dele perguntava o que ele tava
fazendo na rua e ele dizia: "Nada, pai. Eu tô brincando".
Logo depois, de volta ao cemitério, a câmera registra
a confissão desesperada da mãe: "Se eu pegar
a situação que eu vi meu filho com a bala atravessada
no pescoço e no ouvido, se eu tivesse um revólver
na hora e soubesse quem fez aquilo com meu filho, eu fazeria
a mesma coisa, eu fazeria. Eu faço".
Numa
atmosfera cada vez mais sufocante, o filme se volta para Ramiro
Paulino, irmão de Galiléia, também acusado
de homicídio, que, ao perceber, a presença da
equipe saí correndo. Depois, muito nervoso, ele responde
às perguntas de Dácio Nitrini e da mãe:
Dácio:
Por que você correu agora?
Ramiro: Eu não sei não.
Eliete: Ele tava cismado com a polícia.
Dácio: Você pensou que fosse a polícia?
Ramiro: É. Eu pensei.
Eliete: Fala da morte do seu irmão.
Ramiro: É. Está muito pior agora, muito pior.
Dácio: Você é bandido?
Ramiro: Eu não...
Elite: Você vai aprontar?
Ramiro: Eu não...
Dácio: Conta a história do seu irmão.
Ramiro: Ele era bom pra mim, me levava pra passear. A gente
andava de carro. Fui na casa de uma mulher lá. Soube
que ele tinha levado umas balas na cabeça e vim contar
pra minha mãe. Ele era bom pra mim...
Aumentando ainda mais a angústia com a realidade da periferia,
Dona Eliete, quando é perguntada sobre seus outros três
filhos, fala que todos estão na Casa de Detenção,
todos aprontaram. Na visita aos filhos, ficam registradas a
tristeza da mãe e a esperança de que um dia possa
ter um filho livre para ajudá-la dentro de casa.
Já,
na penúltima seqüência, baseada nos depoimentos
de Chiquinho, Patrícia e Geni (dona da casa onde Wilsinho
estava foragido), é reconstituída a morte do bandido.
Esta do filme não pôde contar com informações
e depoimentos de qualquer policial envolvido no caso, por ordem
da própria Polícia de São Paulo. Fechando
o filme, a imagem da casa demolida de Wilsinho.
João
Batista (1998: 68) compara a intolerância que levou à
censura do filme a mesma intolerância que queria apagar
da memória a existência do bandido, destruindo
sua casa. João Batista disse, antes da censura ao filme:
"Wilsinho morre. Fica Wilsinho. Apesar de seu cadáver
sepultado na Vila Formosa e chorado pela mãe, uma das
cenas mais tocantes do filme.
Apesar
de terem demolido sua casa no bairro, para não restar
mais nem lembranças de sua vida" (Folha de S.Paulo,
30/09/1978, p. 28).
No
entanto, na época, seu filme também não
pôde ficar, não pôde ir ao ar para criticar,
por meio da figura de Wilsinho, a asfixiante desigualdade social
que gerava um segmento enorme de marginalizados, muitos deles
"optando" pelo crime. O filme só foi exibido
24 anos depois, no Festival Internacional de Documentários
- É Tudo Verdade - de 2002.
Considerações
finais
Como
vimos, Wilsinho Galiléia, ao fazer isto de uma
maneira mais radical, encontra o seu limite na censura, dada
a importância da televisão para a manutenção
do imaginário nacional da época.
É
o momento em que é mais claramente desvelada a submissão
da indústria televisiva ao Estado autoritário,
demandando a realização de produtos condizentes
com o imaginário de "país do futuro"
construído na época. Isto não quer dizer
que não houve críticas políticas dentro
da indústria cultural.
Como
disse Ridenti (2000: 338): "Sem subestimar o poder da indústria
cultural de fazer uso das idéias mais críticas
para reforçar-se, parece-me que ela é portadora
de contradições que não lhe permitissem
dar conta do mascaramento total da realidade em que se insere".
Contradições
apareceram em outros documentários do diretor para a
televisão, como apontei brevemente. Da celebração
à punição, a obra de João Batista
de Andrade na televisão, especialmente, na Rede Globo,
enquadrava-se numa política de "elevação
do padrão de qualidade" da emissora, nos seus primeiros
anos de trabalho, para, depois, com o documentário sobre
Wilson Paulino da Silva, torna-se incômoda; não
servia mais.
Se
houve alguma continuidade, também percebemos o declínio.
As obras daqueles cineastas na televisão perdem o adjetivo
"revolucionário", mas conservam aspectos de
defesa da brasilidade que marcam a indústria cultural
brasileira até hoje. Em um novo contexto, ficou, cada
vez mais difícil que a "estrutura de sentimento
da brasilidade revolucionária" existisse; ela tornou-se
um "precipitado".
Cabe,
agora, a busca por mais vestígios da presença
de cineastas de esquerda na televisão.
Notas
[1]
O "romantismo revolucionário" como chave explicativa
do engajamento num sentido revolucionário em intelectuais
e artistas da década de 1960 é mais desenvolvido
Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução,
do CPC à era da TV (2000), do referido autor.
[2]
A idéia original era fazer um filme sobre "a ditadura
e seu aparelho repressor" (Andrade, 1998:28), mas o diretor
acabou tratando da "lei de imprensa de 1965 e da situação
da dependência em que os capitais norte-americanos mantêm
a imprensa no Brasil, principalmente por meio de verbas de publicidade"
(Bernardet, 2003: 69), que perguntava a jornalistas (Tavares
de Miranda, Carlos Lacerda, Genival Rabelo e Marcus Pereira)
e transeuntes se a imprensa era livre no Brasil, cujas respostas
eram entrecortadas por imagens de repressão policial
a estudantes e manifestantes. O filme foi "exibido uma
vez no Rio [no auditório do Jornal do Brasil] e outra
em São Paulo [na Sociedade Amigos da Cinemateca junto
com Em Busca do Ouro (1964), de Gustavo Dahl e Documentário
(1966), de Rogério Sganzerla] e, depois, foi apreendido
pelo Exército no Congresso da UNE em 1968, ficando praticamente
desconhecido por mais de 20 anos" (Andrade, 2002: 253).
[3]
Foram três núcleos de produção. O
Núcleo de Reportagens Especiais, sediado no Rio de Janeiro
e dirigido por Paulo Gil Soares. Em São Paulo, a Divisão
de Reportagens Especiais, criada em 1974, coordenado por João
Batista de Andrade e por Fernando Pacheco Jordão, que
produzia documentários e reportagens para diversos programas
da emissora, como Fantástico e Esporte Espetacular, e
a Blimp Filmes, produtora de Guga Oliveira, irmão de
Boni, que contribuía desde o Globo Shell. Todos os núcleos
eram submetidos a Armando Nogueira, diretor da Central Globo
de Jornalismo (CGP).
[4]
"Os Intocáveis (focalizando a seleção
brasileira), Meu Padim, Padre Cícero (de Paulo Gil Soares),
Os Cavalinhos Correndo (documentário de Walter Lima Jr.
sobre cavalos de corrida) e Por que caem os aviões? (de
Paulo Gil Soares) fazem hoje às 23 horas o novo programa
Globo Repórter do Canal 5 [Rede Globo]" (Folha de
São Paulo, 07/08/1973: 41).
[5]
Os cariocas David Neves com A Mulher no Carnaval (1974) para
o Globo Repórter. Eduardo Coutinho com Seis Dias de Ouricuri
(1976), Superstição (1976), O Pistoleiro da Serra
Talhada (1977), Uauá (1977), Theodorico, o Imperador
do Sertão (1978), Exu, uma Tragédia Sertaneja
(1979) e Portinari, o Menino Brodósqui (1980) para o
Globo Repórter; Amazônia, mito e realidade (1974)
para o Globo Repórter, por exemplo; e Walter Lima Júnior
com, entre outros, Poluição Sonora, Poluição
do Ar, Poluição das Águas (1973), Índios
Kanela, Tubarão - Vinte Anos Depois (1974), O Enigma
do espaço (1976) e Medicina Popular (1977). Dos paulistas,
João Batista de Andrade contribuiu com A escola de 40
mil ruas e Eleições (1974); Lenhador de automóveis,
Paulo Vanzolini, O jogo de poder e Vidreiros (1975); Batalha
dos transportes, Viola contra guitarra, Mercúrio no pão
de cada dia, O grito em debate Meningite e Desaparecidos (1976);
Caso Norte (1977) e o censurado Wilsinho Galiléia (1978)
para o Globo Repórter; Maurice Capovilla com, entre outros,
o censurado Antonio Conselheiro (1974) e O Último Dia
de Lampião (1975); e Renato Tapajós com Peçonhentos
(1979) para o Globo Repórter.
[6]
Programa sobre os mistérios do sangue humano.
[7]
No decorrer dos anos 1980, com marco entre 1982 e 1983, quando
se começa a usar o VT não mais a película,
o programa vai mudando do formato "cinedocumentário
[feito em película, contando com uma equipe de jornalistas
e cineastas, num formato de documentário] para o teledocumentário
[feito em vídeo, com a apresenta de repórteres
em frente às câmeras, num formato de grande reportagem]"
(Militello, 1997: 34), caracterizado pelo "repórter
como mestre de cerimônias", na frente das câmeras
e coordenando as ações.
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*Igor
Sacramento é jornalista e mestrando em Comunicação
e Cultura da Escola de Comunicação da UFRJ. E-mail:
igorsacramento@gmail.com.
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