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Ensaios



Foca em Foco: a experiência do
jornalismo científico no jornal-laboratório

Por Elizabete Mayumy Kobayashi*

Este artigo relata a trajetória do jornal-laboratório Foca em Foco, produzido pelos alunos do 3º ano de jornalismo, da Universidade do Vale do Paraíba (Univap). Como objeto de estudo serão utilizados o primeiro número de cada ano, desde seu lançamento em 1999 até 2003.

O jornal que a princípio abordava temas diversificados, passou em 2002, a se dedicar, exclusivamente à cobertura de assuntos ligados à ciência, tecnologia e meio ambiente. A pauta elaborada e discutida entre os professores responsáveis e os alunos procurou regionalizar os temas e demonstrar a interferência direta destes no cotidiano da cidade.

Palavras-chave

Jornal-laboratório, Ciência e Tecnologia, Educação

Introdução

Este trabalho relata a trajetória do jornal-laboratório Foca em Foco e sua mudança editorial. O produto que no início de sua história abordava temas diversos passou em 2002 a abordar, exclusivamente, temas ligados à ciência, tecnologia e meio ambiente. A aplicação do jornalismo científico num órgão laboratorial atendeu diretamente à proposta do projeto pedagógico do curso de enfatizar essa vertente do jornalismo.

Além disso, a cidade de São José dos Campos, na qual o curso de jornalismo da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), está instalado, é considerada um dos maiores pólos científico-tecnológicos do Estado de São Paulo, ao lado da capital e de Campinas.

Entretanto, a divulgação a respeito de assuntos ligados à C&T ainda é incipiente na região. Foram selecionadas para análise as primeiras edições dos cinco anos de existência do jornal. Tal escolha deve-se ao fato de que a cada ano uma nova turma se responsabilizava pela produção. Das cinco edições, duas foram produzidas em formato tablóide, com capa e última página coloridas e meio em preto e branco, além de duas com miolo colorido. Cada edição contava com doze páginas. Apenas uma foi elaborada em formato "standard", seguindo o mesmo esquema de miolo, capa e última página coloridos.

Os dois primeiros números analisados seguiam uma linha editorial com temas diversificados. Outro adotou a responsabilidade social como tema central do jornal. Os dois últimos já se direcionaram diretamente para assuntos ligados à ciência, tecnologia e meio ambiente.

Entretanto, mesmo nas edições com temas diversos já se notava a preocupação em contextualizar o leitor com o universo da ciência e tecnologia e sua correlação com o cotidiano da cidade.

Descrição e recorte da pesquisa

A trajetória do jornal Foca em Foco:
da diversidade para ciência e tecnologia

Edição número 1 - ano 1 - março e abril/1999

Na edição número 1, ano 1, de março e abril/1999, produzida pela primeira turma do curso, o jornal era composto pelas seguintes editorias:

Manchetes de capa: "Chapeiros, camelôs e perueiros no mercado informal de São José"; "Moradores e estudantes querem solução para congestiona-mentos na Urbanova"; "Igreja exorcista se diz católica para atrair fiéis"; "Temos riqueza e potencial em mãos"; "Jornalista precisa ir além da graduação"; "Contemporâneos falam de sua arte em São José"; "Parque aeroespacial e bélico fez surgir pequenas empresas de tecnologia de ponta que hoje se ressentem da falta de apoio".

  • Editorial;
  • Crônica;
  • Geral;
  • Esporte;
  • Cidades;
  • Política e Economia; Comunidade;
  • Ciência e Tecnologia; Universidades;
  • Mídia;
  • Cultura.

Na editoria intitulada Ciência e Tecnologia, elaborou-se duas matérias. Numa o foco da matéria era mais abrangente e na outra referente à produção científica da própria universidade. Na primeira "Brasil não utiliza potencial biológico" abordou-se o potencial biológico do país, na qual o cientista e pesquisador Isaías Raw falava do potencial lucrativo da biodiversidade do país. Além disso, Raw salientou a importância do jornalismo científico no que se relaciona a esclarecimentos à população: "(...) é importante levar até a população informações que as façam entender o que está acontecendo." (FOCA EM FOCO: 1999, 9)

Na segunda, "Novo laboratório da Univap desenvolverá pesquisa inovadora", o pesquisador e professor Francisco G. da Nóbrega fala da implantação de um laboratório de pesquisa ligado ao Projeto Genoma, que daria seqüência ao estudo da bactéria Xylella fastidiosa, causadora da doença conhecida como amarelinho que ataca plantações de laranja.

A influência da C&T não se restringia apenas à essa editoria. Na de Política e Economia, a matéria "Crise atinge pequenas empresas de tecnologia" relatava como a crise econômica havia atingido as pequenas e médias empresas de tecnologia de ponta da região.

Na matéria constatava-se que a crise econômica somada à falta de incentivos governamentais a essas empresas agravavam ainda mais a situação. Mesmo com conotação econômica, é nítida a relação com ciência e tecnologia e a influência direta dessas no cotidiano da cidade. Segundo dados da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente, na época São José possuía 677 micro e pequenas empresas, 28 de médio e 15 de grande porte.

Edição número 5 - ano 2 - abril/ maio de 2000

As editorias são semelhantes ao primeiro número do ano anterior. A linha editorial do jornal também não sofreu nenhuma alteração significativa. Evidentemente, foram abordados assuntos diferentes, mas mantendo a mesma preocupação com C&T.

Manchetes de capa: "Quadrilhas derrubam reserva de palmito no Horto de São José"; "Reforma traz vida ao Mercado Municipal"; "Brasil faz pouco uso do satélite construído com a China"; "Uma praça histórica de Jacareí é hoje ponto de divergências religiosas, tráfico de drogas e garotas de programas"; "Conheça alguns dos projetos aprovados pela Lei de Incentivos Fiscais"; "Sucessão na prefeitura de SJC mantém divisão tradicional de forças políticas".

Nesse número duas matérias selecionadas para editoria Geral e Mídia poderiam ser classificadas numa editoria intitulada Meio Ambiente. Na da Geral, "Palmiteiros devastam reserva natural em São José", os alunos apuraram a extração ilegal de palmito no horto florestal da cidade e sua comercialização em restaurantes e pizzarias. Já na editoria Mídia, a
jornalista Priscila Siqueira fala a respeito do jornalismo ambiental e do papel social que este ocupa nas relações humanas.

Em Ciência e Tecnologia, a matéria "Satélite Sino Brasileiro ainda sob o controle da China", relata a parceria entre os dois países no controle e rastreio do satélite CBERS.

Complementando a matéria, os alunos detalharam, num box, uma das peças mais importantes do satélite: a câmera que captaria as imagens. Além de ser o "olho" do satélite, o projeto da câmera, desenvolvido pelo Inpe, foi finalizado pela Equatorial Sistemas, uma empresa de tecnologia de ponta de São José dos Campos.

Edição número 1 - ano 3 - maio de 2001

Neste número o jornal passou a ser produzido em formato "standard", com oito páginas, miolo, capa e contra-capa coloridos. As edições do terceiro ano do jornal foram produzidas nesse formato. Apenas no ano seguinte, o jornal voltaria a ser tablóide.

Segundo o editorial do número 1 (selecionado para análise) a mudança tinha como proposta elaborar um jornal com um projeto gráfico mais moderno e que acompanhasse a tendência das publicações do mercado. Além disso, houve uma alteração na linha editorial do jornal. Como o ano de 2001 foi declarado pela ONU como Ano Internacional do Voluntariado, enfatizou-se inteiramente pautas que abordassem a responsabilidade social na região:

Na onda do terceiro setor, agarramos esse gancho e o trouxemos para perto. As matérias têm apelo social da região, fomos buscar o que há aqui no Vale, o que as empresas estão fazendo, a comunidade, como vai a economia informal. (FOCA EM FOCO, 2001:2)

As manchetes de capa dessa edição foram: "E-governo amplia democracia"; "Entidade atende 10 mil pessoas por mês"; "Desfavelamento em São José traz segurança"; "Recomeço dá exemplo de solidariedade"; "Entretenimento e Evangelização podem fazer uma mistura explosiva: Mídia e Religião combinam?"; "Personalidades como José Roberto Burnier e Décio Pignatari movimentaram a 3ª Semana da Comunicação"; "Peruanos apresentam aos universitários a arte cusquenha, representadas em quadros com motivos religiosos e rituais característicos da cidade de Cusco".

As editorias foram divididas em Editorial; Reflexão; Crônica: Geral; Entrevista; Artigo; Comunidade; Saúde; Mídia; Política; Meio Ambiente e Cultura e Lazer. Apesar de possuir, basicamente, as mesmas editorias do número anterior, nesse não foi abordado nenhum tema enfatizando diretamente, ou mesmo indiretamente, assuntos ligados à ciência e tecnologia.

Edição número 1 - ano 4 - Junho/2002 - A mudança para o jornalismo científico

A partir deste número e ano, o jornal passa a abordar somente assuntos ligados à ciência, tecnologia e meio ambiente. No mesmo ano a Universidade sedia a Terceira Conferência Mundial de Jornalistas Científicos e o 7º Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico, com o tema "Jornalismo Científico e Desenvolvimento Humano".

O evento realizado em novembro de 2002, contou com a presença de 300 participantes, representantes de 25 países, que apresentaram trabalhos, seminários e palestras abertas aos estudantes que trabalharam na organização do evento. As seis edições produzidas no ano da Conferência foi encartada no jornal ValeParaibano, único veículo impresso na cidade.

A tiragem era de 15 mil exemplares de cada edição do Foca, média diária da tiragem do jornal. Isso foi possível graças a uma pareceria entre a Universidade, a Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC) e o jornal.

O fato de São José sediar um evento internacional pode ser um dos fatores que justificam a importância do jornalismo científico para a região. No editorial deste número a pró-reitora de pós-graduação lato sensu, profa. dra. Fabíola de Oliveira, na época coordenadora do curso de jornalismo, descreve o cenário da cidade e a importância em se formar jornalistas capazes de trabalhar com assuntos de ciência e tecnologia:

Não foi por pouca coisa que São José dos Campos foi escolhida para sediar a III Conferência Mundial de Jornalistas Científicos, a realizar-se na Univap em novembro deste ano. A cidade é hoje um dos principais pólos científico-tecnológicos do País. Além de abrigar renomadas instituições de pesquisa e desenvolvimento, inúmeras pequenas e médias indústrias de tecnologia de ponta têm nascido no município. Elas têm contribuído significativamente com o desenvolvimento da cidade. Geram soluções inovadoras para a indústria e serviços no Brasil, exportam produtos de alta tecnologia e estabelecem parcerias internacionais. (FOCA EM FOCO: 2002, 2)

Em relação à parceria firmada com um grande veículo da cidade, Oliveira complementa alegando que "o Foca em Foco - Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente no Vale do Paraíba demonstra também a viabilidade de uma instituição de ensino e de uma empresa jornalística trabalharem juntas para contribuir com a formação de profissionais de imprensa e com a melhoria da qualidade de informação". (IDEM)

A mudança também contribuiu para se atingir os objetivos do curso de formar um profissional com uma visão mais crítica e contextualizada do universo próximo que o cerca. Antes mesmo do jornal-laboratório enfocar assuntos de C&T, o projeto pedagógico do curso, criado em 1997, já privilegiava o jornalismo científico. Foram determinantes nesse direcionamento a experiência da coordenação da época em se trabalhar com C&T e o envolvimento dos professores do curso com a área, mas sobretudo, como já foi dito anteriormente, as características da cidade de São José dos Campos.

Nesta edição, o jornal volta a ser produzido em formato tablóide como os dois primeiros números, com miolo, capa, contra-capa coloridos, meio preto e branco, totalizando doze páginas.

As manchetes de capa foram as seguintes: "Rio 92 faz 10 anos com reflexos no Vale do Paraíba"; "Ecoturismo na Pedra do Baú"; "Agência Anima cria site"; "Inpe e empresa de S. José participam do satélite Aqua"; "Univap sedia evento mundial de Jornalismo Científico"; "Termelétricas geram polêmica no Vale do Paraíba".

Novamente, sem nos deter na análise de conteúdo das matérias, percebe-se a preocupação com a regionalização dos assuntos com a realidade da cidade e da região. Afinal, o leitor poderia se perguntar, qual a relação da Rio 92 com o Vale do Paraíba?

A resposta reside no papel desempenhado pelo jornalista científico: "ele deve ter em mente que a sua função (e a sua missão!) não é apenas de noticiar os acontecimentos que ocorrem na área de ciência e de tecnologia, mas de investigar, de analisar as repercussões que cada fato científico tem no seio da sociedade". (BUENO: 1988, 17).

As editorias foram divididas em Editorial, Capa, Personagem, Notícias da Conferência, Especial, Saúde, Mídia, Meio Ambiente e Ecoturismo.

Edição número 1 - ano 5 - Agosto/2003

Nesta edição continua-se a exclusividade na cobertura de assuntos referentes à ciência, tecnologia e meio ambiente.

As manchetes de primeira página são "O crepúsculo do rio Paraíba do Sul: um rio agoniza em seu leito"; "Cresce procura pelo Rafting"; "Entrevista com Patrícia Palumbo" e "O massacre da motoserra". Há uma coincidência nas matérias principais deste número e do último escolhido para pesquisa. Ambos trazem como destaque matérias relacionadas ao rio Paraíba do Sul, uma preocupação constante para a região por ele abastecida.

Na disposição das editorias, mantém-se o Editorial, Ecoturismo, Especial, Personagem, Meio Ambiente, Saúde e Mídia. Passam a compor o jornal: Ciência e Tecnologia, História da Ciência e Meio Ambiente Urbano. O formato, número de páginas e páginas coloridas seguem o formato do último número analisado.

A preocupação em inserir ciência, tecnologia e meio ambiente no cotidiano da região continua a mesma, proposta no primeiro número a abordar exclusivamente essa área.

Metodologia da pesquisa

Em primeiro lugar é necessário esclarecer que este trabalho não se compromete a analisar o conteúdo das matérias do jornal-laboratório Foca em foco. Também não existe a pretensão de se realizar um estudo de recepção dos assuntos abordados pelo jornal nos cinco anos de existência do produto.

O objetivo deste é relatar a trajetória do jornal de uma abordagem diversificada à ênfase na área de ciência, tecnologia e meio ambiente. Para tanto optou-se em trabalhar com uma amostra "não-probabilística" como classifica a professora Maria Immacolata Vassallo de Lopes:

Na amostra não-probabilística a inferência estatística não pode ser legítima, uma vez que o pesquisador não conhece a probabilidade que cada unidade tem de ser selecionada para fazer parte da amostra. Neste caso, a amostra é dita significativa ou de representatividade social (não-estatística), e os métodos de tratamento de dados são qualitativos. (VASSALLO DE LOPES: 2001, 145)

Por isso como já foi demonstrado no recorte da pesquisa, selecionou-se as edições "inaugurais" de cada turma desde a implementação do curso. No editorial da edição número 1, ano 5, de agosto de 2003, é nítida a representatividade do primeiro número para os discentes e a responsabilidade assumida ao produzir o jornal e dar continuidade a algo inaugurado há algum tempo:

A que viemos

Em mais um ano de existência o jornal Foca em Foco vem reafirmar, acima de tudo, sua proposta a favor da democracia e do bem-estar social. Os repórteres, alunos do 3º ano de jornalismo da Univap, supervisionados pelos professores do curso, garantem a seriedade e confiabilidade do trabalho. Cada matéria é investigada imparcialmente dentro de um rigoroso acompanhamento jornalístico, sempre buscando atender aos interesses da população e do meio ambiente. (FOCA EM FOCO: 2003, 2)

Para relatar a trajetória do jornal-laboratório, este trabalho utilizou o método histórico como base para o desenvolvimento da pesquisa. Mesmo tratando-se de um produto relativamente "novo", foi preciso resgatar a história não só do jornal, como da instalação do curso e da justificativa em se enfatizar o jornalismo científico em seu projeto pedagógico.

Segundo Lakatos & Marconi, "o método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época". (2003, 106).

No caso do Foca em Foco, foi preciso estabelecer essa "linha do tempo", desde o lançamento do primeiro número em 1999 até o primeiro em 2003. O que se estabeleceu foi não só o simples percurso de um produto, como também a própria história do jornal. Por meio desse método, tornou-se possível observar toda evolução do jornal com temas diversos, no qual se misturava exorcismo, ciência, meio ambiente, até a abordagem de assuntos de C&T.

Resultado da pesquisa

Ao relatar a trajetória do jornal-laboratório Foca em Foco é nítida a constatação de seu amadurecimento editorial. Ao abordar assuntos diversos, de certa maneira, o jornal procurava repetir os modelos existentes no mercado, no que se refere à diversidade de conteúdos. A mudança editorial com exclusividade em assuntos ligados à ciência, tecnologia e meio ambiente o diferenciou das publicações existentes na região.

Com essa afirmação, o jornal-laboratório Foca em Foco segue a proposta laboratorial de inovar e não, simplesmente, de repetir modelos já consolidados no mercado editorial. Conforme afirma Dirceu Fernandes Lopes, citando o professor José Marques de Melo, "o importante (...) não é a mera demonstração de como fazer, mas de experimentação crítica dos modelos jornalísticos dominantes e criação de modelos alternativos suscetíveis de difusão social". (LOPES: 1989, 34)

Ainda segundo Lopes, o conceito de jornal-laboratório pode ser definido da seguinte maneira:

Como o próprio nome diz (jornal-laboratório), deve servir como elemento experimental, seja em termos de linguagem, conteúdo editorial ou mesmo aspecto gráfico. Alguns pontos importantes devem ser levados em consideração para a implantação de um jornal-laboratório: quem faz, para quem, como fazer, o papel do professor, o papel do aluno, condições materiais, a abordagem, os temas, a forma, censura, circulação distribuição, arquivo e pesquisa, discussão do trabalho realizado e dinamização da redação, entre outros. (1989, 51)

Seguindo essa definição, o jornal-laboratório Foca em Foco, além da linha editorial, mudou também o formato do produto. Duas edições foram impressas em formato "standard" e em papel jornal. Depois, adotou-se novamente o formato tablóide. O logotipo do jornal também sofreu algumas alterações ao longo de sua trajetória. Abaixo pode-se observar o primeiro e o último "logo" dos jornais analisados:

Fonte: Jornal laboratório Foca em Foco, ano 1, n. 1, março/abril 1999
Fonte: Jornal laboratório Foca em Foco, ano 5, n.1, agosto 2003

Por meio das pautas escolhidas nota-se a preocupação de se aliar assuntos considerados muitas vezes complexos ao cotidiano da cidade. Como já foi dito ao longo deste trabalho, São José e a região do Vale do Paraíba possuem características muito peculiares no que se refere à C&T.

Por exemplo, alguns bairros da cidade se desenvolveram em função de indústrias de ponta aqui instaladas. Isso confirma as palavras do jornalista Ulisses Capozzoli ao contabilizar que "seis bilhões de pessoas só podem sobreviver na superfície deste planeta se a ciência estiver na retaguarda. A ciência que garante a produção, a distribuição de comida, domina pestes e doenças". (apud OLIVEIRA: 2002, 39)

A experiência em se elaborar um jornal-laboratório com temas ligados ao jornalismo científico faz aflorar nitidamente a percepção dos alunos de que essa área não se isola das demais vertentes do jornalismo. A preocupação com a apuração dos fatos, com uma abordagem clara dos assuntos foram ressaltados no editorial do número 1, ano 5, agosto 2003. Uma das propostas oferecidas no texto é a diminuição da distância entre o conhecimento científico e a população.

Para o geólogo e geofísico Augusto Forti, para que haja uma efetiva participação nas decisões relacionadas à C&T é necessário mais educação e mais instrução cientifica. Segundo ele, isso só será possível quando políticos e jornalistas se capacitarem para apresentar fatos científicos, "que estão na base de decisões importantes, de maneira simples e compreensível, de modo que todos os cidadãos pudessem tomar parte do processo de tomada de decisão". (FORTI: 1998,19).

Fato que marca o jornal-laboratório Foca em Foco desde seu primeiro número é a preocupação com assuntos que possibilitem essa conexão entre população e C&T. Mesmo antes da mudança da linha editorial, é possível averiguar que o jornal abarcava, muitas vezes de maneira indireta, assuntos que se correlacionavam diretamente a ciência, tecnologia e meio ambiente. Em editorias como a de Economia, pode-se selecionar, no número 1, ano 1, uma matéria que falava dos reflexos da crise econômica nas pequenas e médias empresas de tecnologia de ponta.

Na edição n. 5, ano 2, abril/maio de 2002, uma matéria classificada na editoria Geral, denuncia quadrilhas de palmiteiros agindo no horto florestal de São José. Nota-se nesses dois exemplos, o envolvimento da cidade em seus diversos aspectos com ciência, tecnologia e meio ambiente.

Bibliografia

BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo Científico no Brasil: aspectos teóricos e práticos. São Paulo: Instituto de Pesquisas de Comunicação Jornalística e Editorial. ECA/USP. Série Pesquisa/7, 1988.

LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em Comunicação. 5 ed. São Paulo: Loyola, 2001.

LOPES, Dirceu Fernandes. Jornal-Laboratório: do exercício escolar ao Compromisso com o público leitor. São Paulo: Summus, 1989.

MARCONI, Marina de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MAYOR, Federico, FORTI, Augusto (org.) Ciência e Poder. Campinas: Papirus, Brasília: Unesco, 1998.

OLIVEIRA, Fabíola. Jornalismo Científico. São Paulo: Contexto, 2002.

*Elizabete Mayumy Kobayashi é graduada em comunicação social com habilitação em jornalismo na Universidade do Vale do Paraíba - Univap.
E-mail: betek@univap.br

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