Ensaios
Pensadores
Jornalísticos Uspianos:
Prof. Hélcio Deslandes
Por
Paulo Sergio Pires
1.
Introdução
A Escola de Comunicações e Artes -ECA- da Universidade
de São Paulo -USP-, estabelecida em 1966 sob o nome de
Escola de Comunicações Culturais, se destaca por
ser uma instituição de ensino de alta qualidade
e possuir um corpo docente de altíssimo reconhecimento
acadêmico. Uma considerável parte dos paradigmas
hoje adotados nas escolas de comunicação social
do Brasil e América Latina foi desenvolvida por professores
e pesquisadores científicos desta entidade de ensino
superior.
Por
sinal, seus bancos acadêmicos recebem alunos não
só da América Latina, mas também da África
e da Europa. Os docentes, por seu lado, freqüentam cursos
de Pós-Graduação nos mais importantes centros
do saber comunicacional do planeta.
Até a presente data, a ECA dispõe de 22 habilitações
profissionais em cursos de graduação. Na área
de Comunicação social constam os programas de
Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Editoração,
Relações Públicas e Audiovisual. São
15 as habilitações destinadas às áreas
de artes. Há ainda cursos de Biblioteconomia e Turismo.
Ela mantém um curso técnico de formação
de ator, na tradicional Escola de Arte Dramática -EAD-,
incorporada a sua administração há algumas
décadas. A escola tem se notabilizado pelo forte investimento
pedagógico e cultural na reciclagem e atualização
dos métodos e o uso de novas tecnologias de ensino (Caldas,
s/d, p. 1-4).
Entre
os segmentos expressivos da organização estão
os núcleos de pesquisa. Afora o trabalho de investigação
científica, eles possuem estreito relacionamento com
a comunidade, efetuando significativas ações de
utilidade pública, freqüentemente em conjunto com
órgãos do governo. A área de Pós-Graduação
fomenta o intercâmbio cultural e investigativo, por intermédio
de instituições ou universidades conveniadas dos
Estados Unidos, França, Itália, Espanha, Alemanha
etc.
O
grupo inicial de docentes dessa instituição de
acordo com relato da primeira secretária-geral e ex-coordenadora
do Núcleo Nacional e Internacional da ECA, Marina Rector
(2003), era integrado essencialmente por professores da faculdade
de Filosofia, História e Letras da USP.
Outros contribuíram por sua vasta experiência profissional
de mercado. Da primeira geração constavam nomes
que se tornaram figuras de relevo da academia e da comunicação
social, nomes de destaque como por exemplo: José Marques
de Melo (primeiro Doutor em Jornalismo no Brasil), Flávio
Galvão, José Freitas Nobre (ex-presidente da Federação
Nacional dos Jornalistas e do Sindicato dos Jornalistas do Estado
de São Paulo, e Deputado Federal), Francisco Morel, Gaudêncio
Torquato Rego, Thomas Farkas, Juarez Bahia, Antonio Costella,
Gileno Marcelino, Alfredo Weissflog, Cremilda Medina e Hélcio
Deslandes.
Este
último, Hélcio Deslandes, foi o precursor do ensino
da diagramação e das artes gráficas aos
primeiros estudantes de jornalismo da ECA. Deslandes era engenheiro
arquiteto formado pela Universidade Federal de Minas Gerais
e tinha grande conhecimento em design, ilustração
e produção gráfica, vivenciado principalmente
na prática diária do mercado tanto no Brasil quanto
nos Estados Unidos. Era uma pessoa um tanto quanto introspectiva,
tímida, mas muito disciplinada e cortês com alunos
e colegas. Boa parte do tempo passava na gráfica da ECA,
onde verificava minuciosamente os trabalhos dos alunos de então.
Deslandes
não foi um produtor de obras acadêmicas no sentido
estrito, mas seguramente foi um grande contribuinte na formação
de novos profissionais e dos conceitos mais modernos da época
em comunicação visual aplicada ao jornalismo,
publicidade e à editoração.
2.
Objetivos
Nosso
ensaio tem como finalidade básica apresentar a contribuição
à ECA, ao jornalismo e à comunicação
social do trabalho desenvolvido pelo professor Hélcio
Deslandes. Este teve um papel muito relevante numa época
em que a diagramação ainda era uma especialidade
jornalística pouco difundida e vista com certo preconceito
por diversos profissionais do texto. O propósito deste
texto é narrar sua vida profissional e o quanto ele somou
na cultura visual-gráfica dos jornalistas, além
de publicitários e editores de livros. Vamos apresentar
ainda como o design gráfico é vital para o bom
jornalismo e como a Escola de Comunicações e Artes
se desenvolveu com o suporte de profissionais como Hélcio
Deslandes. Apresentaremos, por fim, conceitos elementares do
design gráfico e diagramação para melhor
compreensão do conjunto deste trabalho.
3.
Justificativa
A
disciplina Pensamento Jornalístico Brasileiro do curso
de Pós-Graduação stricto sensu da ECA está
resgatando, contextualizando e analisando o desenvolvimento
das idéias que marcaram o exercício profissional
e o ensino do jornalismo no Brasil. Está identificando
as contribuições críticas dos seus pensadores
emblemáticos.
Na
primeira fase dessa pesquisa foram analisados os pensadores
clássicos do jornalismo brasileiro, entre eles, Barbosa
Lima Sobrinho, Rui Barbosa, Carlos Lacerda, Danton Jobim, Carlos
Lacerda, Luiz Beltrão e Alceu de Amoroso Lima. Nesta
outra etapa, estão sendo pesquisados os pensadores jornalísticos
uspianos. E na área do jornalismo gráfico o primeiro
docente da USP foi o professor Hélcio Deslandes. O resgate
de perfis dos pioneiros da ECA se faz necessário para
que a memória do jornalismo brasileiro fique mais amplificada
e solidificada. Se há afirmações de que
o Brasil é um país não muito atento a suas
reminiscências, este opúsculo, mesmo que sintético
e limitado, pretende ser uma resposta em contrário oferecendo
uma breve contribuição.
4.
Tema
4.1.
Fase Inicial da Escola de Comunicações Culturais
Um dos mais eminentes diretores da ECC/ECA, José Marques
de Melo (2003. p.162), citando Luna Cortés relata em
seu livro Jornalismo Brasileiro que os programas universitários
de formação de comunicadores sociais desenvolveram-se
na América Latina paralelamente ao processo de industrialização.
O
crescimento do consumo se ligava ao fornecimento de informações
pelas empresas geradoras de produtos jornalísticos, diversionais
ou persuasivos. No entanto, não havia recursos humanos
suficientemente capazes para operar esse bem simbólico.
Para atender essa demanda surgem escolas especializadas dentro
de universidades latino-americanas.
No princípio como relata Rector (2003), a Escola de Comunicações
Culturais -ECC- ficava no 2º andar da antiga reitoria e
ocupava apenas metade do pavimento. Parte era para a administração
e sala de aulas e parte era ocupado pelo estúdio da TV
Educativa da USP. O início das atividades da escola foi
muito precário. Havia muita atividade político-estudantil
e até sofreu uma invasão. Com o crescimento da
Escola passou a fazer parte de sua estrutura um barracão
de madeira, onde ficou o Departamento de Música e a Escola
de Arte Dramática.
Em
1973, após a cidade de São Paulo desistir da organização
dos Jogos Panamericanos, o que seriam os dormitórios
dos atletas nos blocos A, B, e C foram incorporados à
ECC. Assim ficou até 1987, quando começou o movimento
para novas obras de expansão e construção
de novos prédios e do teatro.
O
departamento de Jornalismo da ECC foi criado em 5 de fevereiro
de 1968, por meio de Resolução do Conselho Universitário.
As aulas da cadeira "Técnica e Prática de
Jornal e Periódico" começaram em março
marcando o início do curso (ECC, 1968, p. 4.). O programa
de atividades foi desenvolvido por seu primeiro diretor, o professor-regente
José Marques de Melo, submetendo-o primeiramente à
análise dos professores de jornalismo e da própria
direção da escola. As atividades do Departamento
conforme as diretrizes apresentadas pela diretoria envolviam
os aspectos de ensino, pesquisa e experimentação,
e extensão cultural.
No
âmbito do ensino, o Departamento coordenava a cadeira
de "Técnica e Prática de Jornal e Periódico"(
integrada ao currículo do segundo ano de Jornalismo)
e programou as diretrizes básicas para o estabelecimento
de outras disciplinas para os anos seguintes. Na área
de pesquisa, os primeiros trabalhos se voltaram para a instalação
de um arquivo de documentação jornalística,
de um museu da imprensa, de um centro de pesquisa de Jornalismo
Comparado e de uma hemeroteca. No que se refere ao setor experimental,
foram iniciados a Agência Universitária de Notícias
-AUN- e o jornal-laboratório.
No
setor de extensão cultural, o Departamento promoveu o
intercâmbio entre várias instituições
acadêmicas brasileiras e internacionais, além de
editar publicações, organizar conferências
e realizar assessoramento técnico.
Depois de um início com dificuldades características
da fase de implantação, o ano de 1969 significou
o começo da consolidação do Departamento
de Jornalismo na Escola de Comunicações Culturais
da USP. Foi marcado pela formulação de diretrizes
no campo pedagógico e também pela instalação
da infra-estrutura de serviços específicos para
formação profissional de jornalistas. Na estrutura
didática da ECC ficou estabelecido um currículo
com disciplinas instrumentais para os segundo e terceiros anos
do curso de jornalismo.
Além
do prof. José Marques de Melo, regente da disciplina
de "Técnica de Jornal e Periódico",
o departamento contou com a colaboração dos docentes:
Gaudêncio Torquato Rego (professor instrutor da cadeira
Técnica de Jornal e Periódico I), Flávio
Galvão (professor colaborador de Técnica de Jornal
e Periódico II), Hélcio Deslandes (professor instrutor
de Artes Gráficas e Diagramação), José
Freitas Nobre (professor de disciplina de História da
Imprensa) e Thomas Farkas (professor instrutor de Fotografia
e Fotojornalismo).
As
disciplinas eram ministradas com atividades teóricas
(exposições em salas de aulas, grupos de estudos
ou seminários) e prático (realização
de trabalhos nos laboratórios da USP). No final do segundo
semestre, implementava-se o jornal laboratório com edições
quinzenais. A disciplina de Fotografia e Fotojornalismo desenvolvia
suas aulas práticas no laboratório fotográfico
do Serviço de Documentação da Reitoria
da USP. Já a disciplina de Jornalismo Audiovisual utilizava
o equipamento da TV Educativa USP. Em 1969, freqüentaram
o curso de Jornalismo, 53 alunos dos quais 21 no terceiro ano
e 32 no segundo ano.
Ficou
constatado que o índice de profissionalização
observado entre os alunos matriculados era o início da
valorização dos profissionais de nível
universitário entre as empresas jornalísticas
de São Paulo. Em regime normal de trabalho, estavam atuando
aproximadamente 65% dos alunos do terceiro ano e cerca de 44%
dos alunos do segundo ano. O aluno Ethevaldo Mello Siqueira
(terceiro ano), por sinal, recebeu menção honrosa
do Prêmio Esso de Jornalismo, em 1969.
Mesmo
com a gráfica equipada (constituída de tipografia,
linotipo, máquina de tirar provas, guilhotina, máquina
de grampear, mesa de paginação, mesa de retoques
etc.), sua instalação não foi efetivada
por falta de espaço físico. A inauguração
do novo prédio da Escola de Comunicações
Culturais havia atrasado e adiou a instalação
do equipamento para o ano seguinte. Ainda que por ora não
havia espaço disponível estavam sendo incorporadas
outras máquinas: impressora offset, dobradeira em cruz
e fotolito.
O Departamento de Jornalismo programou a publicação
de cinco edições piloto de um periódico
quinzenal (jornal) tratando de assuntos relacionados com diversos
setores da Comunicação de Massas. A publicação
circularia entre alunos e professores da faculdade, além
de ser enviada para outras escolas de jornalismo e comunicação.
Outro projeto parecido foi o Jornal da ASUSP. O veículo
era destinado aos funcionários da USP. Editado desde
1968 sob a supervisão técnica do Departamento
de Jornalismo, foi produto de um convênio com a Associação
dos Servidores da USP. Coordenada pelos professores de Artes
Gráficas e Diagramação e de Técnica
de Jornal e Periódico I, a equipe de alunos do segundo
ano preparou três edições em 1969.
Na
cadeira de Jornalismo Audiovisual, os alunos produziram dentro
da TV Educativa da USP programas noticiosos para rádio
e televisão. Foram gravados, em 1969, quatro programas
de radiojornalismo, no primeiro semestre e 5 telejornais no
segundo semestre. Para sua realização, o Departamento
contou com a assessoria e coordenação do monitor
Walter Sampaio, que mais tarde viria a ser professor.
As
atividades experimentais de fotojornalismo também passaram
a se desenvolver com maior intensidade. O laboratório
fotográfico do Serviço de Documentação
foi disponibilizado integralmente aos sábados e os alunos
puderam manejar os equipamentos de revelação,
ampliação, montagem, retoque de fotos etc. Houve
também projetos de documentação fotográfica
e a proposta da I Exposição de Fotografia Jornalística
da ECC, cujos melhores trabalhos seriam apresentados no início
de 1970. A orientação seria do professor Thomaz
Farkaz.
No
ano de 1969, o professor Hélcio Deslandes supervisionou
várias publicações editadas pelo Departamento
de Jornalismo entre as quais estavam os Boletins do Departamento
de Jornalismo, Introdução a McLuham (Benedito
Ferri de Barros), Hipólito da Costa - Ação
Social e Política do Correio Braziliense (Carlos Rizzini),
A Reforma do Ensino de Jornalismo (José Marques de Melo),
e a Bibliografia Brasileira da Pesquisa em Comunicação
(José Marques de Melo). Individualmente, professores
do Departamento publicaram vários artigos e ensaios.
Entre 9 e 13 de junho, o Departamento promoveu a I Semana de
Estudos de Jornalismo, tendo como tema central o jornalismo
sensacionalista. No aspecto de extensão cultural, o setor
promoveu uma série de palestras e conferências,
convidando inicialmente professores da própria escola
e depois profissionais e especialistas de diversas áreas
da comunicação jornalística.
Em
1970, com a reforma universitária estabelecida pelo Decreto
52.326, de 16 de dezembro de 1969, a Escola de Comunicações
Culturais passou a ser denominada Escola de Comunicações
e Artes e seu Departamento de Jornalismo foi ampliado para Departamento
de Jornalismo e Editoração. Até abril de
1970, o professor e diretor da escola José Marques de
Melo foi também seu coordenador. Neste ano, o departamento
oferecia as seguintes disciplinas para o curso de Jornalismo:
Jornalismo Comparado, Artes Gráficas e Diagramação,
História da Imprensa, Jornalismo Informativo e Interpretativo,
Jornalismo Opinativo e Funções de Direção
e Secretaria, Fotografia e Fotojornalismo, Jornalismo Audiovisual,
Ética e Legislação de Imprensa, Administração
de Empresas Jornalísticas e Jornalismo Especializado.
Frente
aos atrasos da instalação dos laboratórios,
as atividades experimentais do departamento sofreram algumas
limitações em 1970. Mas o departamento se concentrou
durante o primeiro semestre na implementação da
gráfica e do laboratório fotográfico, cujo
equipamento havia sido adquirido, nos anos anteriores e também
naquele ano. A gráfica passou precariamente a funcionar
em meados do primeiro semestre, mas no final do ano letivo já
se encontrava em condições de executar os projetos
dos diversos cursos na área impressa. A partir de 1971,
a gráfica estaria em condições de trabalhar
não apenas para o departamento, mas também para
terceiros. Assim, o equipamento não ficaria ocioso em
certos períodos e a renda obtida seria revertida para
a manutenção do equipamento.
O
jornal laboratório se tornou o projeto básico
dos cursos de jornalismo opinativo e funções de
direção e secretaria no jornalismo. Mas também
foram desenvolvidos outros veículos como a revista K,
o Boletim de Notícias e o jornal Mural da USP.
Em 1970, foi diplomada a primeira turma de bacharéis
em jornalismo, com índice satisfatório de profissionalização
dos alunos. Se encontravam em atividade 16 ex-alunos dos 21
que se formaram. O engajamento foi notado também no terceiro
ano. Da turma de 21 alunos, 15 já estavam exercendo a
profissão. Já os discentes do segundo ano, dos
45 que o concluíram, 18 deles estavam atuando em empresas
jornalísticas. Em 1970, foram profissionalizados 80%
dos alunos do quarto ano, 76% dos alunos do terceiro ano e 40%
dos alunos do segundo ano.
Com
vistas a atender as novas determinações do Conselho
Universitário da USP para desenvolver a carreira universitária,
o departamento incentivou seus professores a defender teses
de doutoramento. O professor Freitas Nobre, por exemplo, se
doutorou pela Universidade de Paris com a tese: "O Direito
e Economia da Informação". Também
se doutoraram os professores José Marques de Melo, Flávio
Galvão, Gaudêncio Torquato Rego, Hélcio
Deslandes e Thomas Farkas. Deslandes defendeu um trabalho sobre
as artes gráficas, tendo como orientador o professor
Walter Zanini, Livre-Docente da ECA.
Em
1971, a ECA diplomou sua segunda turma de bacharéis em
Jornalismo. Dos 22 diplomados, 16 estavam profissionalizados,
exercendo funções jornalísticas. Outros
três já haviam desempenhado essas funções
e estavam ocupando cargos públicos de melhor remuneração.
Um grupo de três formados recebeu ofertas de trabalho
mas não as aceitou por seus integrantes estarem cursando
outras faculdades. As estatísticas davam conta que 72%
dos formados eram jornalistas profissionais e 14% exerceram
essas atividades. Um total de 86% dos formados tiveram experiência
na carreira.
Com
respeito aos concluintes dos sexto semestre, verificou-se que
45% estavam profissionalizados, com alguns trabalhando em mais
de um a empresa. Um grupo constituído por 55% dos alunos
declarou que nunca havia trabalhado, mas garantia que não
era por razões que comprometiam o curso. Várias
empresas contataram o Departamento oferecendo trabalho e estágio
remunerado aos alunos. De outra parte, diversos egressos da
turma de 1970 haviam ocupado chefias em empresas jornalísticas
e outros foram contratados por assessorias de imprensa de empresas
públicas.
Em
1972, dos 33 alunos do oitavo semestre, dois estavam atuando
como jornalistas profissionais, regularmente registrados. Uma
dezena também trabalhava em empresas jornalísticas,
já contratados. Como free-lances havia cinco estudantes
e sete eram estagiários. Apenas três nunca tinham
trabalhado em jornalismo. Seis fizeram alguns trabalhos esporádicos
na área, mas não ficaram ligados a nenhuma empresa.
Portanto, 24 tiveram efetiva profissionalização.
Percentualmente, esses números significavam que 72% obtiveram
profissionalização efetiva e apenas pouco menos
que 10% nunca trabalharam na área. Do sétimo semestre,
cerca de metade já havia estagiado ou feito estágios
em empresas jornalísticas. No curso de Editoração,
dos sete alunos dois estavam contratados por editora, um fazia
estágio e outros dois eram monitores.
Sob
a coordenação da professora Cremilda Medina, a
Agência Universitária de Notícias -AUN-
passou em 1972 por uma transformação decisiva.
Seus boletins entraram em periodicidade rigorosa, com 33 edições
semanais, além de seis edições extras,
durante a IV Semana de Estudos de Jornalismo e um boletim especial
para a I Semana de Estudos de Editoração. O órgão
laboratório deixou de estar preso à disciplina
de Jornalismo Informativo (semestral) para funcionar o ano inteiro.
Por meio de convênio com o CIMPEC (Centro Interamericano
de Produção de Materiais Educativos) e órgão
da OEA foram admitidos um repórter e uma redatora. A
partir da edição de número 25 , os boletins
passaram a incluir o serviço especial do CIMPEC, distribuindo
materiais sobre educação, ciências e tecnologia,
além de continuar a cobertura na USP. O serviço
era enviado a jornais da capital e interior e principais jornais
de outros estados.
Em
1972, os alunos do sexto semestre de jornalismo e rádio
e TV, sob orientação do professor Walter Sampaio,
produziram 33 programas para rádio, num total de oito
horas e dezoito minutos. Cada equipe realizou noticiosos de
uma hora e vinte três minutos. Enquanto isso, os alunos
do sétimo semestre de jornalismo também sob orientação
de Sampaio produziram 25 programas, com vinte e dois minutos
cada, além de três de vinte e cinco minutos.
O total gerado nos programas tais como documentários
e noticiosos foi de seis horas e quarenta e cinco minutos.
Nesse início da década de 70, ou seja, a fase
introdutória da escola, juntamente com a intensa atividade
das aulas foi expressivo o volume de pesquisas produzidas, cursos
de Pós-Graduação, aperfeiçoamento,
extensão cultural, eventos, intercâmbios e viagens
de estudos, levantamentos de acervo de imprensa, pesquisas exploratórias,
debates, seminários, conferências e palestras,
edição de livros acadêmicos, publicações
entre outras atividades.
Um
fato importante a destacar foi que a ECA se tornou a pioneira
no país no ensino de Pós-Graduação
em Comunicação, iniciando em 1972 um curso de
mestrado. Outra atividade de relevo da escola foi a edição
de publicações em todos os setores da Comunicação
e das Artes, que ofereciam aos seus alunos, aos profissionais,
bem como profissionais, professores e estudantes de outras instituições
do ensino da Comunicação, textos atualizados,
nacionais e estrangeiros, que serviam de apoio ao desenvolvimento
de estudo teórico e prático nas áreas nas
quais a bibliografia em circulação era restrita
ou até inacessível (Marques de Melo, 1974, p.
61).
4.2.
Comunicação visual, design e produção
gráfica, e diagramação
O professor Hélcio Deslandes foi um dos introdutores
do ensino da diagramação e das artes gráficas
nos cursos de jornalismo numa época em que havia pouquíssima
bibliografia em português sobre o assunto. A então
Escola de Comunicações Culturais levou algum tempo
até montar sua própria biblioteca. A estrutura
nos primeiros anos era rudimentar, mas não reduziu o
entusiasmo dos professores em ensinar. Por todas essas dificuldades,
Deslandes teve de empreender um esforço muito grande,
apesar desde o início poder contar com uma gráfica
doada com bons equipamentos (Rector, 2003).
Para
entender o trabalho de Deslandes é preciso ter uma visão
conceitual de seu objeto. A comunicação visual
está praticamente em tudo que o que os olhos vêem,
como por exemplo, numa nuvem, numa flor, num desenho técnico,
num sapato, num panfleto, ou numa bandeira. Porém essas
imagens têm valores diferentes conforme a situação
em que estão inseridas dando informações
diferentes. Suas mensagens podem ser uma comunicação
casual ou intencional (Munari, 1968, p.87). A casual é
a nuvem que passa no céu, não com a intenção
de advertir que um temporal está para chegar. Por sua
vez, a intencional é aquela em que uma série de
nuvenzinhas de fumo é feita deliberadamente pelos índios,
por intermédio de um código preciso, para comunicar
uma informação precisa.
De
sua parte, a comunicação casual pode ser entendida
livremente pelo receptor, podendo ser uma mensagem científica,
estética ou de outra natureza. A comunicação
intencional deve ser recebida na totalidade do significado pretendido
pela intenção do emissor. A comunicação
visual intencional poderia ser analisada pelo lado da informação
estética ou da informação prática.
Entende-se por informação prática, sem
componente estético, por exemplo, um desenho técnico,
a fotografia do repórter, as notícias visuais
da TV ou um sinal de trânsito. Por seu turno, a informação
estética significa que uma mensagem tem de informar,
por exemplo, as linhas que compõem, numa forma, as relações
volumétricas de uma construção tridimensional,
as relações temporais visíveis de transformação
de uma forma em outra (a nuvem que se desfaz e muda de forma).
Como
descreve Munari (1968) a comunicação visual acontece
por meio de mensagens visuais. Elas fazem parte de uma grande
família das mensagens que atingem os sentidos (sonoras,
térmicas, dinâmicas etc.). Portanto, um emissor
emite mensagens que um receptor recebe, no entanto, este último
está imerso num ambiente perturbado, que pode alterar
ou anular certas mensagens. Um exemplo disso seria um sinal
vermelho num ambiente no qual haja predominância da luz
vermelha.
A
luz ficaria quase anulada. Outro caso típico: um índio
que transmite sua mensagem com nuvens de fumo pode ser perturbado
por um temporal.
Caso a mensagem seja bem projetada, evitando qualquer deformação
no decorrer da emissão, chegará no receptor, mas
encontrará outros obstáculos. Todo receptor possui
a seu modo algo que se poderia definir como filtros, através
dos quais a mensagem terá de passar e ser recebida. Um
deles é de natureza sensorial. Um daltônico não
observa certas cores, portanto, as mensagens específicas
na linguagem cromática são modificadas ou até
anuladas. Outro exemplo de filtro é o do tipo operativo.
Este depende das características que constituem o receptor.
Um exemplo: uma criança de três anos analisa uma
mensagem de maneira muito diferente de um indivíduo maduro.
O terceiro filtro é o cultural. Muitos ocidentais não
entendem a música oriental como música, porque
não corresponde as suas normas culturais. A música,
para eles, "deve ser" a que sempre ouviram desde criança
e não outra coisa.
Os
três filtros descritos não são a rigor diferentes
e subseqüentes na ordem apresentada. Eles podem ser inversos
ou interativos. No caso de a mensagem atravessar a zona de perturbações
e dos filtros e chegar a zona interior do receptor, denominada
emissor do receptor. Esta área pode emitir dois tipos
de resposta à mensagem recebida, uma interior ou exterior.
Se a mensagem visual dizer: "aqui é um bar",
a resposta exterior manda o indivíduo beber enquanto
resposta interior diz: "não tenho sede".
A diagramação gráfica é uma importante
forma de comunicação visual. No início
o trabalho de diagramação era feito pelo próprio
paginador, que utilizava sua experiência para fazê-la.
No entanto, com o desenvolvimento das empresas jornalísticas
passou do campo artesanal para o campo da especialização,
e de todo jornal, qualquer que fosse o processo gráfico
deveria ter seu próprio departamento de arte como observa
Collaro (1987, p.87).
Ele
explica o papel da diagramação na indústria
jornalística moderna e como pode contribuir para tornar
os produtos impressos mais atraentes:
"A diagramação desenvolve o seu trabalho
com vistas à disposição da matéria
levando em conta o aproveitamento do texto, o destaque, a atração,
a forma, a estética, conjugando o conteúdo com
a apresentação gráfica. Atualmente os jornais
modernos, ao dedicarem atenção especial à
diagramação, agem atendendo um impulso de duplo
sentido: o primeiro, identificando o leitor com o progresso
das artes gráficas; o segundo, valorizando o texto com
o bom-gosto da distribuição, ordenação
que atende a sensibilidade plástica e o espírito
jornalístico que acompanha o dinamismo do trabalho jornalístico."
O
termo diagramação como define Silva (1985, p.41)
é resultante da palavra diagrama, do latim diagramma,
que significa desenho geométrico usado para demonstrar
algum problema, resolver alguma questão ou representar
graficamente a lei de variação de um fenômeno.
Ele cita Rabaça e Barbosa para quais "diagramar
é fazer o projeto da distribuição gráfica
das matérias a serem impressas (textos, títulos,
fotos, ilustrações etc). De acordo com determinados
critérios jornalísticos e visuais. Distribuir
técnica e esteticamente, em um desenho prévio,
as matérias destinadas à impressão".
No
curso de artes gráficas e diagramação,
o professor Hélcio Deslandes utilizava o livro texto:
A diagramação e a confecção de um
periódico, de Luka Brajnovic (1970). Em suas páginas
o autor alerta para o fato de que a posição ou
colocação de um texto pode ser estudada tanto
para averiguar as razões quanto os efeitos produzidos
pelo fato de que um texto figurar em uma determinada página
e não em outra, e em determinado lugar dentro da página
(acima, abaixo, à direita e à esquerda). Nesse
aspecto, a titulagem é interessante para analisar sua
importância real (dimensão, caracteres usados etc),
sua importância relativa (em comparação
com outros títulos) e seu conteúdo ou redação.
A década de 70, época da solidificação
da ECA, foi também o período de um novo interesse
no design de jornais, um interesse que se estendeu às
salas de redação dos jornais de todos os tamanhos.
Um interesse que se manifestava de várias formas, mas
que se refletia principalmente no número cada vez maior
de diários e semanários que haviam mudado seu
visual, e também na participação de redatores
em seminários e cursos que haviam aumentado seu interesse
nos aspectos gráficos (Garcia,1981, p.12).
4.3
História de vida de Hélcio Deslandes
O
diretor da ECC, Júlio Garcia Morejo, em janeiro de 1968,
solicitou a autorização à reitoria da USP
para contratação em regime de serviços
especiais, sem vínculo jurídico de caráter
empregatício por quatro meses até abertura de
concurso, o engenheiro arquiteto Hélcio Deslandes. Era
para prestar serviços à Escola de Comunicações
Culturais na qualidade de diagramador do jornal-laboratório
e como assessor de artes gráficas do Departamento de
Jornalismo. A jornada somava 44 horas semanais. A secretaria
da escola estava ainda estudando normas para o concurso. Havia
previsão para o jornal-laboratório circular nos
meses de março e abril de 1968.
"Trata-se
de um profissional experiente com 15 anos de atividades em arte
publicitária e jornalística, conhecendo detalhadamente
processos de impressão tipográfica e 'off-set'",
escrevia o professor Julio Garcia Morejón ao então
reitor Alfredo Buzaid, diretor da Faculdade de Direito, que
estava respondendo pela reitoria.
Como documenta o Processo de Contrato de Trabalho da USP, em
23 de janeiro de 1968, o professor Deslandes era contratado
até que fosse feita abertura de concurso. Este contrato
viria a ser prorrogado em caráter excepcional em abril
e em setembro daquele ano. No ano seguinte mais uma prorrogação
em janeiro. Em 1969, o diretor Antonio Guimarães Ferri
solicitou a contratação de Hélcio para
exercer a função de instrutor, junto à
disciplina de artes gráficas e diagramação
por um ano. Também exerceria a função de
diagramador do jornal laboratório e assessor de artes
gráficas do Departamento de Jornalismo.
Natural
de Belo Horizonte, Deslandes nasceu em 21 de julho de 1929.
Fez o antigo curso primário e ginasial no ginásio
Municipal de Itajubá em Minas Gerais. Concluiu o curso
colegial no Instituto Gammon em Lavras. Era formado pela Escola
de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais, turma de 1960.
Sua carreira profissional antes da ECC já era muito rica.
Trabalhou em publicidade como diretor de arte da Starlight Propaganda
em Belo Horizonte (1951-1960). Foi layoutman da agência
Standard Propaganda e da Mccann Erickson (1962-1963) naquela
cidade. E atuou como diagramador para off-set e diretor de arte
no Serviço de Imprensa e Propaganda da capital mineira.
Em outubro de 1961, passou a fazer parte da equipe de diagramação
do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. O profissional foi estagiário
da Editora Bloch e depois diagramador de revistas dessa empresa.
Entre 1964 e 1965, já em São Paulo, esteve na
função de diretor de arte na Head Line Propaganda.
No Instituto Adventista de Ensino, na capital paulista, ocupou
o cargo de assessor de artes gráficas (1965-1968).
Deslandes desenvolveu trabalhos como capista e ilustrador para
a Editora Brasiliense e Editora Martins, em São Paulo.
Como arquiteto projetou residências em Belo Horizonte,
São Paulo e Campinas e até elaborou projetos de
igrejas nestas mesmas cidades. Era um membro destacado da Igreja
Adventista do Sétimo Dia.
Dentre
suas atividades artísticas do início de sua carreira,
constam participações em salões de artes
plásticas da UEE e nos salões de Arte da Prefeitura
de Belo Horizonte. Esteve presente no XVI Salão Paulista
de Arte Moderna -1967- e IX Bienal de São Paulo (1967).
Também participou do III Salão de Arte Contemporânea
de Campinas naquele mesmo ano. Esteve no IV Salão de
Arte Contemporânea de Campinas e no Salão de Arte
Contemporânea de São Caetano. Ambos ocorridos no
ano de 1968.
O curso de artes gráficas do professor tinha 14 horas-aula
por turma com duração de agosto a outubro. O trabalho
envolvia o planejamento gráfico e a coordenação
de paginação e impressão do "Jornal
da Asusp", órgão laboratório dos alunos
do curso de jornalismo. As atividades através do jornal-laboratório
lhe permitiram experimentar novas formas de diagramação
e apresentação gráfica.
Em
seus estudos de comunicação visual, preparou "bonecos"
para jornais tablóides e micro-jornais, criou logotipos,
cartazes e material publicitário para uma campanha de
lançamento do jornal-laboratório, além
da escolha de tipos e material gráfico complementar.
Em 1968, o professor fez diversos estudos no campo da ilustração
e da preparação da capas. Trabalhou na criação
de 12 capas para publicações editadas pelo Departamento
de Jornalismo, em mais quatro capas para o Boletim do Departamento
de Jornalismo, além do logotipo e da folha de rosto da
Agência Universitária de Notícias -AUN-.
Um dos seus primeiros textos de divulgação foi
a tradução de artigo sobre o desenvolvimento histórico
das artes gráficas, que seria publicado no Boletim do
Departamento de Jornalismo número 4.
Realizou
ainda serviços de planejamento gráfico, "lay-out"
e arte-final para criação de vários produtos,
entre os quais: a marca símbolo da Asusp, três
capas para a revista da ECC, 13 ilustrações para
um estudo da professora Francesca Cavalli, e a lauda-padrão
do Departamento. Fez diversos desenhos e gráficos para
a aula inaugural da ECC, atendendo solicitação
do Departamento de Rádio e TV. Elaborou gráficos
para trabalho do professor José Marques de Melo que viria
a ser publicado na revista da ECC. Desenhou etiquetas para salas
de aulas da ECC e seus departamentos, letreiros para o Departamento
de Cinema (filme sobre o ginásio vocacional) e o cartão
de Natal da direção da escola.
O professor foi o responsável pela escolha de tipos para
o linotipo, tipografia e indicação de equipamentos
por meio de contatos com firmas especializadas. Fez a coordenação
gráfica da revista K, órgão especializado,
com o intuito de integrar alunos e ex-alunos da ECA, bem como
profissionais de comunicação.
E
complementando, prestou assessoria gráfica à Revista
Comunicações e Artes, periódico trimestral
oficial da ECA, editado em convênio com a Empresa Revista
dos Tribunais.
Em dezembro de 1969, Deslandes se inscreveu para o doutoramento.
Seu orientador era o professor Walter Zanini. Em 1972, se afastou
por dois anos a fim de realizar estudos de Pós-Graduação
nos Estados Unidos. Naquele país, com sua experiência
em artes plásticas, arquitetura, design e ilustração,
trabalhou como free-lance na região da grande Washington,
onde morava. Atuou nessa condição até 1973,
quando foi admitido no Departamento de Arte da Review and Herald
Publishing Association como designer. Depois ocupou a função
de coordenador de arte.
No
campo da ilustração fez várias pesquisas
com diversos materiais: lápis, guache, pastel, aquarela,
tissue paper e pincéis de pontas de feltro com tinta
à base de óleo ("makers"). Teve acesso
a diversas técnicas, processos e problemas das etapas
da produção editorial que de outra forma se apresentariam
como objetos de contemplação apenas teórica.
Em sua atividade profissional esteve envolvido em trabalhos
de equipe com editores e representantes do Departamento de Produção
(Book Department). Isso lhe garantiu grande experiência
no setor de editoração.
Além
das responsabilidades designadas pelo Departamento de Arte da
Review and Herald de coordenar e assistir o departamento, sua
grande preocupação era com sua atualização
e atenção nas novidades do campo da tipografia
(desenho de tipos, empregos, processo e problemas concernentes
à composição, especialmente à frio).
Nos Estados Unidos participou ainda de diversos workshops, seminários
e encontros de arte. Em 1973, Deslandes fez palestra sobre lay-out
e design no Departamento de Arte da Columbia Union College,
em Maryland. Acabou concluindo um curso com duração
de dois anos na Corcoran School of Art em comunicação
visual.
Na
sua estada nos Estados Unidos houve projetos paralelos de trabalho
ao da Editora Review anda Herald. Como free-lance, no primeiro
ano na América, teve oportunidade de produzir uma coleção
de cinco livros ricamente ilustrada para Editora Melhoramentos,
com a finalidade de incentivar e motivar a criatividade no campo
da redação e ilustração nas crianças
do curso primário. O trabalho era em "full color",
altamente moderno e funcional.
Criou
e produziu o símbolo que seria usado nacionalmente durante
o bicentenário dos EUA para a organização
dos Pathfinders. Em 1975, foi convidado pela conceituada revista
suíça Graphis para apresentar a seleção
e publicação dos melhores trabalhos produzidos
naquele ano. Lamentavelmente, por várias razões,
não pôde atender a solicitação daquele
anuário. Em julho de 1975 esteve reunido em Viena na
Áustria, no Congresso Mundial da Igreja Adventista do
Sétimo Dia. Para o conclave desenvolveu o back-drop do
salão de reuniões, material de promoção
(folheto full-color), ricamente ilustrado e ainda dois tipos
de relatórios. Além disso, projetou o estande
para a representação norte-americana. Em agosto
de 1975, ele e sua equipe foram os autores do projeto de diagramação
da revista mensal "Ministry", que sofrera reformulação.
E por fim, na 16ª Exposição Nacional (Editorial
e Livro) da Society of Illustrators, o profissional foi um dos
três representantes de seu departamento.
Em
julho de 1976, retornou ao Brasil. O regresso coincidiu com
a expiração da licença de afastamento,
sem vencimentos. Naquele ano voltou a lecionar artes gráficas,
diagramação, técnica de ilustração,
produção gráfica e editorial no curso de
Editoração da ECA. No mesmo período, atendendo
convite do professor Gaudêncio Torquato Rego, então
diretor do Departamento de Jornalismo da Faculdade Cásper
Líbero, passou a ministrar o curso de Jornalismo Gráfico
na instituição. No ano seguinte, também
lecionou artes-gráficas aos alunos de Publicidade e Propaganda
daquela faculdade.
De
1976 a 1979, o professor desenvolveu inúmeros projetos
de design e ilustração. Entre eles se destacam:
planificação gráfica, diagramação,
produção e ilustração das revistas
Rol do Berço, Jardim da Infância, Primárias,
Adventista, Ministério, Mocidade e do jornal Adventista.
Também elaborou cartazes promocionais, e as capas de
livros Fundadores da mensagem; Ciência do bom viver; Mundo
em que vivemos; Perguntas que eu faria a Irmã White,
Satisfação, Inspiração Juvenil e
Ensinar. Criou o símbolo para o Museu da Bíblia.
Além de outros inúmeros trabalhos. Atualmente,
o professor Hélcio Deslandes mora em Maryland, nos Estados
Unidos.
5.
Conclusão
A
Escola de Comunicações e Artes da USP teve um
papel preponderante no aperfeiçoamento dos profissionais
midiáticos brasileiros. A instituição desenvolveu
um projeto acadêmico que contemplava não apenas
o conhecimento stricto do jornalismo, mas seu sentido lato.
Por tal razão, desde os primórdios, a diagramação
e as artes gráficas figuravam em seu curriculum. Desta
maneira, os egressos quando entraram no mercado de trabalho
souberam entender a simbiose entre a palavra escrita, a imagem
e o espaço em branco. Compreenderam que não se
pode fazer jornalismo impresso sem seu suporte o papel, a escrita
e a principalmente a imagem.
O
professor Hélcio Deslandes além de ser o introdutor
da disciplina da ECA, soube se aperfeiçoar profissionalmente
e academicamente, não deixando que seus alunos ficassem
defasados em relação às novidades do setor
gráfico. Deslandes também criou discípulos
que deram continuidade ao seu trabalho. Nos produtos por ele
elaborados demonstrou sua versatilidade, transitando sem preconceitos
entre os mais diversos segmentos da comunicação
visual: o design gráfico, a diagramação
de jornais, livros e revistas, e a criação publicitária.
Além disso, exerceu a arquitetura ampliando a dimensão
de seu trabalho.
Mesmo
encontrando condições adversas próprias
do início de uma escola, ele não esmoreceu frente
à falta de bibliografia especializada, e de instalações
adequadas. Pelo contrário, esta situação
ao que tudo indica lhe serviu como desafio e soube mostrar como
superá-lo.
A diagramação hoje se consolidou como especialidade
jornalística. E muitos alunos dos cursos de comunicação
acabam descobrindo esta atividade apenas durante decorrer do
curso. Acreditamos que além de ter ajudado a solidificar
a cultura profissional genérica de todos os bacharéis
de comunicação, Deslandes tenha influenciado a
formação de especialistas em traçar belas
páginas de periódicos e publicações;
desenvolver projetos gráficos impactantes, e elaborar
peças criativas. No entanto mais do que tudo isso ele
foi um mestre em dar vida e beleza às formas.
6.
Referências Bibliográficas
BRAJNOVIC,
Luka. A diagramação e a confecção
de um periódico. São Paulo, ECA, 1970.
CALDAS, Waldenyr (coord.), ECA USP, São Paulo, folheto
institucional, s/d.
COLLARO, Antonio Celso. Projeto Gráfico. São Paulo,
Summus, 1985.
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES CULTURAIS. Departamento
de Jornalismo. Atividades do Departamento de Jornalismo: Relatório
de Atividades 1968-1973. São Paulo: ECC, 1973.
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES CULTURAIS. Departamento
de Jornalismo, Processo de Contrato de Trabalho nº 68.1.996.1.6.,
caixa 3481, seção ECA (SUPES-27), São Paulo,
ECA, s/d.
GARCIA, Mario R.. Diseño y remodelación de periódicos.
Pamplona, Ediciones Universidad de Navarra, 1984.
MARQUES DE MELO, José. Jornalismo Brasileiro. Porto Alegre,
Sulinas, 2003.
___________________. Contribuições para uma pedagogia
da comunicação. São Paulo, Paulinas, 1974.
MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual. São
Paulo, Martins Fontes, 1968.
RECTOR, Marina: depimento [out. 2003]. Entrevistador: Paulo
Sergio Pires. São Paulo. ECA, 2003, 1 fita cassete (60
min.) 3 1/4 pps, estéreo.
SILVA, Rafael Souza. Diagramação: o planejamento
visual gráfico na comunicação impressa.
São Paulo, Summus, 1985.
Voltar
|