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Dossiê

QUARUP - parte 11

Os alunos e ex-alunos de Jair Borin prestariam também a última homenagem ao mestre e amigo. Lídia Gurgel Neves, aluna de graduação, representou a turma com um texto escrito em conjunto por todos colegas da classe e que foi lido com muita emoçao:


Ao grande educador e jornalista,
Professor Jair Borin

Por Lidia Gurgel Neves*

Queremos aqui homenagear o amigo, professor, companheiro que perdemos. Sim, o Jair Borin era tudo isso. Em primeiro lugar, uma pessoa atenciosa, que desde o primeiro semestre de aulas chamava seus alunos pelo nome.

Que sempre que podia - e às vezes também quando não podia - parava para falar conosco sobre aulas, trabalhos, movimentos, assuntos pessoais. Que valorizava o que tínhamos a dizer e nos ouvia com paciência. Amigo de muitos jornalistas e professores, nosso amigo.

Nas salas de aula, um professor com muito a ensinar. Profundo conhecedor da história do jornalismo, Borin nos deu boas aulas da história de nossa profissão, com uma riqueza de detalhes que chegava a surpreender. À distante teoria acrescentava suas experiências, especialmente as do jornalismo diário, tornando as informações mais acessíveis para os alunos.

Contava-nos suas histórias da cobertura nos cadernos de agricultura do jornal, suas discussões com o chefe para garantir a publicação do que acreditava ser correto, do tanto que acreditava que a reforma agrária poderia resolver problemas econômicos e sociais. Ensinar o jornalismo brasileiro e o jornalismo sindical, para o Borin, era contar um pouco de sua vida, e ele fazia isso com o maior prazer.

Mas seria muito limitado dizer que isto era tudo o que aprendemos com ele. Borin nos ensinou muito sobre o que é ser jornalista nos corredores da escola. Pudemos ver no professor posturas que ajudaram a deixar claro que um bom jornalista deve também lutar por ideologias, acreditar em sonhos, trabalhar para torná-los reais, como todos os cidadãos.

Sem deixar de ser profissional, ético, de apurar o que pretende publicar, de se preparar para o trabalho que irá executar. Para nos mostrar tudo isso, ia além de suas obrigações, dava palpite sempre que achava que podia acrescentar: em outros cursos, nos jornais-laboratório, no nosso dia-a-dia de jornalistas iniciantes. Era um professor que se preocupava com a nossa formação como um todo, que valorizava quem queria crescer.

Tudo isso me leva a dizer que ele foi muito coerente ao aceitar todas as funções que desempenhou. Brigando por melhorias na profissão, foi por duas vezes diretor do sindicato dos jornalistas de São Paulo. Querendo mudanças na comunicação e no jornalismo de nosso país, além das aulas, participou da fundação do Correio da Cidadania e ajudou a criar o Media Watch Global, para acompanhar e sugerir novas posturas por parte da grande mídia.

Na educação, tornou-se presidente da Associação dos Docentes da USP para estar à frente da categoria dos professores, brigando por umas universidades públicas, gratuitas, de qualidade para todos. E foi chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração, função que acompanhamos mais de perto. Respeitado, foi eleito com a maioria dos votos das três categorias. Esforçado, gastava tempo procurando resolver nossos problemas.

Dedicado, conseguiu modernizar a escola, trazendo novos equipamentos; equipando, com sorriso no rosto e brilho nos olhos, o auditório Freitas Nobre; apoiando e promovendo discussões para melhorar o curso. Começou a fazer reformas para que fosse possível aumentar de 50 para 60 o número de alunos ingressantes no curso por ano, no que foi reconhecido até por seus adversários políticos.

Ele mobilizava e participava das mobilizações com as pessoas que compartilhavam destes sonhos, ajudando a unificar professores, funcionários e estudantes em torno de uma causa comum, com um trabalho conjunto. Na greve de 2000, era referência de mobilização, dentro e fora da ECA. Gosto de lembrar do Borin nas assembléias, trazendo os professores para a greve. Nas manifestações, com bexigas na mão e sorriso no rosto, acreditando no que estava fazendo. Com o Centro Acadêmico, apoiava nossas atividades, dava sugestões de debates, confiava no nosso trabalho e no nosso potencial. Jair era um grande companheiro.

De tudo que ele fez e poderia ter feito na USP, ficam como dívidas os cargos de diretor da ECA e de reitor da USP, para os quais foi eleito pela comunidade, em eleições paritárias. Nosso diretor eleito teve 59% dos votos da comunidade ecana, mas não foi homologado pela Congregação. Nosso reitor eleito teve 11.796 votos paritários, contra 2.597 do segundo colocado.

Ao nosso reitor, ao nosso diretor, ao nosso professor, ao nosso companheiro, ao nosso amigo, fica aqui nossa homenagem. Nosso muito obrigado por tudo que nos ensinou. Borin, levamos suas lições, levamos suas lutas, levamos seu carinho conosco. Que tudo o que você fez nos ensine a sermos pessoas melhores, jornalistas melhores, cidadãos melhores.

*Lidia Gurgel Neves representou todos os alunos de graduação do Curso de Jornalismo do CJE-ECA.

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