Dossiê |
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"Minha
grande inspiração foi Rui Barbosa"
Por
Wanda Schumann
O
trabalho de pesquisa científica do professor José
Marques de Melo começou quando ele era estudante de jornalismo
da Universidade Católica de Pernambuco. Logo que iniciou
o curso, Marques de Melo foi incentivado a se dedicar à
pesquisa, pelo professor Luiz Beltrão. Sua meta, a princípio,
era ser repórter, mas Beltrão o estimulou a pensar
o jornalismo como objeto de estudo e não atividade profissional.
No início dos anos 60, quando estava matriculado na universidade
de Pernambuco, realizou o primeiro trabalho de iniciação
científica - um estudo sobre a crônica policial
na imprensa do Recife o qual foi publicado na universidade há
40 anos e posteriormente na revista COMUNICAÇÕES
E PROBLEMAS.
O professor recorda que, na época, todo "foca"
começava como setorista de polícia e conta que
estudava a maneira como os jornais recifenses tratavam os acontecimentos
policiais. Ele fez um estudo, junto com seus colegas, para entender
como a imprensa divulgava os fatos: "nós fizemos
um estudo quantitativo e depois tentamos entender a lógica
que estava por detrás dessa cobertura".
José Marques de Melo era um jovem estudante do curso
secundário e já lia todos os jornais que chegavam
à biblioteca. Sua grande motivação para
ser jornalista surgiu quando leu A IMPRENSA E O DEVER DA VERDADE,
famoso texto de Rui Barbosa o qual foi o levantamento de uma
série de questões para as quais Marques de Melo
foi desafiado: "quando iniciei a minha carreira jornalística
,em 1959, como correspondente do jornal Gazeta de Alagoas, no
interior do estado, defrontei-me com muitos problemas que Rui
Barbosa já colocava naquela ocasião: a questão
da verdade,da justiça e sobretudo da independência".
Foi
então que o professor percebeu que ser jornalista era
muito mais complexo do que parecia à primeira vista:
lia os jornais e fazia comparações, uma espécie
de um juízo crítico sobre o tratamento que os
jornais davam a um mesmo fato com diferentes políticas
editoriais. Hoje, ele chama isso de comparações,
porque trabalha muito com método comparativo, mas na
época não tinha consciência disso.
O
primeiro instituto acadêmico dedicado à pesquisa
em ciências da comunicação, com grande ênfase
no jornalismo, foi criado em 1963 por Luiz Beltrão. Mas,
em períodos anteriores, a Cásper Líbero,
primeira faculdade de jornalismo do Brasil, e a Federal do Rio
de Janeiro, antiga Universidade do Brasil, já tinham
nomes como Danton Jobim, no Rio de Janeiro e Carlos Rizzini,em
São Paulo, que já se preocupavam com o fenômeno
da sistematização do estudo do jornalismo.
"Estamos
no momento em que o ensino e a pesquisa de jornalismo vêm
sendo revalorizados pouco a pouco na universidade brasileira".
São
quase 60 anos de conhecimento acumulado no campo. - diz o professor
Marques, que acredita já termos avançado muito.
Ele sabe, no entanto, que ainda temos muito a prosseguir, e
afirma que a pesquisa em jornalismo enfrenta dois desafios:
em primeiro lugar, o mimetismo que ela faz na academia em relação
a outras áreas de conhecimento, mimetizando a pesquisa
que é feita na sociologia, na política ou na história.
Tomar métodos emprestados de outras disciplinas, sem
criar metodologia própria, empobrece. - complementa o
professor. Além disso, ele lembra que nós temos
o desafio de fazer uma pesquisa que seja útil à
profissão.Para ele, a academia muitas vezes não
é pragmática, não tem a preocupação
de aplicar diretamente o conhecimento, e quem está na
vida profissional nem sempre reconhece o trabalho feito por
ela. José Marques de Melo acha que, sob o ponto de vista
teórico e metodológico, o Brasil está no
mesmo patamar dos grandes países que vêm atuando
na área, mas não se pode comparar com a tradição
americana de mais de cem anos ou com a alemã de mais
de trezentos anos.
"Considero-me
um ser proustiano"
Fazendo
um balanço de sua vida, José Marques de Melo acredita
que realizou pouco daquilo que ambicionava. Jornalista profissional,
há mais de 40 anos, dedicou 30 anos à atividade
regular como pesquisador de jornalismo. Ele conta que tinha
projetos que talvez pudessem ser chamados de megalômanos,
muito ambiciosos, que não realizou. Hoje, o professor
está em busca do tempo perdido. Seus projetos, na verdade,
não são novos. Ele está tentando fazer
o que não fez durante alguns anos, porque foi desviado
muitas vezes da atividade de pesquisa para desempenhar cargos
administrativos na academia, até para manter a atividade
de pesquisa aberta para outras pessoas.
Seu projeto hoje está muito concentrado em torno desses
resgates da memória não só do jornalismo
brasileiro, enquanto atividade profissional, mas também
o resgate do conhecimento acumulado sobre jornalismo. Quando
o professor Marques começou a trabalhar com a Rede Alfredo
de Carvalho para o resgate da memória e a construção
da história da imprensa no Brasil, dedicou-se à
atividade de história do jornalismo enquanto profissão.
A
partir da linha de pesquisa que iniciou na ECA-USP, em 1993,
e que está retomando hoje com os cursos de Mestrado e
Doutorado, ele está tentando resgatar o conhecimento
jornalístico. Ele diz que na verdade não está
fazendo nada novo, mas apenas o que já poderia ter feito
se tivesse se dedicado exclusivamente ao jornalismo enquanto
atividade acadêmica.
Em seu próximo livro, que deverá ser publicado
no segundo semestre, José Marques de Melo recupera dez
anos de pesquisa jornalística. A obra "JORNALISMO
BRASILEIRO" traz esboços de atividades que o mestre
da comunicação pretende fazer. "Quando eu
digo que quero fazer, não estou dizendo no singular.
Na verdade, estou querendo fazer no plural porque boa parte
daquilo que eu queria fazer eu não fiz. Meus discípulos
fizeram ou estão fazendo. Eu sou uma pessoa que tem sentimento
coletivo".
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