G

Gaudêncio
Torquato
Francisco
Gaudêncio Torquato do Rego nasceu em 1945, na pequena
Luís Gomes, cidade que fica no sudoeste do Rio Grande
do Norte, quase na divisa com a Paraíba. Vem
de família numerosa (seu pai, em dois casamentos, gerou
21 filhos), que sempre teve forte envolvimento com a atividade
político-partidária.
Começou
a exercer a atividade de repórter em 1962, quando contava
com 17 anos, como colaborador de jornais e revistas no Recife,
ao mesmo tempo em que iniciava os estudos de nível superior
em "Comunicação Social", na Universidade
Católica da cidade. Nos anos 60, os cursos de jornalismo
eram poucos no Brasil e o profissional se graduava mais freqüentemente
em outras áreas, como Direito, predominantemente, e se
formava no dia a dia da redação.
Gaudêncio Torquato exerceu o jornalismo em várias
das principais publicações do nordeste brasileiro
e também no restante do País. Como o tempo de
permanência nas redações era menor, era
comum o jornalista conciliar dois ou até mais empregos,
mesmo em jornais diários. Quando Torquato trabalhava
na sucursal do "Jornal do Brasil", era também
correspondente do "Correio da Manhã", ambos
no Rio de Janeiro.
Depois
passou a repórter do tradicional "Jornal do Commercio",
"Folha de S.Paulo" e "Correio da Manhã",
todos ao mesmo tempo. Em
1966, Torquato ganhou o "Prêmio Esso de Jornalismo"
na categoria "Científica", por uma série
de reportagens sobre a doença da barriga d'água.
Também se destacou pela produção de uma
série de reportagens especiais sobre o Nordeste, para
o jornal "Folha de S.Paulo". Essa intensa atividade
profissional e a notoriedade conquistada com seus artigos foram
a ponta de lança para a sua mudança para a cidade
de São Paulo, onde teve início uma nova fase de
sua carreira.
A
ida para a capital paulista se dá num momento em que
o cenário político do Brasil se torna crescentemente
sufocante. Gaudêncio Torquato cobria a área social
e o campo, marcado por conflitos agrários e reprimidos
durante a ditadura militar estabelecida em 1964. Em razão
do sucesso editorial dos cadernos especiais sobre o Nordeste,
ele é convidado pelo jornal "Folha de S.Paulo"
para participar da elaboração de suplementos especiais
regionais do jornal, em 1967, ao lado de Manuel Chaparro, cuja
tese na pós-graduação Gaudêncio Torquato
iria depois orientar na ECA - Escola de Comunicações
e Artes da USP - e Calazans Fernandes.
A
equipe em São Paulo coordena o trabalho de cerca de 150
repórteres de todo o Brasil na produção
de grandes reportagens sobre os problemas sociais do País.
Depois se seguem outros projetos especiais, como a série
de reportagens sobre a "Grande São Paulo - O Desafio
do ano 2000".
A
experiência no planejamento, redação e produção
de grandes reportagens leva Gaudêncio Torquato às
portas da universidade. Interessado no debate e pesquisa sobre
jornalismo, ele é convidado a dar aulas na "Faculdade
de Jornalismo Cásper Líbero" e passa a integrar
seu corpo docente em 1968, ministrando cursos sobre "Jornalismo
Interpretativo e Comparado". Em 1968, ingressa como professor
assistente da ECA, a convite do professor José Marques
de Melo, então diretor da escola.
Em
1969, Gaudêncio Torquato publica os textos "Jornais
Precisam Ter Notícias em Profundidade", pelos "Cadernos
de Jornalismo e Comunicação da Editora Guanabara,
e "Imprensa Contemporânea - Estudo Analítico",
pela Editora Correio do Livro. Entra para o corpo docente da
ECC. Em 1970, ano em que a ECC passa a ser denominada "Escola
de Comunicações e Artes - ECA".
Gaudêncio
Torquato assume cursos regulares do "Departamento de Jornalismo":
as disciplinas "Jornalismo Informativo e Interpretativo"
e "Introdução ao Jornalismo".
Passa
a ser também orientar da "Agência Universitária
de Notícias", a AU. Também dá aulas
de "Técnica de Jornal", "Teoria e Metodologia
de Jornalismo", "Jornalismo Informativo". Desenvolve
estudos e experiências sobre técnicas jornalísticas
e jornal laboratório, e mantém sua atividade de
professor na "Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero".
Nessa
época as pesquisas sobre jornalismo começam a
dar seus primeiros passos e Gaudêncio Torquato se engaja
nesse movimento de estudos da atividade. Ele defende sua tese
de doutorado em 1972 e o seu tema é "Jornalismo
Interpretativo", tendo como orientador o professor Rolando
Morel Pinto, livre-docente da "Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas" da USP.
Nesse
período, o Ministério da Educação
pressiona as universidades a formarem mestres e doutores. É
interessante observar que, por ser o curso da ECA um recém-nascido
na USP, sem ter ainda graduado a sua primeira turma de alunos,
a maioria dos seus primeiros doutorandos tiveram como orientadores
livres-docentes de outras unidades.
Em
1970, desfaz-se o projeto de suplementos especiais regionais
do jornal "Folha de S.Paulo" e Gaudêncio Torquato
deixa o jornal. Funda,
então, com outros profissionais do jornalismo, uma assessoria
para produção de jornais e revistas empresariais.
É o momento em que a sua opção pela área
empresarial começa a firmar-se. A empresa lança
dos "Cadernos Proal", especializados em debates sobre
jornalismo empresarial e comunicação em geral.
Gaudêncio
Torquato se empenha também em levar a nova especialização
para a universidade e enfrenta a resistência de acadêmicos
que não aceitam a incorporação dessa disciplina,
por não considerarem genuinamente jornalístico
a produção de jornais e revistas empresariais.Gaudêncio
Torquato continuou ministrando disciplinas de "Jornalismo
Interpretativo" e a levar para as salas de aulas o debate
sobre a grande reportagem, mas a sua grande contribuição
para a ECA - Escola de Comunicações e Artes da
USP foi a defesa do ensino no meio acadêmico do jornalismo
empresarial e de comunicação empresarial.
O
que na época era tabu hoje é encarado pelas novas
gerações como uma das alternativas de atuação
profissional. Afinal, a expansão do mercado de trabalho
nos anos 90 foi mais forte no segmento de revistas especializadas
e na comunicação empresarial. Foi um período
de profissionalização dos departamentos de comunicação
das organizações e fundação de dezenas
de assessoria de imprensa.
O interesse pelo jornalismo empresarial leva Gaudêncio
Torquato a organizar os departamentos de comunicação
de grandes empresas e, depois, a enveredar pelo segmento institucional,
com o convite para trabalhar no Governo José Sarney e
participar da criação do Conselho de Comunicação,
órgão destino a discutir as políticas para
o setor no País. Em meados dos anos 80, Gaudêncio
Torquato se volta para outro campo ainda embrionário
no Brasil: o marketing político.
Não
é uma guinada da água para o vinho porque sua
família sempre esteve embrenhada na vida política
do Nordeste e, por isso, mergulhar nas estratégias de
uma campanha eleitoral era uma aventura por um mar conhecido.
Começa com a bem sucedida campanha do empresário
Tasso Jereissati para o governo do Estado do Ceará, em
1986. A partir daí, seguem-se dezenas de outras, como
as de João Faustino (Rio Grande do Norte), Freitas Nobre,
Guilherme Afif Domingos e Mário Covas, desenvolvidas
por intermédio de sua nova empresa, a GT Marketing e
Comunicação.
Ciente
de que partiu para uma área que dava seus primeiros passos
no Brasil, Gaudêncio Torquato aproveita a sua experiência
como professor para dar um toque didático em seus livros,
nos quais evidencia a meta de orientar os profissionais da comunicação
e marketing. Uma de suas primeiras obras, "Marketing Político
e Governamental - um roteiro para campanhas políticas
e estratégias de comunicação" (São
Paulo, Summus Editora, 1985), é dividida em três
partes: "O abc do Marketing Político", "Marketing
para o interior do País" e "Marketing Governamental".
Ao
voltar-se para os ramos de "Marketing Político"
e da "Comunicação Empresarial", Francisco
Gaudêncio Torquato do Rego afasta-se gradualmente do meio
acadêmico, se aposenta da USP - Universidade de São
Paulo e deixa de dar aulas em outras faculdades. Mas se dedica
a dar conferências, seminários, cursos e treinamento
sobre os temas que nortearam sua carreira brilhante profissional,
com ênfase nas questões de "Marketing Político"
e "Comunicação Empresarial".
Como
jornalista e autor, chegou a publicar artigos em 67 jornais
de todo o País e é um bem falante comentarista
de política em emissoras de rádio. Na bela trajetória
profissional e acadêmica de Gaudêncio Torquato,
é interessante observar o quanto o momento político
do País influiu nas mudanças de rumo de sua carreira,
sem que, entretanto, aconteçam drásticas mudanças
de rumo.
A
passagem das grandes reportagens para o jornalismo empresarial,
por exemplo, já vinha sido engendrada em cursos e estudos
na academia e se torna uma clara opção profissional
com a fundação da Proal, que se dedica não
só à publicação de jornais e revistas
de empresas, mas também se empenha em aprofundar o necessário
debate sobre o jornalismo, tanto empresarial como o da grande
imprensa, o da imprensa alternativa e o da mídia eletrônica.
Gaudêncio Torquato optou inicialmente pelo jornalismo
interpretativo, as grandes reportagens - área de sua
contribuição nos primeiros anos da ECA -, passando
para a comunicação empresarial/institucional -
domínio em que ele se torna um pioneiro na escola e uma
importante referência para os estudiosos desse ramo da
comunicação.
Crédito:
Osmar Mendes Júnior
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