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Hélcio
Deslandes
Hélcio
Deslandes nasceu em Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais,
no dia 21 de julho de 1929. Fez os cursos primário e
ginasial no "Ginásio Municipal de Itajubá",
em Minas Gerais. Concluiu o curso colegial no "Instituto
Gramon", em Lavras, Estado de Minas Gerais. Formou-se pela
"Escola de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais",
em 1960. Sua carreira profissional, antes da ECA-USP, era intensa
e variada. Trabalhou em "Publicidade", como diretor
de arte da "Starlight Propaganda", de Belo Horizonte
(1951-1960).
Foi
layoutman das agências "Standard Propaganda"
e "McCann Erickson", ambas de Belo Horizonte. E atuou
como diagramador para offset e diretor de arte no "Serviço
de Imprensa e Propaganda", do governo doEstado de Minas
Gerais.
Em
outubro de 1961, Deslandes passou a fazer parte da equipe de
diagramação do "Jornal do Brasil", do
Rio de Janeiro. Foi estagiário da "Editora Bloch"
e depois diagramador de várias revistas editadas por
essa empresa. Entre 1964 e 1965, já morando em São
Paulo, esteve na função de diretor de arte na
"Head Line Propaganda", empresa dirigida pelo professor
da ECC (depois ECA), Francisco Morel. No "Instituto Adventista
de Ensino de São Paulo", ocupou o cargo de assessor
de artes gráficas (1965/1968).
Hélcio
Deslandes desenvolveu trabalhos como capista, diagramador e
ilustrador para a "Editora Brasiliense" e "Editora
Martins", em São Paulo, e na "Editoria Itatiaia",
em Belo Horizonte. Como arquiteto projetou residências
em Belo Horizonte, São Paulo e Campinas e também
elaborou projetos de igrejas nestas mesmas cidades. Deslandes
era uma membro destacado da "Igreja Adventista do Sétimo
Dia".
Os
anos sessenta foram marcados por uma revolução
na diagramação dos jornais e revistas brasileiros,
capitaneados pela reforma gráfica do "Jornal do
Brasil" e depois continuados pela diagramação
ousada do "Jornal da Tarde", de São Paulo,
tendência confirmada pelas novas revistas lançadas
pela "Editora Abril" ("Realidade" e "Veja").
As
empresas demandavam profissionais do jornalismo gráfico
que tivessem sensibilidade estética, superando a fase
dos técnicos da paginação tradicional.
A ECC contratou Hélcio Deslandes para preencher a necessidade
de um profissional experiente para diagramar o seu jornal-laboratório
e também como assessor de artes gráficas do "Departamento
de Jornalismo".
Em
dezembro de 1969, Deslandes inscreveu-se para o doutoramento.
Seu orientador era o professor Walter Zanini. Em 1972, foi realizar
estudos de "Pós-Graduação" nos
Estados Unidos. Naquele país, com sua experiência
em artes plásticas, arquitetura, design e ilustração,
trabalhou como free-lancer na região de Washington, onde
morava. Atuou nessa condição até 1973,
quando foi admitido no "Departamento de Arte" da "Review
and Herald Publising Association", como designer. Depois
ocupou a função de "Coordenador de Arte".
Na
sua estada nos Estados Unidos, Deslandes desenvolveu projetos
paralelos de trabalho. Como free-lance, no primeiro ano de América,
teve oportunidade de produzir uma coleção de cinco
livros ricamente ilustrada para a "Editora Melhoramentos",
com a finalidade de incentivar e motivar a criatividade no campo
da redação e ilustração nas crianças
do curso primário. O trabalho era em "full color",
altamente moderno e funcional.
Hélcio
Deslandes criou e produziu o símbolo que seria usado
nacionalmente durante o bicentenário dos Estados Unidos
para a organização "Pathfinders". Em
1975, foi convidado pela revista suíça "Graphis"
para apresentar a seleção e publicação
dos melhores trabalhos produzidos naquele ano, mas não
pode aceitar o convite. Em julho de 1975 esteve em Viena, na
Áustria, no "Congresso Mundial da Igreja Adventista
do Sétimo Dia". Para o evento desenvolveu o material
de promoção, totalmente ilustrado, e dois tipos
de relatórios. Projetou, ainda, o estande para a representação
norte-americana. Em agosto de 1975, ele e sua equipe foram os
autores do projeto de diagramação da revista "Ministry",
que sofrera reformulação. E na 16ª. Exposição
Nacional Editorial e Livro da "Society of Illustrators",
o profissional foi um dos três representantes do seu departamento.
Em
julho de 1976, Hélcio Deslandes retornou ao Brasil. A
volta coincidiu com a expiração da licença
de afastamento, sem vencimentos da ECA. Naquele ano ele voltou
a lecionar artes gráficas, diagramação,
técnica de ilustração, produção
gráfica e editorial no curso de "Editoração"
da ECA. No mesmo período, passou a ministrar o curso
de "Jornalismo Gráfico" no Departamento de
Jornalismo da "Faculdade Cásper Líbero"
de São Paulo. De 1976 a 1979, Deslandes desenvolveu inúmeros
projetos de design e ilustração. Entre eles se
destacam: planificação gráfica, diagramação,
produção e ilustração das revistas
"Rol do Berço", "Jardim da Infância",
"Primárias", "Adventista", "Ministério",
"Mocidade" e do jornal "Adventista", Também
elaborou cartazes promocionais, e as capas dos livros: "Perguntas
que eu faria à Irmã White", "Satisfação",
"Inspiração Juvenil" e "Ensinar".
Criou o símbolo do "Museu da Bíblia"
e outros trabalhos.
Um
dos seus primeiros chefes na ECC e colega de docência,
o professor José Marques de Melo salienta que nos primeiros
momentos de vida do "Departamento de Jornalismo",
Hélcio Deslandes era admirado por seus colegas e alunos,
além de ser tomado como referência por editores
jovens, que o procuravam para orientar o planejamento estético
de publicações em fase de lançamento. Contudo,
após seu desligamento da instituição e
o fato de não ter deixado uma obra escrita contribuiu
para seu esquecimento na comunidade departamental.
Sua
linha de trabalho teve continuidade através do professor
José Coelho Sobrinho, responsável pelas disciplinas
de artes gráficas, diagramação, planejamento
de veículos impressos.
Quando
Hélcio Deslandes foi aos Estados Unidos fazer estágios
em editoras, logo ao chegar, seus superiores entenderam que
não deveria fazer um estágio, mas chefiar sua
seção. Foi para aquele país permanecer
por apenas um ano e ficou seis. Nesse período acabou
substituído na ECC/ECA pelo professor Coelho. Quando
voltou ao Brasil não se interessou pelo regime de trabalho
em tempo integral. Foi convidado para trabalhar em editoras
evangélicas e na "Editora Nacional" para ser
capista e preferiu o tempo parcial na docência da USP.
No
retorno ao Brasil, coincidindo com o período de abertura
política e libertação sexual, Deslandes,
depois de anos de trabalho em editoras evangélicas, se
sentia indignado com essa nova mudança social que contrariava
os preceitos de sua religião. Como não foi criado
dentro da perspectiva de que o corpo desnudo de uma mulher poderia
ser uma ferramenta da "Marketing", estampar cadernos
de jornais e capas de livro, sempre reclamava e se chocava com
a abertura cultural brasileira.
Lamentava
que tanto ele quanto suas filhas não conseguiram adaptar-se
mais ao Brasil apesar de terem ficado alguns anos por aqui.
Como recebia muitos apelos de editoras norte-americanas para
voltar àquele país, a certa altura entendeu que
deveria seguir com sua família para lá e foi morar
em Maryland, nos Estados Unidos.
O Professor José Marques de Melo relata como foi o desligamento
de Hélcio Deslandes do Brasil e da USP: "Quando
foi contratado na ECC o professor Deslandes integrava o quadro
de professores colaboradores, reservados para profissionais
de "notório saber" que tinham contribuições
relevantes ao ensino e à pesquisa.
Deslandes
foi classificado, pelo seu currículo, na categoria MS-2,
que correspondia ao nível de mestre. Contudo, o quadro
de colaboradores era temporário. O contrato podia ser
renovado pelo menos duas vezes, a não ser que o docente
fizesse pós-graduação e passasse ao quadro
permanente. Francisco Morel, companheiro de Deslandes, que tinha
vocação acadêmica, optou por essa solução.
Mas Deslandes não se sentia confortável nessa
situação, julgando-se mais profissional que um
pesquisador. O curso de pós-graduação na
ECA não lhe oferecia nenhuma oportunidade de crescimento
intelectual, já que se reestrutura, a partir de 1972,
assumindo um perfil mais sintonizado com as tendências
das pesquisas nas ciências humanas do que com a natureza
pragmática das disciplinas comunicacionais.
Por
isso, preferiu desligar-se da ECA licenciando-se do cargo e
aceitando convite para trabalhar no Estados Unidos como profissional.
Ele cogitava fazer "Pós-Graduação"
em artes gráficas naquele país, mas parece que
desaviou-se dessa rota em face das chances que obteve no mercado
de trabalho. Findo o período de sua licença não
remunerada, ele retornou à ECA, mas aqui permaneceu por
um tempo muito curto, preferindo não pleitear a renovação
de seu contrato (o que, então, já era possível,
em caráter excepcional). Assim sendo, ele não
se aposentou na ECA. Simplesmente desligou-se da instituição
ao final do período de seu contrato como professor colaborador
MS-2".
Deslandes,
foi o precursor do ensino da diagramação e das
artes gráficas aos primeiros estudantes de jornalismo
da ECA. Engenheiro arquiteto formado pela Universidade Federal
de Minas Gerais obteve grande conhecimento em design, ilustração
e produção gráfica, vivenciado principalmente
na prática diária do mercado tanto no Brasil quanto
nos Estados Unidos.
Na
época, era uma pessoa um tanto introspectiva, tímida,
mas muito disciplinada e cortês com alunos e colegas.
Boa parte do tempo passava na gráfica da ECA, onde verificava
minuciosamente os trabalhos dos alunos de então. Hélcio
Deslandes não foi um produtor de obras acadêmicas
no sentido estrito, mas seguramente foi um grande contribuinte
na formação de novos profissionais e dos conceitos
mais modernos da época em comunicação visual
aplicada ao jornalismo, publicidade e à editoração.
Crédito:
Osmar Mendes Júnior
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