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Manchetes


Jornalistas brasileiros e a
percepção de liberdade de imprensa


Por Carsten Bruder


Numa época em que o número de informações cresce cada vez mais, o público só tem uma chance para participar do progresso de crescimento: se ele for instruído e informado de forma adequada. Essa instrução e informação teriam que facilitar a seleção e análise de informação para todos os seguimentos da sociedade. Com isso, essas pessoas se tornariam participantes ativos dos sistemas das sociedades modernas.

A percepção dessa tarefa foi tema de um trabalho de conclusão do curso de jornalismo sob o título “Jornalistas Brasileiros dos Jornais Diários e a sua Percepção de Liberdade de Imprensa”. Apresentado em outubro de 1996, pelo jornalista Carsten Bruder, foi resultado de um projeto conjunto da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e do Instituto de Ciência da Comunicação da Universidade Ludwigs-Maximilian de Munique, Alemanha. O trabalho foi orientado na ECA-USP pelo professor José Marques de Melo e na IFKW pela professora Petra E. Dorsch-Jungsberger.

Entre dezembro de 1993 e maio de 1995 foram realizadas aproximadamente 40 entrevistas com jornalistas dos quatro jornais de qualidade: Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Os entrevistados responderam a um questionário de 50 perguntas baseadas nas pesquisas já realizadas com jornalistas de jornais do mesmo nível na Alemanha. Essas pesquisas foram realizadas nos anos 80.

Uma das principais referências foi a pesquisa empírica sobre a ética profissional e a assimilação das tarefas de jornalistas britânicos e alemães apresentada pela cientista Renate Köcker, sob o título de “Cão de Busca e Missionário”.

O trabalho mostrou diferenças interessantes entre os pontos de vista dos jornalistas alemães e brasileiros em alguns itens. Os jornalistas brasileiros entrevistados declararam que a principal motivação da profissão deles era a possibilidade de passar conhecimentos e notícias. Esse objetivo, segundo eles, não deveria ser alcançado de forma mediana, mas através de um papel pedagógico didático.

O leitor deve ser orientado e não deixado sozinho com as notícias. Em relação à orientação social, dentro da assimilação do papel de jornalistas, notou-se que os problemas sociais brasileiros não foram levados relativamente pouco em consideração, dentro da motivação deles, apesar de reconhecerem que eles existem e são grandes. Na Alemanha, a maioria dos jornalistas entrevistados considerou a descoberta de deficiências como principal motivação para sua profissão.

Em relação à função das mídias, a maioria dos entrevistados se mostrou convicto da existência de um “quarto poder” das mídias. As mídias teriam que assumir uma função de controle sobre os outros poderes do estado, mas ao mesmo tempo ficar independente como instituição. Como exemplo preferido para a existência do “quarto poder” das mídias no Brasil, foi citado o “impeachment” do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

A pesquisa mostrou também que a norma de passar notícias para os leitores tem uma aceitação maior entre os entrevistados do que a aceitação de certas normas sociais como, por exemplo, a proteção da privacidade. Ao mesmo tempo, a maioria só concordou em parte com a terminologia de objetividade na avaliação da assimilação de sua tarefa: um candidato à presidência da República com posições políticas extremistas seria atacado pela maioria dos entrevistados.

Eles assumiram, então, uma posição subjetiva-ativa. Um potencial de grande conflito foi detectado na conexão entre a norma da obrigação de cautela de um lado e da disposição dos jornalistas de passar uma notícia para os seus leitores por causa do seu conteúdo sensacionalista. Um problema, que é aumentado pela situação de concorrência entre as mídias. Nisso vale, às vezes, mais o simples fato de fazer uma denúncia do que o grau de verdade existente nela.

Em relação da assimilação profissional-ética, os entrevistados se mostraram mais dispostos a não levar em consideração as conseqüências de seus trabalhos.

Essa falta de uma certa profundidade no trabalho foi considerada pelos entrevistados um dos principais fatores de perturbação. Ao mesmo tempo, esse ponto de vista era relativo pela própria imagem do público deles: o público estaria interessado principalmente na notícia em si e menos na confiabilidade das afirmações feitas.

Em relação à liberdade de imprensa existente no Brasil, eles consideraram o grau dela muito alto, mesmo criticando a monopolização das mídias.

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