Nº 9 - Dez. 2007 Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ANO V
 
 

Expediente

Vinculada
à Universidade
de São Paulo

 
 

 

 


 

 

 

 

 

 


ARTIGOS
 

Jornalismo e
construtivismo:
A atividade como realidade socialmente construída


Por
Fábio Henrique Pereira*

RESUMO

Reprodução

O objetivo deste texto é o de propor alguns pontos de discussão para análise do jornalismo enquanto objeto de estudo das ciências sociais, sobretudo a comunicação. A idéia é questionar a visão essencialista sobre a profissão, presente no pensamento de senso comum e na perspectiva funcionalista.

PALAVRAS-CHAVE: Discurso / Teoria / Fenomenologia

Trabalharemos, nesse sentido, o jornalismo enquanto objeto socialmente construído.

O objetivo é explicar como o jornalismo, apesar de não possuir uma essência invariante, aparece relativamente estável no dia-a-dia das pessoas. Dentro de uma visão construtivista busca-se articular as visões subjetivas dessa prática a uma definição que aparece objetivada e socialmente legitimada. Definição que é interiorizada pelos indivíduos ao atribuírem sentido ao jornalismo a partir de suas experiências individuais.

Nessa discussão, aplicarei, de forma exploratória, os esquemas teóricos de Alfred Schutz (1967) e de Peter Berger & Thomas Luckmannn (1974). Analisarei, portanto, o jornalismo enquanto realidade socialmente construída. Partindo das análises da fenomenologia e da sociologia do conhecimento, esses autores buscaram compreender as estruturas de significado do mundo cotidiano, o conhecimento que tange a vida diária. Para ilustrar alguns pontos dessa discussão, recorrerei a estudos pontuais sobre o jornalismo, mas também a exemplos do senso-comum, da relação das pessoas com o jornalismo no seu dia-a-dia.

O jornalismo como realidade socialmente construída

Aplicar a perspectiva construtivista aos estudos sobre o jornalismo não é inédito. Esse tipo de apropriação remonta à década de 1970, com a superação, a partir dos estudos sobre newsmaking, da concepção da notícia como um “espelho da realidade”. Iniciu-se, assim, um ramo bastante fecundo de investigações sobre o jornalismo baseados na perspectiva etnoconstrucionista da notícia (Cf. TRAQUINA, 2001).

Partindo de pressupostos distintos – que enquadram o jornalismo como uma forma de conhecimento (Cf. MEDITSCH, 1999), como uma prática profissional e uma retórica social (Cf. DELPORTE, 2004) ou como narrativa (Cf. MOTTA, 2003) – diferentes análises buscaram situar a notícia como agente do processo de construção da realidade cotidiana. Mais do que retratar um evento, o trabalho jornalístico se destina produzir marcos interpretativos utilizados pelo leitor na sua relação com o mundo (Cf. LIPPMANN, 1922). Para isso, ela depende um conjunto de operações complexas de coleta, redação, edição dos fatos etc.

Apesar da proliferação análises sobre o processo de construção da realidade pelo jornalismo, existe uma lacuna na aplicação do construtivismo no que concerne jornalismo enquanto realidade construída. Ou seja, da mesma forma que o jornalismo constrói marcos interpretativos, ele é também resultado de um processo de construção. “O jornalismo se estabeleceu no tempo, ele se transforma e no momento, já é mais o que ele foi e não podemos imaginar o que ele se tornará” [1] (Cf. RINGOOT & RUELLAN, 2006: p.01). O jornalismo aparece socialmente objetivado, integrando o mundo da vida cotidiana, da mesma forma que outras instituições, como a família, o Estado, a religião etc. Por isso, pode e deve ser estudado como tal.

Trabalhar com construtivismo não significa reduzir o jornalismo a “apenas uma palavra”, numa analogia ao artigo provocativo de Pierre Bourdieu (1984) Le jeunesse n’est plus qu’un mot (“A juventude não é mais que uma palavra”). O jornalismo é uma construção, o que não significa dizer que ele seja uma ficção. Construir, como afirma Delporte (2004) não é o mesmo que criar. O próprio Bourdieu (1993: p.04), explica que, em torno de uma palavra, emerge um discurso fundamentado em pressupostos cognitivos e definições normativas, de forma que ela adquire uma exitência objetiva:

Quando se trata do mundo social, as palavras fazem as cosias porque elas produzem o consenso sobre a exisitência e o sentido das coisas, o senso comum, a doxa aceita por todos como vinda de si (...). Inscritos, ao mesmo tempo, na objetividade das estruturas sociais e na subjetividade das estruturas mentais objetivamente orquestradas, eles se apresentam à experiência com a opacidade e a resistência das coisas [2].

Como construção social e fenômeno histórico, o jornalismo não emerge ex nihilo, pelas necessidades do organismo social ou em decorrência de algum determinismo estrutural. A atividade jornalística é permanentemente construída e redefinida por ações individuais. E, nesse processo, atribui-se um sentido subjetivo a essa atividade, nem sempre em conformidade com a visão funcional da sociedade. “O sentido não precede a observação, ele não é estável, ele é tributário do olhar que se coloca sobre o real” [3] (Cf. DELPORTE, 2004: p.115). A constituição do jornalismo enquanto fenômeno “natural” na sociedade depende de uma complexa articulação entre a matriz social e a experiência dos indivíduos.

Na sua vida cotidiana, os difentes atores participam da construção do jornalismo. São jornalistas profissionais, mas também donos de empresas de comunicação, fontes de informação, públicos, professores e pesquisadores da área, sindicalistas, legisladores que promulgam leis sobre a profissão etc. (Cf. RINGOOT, 2006). Sua participação nesse processo é simbólica, na medida em que suas ações são imbuídas de uma interpretação, de um sentido, de uma definição sobre o esse objeto.

O fato de a ação estar associada à interpretação não significa que as pessoas assumam uma atitude reflexiva quando se relacionam cotidianamente com o jornalismo. Como integrante do dia-a-dia das pessoas, a produção jornalística já aparece como algo pré-interpretado, como uma realidade objetiva. Essas construções aparecem, na verdade como tipificações do jornalismo, mapas ou atalhos, na acepção de Walter Lippmann (1922), que nos ajudam a lidar com a realidade cotidiana.

Ao lidar com o jornalismo não preciso conhecer as rotinas de produção da notícia ou ter noções sobre os valores-notícia. Com a divisão social do conhecimento na sociedade, esse tipo de informação está cada vez mais restrita aos profissionais e pesquisadores da área. No nosso dia-à-dia, podemos nos contentar com a parte mais visível dessa atividade como, por exemplo, o trabalho dos apresentadores dos telejornais, que no senso comum pode ser associado como sendo o jornalismo.

Embora resulte da ação do homem o jornalismo ganha o status de realidade objetiva a partir dessas tipificações. “Ele adquire por isso um status ontológico à parte da atividade humana que o introduziu” (Cf. BERGER & LUCKMANN, 1974: p.87). Ele existe como uma construção anterior ao nosso nascimento, foi vivenciado e interpretado pelos nossos predecessores e orienta nossas relações com nossos contemporâneos. Para isso, é preciso que haja uma correspondência de significados em torno do que seria o jornalismo, partilhada por todos que participam do mundo da vida cotidiana. Como uma construção de senso comum, o jornalismo pertence à realidade intersubjetiva.

O caráter intersubjetivo do jornalismo permite que ele integre a estrutura da vida cotidiana e seja visto por todos como algo que pertence à realidade tout court. No seu dia-à-dia as pessoas, por exemplo, assistem o telejornal, ou discutem o noticiário com os amigos num bar. Nessas relações assume-se que os indivíduos compartilham de um sistema de relevâncias mais ou menos homgêneo, de forma que seja possível interagir com e em torno do objeto jornalismo.

Mas isso não quer dizer que ele seja acessível a todos da mesma maneira. O processo de interiorização de uma realidade objetiva é sempre parcial, de forma que cada indivíduo possui uma interpretação particular do que é o jornalismo. A realidade do senso comum forma uma mesma matriz para as ações sociais, cada indivíduo busca transpor essa realidade ao seu mundo subjetivo. “Logo, a realidade do senso comum nos é dada em formas históricas e culturais da realidade universal, mas a maneira pela qual essas formas são traduzidas para a vida individual depende totalmente da experiência que a pessoa constrói no curso da sua experiência concreta” [4] (Cf. NATANSON, 1967: p.28).

A relação do indivíduo com o jornalismo varia segundo o sistema de relevâncias e a situação biograficamente determinada de cada um. Durante o processo de interiorização de uma realidade partilhada intersubjetivamente, ele é capaz de articular esse mundo exterior às suas experiências indivduais, de forma a sedimentar o estoque prévio de conhecimento sobre o mundo. “Na atitude natural da vida cotidiana estamos procupados apenas com certos objetos confrontados com o campo inquestionável dos objetos pré-experenciados, e o resultado dessa atividade de seleção na nossa mente determina as características particulares de tais objetos como individuais e típicas” [5] (Cf. SCHUTZ, 1967: p.09).

Esses estoques funcionam, portanto, como esquemas de referência para a vida cotidiana, de forma a controlar aspectos da experiência subjetiva. Ao abrir um jornal, uma pessoa espera encontrar notícias de atualidade. Esta poderia ser a definição intersubjetiva que ela tem do jornalismo e que normalmente é antecipada pelo próprio veículo, através, por exemplo, dos gêneros do discurso, num processo definido pelo semiólogo Eliseo Vérón (1984, Apud:RINGOOT, 2006) como contrato de leitura [6].

Uma nova experiência pode ou não confirmar essa antecipação. Se confirmada, o conteúdo do tipo antecipado será ampliado (as pessoas vão confiar cada vez mais no caráter noticioso do jornal, por exemplo), caso contrário, será preciso improvisar e redefinir essa tipificação (se um jornal publica um texto opinativo no espaço destinado às notícias o leitor pode eventualmente desconfiar da imparcialidade daquele veículo).

Se, evenvualmente, se produza um novo sentido ao objeto, será a partir dele que o indivíduo passa a conduzir suas atitudes.  É nesse processo que se produz a mudança social.

Pensar um objeto dentro da perspectiva construtivista consiste em articular a matriz social as ações individuais, a partir de processos dialéticos e simultâneos de exteriorização (da ação subjetiva na construção do mundo social), objetivação (dessas ações em objetos típicos e socialmente partilhados) e interiorização (dessa realidade objetiva a partir das experiências individuais). Berger e Luckmann (1974: p.87) sintetizam esses processos em três axiomas: “A realidade é um produto humano. A sociedade é uma realidade objetiva. O homem é um produto social”. 

Instucionalização, papéis e legitimidade social

Uma das singularidades da atividade jornalística é o forte discurso de legitmação profissional. Implícito a esse discurso – muitas vezes reiterado pelos sindicatos e universidades – emerge uma estratégia essencialista que busca estabelecer o jornalismo como um componente inatingível e inquestoinável das sociedades democráticas (Cf. RINGOOT & RUELAN, 2006). Imerso numa “historicidade espessa” (Cf. BERGER & LUCKMANN, 1974), o jornalismo integra o conjunto de instituições que compõem as sociedades modernas.

O jornalismo existe socialmente no cotidiano das pessoas, mas se concretiza também num conjunto de papéis sociais. Estes seriam tipificação de ações individuais, classsificadas por tipos de atores, sendo acessíveis a todos os membros do grupo social. O indivíduo, na verdade, incorpora a instituição jornalística, ao assumir algum papel, seja de jornalista, de fonte ou de público. “Ao desempenharem papéis, o indivíduo participa de um mundo social. Ao interiorizar estes papéis, o mesmo mundo torna-se subjetivamente real para ele” (Cf. BERGER & LUCKMANN, 1975: p.103).

Essas tipificações podem aparecer como entidades desnvinculadas dos indivíduos que a desempenham. Para ser produzido, por exemplo, o noticiário precisa, por exemplo, da figura do repórter, enquanto ator anônimo. Esse papel pode ser assumido por qualquer pessoa que possua os atributos necessários (alguns formais como a exigência do diploma em jornalismo). A subsituição de uma pessoa por outra no desempenho desse papel parece não afetar ojornalismo enquanto instituição.

Algo parecido acontece com as práticas associadas a um papel social. Nos primórdios do jornalismo, o exercício dessas práticas talvez fosse atribuído diretamente às ações subjetivas. Podemos, por exemplo, dizer que João do Rio foi o “pioneiro da reportagem” ou que Pompeu de Souza “trouxe o lead para o Brasil”.

Mas, à medida que nos distanciamos do período em que o fato aconteceu, essas as práticas perdem progressivamente sua vinculação a um acontecimento específico e datado, passando a ser associadas diretamente aos papéis sociais. Por isso, o lead e a reportagem aparecem agora técnicas naturais e que, em certo sentido definem o trabalho do jornalista. 

Outra situação que ilustra o caráter anônimo dos papéis sociais é a forma como a noção do público é instrumentalizada pelo jornalista. De fato, é praticamente impossível que o jornalista conheça aos indivíduos que constituem o seu público. “O público não existe, ele é múltiplo assim como são os objetivos a partir dos quais pretendê-se alcançá-los (neste caso, os produtos midiáticos) e polimorfos (os leitores de um jornal não constituem uma unidade, mas um agregado do qual é difícil extrair irregularidades) (Cf. RUELLAN, 2006: p.05). Mas o jornalista, ao produzir uma matéria, se refere ao leitor, antecipando as suas reações, através das tipificações que ele faz desse papel social. Ele costuma, nesse caso, recorrer às sondagens de opinião, às cartas do leitor ou a simplificações pessoais de como pensa a audiência (é o que fez, por exemplo, William Bonner ao comparar o telespectador brasileiro ao personagem de animação Homer Simpson) [7]:

A representação dos públicos, construída sobre dados quantitativos ou não, é um argumento evocado no processo de decisão e de negociação de equipes. Porque, se o efeito da rotina de trabalho jornalístico torna raros os momentos de questionamento, a definição do que interessa o receptor e a maneira de se dirigir a ele está sempre sujeita a eliminar os conflitos de interesse (Cf. RUELLAN, 2006: p.07).

Embora garanta estabilidade às práticas institucionais, o papel social não é um objeto imutável. Como integrante da realidade intersubjetiva, ele é sujeito a mudanças durante o processo de interiorização e de exteriorização das ações pelo indivíduo. Assim, novas definições de jornalistas, leitores e fontes surgem na medida em que as tipificações podem ser rejeitadas pela experiência individual ou transformadas durante o processo de interação. Um repórter pode produzir experimentações narrativas no seu texto. Caso sejam aceitas pelo editor e pelo leitor, ele poderá dar continuidade a esse processo até o momento em que elas se objetivem e se incorporem ao conjunto de práticas associadas ao trabalho do jornalista.

Como instituição social, o jornalismo também produz fórmulas legitimadoras. Ele é naturalizado como uma entidade que realiza as funções de dar transparência ao sistema democrático, fiscalizar o poder, ou simplesmente produzir informações sobre a realidade. O jornalismo, explica Delporte (2004), se utiliza do viés informacional para se distinguir de outros espaços. “A legitimação ‘explica’ a ordem institucional outorgando validade cognoscitiva a seus significados objetivados. A legitimação justifica a ordem institucional dando dignidade normativa a seus imperativos práticos” (Cf. BERGER & LUCKMANN, 1974: p.128).

O fato de “narrar objetivamente a realidade” justifica o estatuto social do jornalismo, ao mesmo tempo, que se articula com a defesa dos princípios deontológicos necessários à produção noticiosa: a liberdade de imprensa (Cf. ORTEGA & HUMANES, 2000), as boas condições de produção (Cf. DELPORTE, 2004), o compromisso com o leitor (Cf. KOVACH & ROSENTIEL, 2003) etc. Isto também ocorre com relação à da objetividade jornalística.

Como mostra o trabalho de Tuchman (1993) a objetividade consiste basicamente num conjunto de procedimentos de racionalização da prática profissional: ela protege os jornalistas dos processos judiciais e ajuda estruturar a produção da notícia. Contudo, a objetividade é incorporada aos mecanismos de legitimação institucional do jornalismo. Ela é usada pelos profissionais contra os interesses comerciais das empresas e garante ao jornalista o direito de fiscalizar os atos do governo em nome da sociedade (Cf. MORETZSOHN, 2002).

Da mesma forma, o jornalista pode evocar um discurso de “crise” como forma de relegitimar seu profissionalismo e integrar sua prática à sociedade em períodos de grandes transformações da atividade. A defesa do jornalismo público ou cívico a apropriação dos blogs pelos jornalistas (Cf. RUELLAN, 2006; TREDAN 2006), ou a defesa da liberdade de imprensa [8] ilustram bem esse tipo de situação.

Através desses princípios de legitimação, a existência social do jornalismo é reificada mesmo quando ele aparentemente não cumpre as funções a ele atribuídas.

As reações da imprensa a qualquer tentativa de controle da prática jornalística (os debates sobre o Conselho Federal de Jornalismo é um bom exemplo) mostram que questionar o jornalismo significa questionar a própria sociedade democrática. Nesse sentido, os erros individuais dos diferentes praticantes dessa atividade tentam ser desvinculados do jornalismo enquanto instituição. Podem no máximo ser vistos como “desvios” da função de informar.

Isso explica porque o jornalismo pode aparecer como algo indispensável ao organismo social. Esse tipo de legitimidade chega a estar presente no aparato legal das sociedades, como as leis que garantem a liberdade de expressão e os capítulos sobre comunicação social da Constituição Federal. Ou ainda a níveis teóricos, como ilustra a teoria funcionalista. Ela está presente em certas posições, comuns no meio profissional e acadêmico, que tendem a enfatizar um essencialismo na prática jornalística:

De fato, não importa o quanto o jornalismo tenha mudado. Sua finalidade tem permanecido extraordinariamente constante, embora nem sempre bem servida, desde que a noção de ‘imprensa’ surgiu há mais de trezentos anos. E apesar de todas as mudanças na velocidade, técnica, e a natureza da difusão de notícias, sempre existiram uma teoria e uma filosofia claras do jornalismo, que fluem da própria função da notícia (Cf. KOVACH & ROSENTIEL, 2003: p.30).

Para finalizar...

Os discursos de legitimação do jornalismo, os mitos profissionais, as visões funcionalistas e essencialistas sobre a atividade participam, de certa maneira, da forma como as pessoas participam do jornalismo na sua vida cotidiana. Nesse sentido, embora a idéia de uma essência do jornalismo constitua-se num equívoco epistemólgico, ela deve ser levada em consideração enquanto construto social, pois participa do processo de negociação das identidades e práticas de jornalistas, fontes e público. A instituição jornalística aparece estável na ordem social, constituindo-se no que a teoria sociológica chama de “estrutura”. Esta, contudo, não é imutável, nem indiferente à prática dos atores que a integram. Articular essas duas instâncias parece ser o grande desafio dos pesquisadores que se interessam pelo estudo do jornalismo.

NOTAS

[1] Livre tradução de: “Journalism has been established over time, it transforms itself and already, it is no longer what it was and we cannot imagine what it will become”.

[2] Livre tradução de: "Quand il s’agit du monde social, les mots font les choses, parce qu’ils font le consensus sur l’existence et le sens des choses, le sens commun, la doxa acceptée par tous comme allant de soi (…). Inscrits, à la fois, dans l’objectivité des structures sociales et dans la subjectivité des structures mentales objectivement orchestrées, ils se présentent à l’expérience avec l’opacité et la résistance des choses”.

[3] “Le sens n’est pas préalable à l’observation, il n’est pas no stable, il est tributaire du regard qu’on porte sur le réel”.

[4] Livre tradução de: “Thus, common-sense reality is given to us in historical and cultural forms of universal reality, but in the way in which these forms are translated in an individual life depends on the totally experience a person builds up in the course of his concrete existence”.

[5] Livre tradução de: “In the natural attitude of daily life we are concerned merely with certain objects standing out over against the unquestionable field of pre-experienced objects, and the result of the selecting activity of our minds its to determine which particular characteristics of such object are individual and typical ones”.

[6] Num contrato de leitura, as variações enunciativas dos jornais (os diferentes gêneros) se constroem a partir da imagem daquele que fala (o jornalista), as imagens de quem o discurso é endereçado (o público) e a relação entre encunciador e enunciatário.

[7] No dia 23 nov. 2005, o jornalista e editor do Jornal Nacional William Bonner causou mal-estar junto a alguns professores da Universidade de São Paulo convidados para conhecer um pouco sobre o funcionamento do telejornal. Ele afirmou que suas decisões editoriais partiam da idéia de que o perfil médio do brasileiro que assista o noticiário era similar ao do preguiçoso personagem de animação Homer Simpson. A fala de Bonner rendeu um artigo onde o professor da USP Laurindo Lalo Leal Filho relata o episódio e critica a atitude do apresentador do Jornal Nacional. O texto foi publicado na revista a Carta Capita. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=358ASP010. Bonner respondeu também com um artigo publicado no Observatório da Imprensa. S/d. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=358JDB004.

[8] Podemos ilustrar essa relação entre “crise” e defesa dos preceitos profissionais pela frase de Kovach & Rosentiel, (2003:22): “A menos que possamos entender a reivindicar a teoria de uma imprensa livre, os jornalistas correm o risco de ver sua profissão desaparecer”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BOURDIEU, P. Questions de sociologie. Paris: Les Editions de Minuit, 1984.

___________. “À propos de la famille comme catégorie réalisée”. Actes de recherche en sciences sociales, n° 100, dez. 1993, p. 32-36, versão digital utilizada.

DELPORTE, C. “Le constructivisme: une approche pertinente du journalisme”. Questions de communication, 2004, p. 111-134.

KOVACH, B.; ROSENSTIEL, T. Os Elementos do Jornalismo – O que os jornalistas devem saber e o público exigir. São Paulo: Geração, 2003.

LIPPMANN, W. “The Worl outside and the pictures in our heads”. In: Public Opinon, New York Free Press, 1922, p. 03-32.

MEDITSCH, E. O rádio na era da informação. Coimbra: Minerva, 1999.

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MOTA, L. G. “Crise no paradigma do jornalismo: mas qual paradigma?”. Pauta Geral,nº 5, 2003, p. 137-173.

NATANSON, M. “Introduction”. In: SCHUTZ, A. Collected papers: the problem of social reality. Hollande: Martinus Nihoff / The Hague, 1967. 2ª Ed.

ORTEGA, F.; HUMANES, M. L. Algo más que periodistas – sociología de una professión. Barcelona: Editora Ariel, 2000.

RINGOOT, R. “Por que e como analisar o discurso no contexto dos estudos sobre jornalismo?’ Comunicação & Espaço Público”, s/r, 2006. p. 133-139.

_________.; RUELLAN, D. “Journalism as permanent and collective invention”. Brazilian Journalism Conference. Porto Alegre: 2006.

RUELLAN, D. “A pesquisa em jornalismo e o interesse público. Pensar o corte e a costura”. IV Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Porto Alegre, 2006.

SCHUTZ, A. Collected papers: the problem of social reality. Hollande: Martinus Nihoff / The Hague, 1967. 2ª Ed.

TRAQUINA, N. O estudo do jornalismo no século XX. São Leopoldo: Unisinos, 2001

TREDAN, O. “A figura do público como public journalist”. Mídia & Política, n° 24, 2006. Disponível em: http://www.midiaepolitica.unb.br/visualizar.php?id=214&autor=Olivier%20Tredan.

TUCHMAN, G. “A objectividade como um ritual estratégico: uma análise das noções de objectividade no jornalismo”. In:TRAQUINA, N. (Org.). Jornalismo: Questões, teorias, estórias. Lisboa: Vega, 1993. p. 74-90.

*Fábio Henrique Pereira é doutorando em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB).


Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro [ISSN 1806-2776]