Nº 9 - Dez. 2007 Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ANO V
 
 

Expediente

Vinculada
à Universidade
de São Paulo

 
 

 

 


 

 

 

 

 

 


ARTIGOS
 


Notícia, conceito em revisão nos blogs jornalísticos


Por
Larissa Morais*


Reprodução

RESUMO

Estariam as novas formas de mediação tecnológica, na Internet, redesenhando as formas tradicionais que orientam essa prática? É o que este ensaio procura investigar, a partir da revisão de alguns dos principais conceitos do jornalismo tradicional à luz de textos dos blogs de alguns dos blogs políticos mais visitados do país.

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo online / Tecnologia / Noticiabilidade

Além do blog de Jorge Bastos Moreno, analisaremos textos dos blogs dos jornalistas Ricardo Noblat (o Blog do Noblat, ancorado no portal do Estado de S.Paulo) e Josias de Souza (Nos bastidores do poder, da Folha Online).

1. Introdução

Às 13h38m do dia 27 de março de 2006, o blog [1] do jornalista Jorge Bastos Moreno, publicado pelo portal Globo Online, tinha como post principal a letra da música Lanterna dos Afogados, de Herbert Vianna. Os versos eram dedicados ao então ministro da Fazenda Antônio Palocci que, alvo de denúncias de corrupção, [2] tinha sua permanência na equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por um fio.

Música do dia
[...] Quando está escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais do porto
Pra quem precisa chegar
Eu estou na lanterna dos afogados
Eu estou te esperando/ Vê se não vai demorar [...]
(Blog do Moreno, 27 mar. 2006).

Ao leitor desavisado, podia parecer que Moreno, que além de jornalista-blogueiro é colunista político do jornal O Globo, descansava momentaneamente da missão de suprir seu blog com informações de interesse dos leitores. Mas o contexto político apontava para uma interpretação diferente. Estava marcado para o mesmo dia um depoimento do então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, que poderia comprometer de vez a já abalada credibilidade de Palocci. Ironicamente, Moreno dizia que quem oferecia a canção a Palocci, como prova de amizade, era Mattoso.

Em depoimento à Polícia Federal, o presidente da Caixa deveria esclarecer como havia chegado às mãos da imprensa um extrato bancário do caseiro Francenildo Costa – que dias antes havia fornecido à CPI dos Bingos informações que punham em dúvida a conduta moral do ministro [3]. Pairava a suspeita de que o próprio Palocci havia pedido a quebra de sigilo do caseiro ao banco estatal, na tentativa de encontrar movimentação que colocasse em dúvida a veracidade do depoimento que o comprometera. Com as palavras de Herbert Vianna, o blogueiro dizia que a permanência de Palocci estava em jogo num momento em que ninguém mais acreditava nele. O ministro seria o desesperado da música, alguém a quem as pessoas não mais ouviam.

Às 15h43m, enquanto Mattoso depunha, Jorge Bastos Moreno colocou em seu blog uma segunda letra, a de Explode Coração [4], acompanhada do seguinte comentário: “[...] enquanto esperamos os desdobramentos da crise, continuaremos nosso ‘correspondente musical’ [...] sob o patrocínio da Caixa Econômica Federal [...]”. Um modo irônico de dizer que o representante do banco federal poderia deixar vir a público a dissimulação de Palocci. Seguiam os versos:

Chega de tentar dissimular
E disfarçar e esconder
O que não dá mais para ocultar
E eu não posso mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor e
Entregou o que você tentou conter [...]
(Blog do Moreno, 27 mar. 2003).

Dessa vez, por meio da música, o jornalista insinuava que o ministro era um mentiroso, alguém que já não conseguia ocultar sua traição. Menos de uma hora depois, o presidente da Caixa entregou seu superior: disse à PF que o ministro da Fazenda havia, de fato, descumprido a lei que preserva o sigilo bancário e pedido o extrato com a movimentação do caseiro. No fim da tarde, o Palácio do Planalto divulgou a informação de que Palocci havia pedido para se afastar do Governo.

Muitos estudiosos do jornalismo dirão que uma letra de música não é notícia: não atende a critérios de noticiabilidade, não expressa a objetividade jornalística ou a neutralidade esperada num texto dessa natureza. Recorrendo às definições mais tradicionais, também não seria possível considerar como notícia boa parte do conteúdo dos principais blogs jornalísticos – mesmo aqueles ligados a grandes grupos de comunicação. Conteúdos como poemas, textos sobre acontecimentos passados, comentários de leitores, recordações pessoais, insights. Mas não estará a realidade dos blogs de notícias apontando para uma necessidade de se repensar esse ponto de vista, como no exemplo citado? Que conceito de notícia se aplica nesse novo veículo?

Essas perguntas se inserem num questionamento maior quanto ao que é jornalismo, hoje. Estariam as novas formas de mediação tecnológica, na Internet, redesenhando as formas tradicionais que orientam essa prática? É o que este ensaio procura investigar, a partir da revisão de alguns dos principais conceitos do jornalismo tradicional à luz de textos dos blogs de alguns dos blogs políticos mais visitados do país. Além do blog de Jorge Bastos Moreno, analisaremos textos dos blogs dos jornalistas Ricardo Noblat (o Blog do Noblat, ancorado no portal do Estado de S.Paulo) [5] e Josias de Souza (Nos bastidores do poder, da Folha Online).

Foram escolhidos textos de blogs de jornalistas profissionais de carreira sólida na grande imprensa, veiculados por grandes empresas de comunicação, que atingem audiência relevante e alto grau de participação de leitores. Nossa proposta é analisar inovações do jornalismo em espaços legitimados nesse campo. Os blogs colocam em questão o jornalismo tradicional no seio dos mesmos grupos de mídia que construíram suas práticas.

Trabalhamos com a hipótese de, assim como as mudanças históricas, filosóficas e tecnológicas que marcaram a virada do século XIX para o século XX interferiram no que se convencionou chamar de notícia, a chamada crise da modernidade e a chegada da Internet na virada do século XX para o XXI recolocam a necessidade de uma revisão do conceito. Nossa proposta: repensar alguns paradigmas da teoria do jornalismo a partir de textos dos blogs. Mas antes se faz necessário um breve apanhado sobre o que se compreendeu por notícia ao longo da história do jornalismo.

2. A notícia na história do jornalismo

Ao longo da história do jornalismo, o conceito de notícia não foi sempre igual ao que conhecemos hoje. No Brasil, nos anos da imprensa colonial, informação e opinião não eram vistos como conteúdos distintos; ambos faziam parte das notícias veiculadas pelos jornais. Mais adiante, na maior parte do período imperial até o fim do século XIX, predominou um formato mais literário, onde também cabia ao jornalista se posicionar sobre os fatos dos quais tratava.  Foi só a partir dos anos 1950 que as notícias de cunho informativo passaram a predominar e a opinião tornou-se um conteúdo isolado em espaços específicos dos jornais.

Em outros países, os períodos em que as principais fases de amadurecimento da imprensa ocorreram foram diferentes, mas a transformação do conceito de notícia foi semelhante. Mostrar a transformação desse conceito é, neste ensaio, um caminho para a compreensão, no campo do jornalismo, das narrativas dos blogs – onde opinião e informação caminham novamente juntos, em textos sem normas definidas.

A notícia no primeiro jornalismo

É também chamado político-literário o jornalismo que surge na Europa no fim do século XVIII sob influência das idéias iluministas. Daí até a chegada da fase industrial do jornalismo, nas primeiras décadas do século XIX, a atividade jornalística é marcada pela efervescência de idéias, o questionamento da autoridade, a crítica da política e a confiança no progresso (Cf. MARCONDES FILHO, 2000).  O conceito de notícia é bastante abrangente: cabem nos jornais textos informativos, mas prevalecem aqueles que são opinativos, críticos e redigidos num estilo literário.

Lustosa (2000) diz que, na Londres do século XVIII, livro e periódico não eram considerados objetos culturais diferentes por completo. O jornal era visto como “uma espécie de fragmento de livro” e “o papel do jornalista se confundia com o do escritor”. (Cf. LUSTOSA, 2000: p.29). O que se esperava do veículo não era propriamente acesso a informação, mas análise e instrução. Textos apresentando pontos de vista pessoais eram, portanto, considerados notícias.

No Brasil, onde por razões históricas em jornalismo surge só após a chegada da família real portuguesa ao país (1808), quando a Europa já tinha quase 200 anos de história do jornalismo para contar, as características da primeira fase do jornalismo são semelhantes. Difundir suas próprias opiniões quanto aos fatos políticos do período pré-independência era a proposta de Hipólito da Costa, o fundador do Correio Braziliense. Apesar de impresso em Londres, esse periódico é considerado o marco inicial do jornalismo brasileiro, em 1808.

O retorno de D. João VI a Portugal, em 1921, é seguido do surgimento de uma série de jornais panfletários, como o Revérbero, o Espelho e a Malagueta – analisados por Lustosa (2000) na tentativa de correlacionar a luta política pela independência ao surgimento da imprensa no Brasil. Nesses veículos, entre outros, a historiadora encontra um debate com “níveis de violência que incluíam o insulto, o palavrão, os ataques pessoais, as descrições deturpadas de aspectos morais ou físicos e até a agressão pessoal,” (Cf. LUSTOSA, 2000: p.16), mas também “um forte estímulo à participação democrática e, com ela, a emergência de estilos de escrita ricos, variados, originais”. (Idem, Ibidem, 2000: p.17).

A notícia na imprensa capitalista

Na Europa, as inovações técnicas ocorridas principalmente na segunda metade do século XIX, a começar pela invenção da rotativa, exercem influência decisiva na transformação dos periódicos em produtos. [6] Os jornais tornam-se empresas capitalistas movidas a grandes máquinas e vultosos investimentos; a imprensa ganha espaço e torna-se mais popular em todo o mundo. [7] É quando se inicia a venda de espaços publicitários que garantirá, além da cobertura dos custos de produção, o lucro dos investidores. Com os anúncios ajudando a custear a produção, é possível reduzir o preço dos periódicos, facilitando o acesso de uma quantidade maior de pessoas ao produto.

Traquina (2002) observa que é nesse momento que as notícias se configuram sobretudo como produto jornalístico baseado em fatos em vez de opiniões, e ganham forma os conceitos de atualidade, objetividade, neutralidade, que virão a se tornar paradigmáticos da atividade jornalística. Os avanços na rapidez de transmissão da informação, em particular a partir da invenção do telégrafo, em 1866, influenciam profundamente o surgimento de uma nova forma narrativa para os textos jornalísticos. Passa a ser desejável que eles sejam enxutos e objetivos, pois dessa forma seriam mais facilmente transmissíveis pelo novo aparelho. Essa nova maneira de narrar, bem como um conjunto de novos valores da profissão, ajudam a garantir que os jornalistas, agora sob a pressão de uma produção acelerada no ritmo industrial, consigam transformar de forma muito rápida acontecimentos em notícias.

Na época, os jornais brasileiros ganham feição mais empresarial, se modernizam, mas ainda não conquistam penetração forte. Seus textos ainda não são muito influenciados pelos produzidos na Europa e nos Estados Unidos, num estilo mais informativo e impessoal. Até meados do século seguinte, quando o país se industrializa, o jornalismo brasileiro é marcadamente literário (Cf. SODRÉ, 1999). O marco inicial da mudança de estilo dos jornais é o ano de 1877, quando o Jornal do Commercio publica os primeiros telegramas com notícias enviadas de Londres pela agência internacional de notícias Hava-Reuters. Segundo a Callado (2002) a imprensa se distancia da literatura à medida que o novo formato narrativo ganha espaço.

A notícia na era dos monopólios

O chamado terceiro jornalismo é o dos monopólios, que surge no século XX na Europa, nos Estados Unidos e em boa parte dos países ocidentais, assim como no Brasil. O início do século marca uma época de ouro para os jornais do ponto de vista das tiragens; [8] o fim, uma fase de crise e declínio. É nesse período que surgem o rádio e a televisão – meios que alcançam uma penetração jamais atingida pela imprensa escrita e que passam a disputar a preferência do público como meio de informação e entretenimento.

Como o investimento necessário para criar, manter e distribuir um grande jornal aos poucos se torna cada vez mais elevado, com as constantes inovações tecnológicas, vai diminuindo o número dessas publicações em toda parte. Considerável número dos jornais de peso é ligado a outras empresas de comunicação. Nos Estados Unidos, cria-se o conglomerado Hearst; na Inglaterra, o Northclyff; na Alemanha, Ullstein e Mosse (Cf. MARCONDES FILHO, 2000). No Brasil, surgem os Diários Associados e as Organizações Globo.

No país, é a partir dos anos 1950 que a atividade se firma como força industrial, como observa Ana Paula Goulart Ribeiro (2002) e passa a ter uma vendagem significativa. A autora diz que, nessa década, a atividade passa por uma profunda reformulação, sob a influência do modelo norte-americano. “No cerne desse processo, estava a incorporação do ideal da objetividade, que se formalizou em uma série de procedimentos técnicos de redação (lead, pirâmide invertida, copydesk, style books etc.)” (Cf. RIBEIRO, 2002: p.285).

Nesse período, muitos dos escritores que produziam textos literários para os jornais brasileiros vão aprender nos Estados Unidos as novas técnicas. É a partir daí que o estilo jornalístico passa a ser marcado, também no Brasil, “pela impessoalidade, o distanciamento enunciativo em relação ao universo de referência” (Cf. RIBEIRO, 2002: p.285). Essa americanização da imprensa coincide com a fase em que o jornalismo, no Brasil, se profissionaliza e ganha legitimidade.

Imprensa em crise na era tecnológica

No fim do século XX, os jornais impressos entram em processo de enfraquecimento.

Para Sodré (1999), no Brasil, a crise pode ser associada à concorrência com a tevê, bem como ao fato de o avanço tecnológico ter obrigado as empresas jornalísticas a fazerem investimentos acima de suas possibilidades. Esses investimentos comprometeram a solidez financeira de muitos grupos, tornando-os mais sujeitos à pressão dos anunciantes. O historiador vê como sinais dessa crise não apenas problemas financeiros e queda de tiragens, mas também perda de credibilidade e uniformidade nas opiniões dos jornais.

Marcondes Filho (2000) chama a atenção para o fato de que a crise da imprensa escrita coincide com a chamada crise da modernidade, no fim do século XX. Para ele, o jornalismo incorporou tão bem os ideais da modernidade, que começou a perder terreno quando os valores dessa época entraram em crise.  O autor vê, na atualidade, um excesso de fragmentação da notícia e uma falta de “fio condutor” que demonstraria certo menosprezo pela capacidade do leitor; Pierre Bourdieu (1993) critica severamente a superficialidade como os assuntos são tratados.

Fernando Resende (2002) observa que, no contexto brasileiro, prevalecem na grande imprensa textos “atrofiados” – narrados sem a preocupação de expor o contexto dos acontecimentos, as tramas que os teceram. Regra geral, os autores concordam que o modelo de notícia da chamada era da informação não se diferencia significativamente daquele criado nos anos 50, por influência do jornalismo americano.

Depois da chegada do rádio e da tevê, a chegada da Internet, [9] acentua essa crise da imprensa escrita, atingindo em cheio os jornais. A proliferação de jornais on line oferecendo noticiário fresco e gratuito todos os dias, o dia todo, acaba representando uma concorrência pesada que esses veículos parecem ainda não saber bem como enfrentar. Atualmente, existe certo consenso em torno da idéia de que, para continuar a existir, no Brasil e no exterior, o jornal impresso terá de investir num texto mais interpretativo e analítico, que aponte as implicações das notícias na vida dos leitores. Ainda não é percebida, contudo, uma mudança abrangente e consistente de abordagem nos principais jornais.

Nesse sentido, o esforço deste trabalho é encontrar narrativas que se afastam desse padrão. Em vez de semelhanças, aqui o objetivo principal é analisar as diferenças presentes nos textos de blogs de notícias veiculados nos portais das mesmas empresas que produzem esses noticiários online. O que se busca é entender que características dos textos produzidos nesses novos espaços apontariam para a necessidade de uma revisão de alguns dos conceitos que orientam a prática jornalística.

3. Revendo conceitos

Os avanços tecnológicos nos meios de comunicação têm exercido influência fundamental na mudança da linguagem e da estrutura da notícia desde o nascimento do jornalismo. Regra geral, a necessidade de adequar a forma de escrever à rotina industrial de produção dos jornais teve uma ligação direta com o surgimento de determinados padrões de redação. Das regras para a elaboração do lead aos preceitos de objetividade e neutralidade/isenção jornalística, tudo tem como objetivo facilitar a escrita de matérias na corrida contra o tempo: não é preciso pensar muito para escrever.

Até que ponto a Internet pode interferir no modo de se escrever notícias para a rede e para fora dela? Os serviços de informação em “tempo real” veiculados pela Internet irão sacramentar de vez o texto informativo clássico, dada a importância atribuída à rapidez na divulgação dos fatos, ou o texto mais livre dos blogs é que irá “contaminar” o jornalismo tradicional? São questões a discutir.

Os blogs e a objetividade

O paradigma da objetividade remete a uma das mais antigas discussões filosóficas do mundo ocidental, referente ao sentido da verdade. Para Platão, a verdade era um valor supremo a ser buscado. Ela existiria num mundo metafísico que abriga as essências de todas as coisas. Essa noção de que há uma verdade única e inabalável inspira filósofos iluministas como Rousseau e funciona como um dos principais pilares da modernidade – a época-mãe do jornalismo.

O conceito é modificado por Nietzsche, que contesta a metafísica platônica e relativiza o sentido da verdade. O filósofo vai contra a idéia de que a verdade é um valor superior. (Cf. MACHADO, 1984).

No jornalismo, a adoção do ideal da objetividade tem suas origens no século XIX e costuma ser relacionada, nesse período histórico, à necessidade de adequar a escrita jornalística às necessidades de produção dos jornais, mas também a um movimento de legitimação do jornalismo, a partir da adoção de um método científico de trabalho.

Exprimir objetividade ao narrar os fatos – ou seja, narrá-los tal como ocorreram – passa a ser sinônimo de rigor profissional. Traquina (2002) afirma que, no século XIX, há um grande esforço no campo da ciência, mas também na filosofia e na sociologia, por imitar o invento da máquina fotográfica. Ser capaz de reproduzir o real.

O segundo momento histórico relevante no que se refere à adoção do ideal de objetividade pelo jornalismo é situado nos anos 1920/1930, nos Estados Unidos, como afirmação de um método de trabalho que não mais tomava os fatos como merecedores de confiança (Cf. SCHUDSON, 1978). O autor explica que:

Antes de 1920, os jornalistas não pensavam muito a respeito da subjetividade da percepção. Eles eram pouco incentivados a duvidar da concretude da “realidade” em que viviam. [...] Depois da Primeira Guerra, contudo, isso mudou. Jornalistas, entre outros, perderam a fé [...]. A experiência da propaganda durante a guerra e, em seguida, o surgimento das relações públicas, convenceram-nos de que o mundo que eles narravam havia sido construído por partes interessadas para que eles o narrassem. (Cf. SCHUDSON, 1978: p.06, tradução da autora).

Em outras palavras, com a ideologia da objetividade, os jornalistas substituíram uma fé simples nos fatos por uma fidelidade às regras e procedimentos criados para um mundo no qual até fatos eram postos em dúvida. Ribeiro (20603) analisa um outro aspecto da crença na objetividade. A autora afirma que os jornalistas brasileiros que, nos anos 1950, foram para os Estados Unidos aprender as novas regras jornalísticas não tinham uma visão ingênua quanto ao significado da objetividade. Em depoimento à pesquisadora, o jornalista Luiz Garcia, que viveu esse momento histórico de transformação no jornalismo brasileiro, reconhece que o próprio lead e o ângulo dado a uma reportagem não deixam de ser uma opinião.

Por ser vista no meio jornalístico como algo desejável, ainda que impossível de ser atingido, a objetividade continuou sendo um dos principais parâmetros da linha editorial dos principais veículos de comunicação do Brasil. Talvez por isso, “após o recuo da objetividade nos diversos âmbitos do conhecimento, o jornalismo persiste em ser o guardião da prática, transformando-a em sinônimo de equilíbrio e de eqüidade” (Ferreira, 2002, p. 275).

O lead clássico funciona como uma espécie de cartilha que indica a forma como as notícias devem ser narradas com objetividade. Cartilha que, nos blogs, com freqüência é posta de lado. Ao permitir a transmissão da notícia a partir de um ponto de vista pessoal, os jornalistas-blogueiros abrem espaço para transmitir, em vez de verdades, versões contadas a partir de um ponto de vista claramente explicitado. Sem deixar de ser, em certo aspecto, objetivo, o pequeno texto reproduzido a seguir, de Jorge Bastos Moreno, foge bastante ao padrão de objetividade jornalística que conhecemos.

Sábado triste
Foi anunciada há pouco a morte do Bussunda.
Para não repetir lugares-comuns, abro espaço para os leitores, como eu, admiradores do humorista. (Blog do Moreno, 17 jun. 2006).

O tom é de tristeza. Parece faltar ao jornalista energia para entrar em detalhes sobre a morte do humorista. Moreno não escreve o nome todo de Bussunda, nem sua idade ou sua trajetória profissional. Parte do princípio de que todos os seus leitores já sabem de tudo isso, algo impensável no jornalismo tradicional. Ele também não informa local ou circunstâncias da morte. Tudo indica que pressupõe também que seus leitores já tomaram conhecimento desses fatos por outros meios de comunicação. Como narrar de forma objetiva alguma coisa que, conforme o jornalista informa logo no título, lhe causa tristeza? A solução encontrada foi fazer um relato mínimo, pouco informativo, e convidar os leitores a construírem a muitas mãos um texto de homenagem. [10] Em vez de retratar com suposta fidedignidade algo que aconteceu, o jornalista propõe o oposto, uma narrativa aberta e inesperada, que fuja ao lugar-comum.

A lógica da objetividade absoluta também é relativizada na nota do blog de Josias de Souza publicada no formato reproduzido a seguir, ao lado de uma ilustração intitulada “El demagogo” (o demagogo).

Normalidade anormal

É insuportável a normalidade que permeia a atual campanha eleitoral. Algo de muito anormal precisa suceder. Sob pena de o eleitor tomar por natural o que é absurdo.

Quem não quiser perder a compreensão do que está acontecendo deve levar em conta o seguinte: PT e PSDB são prisioneiros de um mesmo paradoxo. Prometem a modernidade de braços dados com o arcaísmo. [...]

De fato, olhando ao redor não se encontra no quadro partidário nada menos ruim do que PT e PSDB. Porém, o ideal político dos dois partidos passou a ser a destruição mútua. [...]

Passado o ritual da eleição, o novo gerente do velho condomínio de interesses, seja Lula ou Alckmin, cairá no colo do mesmo centrão partidário amorfo, isotrópico e inefável. [...] (Nos bastidores do poder, 09 set. 2006).

Na figura, um político vomita (sua verborragia?) sobre as cabeças das pessoas que se posicionam abaixo de sua sacada, seus eleitores. De saída, a figura já estabelece com o texto uma relação subjetiva. Ali poderia haver uma foto dos dois candidatos que se enfrentarão no segundo turno das eleições presidenciais se entreolhando, ou uma montagem que insinuasse um embate de forças. Em vez disso, Josias postou uma ilustração genérica, que remete aos dois ao mesmo tempo, na condição de possíveis governantes. O desenho por um lado reforça o sentido crítico do texto, por outro abre uma janela interpretativa.

O jornalista também usa palavras tidas como vagas para o jornalismo tradicional e, nesse sentido, pouco objetivas para demonstrar o quanto está atônito com a condução da política de alianças realizada pelos partidos que disputam o segundo turno das eleições presidenciais: diz que a normalidade da campanha é “insuportável” e “absurda”. Seu texto se assemelha em parte ao de uma coluna opinativa, em parte à carta de um leitor que não mede palavras para expressar seu ponto de vista. Como retratar fidedignamente uma questão tão cheia de nuances quanto uma disputa política pelo mais alto cargo político do país? Como ser objetivo e preciso? O jornalista parece achar que isso não vem ao caso e aproveita a liberdade do espaço do blog para se expressar de uma forma alternativa.

Os blogs e a atualidade

Na Internet, o apelo da atualidade é reforçado pela possibilidade de as notícias poderem ser divulgadas poucos minutos depois de acontecerem. Os serviços informativos dos principais jornais online se valem muito do que Silvia Moretzsohn (2002) chama de fetiche da velocidade – vale mais a rapidez com que as notícias foram veiculadas do que a qualidade do texto ou o aprofundamento da informação. Não é por outra razão que a informação que vem primeiro, antes mesmo do título, é o dia e horário em que uma nota ou matéria foi posta no ar. É assim na Folha Online, no Globo Online e no Estadao.com.br, entre outros jornais da web.

Zélia Adghirni (2002) observa que, nesses serviços, a importância social ou política de um acontecimento tem menos peso do que sua ordem cronológica. “O que acabou de acontecer derruba a notícia anterior na hierarquia do tempo real”, afirma a autora (2002: p.02). Os nomes desses noticiários online já ilustram que o fator tempo tem mais importância do que os próprios acontecimentos: “Plantão” (Globo Online), “Últimas notícias” (Estadao.com.br), “Último segundo” (JB Online) etc. Outras críticas de Adghirni (2002) são a excessiva fragmentação da notícia e a perda de sua contextualização.

Mas se os serviços noticiosos dos principais portais têm competido pelo viés da rapidez com que veiculam informações do dia-a-dia, os blogs jornalísticos ligados a esses mesmos portais têm se destacado numa direção diferente: pelo viés da análise, do olhar diferenciado, sempre mais autoral. Josias de Souza conta que, quando começou a fazer seu blog, chegou a aderir à produção de notícias em tempo real, mas em pouco passou a crer que isso não fazia sentido: “No início eu postava muito, alucinadamente. [...] Hoje estou menos neurótico em relação ao número de postagens e um pouco mais preocupado com a qualidade da postagem e com o refinamento do assunto”. (Portal Imprensa, 29 nov. 2006).

Como nos informativos em tempo real, nos blogs os textos mais recentes ficam acima dos mais antigos. Por outro lado, não necessariamente as novas postagens se referem a algo que acaba de acontecer. Em geral, elas apenas foram escritas depois. A escolha do que é publicado e quando é publicado atende a critérios estabelecidos pelo jornalista-blogueiro, como observa Rezende (2006).

No espaço dos blogs, o sentido do tempo e, conseqüentemente, da atualidade ganha outra dimensão. Os assuntos tratados pelos blogueiros dificilmente deixam de ter alguma ligação com o noticiário do momento; mesmo assim estabelecem uma relação diferente com a temporalidade. Ao se caracterizar como um espaço aberto a uma visão pessoal de quem o escreve, os blogs colocam assuntos factuais em diálogo com acontecimentos passados, memórias, experiências pessoais. Em outras palavras, a quebra do paradigma da neutralidade jornalística flexibiliza a relação das notícias nos blogs com a atualidade. Para estar num blog jornalístico, um assunto não precisa, necessariamente, ser uma novidade – e nem por isso perde a legitimidade perante os leitores.  A nota a seguir ilustra essa idéia:

Reformas e Reformas
A Ci ência acaba de desvendar um mistério milenar: quem nasceu primeiro foi o ovo, não a galinha. Mas muitas perguntas continuam ainda sem respostas. Por exemplo, quem nasceu primeiro, Delúbio ou Marcos Valério? Há também perguntas com respostas. Como esta:
Repórter – O poder corrompe?
Ulysses Guimarães O poder absoluto sim. Mas não é o poder que corrompe o homem. É o homem que corrompe o poder. O Estado é cria do homem, não o homem cria do Estado. Não é o Estado que dá boca para falar, ouvidos para ouvir, mãos para abraçar e coração para sofrer, amar e perdoar [...]. (Blog do Moreno, 27 mai. 2006, negrito do jornalista).

Na nota, a partir de uma inusitada descoberta científica, Jorge Bastos Moreno retoma duas questões do passado. O escândalo do mensalão [11], que na época já estava praticamente fora do noticiário da grande imprensa, e um depoimento de Ulisses Guimarães, falecido em 1992. Nessa nota, a notícia mais atual é apenas gancho para um questionamento irônico e a rememoração de uma fala histórica que ajuda a pensar a crise política do país. Como observa Carlos Eduardo Franciscato (2001: p.265), em trabalho sobre a atualidade no jornalismo, “a percepção de um tempo presente é obtida não somente da apreensão imediata (pelos sentidos) do mundo, mas pela mediação que a cultura exerce sobre a experiência”.

Como em boa parte das notas que o jornalista publica, a ironia é o tom que prevalece.

O formato de pergunta e resposta é inusitado nessa situação, já que o entrevistado está morto e Moreno não se preocupa em lembrar isso aos leitores. O formato como se expressa, brincando com as palavras e misturando o tempo presente com o passado, é inusitado mesmo para o padrão dos blogs políticos.

O que é veiculado no blog pode ser apenas um comentário – não necessariamente ligado a algo que acaba de acontecer. Nesses casos, o veículo se aproxima mais de uma crônica ou uma coluna do que dos noticiários da Internet. A diferença é que, enquanto num jornal o espaço da opinião se apresenta separado do espaço das notícias, nos blogs as duas coisas costumam vir juntas. Como nos jornais publicados nos primórdios do jornalismo brasileiro.

Os blogs e a neutralidade

Criados no fim dos anos 90, nos Estados Unidos, como diários pessoais, mesmo quando incorporados ao jornalismo, os blogs mantêm o tom pessoal como característica-chave. Dessa perspectiva, a isenção deixa de ser algo natural. Em outras palavras, se nos blogs o lugar de enunciação é ocupado por um jornalista de carne e osso que narra notícias a partir de uma visão pessoal, esse profissional não tem como estabelecer um distanciamento seguro dos assuntos que aborda.

Ricardo Noblat conta que os leitores do seu blog costumam cobrar sua opinião sobre o que ele noticia: “Quando faço três ou quatro posts sem dar opinião, apenas relatando algum assunto, eles dizem: desce do muro!” (Observatório da Imprensa, 30 out. 2006). Enquanto nos meios convencionais os patrões cobram que o jornalista não se coloque, nos blogs isso é não só aceitável, como desejável, segundo o jornalista.

Tanto os grupos de mídia reconhecem essa posição que estão estimulando a proliferação de blogs que têm veiculado pontos de vista que extrapolam o próprio colunismo. Como no post abaixo, em que Ricardo Noblat chama o então ministro da Fazenda de mentiroso e de criminoso, algo inimaginável nas páginas de qualquer veículo da grande imprensa, mesmo numa coluna ou num artigo assinado:

Mentiroso e criminoso
Que mentiroso esse Palocci.
Disse à CPI dos Bingos que jamais pôs os pés na alegre mansão alugada em Brasília pela turma da "República de Ribeirão" – onde rolaram festas íntimas e negócios suspeitos.
Um motorista, um corretor de imóveis e o caseiro Francenildo disseram que o viram lá muitas vezes.
Que criminoso esse Palocci.
Jorge Mattoso, presidente da Caixa Econômica, disse à Polícia Federal que entregou a Palocci o extrato da conta de Francenildo cujo sigilo fora quebrado.
Se não pediu a quebra do sigilo, Palocci deveria ter mandado prender Mattoso na hora. [...] (Blog do Noblat, 27 jun. 2006).

Em outro exemplo explícito de posicionamento político, Noblat declarou seu candidato a presidente da República. Na semana que antecedeu o primeiro turno das eleições, disse que votaria em Cristovam Buarque, do PDT, e expôs abertamente suas razões para isso. Os blogs estão repletos de exemplos em que seus atores dão as costas à neutralidade jornalística. Cada um em seu estilo.

Jorge Bastos Moreno também abriu mão complemente da neutralidade com o objetivo de defender um amigo da execração pública. No início de setembro, os principais jornais do país noticiaram com destaque que o ator Paulo Betti, conhecido pelo envolvimento de longa data com o PT, disse ser “impossível fazer política sem colocar a mão na merda”. A frase, dita na saída de um encontro entre artistas e o presidente Lula, no Rio de Janeiro, foi uma tentativa atrapalhada de dizer que o partido do presidente fez o que todos os outros fazem, mas deixou Betti muito mal com a opinião pública. O ator foi criticado em colunas, editoriais, cartas de leitores e áreas de comentários dos principais blogs políticos.

Nesse cenário de todos contra um, Moreno decidiu publicar em seu blog uma carta em que o ator se queixava da forma como suas palavras foram tomadas pela imprensa. Na abertura do post que reproduzia a fala de Betti, Moreno disse que punha a mão no fogo pelo ator. Segue o início da longa nota publicada em defesa do ator:

Gente,
Eu vou botar a mão no fogo. Vou botar porque conheço e acredito nele. Estou falando do ator Paulo Betti. Eu boto a minha mão no fogo pelo Paulo Betti porque, graças a Deus, tem gente de bem neste país. E não são poucos não. [...] (Blog do Moreno, 03 set. 2006)

Como fica claro nesses textos, as regras dos manuais de redação também não se aplicam ao novo veículo. Na nota a respeito de Paulo Betti, Moreno comete vários pecados mortais do jornalismo tradicional. Para começar, escreve no formato de um bilhete para os leitores, informalmente chamados de “gente”. Em seguida, diz colocar a “mão no fogo” pelo ator, alguém que ele diz considerar “gente de bem”, “graças a Deus”.

Se defender abertamente a personagem de uma matéria já é contra as regras do jornalismo, colocar a mão no fogo seria algo inaceitável numa matéria de jornal. O tom usado por Moreno seria forte até mesmo num artigo assinado, como o próprio jornalista disse: “Se estivesse escrevendo para o jornal jamais poderia dizer isso” (Lide, n° 46, set./out. 2006, p. 09). Moreno acha os blogs são um espaço de regras distintas das vigentes na imprensa tradicional, no qual emitir uma opinião não seja defeito, mas parte do jogo.

4. Considerações finais

Como lembra René Berger (2003), a ciência moderna impôs à sociedade ocidental o Verdadeiro experimental, banindo outras formas de verdade e impondo a separação entre sujeito e objeto. Esse e outros paradigmas da modernidade foram perfeitamente aplicados ao jornalismo. Se os primeiros anos da prática foram marcados por certa liberdade narrativa, tão logo a atividade tornou-se industrial a abordagem informativa dos assuntos passou a prevalecer. Critérios como o de neutralidade, o de atualidade e o de objetividade, que impõem ao jornalista um modo de narrar distanciado de seu objeto, atribuíram à prática ares de cientificidade.

Mas no fim do século XX a chamada crise da modernidade, estudada por muitos autores, acabou colocando em xeque os discursos legitimadores dessa época. As mazelas sociais de nosso tempo mostraram que a confiança inabalável no progresso não se justificava e a noção de relativismo contribuiu para colocar em dúvida a noção de que há uma verdade científica única. Nesse movimento, é factível imaginar o jornalismo também como uma metanarrativa em crise, impelida a repensar seus próprios valores a partir de um conjunto de mudanças filosóficas, históricas e tecnológicas.

Bruno Latour (1994) afirma que o mundo sempre foi caótico; a realidade, múltipla e hipertextual. A modernidade é que tentou nos convencer do contrário. Para o autor, o que ocorre hoje é que, na passagem para o século XXI, a Internet e suas hiperconexões explicita o mundo como ele realmente é.

No que se refere ao jornalismo, a chegada da rede intensifica essa necessidade de uma revisão crítica. A rede traz outras formas de interação social, inclusive no âmbito do jornalismo. Crescem o volume e a variedade de informações disponíveis; aumenta a rapidez na disseminação dessas informações. Os blogs, particularmente, abrem a possibilidade de interação com o leitor de forma direta e quase instantânea.

Acreditamos que, ao se desviarem do padrão narrativo da notícia jornalística, experimentando novas fórmulas, alguns jornalistas-blogueiros colocam-se em linha com esse processo de busca de um modelo de jornalismo mais condizente com a realidade atual. Recursos como o uso recorrente da narrativa na primeira pessoa e a intensa valorização dos comentários de leitores configuram, a nosso ver, tentativa de, se não neutralizar, ao menos reduzir essa distância entre sujeito-jornalista e objeto-notícia que se estabeleceu durante boa parte da história do jornalismo.

As narrativas dos blogs de notícias parecem indicar também que a Internet não é lugar apenas para a informação jornalística instantânea. Não há como dizer se a construção de narrativa jornalística nos blogs de Ricardo Noblat, Jorge Bastos Moreno e Josias de Souza representa uma tendência aplicável ao jornalismo em geral. Parece-nos, contudo, já ser possível afirmar que eles contribuem para legitimar uma forma paralela de se fazer jornalismo que coexiste com a forma tradicional, ampliando o leque de possibilidades para o leitor e enriquecendo o jornalismo como um todo.

NOTAS

[1] A definição da enciclopédia livre Wikipédia para a palavra blog é “página da Web cujas atualizações (chamadas posts) são organizadas cronologicamente (como um histórico ou diário)”. Essa ordem cronológica é invertida: os textos mais recentes estão sempre no topo, como lembra Rebecca Blood (2003).

[2] Antônio Palocci é acusado de ter chefiado um esquema de corrupção quando foi prefeito de Ribeirão Preto/SP (1993-1996). Por meio da cobrança de "mesadas" de até R$ 50 mil mensais de empresas que prestavam serviços à prefeitura, ele teria alimentado os cofres de seu partido, o PT, com dinheiro ilícito.

[3] O extrato bancário de Francelino Costa, caseiro da mansão apelidada pelos jornais de “República de Ribeirão Preto”, foi publicado no site da revista Época em 17 mar. 2006. O caseiro disse a parlamentares que Palocci freqüentava a mansão em que ele trabalhava. Essa mansão, por sua vez, era mantida por suspeitos de praticar corrupção no governo municipal de Ribeirão Preto.

[4] Letra de Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha.

[5] O Blog do Noblat, hoje hospedado no Globo Online, ficava no Estadao.com quando este ensaio foi redigido.

[6] Em meados do século XV, a tecnologia existente permitia a impressão de 50 páginas por hora; com as rotativas Marinoni, em 1871 tornou-se possível imprimir 95 mil páginas por hora. Dados de Nelson Traquina (2002:23).

[7] Nelson Traquina (2002:21) destaca que, na França, o número de jornais aumentou de 49, em 1830, para 220 em 1881. As tiragens passaram de 34 mil, em 1815, para 2,5 milhões em 1880.

[8] O jornal Le Petit Parisien tinha tiragem de 1,5 milhão de exemplares em 1914. O entreguerras marca o fim dessa idade de ouro na Europa, segundo Marcondes Filho (2000).

[9] De acordo com Ferrari (2002), no fim dos anos 1980 a Internet já estava presente no Brasil, mas tinha uso restrito a instituições de pesquisa. A partir de meados dos anos 1990, a rede já possuía uso comercial, no país.

[10] No sentido de uma homenagem, a intenção não chegou a se concretizar, pois muitos leitores postaram comentários criticando Bussunda. Por outro lado, houve a construção de um texto apresentando diferentes visões do trabalho do humorista do grupo Casseta & Planeta.

[11] Mensalão foi como a imprensa chamou o esquema de compra de votos de parlamentares pelo governo do PT, denunciado pelo deputado Roberto Jefferson em 2005.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DOCUMENTOS ONLINE

Blog do Noblat – Disponível em: http://noblat1.estadao.com.br/noblat/.
Blog do Moreno – Disponível em: http://oglobo.globo.com/online/blogs/moreno/.
Nos bastidores do poder – Disponível em: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/.

ENTREVISTAS

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*Larissa Morais é jornalista e mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio, tendo trabalhado com reportagem, coordenação e edição em diversos veículos da mídia impressa e digital, como JB, O Globo, Globo On Line e Jornal do Commercio.


Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro [ISSN 1806-2776]