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Jornalismo de profundidade
O jornalismo literário de Realidade (1966-1968)
Por Vaniucha de Moraes e Jorge Kanehide Ijuim*
RESUMO
A revista Realidade foi um marco na história da reportagem brasileira. Originada na década de 1960, esta publicação revolucionou tanto pela amplitude da abordagem temática quanto pela linguagem utilizada. O jornalismo produzido por Realidade introduziu o segmento brasileiro de revistas de informação geral na imprensa moderna, uma vez que estava em sintonia com as tendências jornalísticas mais inovadoras, contemporâneas à revista, como por exemplo, o Novo Jornalismo.
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Imagens: Reprodução
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Durante os três primeiros anos de existência, exibiu em suas páginas, reportagens de grande riqueza informativa e estética, que se apropriavam de recursos estilísticos literários na produção de reportagens de densidade. Em virtude de suas características essenciais, Realidade pode ser considerada uma representante legítima do Jornalismo Literário brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo Literário / Literatura / História
1. A experiência de Realidade na imprensa brasileira
Na história da imprensa brasileira do século XX, a revista Realidade está entre as experiências mais inovadoras em termos de linguagem e abordagem temática. O uso do formato da grande reportagem produzida com profundidade e recursos literários para tratar de temas que geravam impacto e repercussão foi a marca desta publicação da Editora Abril.
Realidade foi a primeira experiência da editora na área de revistas de informação geral. Lançada em 1966, foi produzida por dez anos consecutivos com periodicidade mensal e desde a sua primeira capa conseguiu obter uma grande adesão perante o público.
Fig. 1. Realidade, nº 1, 1966.
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Era o ano da Copa do Mundo em Londres e a revista estampava Pelé sorridente com o chapéu da guarda real britânica. Por dentro da revista, uma matéria deduzia o tricampeonato brasileiro antes mesmo que ele acontecesse ("Ganhamos em Londres. Brasil Tricampeão", Realidade, abril de 1966).
A partir desta primeira edição (ao lado) o sucesso de tiragem e de público cresce gradativamente a cada número. Contudo, não era apenas o apelo por elementos da cultura popular brasileira que fez da revista um marco do jornalismo nacional.
A revista Realidade chegava com a proposta de tratar de uma soma variada de assuntos de uma forma aprofundada e através de perspectivas diferenciadas.
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Realidade se destacou por distanciar-se do formato hegemônico da imprensa diária cujos textos concisos e imparciais não conseguiam acompanhar as intensas transformações que aconteceram durante a década de 1960 no Brasil e no mundo.
Além disso, estava instaurado no país, desde 1964, o regime militar que ia aos poucos cerceando a liberdade de imprensa por meio da censura. A revista diferenciou-se por enquadrar os assuntos mais pertinentes deste período por intermédio de uma linguagem sofisticada, amparada por uma forte carga autoral, capaz de transmitir o clima de liberdade que havia nos bastidores da redação.
Esta fórmula ia ao encontro da espécie de leitor que despontava na época: a classe média urbana em formação, constituída sobretudo por jovens de nível escolar superior ou pelo menos equivalente ao ensino médio de hoje (Cf. LIMA, 2004:224).
Esta nova audiência estava interessada em compreender o turbilhão de mudanças que movimentava o país e o mundo daquela época. Assim, a revista cumpria o seu papel ao levantar assuntos que atendiam à esta demanda por modernização: ciência, política, sexualidade, religião, mudanças comportamentais e da juventude. Foram questões encaradas de forma direta, fundamentalmente no transcorrer dos três primeiros anos, período emblemático do seu formato, tornado posteriormente uma referência em termos do gênero reportagem.
O ocaso da publicação foi motivado pelo endurecimento do regime militar instaurado no Brasil em 1964. No final de 1968, com a promulgação do Ato Institucional número 5, que entre outras medidas não democráticas, implantava a censura para os meios de comunicação no Brasil, comprometia-se de forma irreversível a proposta da revista, que estava amparada em um jornalismo de profundidade, contestador da ordem conservadora então vigente no Brasil na década de 1960.
Realidade persistiu mesmo transigindo em sua fórmula inicial, pois, devido às limitações impostas pela censura não poderia mais tratar dos temas polêmicos que foram a sua marca registrada. Dessa forma, a partir de 1968 sofreu um processo de descaracterização e desfalque em seu quadro de profissionais até 1976, quando foi substituída por Veja, a subseqüente aposta da Editora Abril na área de revistas de informação geral.
J. S. Faro [1] acredita que a revista deve todo o seu caráter inovador ao período em que sua proposta foi concebida, marcadamente propício para a quebra de paradigmas no universo das manifestações culturais e artísticas. Era um momento de ebulição que também foi compartilhado pelo jornalismo. O autor encara a publicação como um modelo de vinculação entre a produção do texto jornalístico e o conjunto das manifestações políticas e culturais vividas no período, tanto no Brasil quanto no exterior.
Para Faro "o caráter verticalizado adquirido pelas reportagens de Realidade guardou estreita relação com o discurso transgressor produzido em meados dos anos 60” (Cf. FARO, 1998:4). Isto é, havia um contexto que propiciava a transgressão dos modelos canônicos do jornalismo informativo, amparados nos critérios de objetividade, predominância da técnica do lead e obediência aos formatos de texto pré-estabelecidos pelos manuais de redação que haviam sido importados dos Estados Unidos na década de 1950 por precursores como Pompeu de Sousa e Danton Jobim [2].
A singularidade da revista foi exatamente o confronto com o formato rígido do texto veiculado na imprensa diária e a ousadia em inserir extensos trabalhos de reportagem, recursos literários e marcas de enunciação embasadas na vivência efetiva da pauta pelo repórter. Em virtude destas características, o jornalismo de Realidade é, constantemente, associado ao Novo Jornalismo norte-americano, uma vez que, ambos abarcavam traços referentes ao Jornalismo Literário.
Para Lima, "é possível conjecturar que o Novo Jornalismo americano tenha influenciado dois veículos lançados em 1966 que se notabilizaram exatamente por uma proposta estética renovadora: a revista Realidade, considerada a nossa grande escola da reportagem moderna e o Jornal da Tarde" (2004:192).
Contudo, procuramos com este trabalho defender a singularidade do projeto Realidade e a sua inserção na história como um viés do Jornalismo Literário no Brasil. Esta proposta está amparada nas particularidades que são referentes ao próprio contexto sócio-cultural desta publicação. Isto é, embora a revista tenha compartilhado como o Novo Jornalismo de um momento histórico revolucionário, esta esteve, principalmente em seus três primeiros anos de existência, comprometida com a conjuntura nacional.
A consideração desta hipótese indica para uma relação de identidade entre o imaginário social de uma determinada coletividade e os discursos por ela produzidos. De acordo com Baczko, é através de seus imaginários sociais que uma coletividade, seja ela pertencente a um povo ou uma determinada época, designa a sua identidade e elabora certa representação de si. Trata-se de um arcabouço constituído de referências simbólicas que funcionam como reguladores da vida coletiva em modalidades específicas de pensar, sentir e acreditar. Tais coletividades elaboram os meios de difusão destes valores até mesmo como dispositivo de controle da vida coletiva (1985:309).
Os discursos, que em nosso caso envolvem manifestações culturais de caráter jornalístico, estão impregnados com o referencial simbólico da coletividade onde foram produzidos, uma vez que, segundo o autor: “o imaginário social torna-se comunicável através da produção dos discursos nos quais e pelos quais se efetua a reunião das representações coletivas numa linguagem” (Cf. BACZKO, 1985:311).
Podemos inferir portanto, que a revista Realidade estava marcada pelo imaginário social brasileiro, em outras palavras, foi produto da cultura brasileira. Esta análise não desconsidera porém, o fato de que seus jornalistas e produtores pudessem ter recebido uma grande soma de influências estrangeiras ou até mesmo de outros tipos de manifestações culturais e o fato ter sua parcela de contribuição para o formato adquirido pela publicação.
A revista Realidade foi então o produto de uma época. Um momento histórico em que o país aliava forças conservadoras e revolucionárias. Estava sob um regime ditatorial, que progressivamente se agravava, e ao mesmo tempo, apresentava tendências desenvolvimentistas, bem como buscava uma afirmação da identidade nacional. Este contexto foi determinante tanto para a proposta que motivou a produção da revista, quanto para o seu fim, com a implantação da censura.
Houve, portanto, na década de 1960, uma convergência entre as inovações estilísticas das vertentes norte-americana e brasileira vinculadas ao denominado Jornalismo Literário, que pode ser exemplificada pelo Novo Jornalismo e pela revista Realidade e Jornal da Tarde respectivamente. No transcorrer deste trabalho buscaremos identificar o lugar da revista Realidade como uma manifestação do Jornalismo Literário no Brasil.
2. Literatura e jornalismo: trajetórias paralelas
Jornalismo e literatura são gêneros discursivos que ao longo de suas trajetórias constituíram vários pontos coincidentes. No decorrer do século XVIII até meados do século XIX os jornais sobreviveram como empresas pequenas que agiam sob alguma causa política e eram comandados por escritores, políticos e intelectuais.
Neste período, vários escritores célebres trabalhavam nas redações de jornais, dando suas contribuições tanto como agentes políticos e jornalistas quanto como romancistas. Nesta época, os jornais eram usados como divulgadores de obras literárias, publicadas em fascículos a cada nova edição.
Tais publicações denominadas folhetins iriam constituir, posteriormente, muitas das antológicas obras reconhecidas universalmente na atualidade. Entre os nomes célebres que publicaram suas obras primeiramente usando as páginas dos jornais estão: Honoré de Balzac, que durante os anos de 1837 a 1848 publicou um folhetim por ano no jornal La Presse; Alexandre Dumas, que chegou a publicar no jornal Le Siècle um dos maiores clássicos da literatura mundial: Os três mosqueteiros; os ingleses Charles Dickens e Walter Scott e o português Camilo Castelo Branco. Todos foram escritores que tiveram suas obras oportunamente divulgadas "a conta-gotas" através dos folhetins, difundidos pelas páginas dos jornais.
No Brasil, destacaram-se Machado de Assis, que durante o período em que exerceu a profissão de jornalista também publicou suas crônicas nos jornais Gazeta de Notícias e Correio Mercantil, e José de Alencar, por sua coluna "Ao correr da pena" mantida do Diário do Rio de Janeiro, jornal no qual o escritor chegou a exercer a função de redator-chefe.
Os folhetins representavam uma forma de divulgação para os escritores e foram incorporados aos poucos à nova lógica capitalista a partir das décadas de 1830 e 1840 com a eclosão do Jornalismo Popular, de acordo com Pena, "Publicar narrativas literárias nos jornais proporcionava um significativo aumento nas vendas e possibilitava uma diminuição nos preços, o que aumentava o número de leitores e assim por diante" (2006:29). Destaca-se ainda que, o próprio trabalho como jornalista garantia ao escritor, segundo Lima, um eventual meio de subsistência e um canal para o aprimoramento e a promoção do talento literário (2004:174).
Na gênese da imprensa informativa, isto é, no momento do estabelecimento de um jornalismo de tipo empresarial, jornalismo e literatura sofrem dinâmicas de afastamento e também de aproximação. Um ponto crucial foi quando compartilharam da mesma motivação filosófica. No século XIX, o positivismo, que proclamava a valorização de uma visão científica e objetiva de mundo, foi a doutrina que insuflou tanto a vertente literária do realismo social quanto o estilo jornalístico que surgiu quando a imprensa comercial começou a produzir jornais em larga escala e de uma forma sistematizada.
Para isso, esta imprensa começou a usar técnicas que agilizavam o trabalho dentro de uma lógica pela qual o relato conciso dos fatos acabou prevalecendo em detrimento os artigos de opinião, que outrora haviam caracterizado o jornalismo político e panfletário do século XVIII.
Então, a partir do final do século XIX, a participação dos escritores nas redações de jornal passa a ser reduzida. Em contrapartida, começa a surgir a figura o jornalista profissional e de um estilo de produção específico. O estilo penny press, cuja denominação faz menção à redução do preço do jornal, o que o tornou mais acessível para as populações, foi impulsionado pelo progresso da tipografia, pelas melhorias das condições de comunicação, incluindo-se aí a consolidação do sistema de correios, o desenvolvimento do telégrafo e o crescente interesse público.
De acordo com Traquina, o desenvolvimento do jornalismo informativo nos países anglo-saxões foi motivado por um conjunto de acontecimentos conjunturais tais como a evolução do sistema político e econômico; os avanços tecnológicos; fatores sociais como o aumento no número de pessoas alfabetizadas e a urbanização (Cf. TRAQUINA, 2005:35).
A primeira teoria considerada acerca do jornalismo, a teoria do espelho, comungou com o realismo social a sua mais representativa metáfora, a de espelho da vida. Neste momento, a crença em um tipo de narrativa que pudesse reproduzir a realidade era uma ideia bastante recorrente no qual ecoavam a invenção da máquina fotográfica e o cientificismo, que começava a surgir como um valor social moderno. Desta forma, os relatos sobre o real pretendiam estar marcados por uma observação desapaixonada e distanciada, pautada em um enunciador que não se envolve diretamente com os fatos narrados.
Contemporâneo desta corrente literária, o jornalismo emergente no século XIX e orientado para o relato dos fatos da atualidade via encontrar no realismo algumas das suas metáforas fundadoras como a de "espelho da vida", proposta por Stendhal, ou a sua matéria-prima, os acontecimentos, como mimesis dos seres de das coisas, avançada por Balzac (Cf. PONTE, 2004:45).
No transcorrer do século XX, jornalismo e literatura mantiveram ao mesmo tempo antagonismos e confluências intensas. Houve teóricos que defenderam a diferença entre as duas narrativas, baseados na ideia de que o jornalismo representava a objetividade e a literatura encarnava a subjetividade; e outros que acreditavam até mesmo que o jornalismo poderia ser considerado um gênero literário.
A quebra de paradigmas, muito associada ao surgimento do Novo Jornalismo nos Estados Unidos em 1960, na verdade remonta à períodos anteriores. Na verdade, o Novo Jornalismo foi um momento na história da imprensa norte-americana em que os jornalistas começaram a ousar na linguagem e nos assuntos abordados, em consonância com os movimentos de transgressão cultural largamente difundidos naquele momento, mas que remontam aos anos 40 daquele país.
A prática de aliar jornalismo e literatura já havia sido feita anteriormente em obras tão afastadas no tempo quanto na distância e que também mesclaram a grande reportagem com os recursos literários. Tais experiências podem ser exemplificadas em casos como de John Reed, autor de Os dez dias que abalaram o mundo, que relata a experiência de autor como testemunha ocular da Revolução Russa, de 1917, e do brasileiro Euclides de Cunha na obra Os Sertões, lançada em 1902, em que o autor compilou e aperfeiçoou todas as matérias enviadas ao jornal O Estado de S.Paulo enquanto trabalhava como correspondente de guerra durante o conflito de Canudos no nordeste brasileiro, no ano de 1897.
A associação entre jornalismo e literatura reconhecidamente gera debates polêmicos, levanta questões acerca da especificidade do jornalismo quanto à sua fidelidade para com a narração objetiva dos fatos em oposição à literatura, em que os fatos enunciados apenas existem dentro do universo da narrativa e não a extrapolam já que fazem parte do processo criativo do escritor. Por outro lado, teóricos que defenderam a ligação irrefutável entre o jornalismo e a literatura justificaram-na através do uso da linguagem e a referência a um mundo real.
O crítico Antônio Olinto, para quem a jornalismo era uma espécie de “literatura sob pressão”, argumentou em um ensaio de 1954, chamado Jornalismo e Literatura, que como as matérias-primas de ambos são a palavra e a realidade, também o jornalismo possui as mesmas possibilidades da literatura de produzir obras de arte.
Para Amoroso Lima, jornalismo é um gênero literário, pois ambos são expressões verbais com ênfase nos meios de expressão, mas que ambos devem transcender este meio (a palavra) para serem considerados boa literatura. De acordo com o crítico:
Enquanto o jornalismo utilizar a palavra como simples utilidade, então será tampouco a literatura como o caso da palavra numa aula de ciência. Jornalismo só é literatura, enquanto empregar a expressão verbal com ênfase nos meio de expressão (...). O jornalismo não é literatura pura, sem dúvida, como é um poema, no qual a palavra vale apenas como palavra (embora nele se contenha o mundo) e não com transmissão de um pensamento ou de uma mensagem. O jornalismo tem sempre, por natureza, como veremos, um fim que transcende ao meio. E sempre que este reduzir o meio (a palavra) a um simples instrumento de transmissão, deixará de ser jornalismo para ser apenas publicidade ou propaganda, ou noticiário, ou anúncio (Cf. AMOROSO LIMA, 1969:23).
Em contrapartida, Danton Jobim, declarou no clássico O espírito do jornalismo, que jornalismo e literatura são coisas distintas e a grande diferença está na condição do jornalismo ser uma narrativa do efêmero e a literatura ser uma narrativa que deseja perdurar no tempo. Para Jobim, o jornalismo é um diálogo diário, apressado, superficial com o leitor e que nesta conversa não há lugar para sentenças evasivas; o que o leitor exige do jornalista é que o informe sobre tudo o que de significativo está acontecendo e vai acontecer.
As respostas não podem ser as de um ensaísta, porque ao jornalista não lhe sobra tempo para longas meditações, nem as de um ficcionista, porque não lhe é lícito suprir com a imaginação as lacunas da realidade. Neste particular, o público é severíssimo conosco. Pão, pão; queijo, queijo; fato é fato, poesia é poesia (Cf. JOBIM, 1992:44).
De acordo com Bianchin, o confronto essencial entre os dois discursos é, em síntese, o fato do jornalismo não poder ficcionalizar o real. Desta forma é fundamental para a sobrevivência do jornalismo enquanto discurso que ele fale dos acontecimentos, ideias, proposições e ações que no cotidiano são produzidas pelos indivíduos.
Para a autora, no jornalismo a construção dos fatos está irremediavelmente presa ao universo dos fenômenos concretos, vividos no cotidiano do mundo físico, que são inclusive independentes da própria linguagem, isto é, "ao contrário da literatura, para o jornalismo o mundo já existe concretamente antes do discurso" (Cf. BIANCHIN, 1997:62). Aliás, o compromisso com a verdade dos fatos faz parte do código deontológico da profissão de jornalista e isso não exclui àqueles que produzem crônicas, livros-reportagem, romances de não-ficção e biografias.
Desta maneira, faz-se possível superar o confronto de opiniões destes teóricos brasileiros e pensar em uma interface entre jornalismo e literatura que ultrapasse o dilema acerca do jornalismo ser ou não literatura. Isso porque é possível a existência de um jornalismo que esteja comprometido com a verdade dos fatos e também com a riqueza estilística textual, fator que pode até mesmo fortalecer a legitimidade do relato dos fatos e assuntos.
Isto é, o jornalismo não precisa ser considerado literatura para poder ter qualidade narrativa e também não necessita ser desvalorizado como jornalismo porque se utiliza de recursos literários. O tipo de jornalismo desenvolvido pela revista Realidade, especialmente durante os seus três primeiros anos (1966-1968), é um exemplo incontestável de que o jornalismo pode ter qualidade estética e também conteúdo informativo com densidade, legitimidade e pertinência.
3. O Jornalismo Literário e seus desdobramentos
A expressão Jornalismo Literário em uma primeira análise remonta a fase do jornalismo em que escritores e intelectuais dirigiam os jornais e faziam deles armas de manifestação política e também espaço para experimentações estilísticas. Segundo Medina, este período antecede o surgimento da empresa jornalística no Brasil e vai até a última década do século XIX.
De acordo com a autora, nesta primeira fase da nossa imprensa, "o maior valor era atribuído à opinião através do artigo de fundo, misto de retórica bombástica, grandiloqüente, mas pouco consistente. Nem jornal nem público haviam percebido do papel da informação num mundo que, a rigor, não tinha também passado pelo processo de superação das fronteiras regionais e nacionais" (Cf. MEDINA, 1988:52).
Durante este espaço de tempo, havia uma relação direta entre o jornalismo e a literatura, uma vez que os jornais foram durante décadas o único espaço para a publicação da produção cultural no período enquanto não havia editoras no país. A carência de imprensa nacional durante o período colonial deve-se à censura que a administração colonial portuguesa exercia. A imprensa brasileira só viria a ser implantada em 1808 com a chegada de D. João VI.
Em maio daquele ano se instalam as oficinas da Impressa Régia que, em setembro, faz circular a Gazeta do Rio de Janeiro [3], órgão oficial do governo. Instalada apenas no início do século XIX, mais de 200 anos depois em relação aos outros países americanos, em virtude da proibição da instalação de oficinas de impressão pela Coroa Portuguesa, a imprensa brasileira contava também com outro periódico: três meses antes do aparecimento da imprensa régia surgia o primeiro jornal brasileiro o Correio Braziliense.
De acordo com Seabra, o jornalismo opinativo e ideológico, ou literário, característico deste período, é fruto de um momento histórico em que a imprensa ainda não era vista como empresa capitalista, mas antes como um instrumento de luta política ou de embate entre ideais estéticos (2002:34).
Entretanto, o termo Jornalismo Literário referenciado neste trabalho abrangerá todas as manifestações jornalísticas que usaram de recursos literários como elementos de produção, não se restringindo a esta fase especificamente. Consideramos que este gênero jornalístico configura-se como um caminho que parte do campo jornalístico tradicional rumo às possibilidades de trabalhos de pesquisa de maior fôlego e com maior liberdade para o uso de recursos textuais.
Em seu livro Jornalismo Literário Pena classifica o gênero e o discrimina em seus subgêneros: Novo Jornalismo, no qual está inserida a vertente Gonzo; crítica literária; biografia, romance-reportagem e a ficção jornalística. Pena define o Jornalismo Literário como uma abertura de possibilidades dentro do universo jornalístico.
Não se trata apenas de fugir das amarras da redação ou de exercitar a veia literária em um livro-reportagem. O conceito é muito mais amplo. Significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as corrente burocráticas do lead, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos. No dia seguinte, o texto dever servir para algo mais do que simplesmente embrulhar o peixe da feira. (Cf. PENA, 2006:13).
Segundo Edvaldo Pereira Lima, quando o jornalismo aperfeiçoa os seus meios sem perder a sua especificidade e aprimora o seu instrumental de expressão conquista a chance de se igualar em qualidade narrativa com a literatura (2004:191). A fórmula para este salto de qualidade acontece quando "à objetividade da captação linear, lógica, somava-se a subjetividade impregnada de impressões do repórter, imerso dos pés à cabeça no real" (Cf. LIMA, 2004:195). De acordo com o autor, o Novo Jornalismo, que explodiu nos Estados Unidos durante da década de 1960, seria um exemplo deste processo de renovação.
A vertente evoluiu dos features ou matérias de interesse humano para produção de reportagens que aliavam a densidade de pesquisa a experimentações estilísticas, primeiro em publicações periódicas depois em livros-reportagem, até o ponto de não mais haver identificação com o modelo de origem.
O gênero resgatou na última metade do século XX, a tradição do Jornalismo Literário e o conduziu a uma cirurgia plástica renovadora sem precedentes (2004:192). Tom Wolfe, Gay Talese, James Balwin e Norman Mailer se destacaram por produzir um jornalismo intenso, que ostentava uma acentuada carga autoral, repleto de subjetividade narrativa e experimentações estilísticas.
A princípio rejeitado tanto por jornalistas quanto por escritores, o Novo Jornalismo ganhou reconhecimento em 1966 com a publicação do livro, A sangue frio, de Truman Capote, classificado pelo próprio autor como romance de não-ficção. O livro ganhou destaque por retratar de forma literária o caso verídico de um assassinato com a riqueza de dados propiciada por um denso trabalho de pesquisa feito por Capote junto aos assassinos, entrevistados na prisão pelo próprio autor.
A ousadia do Novo Jornalismo resultou da fusão entre um contexto cultural específico de quebra de paradigmas e os recursos narrativos capturados do romance social.
São quatro os recursos técnicos apropriados e readaptados pelos novos jornalistas: o ponto de vista, em particular o autobiográfico em terceira pessoa; o registro fiel dos traços do cotidiano, ou seja, o registro do status de vida dos entrevistados como gestos, hábitos, maneiras, costumes, objetos pessoais, roupas, decoração, maneiras de viajar, comer, manter a casa, enfim, padrões gerais de comportamento que forneciam um entendimento amplo sobre as personalidades (Cf. WOLFE, 2005:55); a construção cena a cena, isto é, “contar a história passando de cena para cena e recorrendo o mínimo possível a mera narrativa histórica (Idem, 2005:54); o registro dos diálogos por completo como um dispositivo para capturar a atenção do leitor.
De acordo com Wolfe, a tendência narrativa era fugir do “tom bege pálido” padrão e evitar a voz monótona e arrastada, na qual o narrador deveria assumir uma narrativa calma e polida (Ibidem, 2005:32). Para empreender estes recursos os novos jornalistas ficavam por vários dias no encalço dos entrevistados, conseguindo assim, registrar os detalhes dos indivíduos e suas histórias. Portanto, a captação objetiva das informações aliada à subjetividade do jornalista eram capazes de transmitir ao leitor a sensação de vivenciar o assunto a até mesmo estar na pele dos personagens retratados.
No final dos 1970, nos Estados Unidos, o Novo Jornalismo fenece uma vez que a cena contracultura em que atuava já não existia mais. Dessa forma, o gênero é assimilado pela grande imprensa, porém de uma forma mais branda, subtraem-se deste os excessos no experimentalismo estilístico e o resultado desta depuração os norte-americanos denominaram como Jornalismo Literário ou narrativa jornalística que emprega recursos literários.
A atual definição do Jornalismo Literário diverge do Novo Jornalismo quanto à ênfase dada para o conteúdo, em detrimento dos experimentalismos de estilo. De acordo com Lima, a narrativa do Jornalismo Literário também se difere dos features, por utilizar um leque considerável de técnicas mais sofisticadas e pode ser aplicado tanto em matérias quentes, quanto em matérias frias, entretanto, estão longe de ocupar um espaço privilegiado nos grandes jornais.
Atualmente o Jornalismo Literário ganhou maior qualidade por ter introjetado a construção por cena, a escolha mais variada de perspectiva ou a variação de pontos de vista no interior do texto, aproveitamento mais dinâmico do diálogo e das vozes dos personagens e o uso de detalhes significativos do ambiente (Cf. LIMA, 2004:208).
Em síntese, os procedimentos que atualmente definem o Jornalismo Literário são (Cf. LIMA, 2004:209):
a) o sumário ou exposição, que consiste numa síntese de uma ação secundária mencionada rapidamente cuja função é fornecer um contexto à ação principal;
b) a cena presentificada da ação, que consiste no detalhamento dos fatos nos relatos à medida que estes se desenvolvem, o dispositivo gera para o leitor uma sensação similar à de uma projeção cinematográfica;
c) o ponto de vista, que traduz a perspectiva sob a qual o leitor verá o acontecimento e que pode ser amplamente variável, podendo ser a do repórter, do protagonista ou de uma terceira pessoa a presenciar o acontecido;
d) a metáfora e as figuras de retórica utilizadas para a explicação de um assunto mais complexo;
e) as citações diretas, que são usadas moderadamente; e
f) as fontes, que devem ser identificadas com clareza, para que a verificação dos dados seja criteriosa, bem como, que a documentação seja sólida.
O estilo jornalístico da revista Realidade, contemporâneo do Novo Jornalismo, pode ser considerado como uma manifestação do Jornalismo Literário no Brasil tanto pelo uso das reportagens de profundidade quanto pelo uso de recursos de estilo literário. Ou seja, podemos dizer que houve no Brasil um exemplo deste tipo de Jornalismo Literário, o que não significa que o Novo Jornalismo tenha sido o único elemento que influenciou o formato adquirido pela revista.
A publicação da Abril apresentava particularidades conectadas diretamente à condição histórica e social brasileira da época e mesmo que possuísse uma sintonia com o estilo norte-americano apresentava autonomia em sua proposta editorial uma vez que seu discurso era produto do imaginário social de acordo com a teoria de Baczko. Isso porque toda a manifestação cultural traz consigo a marca da cultura em que foi concebida.
Em síntese, o formato da revista pode ser atribuído a uma união de fatores: a repercussão do Novo Jornalismo no Brasil; a conjuntura social e histórica brasileira; e a singularidade da equipe de profissionais da revista Realidade, já que as diretrizes que nortearam o projeto e a execução da pautas, estavam amparadas na liberdade concedida ao corpo de profissionais que produziram a revista durante os seus três primeiros e emblemáticos anos de existência.
4. Realidade como um viés do Jornalismo Literário no Brasil
O projeto Realidade estava ancorado tanto no contexto histórico-social do período, refletido nas manifestações culturais e jornalísticas, quanto nas qualidades da equipe que a produziu em seus primeiros anos.
O ímpeto revolucionário e o interesse em auxiliar a modernizar o Brasil, tendo como instrumento um veículo de comunicação, conspirava para um comprometimento da equipe na produção de um jornalismo engajado, em que as pautas eram trabalhadas à exaustão, tanto no que concerne ao tempo de captação das informações (os repórteres ficavam por vezes até meses trabalhando na mesma pauta e fazendo suas pesquisas in loco) quanto no que concerne ao trabalho bem elaborado da produção textual.
Por isso, a produção jornalística da revista se destacou pela vivência direta do repórter, pela forte presença de elementos descritivos ambientais dos fatos narrados, pelo uso freqüente da forma literária e também pela abertura para a dimensão ficcional na abordagem do real (Cf. FARO, 1998:135).
A cena histórica, nos âmbitos nacional e internacional, estava repleta de movimentos de contestação em diversas áreas. Ebulições aconteciam nos campos comportamental, filosófico, acadêmico, político e juvenil. Explodiam no período várias insurreições populares no mundo: protestos contra a guerra do Vietnã; manifestações a favor dos direitos civis para os negros norte-americanos; o auge do movimento feminista; o movimento contracultural hippie; as revoltas estudantis em várias partes do mundo, destacando-se o maio francês no ano de 1968; e as guerrilhas urbanas nas ruas dos países da América Latina, que na época eram assolados por golpes militares. Uma revolução contracultural que teve como pano de fundo um acelerado processo de urbanização das sociedades capitalistas, bem como por um progressivo avanço tecnológico (Cf. LIMA, 2004:224).
O jornalismo feito pela revista estava a par das inovações do universo jornalístico produzido em outras partes do mundo, como por exemplo o Novo Jornalismo. Em ambos os casos nota-se o abandono da rigidez do habitual lead, utilizado na grande imprensa, e uma aproximação em relação ao modus operandi da literatura. Desta forma, o grande mérito da revista foi traduzir toda esta inquietação social, contextualizando-a na sociedade brasileira. Isto é, todo o contexto proporcionou a concepção do projeto jornalístico da revista Realidade, um projeto que para o autor de Páginas Ampliadas, foi a nossa mais revolucionária resposta jornalística e de maior sucesso popular (Cf. LIMA, 2004:225).
O período que compreende os anos de 1966 a 1968, representou o auge da fórmula da revista, e pode ser considerado o momento em que a proposta da publicação mais de aproximou das características elementares do Jornalismo Literário. Existe uma confluência entre os traços básicos da revista e deste gênero jornalístico. Isto é, em ambos os casos podem-se verificar: a imersão do repórter na realidade, a voz e o estilo autorais, a precisão de dados e informações, o uso de figuras de linguagem, a digressão, a humanização, assim como, uma postura pró-ativa do repórter pra uma ação transformadora (LIMA, In: Texto Vivo).
Para a equipe de produtores da revista não havia preconceito na seleção de pautas, uma vez que, nesta publicação, os assuntos mais polêmicos para a época foram expostos e discutidos à revelia do conservadorismo e até do regime militar.
Fig. 2. Realidade, nº 7, 1966.
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A revista da Abril se propunha a uma cobertura ambiciosa que abarcasse não apenas o Brasil mas o mundo, bem como retratasse tanto personalidades públicas dos universos artístico, político ou científico, quanto indivíduos que estavam à margem da sociedade, tais como os mineiros de carvão de Santa Catarina e os salineiros do Rio Grande do Norte.
Os produtores de Realidade se dispuseram a traçar um mapa da realidade contemporânea no qual os próprios indivíduos protagonizavam os assuntos, como nos casos dos perfis humanizados do Palhaço Arrelia (ao lado), do jóquei Dendico e do médium curador Zé Arigó.
Segundo Lima, a revista não se prendia ao cotidiano e se dispunha a sair da ocorrência para a permanência.
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Desta forma, a notícia não era um fato isolado, mas a situação, ou seja, não interessava, por exemplo, apenas relatar que o goleiro foi vaiado no jogo de domingo, mas ir a fundo aos meandros da atividade deste profissional (2004:226).
Este direcionamento da revista apontava para a prática de pesquisas de profundidade, o que permitia reportagens repletas de informações que contrastavam com a superficialidade da grande imprensa.
Servem de exemplo as reportagens sobre ciência, as enquetes de opinião e as edições especiais.
Fig. 3. Realidade, nº 10, 1967.
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Na edição especial que saiu em janeiro de 1967 (ao lado), sobre a mulher brasileira, a revista traçou um amplo panorama sobre as condições femininas daquele período, no qual as mulheres viam-se entre o conservadorismo e a emancipação (“A mulher brasileira hoje”, janeiro de 1967).
Outra edição especial, que também chamou bastante atenção pelo teor de pesquisa, foi o número sobre a juventude brasileira que saiu nas bancas em setembro de 1967, com a seguinte manchete: “A juventude brasileira hoje”.
Nesta edição os jornalistas de Realidade encarnaram o papel, isto é, viveram por um tempo na pele de diversos tipos de jovens brasileiros, do camponês ao estudante universitário.
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No que diz respeito ao texto, os jornalistas possuíam um tempo maior para a captação de informações e para a produção textual, graças à periodicidade mensal e a valorização do texto apurado e bem redigido. Era igualmente uma diretriz da revista conceder liberdade ao repórter para que ele desenvolvesse o seu próprio estilo, promovendo assim, a existência de um estilo autoral perceptível em cada matéria.
Em uma edição especial da revista Caros Amigos, sobre o jornalista Sérgio de Souza, um dos responsáveis pelo formato de Realidade, Hamilton Ribeiro declara que na Sérgio determinou o fim do copidesque na revista e assim o conjunto de textos conseguiu ter uma estrutura menos homogênea.
Ao mesmo tempo, Sérgio de Souza criou a função do editor de texto, responsável pela correção e aprimoramento dos trabalhos feitos. “O resultado é que Realidade saía com 12, 13 reportagens, cada uma diferente da outra, mas todas com aquele jeito do repórter, cada uma diferente da outra, mas, todas, com aquele primor de acabamento de texto, uma exigência que, ainda hoje, nenhum bom jornalista deixa de respeitar” (Cf. RIBEIRO, 2008:14).
Desta forma, a equipe da revista da Editora Abril conseguiu publicar textos muito bem acabados e que possuíam uma acentuada carga autoral sendo possível até mesmo perceber as diferenças de estilo entre os jornalistas da publicação.
A revista também inovou na produção de um tipo de texto que lhe era peculiar, as reportagens-conto, nas quais o autor adotava o gênero literário do conto e o adequava para a representação dos assuntos mais factuais. Tendo em vista todas as características de Realidade, podemos considerar que o jornalismo por ela produzido pode ser qualificado como uma manifestação do Jornalismo Literário no Brasil.
5. Considerações finais
A produção em Jornalismo Literário promove uma extensão e um aprimoramento no formato jornalístico hegemônico em termos de qualidade textual e densidade informativa. A revista Realidade, uma publicação da Editora Abril produzida dentro de um contexto histórico-social de intensos protestos e revoluções culturais adotou em sua fórmula características que a enquadram neste gênero jornalístico, o que pode ser verificado com os produtos veiculados pela revista como as reportagens-conto, os perfis e as edições especiais, bem como pelo tipo de abordagem que foi utilizado para estas produções.
De acordo com os fundamentos do Jornalismo Literário, pode-se associar a produção de Realidade com esta vertente. No que concerne à elaboração do material da publicação em que foram utilizados recursos literários, a prática de aprofundamento nas pesquisas de captação de informação, o enfoque humanístico no tratamento dado ao relato das personalidades entrevistadas, bem como a presença de um ímpeto ativo e transformador em reportagens que resultaram na exposição de um amplo panorama da história brasileira durante o período em que a revista esteve em atividade, principalmente no tocante aos três primeiros anos de existência desta (1966/1968).
Com isso, concluímos que a revista representou, em sua época, um exemplo do gênero Jornalismo Literário, ao mesmo tempo em que apresentou particularidades adequadas ao seu contexto cultural. Uma originalidade que pode ser atribuída à ação dos produtores da referida publicação e ao momento social e histórico em que estes viveram e trabalharam na produção de Realidade.
NOTAS
[1] José Salvador Faro, autor da tese de doutoramento: "Realidade (1966-1968): tempo de reportagem na imprensa brasileira". Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, 1996.
[2] Danton Jobim e Pompeu de Sousa se tornaram figuras históricas do processo de modernização da imprensa brasileira por encabeçarem uma reforma gráfica e editorial, na década de 1950, no jornal O Diário Carioca. Eles foram os primeiros a implantar no Brasil o modelo empresarial da produção de notícias, inspirados pelo estilo jornalístico anglo-americano de imprensa. Estabeleceram o uso do lead e do manual de redação influenciando assim muitos outros jornais da época, como o Jornal do Brasil (Cf. BAHIA, 1990:378).
[3] A imprensa brasileira foi instalada apenas no início do século XIX, mais de 200 anos depois em relação aos outros países americanos, em virtude da proibição da instalação de oficinas de impressão pela Coroa Portuguesa. Desta forma, o único jornal permitido era o órgão oficial do governo: a Gazeta do Rio de Janeiro, inaugurada em setembro de 1808, apenas três meses antes do aparecimento do primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense, que em razão das proibições, era produzido em Londres por Hipólito da Costa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BAHIA, J. Jornal, história técnica: história da imprensa brasileira. São Paulo: Ed. Ática, 1990. 4ª Ed.
BIANCHIN, N. T. R. Romance-reportagem: onde a semelhança não é mera coincidência. Florianópolis: Ed. UFSC, 1997.
FARO, J. S. "Realidade 1966-1968: tempo de reportagem na imprensa brasileira". Disponível em: www.jsfaro.pro.br. Acesso em: 15 mar. 2009.
LIMA, E. P. Páginas ampliadas: o livro reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. Barueri: Ed. Manole, 2004.
LIMA, E. P. "Texto vivo – conceitos". Disponível em: http://www.textovivo.com.br.
Acesso em: 17 jan. 2008.
LIMA, A. A. O jornalismo como gênero literário. Ensaios VIII. Rio de Janeiro: Editora Agir, 1969. 2ª Ed. 64 p.
MEDINA, C. Notícia, um produto à venda: jornalismo na sociedade urbana e industrial. São Paulo: Ed. Summus, 1998. 2ª Ed.
PONTE, C. Para entender as notícias: linhas de análise do discurso jornalístico. Florianópolis: Insular, 2005.
PENA, F. Jornalismo literário. São Paulo: Ed. Contexto, 2006.
RIBEIRO, J. H. “Dava aos outros sem esperar paga: é preciso mais para ser um santo?”. Caros Amigos, São Paulo, Editora Casa Amarela, Ano XII, nº 40, maio 2008. p. 40.
SEABRA, R. "Dois séculos de imprensa no Brasil". In: MOTTA, L. G. (Org.). Imprensa e poder. Brasília: Ed. UNB, 2002. p. 31- 46.
TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo [Vol. 1 - Porque as notícias são como são]. Florianópolis: Ed. Insular, 2005. 2ª Ed.
*Vaniucha de Moraes é graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Jorge Kanehide Ijuim é doutor em Ciências da Comunicação/Jornalismo pela ECA/USP e professor de graduação e pós-graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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